Arquivo da categoria: Mestres da Pintura

Estudo dos grandes mestres mundiais da pintura, assim como de algumas obras dos mesmos.

Ticiano – MULHER NO ESPELHO

Autoria de Lu Dias Carvalho

O pintor Ticiano Vecellio (1490 – 1576), também conhecido como Tizian Vecellio De Gregorio, Tiziano, Titian ou ainda como Titien, encontra-se entre os grandes nomes da pintura italiana. Ainda pequeno, retirava suco de flores para desenhar toalhas e lençóis. O pai, Capitão Conte Vecellio, reconhecendo o pendor artístico do menino, retira-o da pequena Pieve Cadore, onde nascera, e envia-o para Veneza, acompanhado do irmão mais velho. Naquela cidade, ainda com oito anos de idade, é apresentado por um tio aos mais importantes pintores venezianos da época.  Passa pelas mãos de Gentile Bellini e depois pelas de Giorgione, que o acolhe com entusiasmo.

A composição clássica intitulada Mulher no Espelho é uma obra da juventude do artista. Alguns críticos de arte identificam a jovem e sensual modelo como sendo uma amante do pintor, enquanto outros a veem como sendo Laura Dianti, amante de Alfonso d’Este, duque de Ferrara, que foi marido de Lucrécia Bórgia e de Anna Sforza. Há também quem diga que seja Isabella Boschetti, amante de Federico Gonzaga. O certo é que a jovem era a modelo favorita de Ticiano, pois se encontra em muitas de suas pinturas.

A cena retrata dois personagens que tomam quase todo o espaço da tela: um homem, na sombra, e uma mulher em primeiro plano. O jovem barbudo à esquerda, usando roupas vermelhas, segura dois espelhos, um na frente e outro atrás, para que a mulher olhe-se.  A jovem encontra-se atrás de um parapeito, de frente para o observador, traz a cabeça inclinada para a esquerda e o rosto oval voltado para o espelho menor. Segura seus longos e ondulados cabelos loiros, repartidos ao meio e jogados para sua direita, descendo até abaixo da cintura. Na mão esquerda, ela segura um vidro de perfume. Usa uma blusa branca pregueada e com grandes mangas, bastante decotada, pondo a descoberto seu colo branco e ombros. Sobre essa usa um vestido verde de alças. O seu admirador inclina-se para ela, tentando ajustar os espelhos da melhor forma possível, e direcionando seu olhar para seu rosto delicado. O retrato é, portanto, uma exaltação de sua beleza.

Ficha técnica
Ano: c. 1514
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 93 x 76 cm
Localização: Museu do Louvre, Paris, França

Fontes de pesquisa
Enciclopédia dos Museus/ Mirador
1000 obras-primas da pintura europeia/ Könemann
http://www.louvre.fr/en/oeuvre-notices/woman-mirror
http://www.wga.hu/html_m/t/tiziano/10/1/02mirror.html

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Correggio – LEDA E O CISNE

Autoria de Lu Dias Carvalho

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A composição denominada Leda e o Cisne é uma obra mitológica do pintor italiano Correggio, tendo este tema da mitologia grega sido representado por inúmeros pintores. Na sua tela o artista mostra o momento em que Leda – rainha de Esparta e esposa do rei Tíndaro – encontra-se num local arborizado, tomando banho, ladeada por ninfas, Cupido, “putti” (crianças ou anjos) e suas criadas, quando recebe a visita do deus dos deuses.

Zeus (Júpiter), que por Leda havia se apaixonado, toma a forma de um cisne branco, para dela se aproximar. Ele é visto com o corpo entre suas pernas, o bico direcionado para seus lábios, e o pé direito tentando subir no seu corpo, enquanto ela o fita com ternura.

Leda encontra-se nua, de costas para uma grande árvore e com o corpo de frente para o observador de maneira a levá-lo a presenciar sua união com o cisne (Zeus). Contudo, o pintor não permitiu que sua pintura resvalasse para a obscenidade. Um dos pés de Leda toca o chão, enquanto o outro fica no ar.

Em volta de Leda, à esquerda, estão duas ninfas dentro de uma fonte. Uma delas está sendo vestida por uma criada, enquanto a outra se mostra amedrontada com o cisne branco que dela se aproxima. Um terceiro cisne branco voa acima de sua cabeça em direção às árvores. A outra criada, usando veste azul, observa, encabulada, a ninfa e o cisne. À direita da rainha, alheios à cena, estão Cupido, tocando sua harpa e dois “putti” (crianças com asas, pequenos cupidos) brincando. À esquerda do deus do amor está sua aljava com setas.

Atrás do grupo descortina-se uma paisagem de grande beleza, com relva, árvores verdes, montanhas acinzentadas e céu azul com nuvens brancas. Segundo a mitologia grega, em razão de seu contato com Zeus, Leda acabou chocando dois ovos, deles nascendo os filhos Castor, Pólux e Helena (de Tróia)

Ficha técnica
Ano: c. 1531/1532
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 152x 191 cm
Localização: Staatliche Museen zu Berlin, Berlim, Alemanha

Fontes de pesquisa
Renascimento/ Editora Taschen
1000 obras-primas da pintura europeia/ Ed. Könemann

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Giorgione Barbarelli – O CONCERTO MUSICAL

Autoria de Lu Dias Carvalho

Giorgione Barbarelli da Castelfranco (c.1477–1510) era um pintor italiano de retábulo e obras sacras, sendo também conhecido por Zorzon. Quase nada se sabe a respeito de sua vida, embora suas poucas obras conhecidas tenham exercido grande influência sobre a arte dos séculos XVI e XVII.  Segundo o historiador Giorgio Vasari, ele veio de uma família muito humilde. Ainda novo, partiu para Veneza, onde foi aprendiz no ateliê de Giovanni Bellini, pintor famoso no uso da cor e da luz. Frequentou a alta sociedade daquela cidade, onde conviveu com os valores do helenismo. É tido como fundador da pintura veneziana, tendo influenciado muitos artistas, dentre eles Sebastiano del Piombo e Ticiano. Era um artista de grande inclinação poética, cujos temas não se sujeitavam ao gosto dos mecenas da época, mas à sua própria escolha.

A pintura secular e mitológica, conhecida como O Concerto Musical ou ainda Concerto Pastoral, tem sido vista por alguns críticos de arte como criação de Giorgione e por outros como criação de Ticiano. É dito também que pode ter tido a participação dos dois, pois os artistas chegaram a trabalhar em estreita colaboração, o que torna muito difícil distinguir seus respectivos estilos e trabalhos. A real atribuição deste trabalho vem sendo discutida através dos tempos, inclusive tendo sido delegada a Bellini, depois a Palma Vecchio ou Sebastiano del Piombo. Quem quer que tenha sido o responsável por sua criação deixou um trabalho maravilhoso, responsável por repassar uma grande calma, mostrando os personagens em isolamento e tranquilidade e a harmonia entre o homem e a natureza.

Quatro figuras humanas encontram-se juntas, em primeiro plano, sendo dois homens e duas mulheres. Três delas estão sentadas no relvado. Uma das mulheres, seminua, de pé, com o manto a escorrer-lhe pelo corpo, sendo preso pelos joelhos, despeja água de um jarro de vidro numa fonte de mármore, à esquerda. Embora parte de seu corpo esteja voltado para o observador, seu tronco inclina-se para sua direita. Ela parece ausente do que faz. Seu braço esquerdo oculta seus seios. No grupo que se encontra sentado, um jovem toca alaúde e a mulher, nua e de costas para o observador, sentada sobre um manto de seda, toca flauta. É interessante notar que uma das mulheres mostra a frente do corpo feminino, enquanto a outro mostra as costas. Os dois músicos voltam a atenção para o acompanhante.

Os dois jovens rapazes, um deles trajando vestes vermelhas com mangas fofas, e o outro loiro e de pés descalços, são belos. Estão vestidos de acordo com a moda do início do século XVI. Eles conversam entre si, como se não tivessem noção da presença das duas mulheres, como se ali elas não se encontrassem. Em segundo plano, à direita, no meio de um bosque, um pastor é seguido por seu rebanho, enquanto toca seu instrumento musical. No meio do rebanho encontra-se um burrinho carregado. No fundo da composição avista-se uma paisagem bucólica com edificação, árvores, lagos, montanhas e um imenso céu carregado de pesadas nuvens. A cena é banhada pela luz do pôr do sol.

É possível que a composição seja uma alegoria da poesia e da música, sendo as mulheres seres imaginários representativos da beleza ideal (musa da poesia trágica e musa da poesia pastoral), ou seja, uma fantasia dos dois rapazes, existente apenas na imaginação desses. O homem do alaúde representaria a poesia lírica e o seu companheiro seria um letrista. Há também quem interprete a obra como sendo a evocação dos quatro elementos do mundo natural (água, fogo, terra e ar), e sua relação harmoniosa. O equilíbrio entre o homem e a natureza parece ter sido a busca do pintor. O fato é que este trabalho continua sendo um dos mistérios da pintura europeia, pois as opiniões divergem quanto ao seu criador e ao seu tema.

Ficha técnica
Ano: c. 1508/09
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 110 x 138 cm
Localização: Museu do Louvre, Paris, França

Fontes de pesquisa
Enciclopédia dos Museus/ Mirador
1000 obras-primas da pintura europeia/ Könemann
http://www.louvre.fr/en/oeuvre-notices/pastoral-concert
http://www.wga.hu/html_m/g/giorgion/various/concert.html

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Lucas Cranach, o Velho – O FINAL DA IDADE DA PRATA

Autoria de Lu Dias Carvalho

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A composição O Final da Idade da Prata é uma obra do artista alemão Lucas Cranach, o Velho, que fez uma série de pinturas relativas a este tema. Segundo a mitologia grega, a Terra passou por quatro idades: Idade do Ouro, Idade da Prata, Idade do Bronze e a Idade do Ferro. A pintura refere-se ao final da Idade da Prata, quando a humanidade continuava decaindo.

Em meio a um bosque florido são vistos sete adultos, em posições diferenciadas, sendo três mulheres e quatro homens, e três crianças, todos nus. Os homens brigam entre si, usando galhos, tendo um deles, o sangue a escorrer-lhe pelo pescoço. Duas mulheres observam a cena. Uma delas, situada à esquerda, traz um galho na mão, como se fosse tomar partido na confusão. A cena gira em torno da mulher que se encontra de pé, no meio do grupo, segurando o braço de duas crianças. Em primeiro plano, à direita, uma mulher deitada com seu filhinho, parece distante do acontecimento.

Acima do local, onde se desenrola o desentendimento, estão rochas de formas aduncas, templos e casas. O céu apresenta-se límpido. A relva mostra seus reflexos dourados. O fato de as mulheres mostrarem a púbis desnuda, enquanto os homens apresentam-nas cobertas com folhas ou com as mãos, chama a atenção.

Segundo a mitologia, os deuses criaram a Terra, os animais e a humanidade. Tudo transcorria na mais perfeita paz e harmonia. Embora não houvesse leis determinadas, reinava a inocência, a verdade e a justiça. O homem era tido como animal superior, zelando pela flora, fauna, águas e tudo que fazia parte do novo mundo. Em troca, a Terra, que vivia numa eterna primavera, acumulava-o de bens, suprindo todas as suas necessidades, sem que tivesse que trabalhar. Ela era tão dadivosa, que nem era preciso plantar sementes para obter a produção de alimentos. Os rios, em vez de água, eram cheios de leite e de vinho. As árvores vertiam mel abundantemente. Vivia-se a Idade de Ouro.

Transformações aconteceram com a humanidade que passou a desviar-se da retidão. O poderoso deus Júpiter optou por fazer mudanças na organização terrena, mas a humanidade não melhorou. Não aprendeu que era preciso retomar a vida de inocência, verdade e justiça. Ao contrário, piorava cada vez mais. Os deuses então a abandonaram a Terra, ficando apenas Astreia, a deusa da justiça, da inocência e da pureza, talvez por acreditar, inocentemente, que ainda poderia salvar a humanidade. Ela ficou na Terra até o final da Idade do Bronze. Desiludida, deixou-a assim que começou a Idade de Ferro, e foi habitar o firmamento na forma da constelação Virgem.

Ficha técnica
Ano: c. 1530
Técnica: óleo sobre painel de carvalho
Dimensões: 51,4 x 35,6 cm
Localização: Galeria Nacional, Londres, Grã-Bretanha

Fontes de pesquisa
Enciclopédia dos Museus/ Mirador
http://www.wga.hu/html_m/c/cranach/lucas_e/10/3silver.html

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Botticelli – AS TENTAÇÕES DE CRISTO

Autoria de Lu Dias Carvalho

O afresco conhecido como As Tentações de Cristo e também Purificação, ou como O Sacrifício do Leproso é uma obra do pintor italiano Sandro Botticelli, referente ao ciclo de vida de Jesus. A composição denominada Cristo Dando as Chaves a São Pedro é uma obra religiosa do artista,  que faz parte da ornamentação da Capela Sistina, em Roma, Itália, cujo objetivo era fazer um paralelo entre a vida do profeta Moisés (Antigo Testamento) e a de Jesus Cristo (Segundo Testamento).

A composição apresenta inúmeros personagens, em diferentes episódios, o que a torna meio confusa, em razão da falta de organização composicional, pois o relacionamento entre as figuras não é nem espacial e nem rítmico. Os episódios retratados pelo artista referem-se aos Evangelhos. Três cenas na parte superior do afresco justificam o título da obra, mostrando as tentações sofridas por Cristo:

  • à esquerda, debaixo de uma aglomeração de árvores, Cristo, enquanto faz seu jejum, é tentado pelo diabo, com asas de morcego e pés de galinha, com vestes de um monge, que o instiga a transformar pedra em pão;
  • no centro, na parte mais elevada do templo de Jerusalém, o diabo desafia Jesus a pular dali, uma vez que será amparado por seus anjos. Esta cena divide a tela ao meio.
  • à direita, sobre um monte, o diabo mostra a Jesus os tesouros terrenos, prometendo-lhe que, se o adorar, terá total poder sobre aquelas riquezas. Satã é expulso por Jesus, que tem às costas três anjos que preparam a mesa para a celebração da Eucaristia.

No centro da composição, em primeiro plano, acontece uma celebração judaica. Ali se encontram o Sumo Sacerdote, que pode simbolizar Moisés, e um jovem homem de branco (que pode simbolizar Cristo), que foi curado da lepra por Jesus, e, que deverá ser purificado. O jovem segura uma tigela, juntamente com o sacerdote, dentro da qual se vê ramos de hissopo. Mais ao fundo, à esquerda, uma mulher aproxima-se trazendo duas aves para o sacrifício, dentro de uma vasilha de barro, coberta com um pano branco, sobre sua cabeça. Mais à direita, em primeiro plano, outra mulher traz sobre a cabeça um feixe de madeira de cedro, tendo próximo a si um pequeno anjo segurando cachos de uva. O hissopo, as aves e a madeira faziam parte do ritual de limpeza de um leproso.

Na frente da cena, que mostra o diabo tentando fazer Cristo transformar pedras em pães, num patamar inferior, vê-se o Mestre, acompanhado de três anjos, a explicar-lhes algo, possivelmente sobre os três testes feitos pelo diabo.

Ficha técnica
Ano: 1481/1482
Técnica: afresco
Dimensões: 345 x 556 cm
Localização: Museus do Vaticano, Roma, Itália

Fontes de pesquisa:
Enciclopédia dos Museus/ Mirador
http://www.wga.hu/html_m/b/botticel/4sistina/temptati/temptat.html

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Veronese – PAISAGEM COM VILA E CARRUAGENS

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Pinte o que mais lhe agradar. (Daniel Barbaro)

O afresco Paisagem com Vila e Carruagens é uma obra do pintor maneirista italiano Paolo Veronese. Foi feita para o rico Daniel Barbaro, a fim de ornamentar sua Villa Barbaro, em Maser, cujo arquiteto foi o famoso Andrea Palladio. Amigo de Varonese, Daniel deu-lhe inteira liberdade para ornamentar seu palácio em conformidade com seu próprio gosto. O trabalho do artista para a Barbaro deixa patentes três pontos essenciais de sua arte: a simetria na composição, a presença da arquitetura e a descrição do cotidiano.

Este painel, ao ser pintado numa parede, sugere a existência de uma janela que dá acesso à suposta vista. Em primeiro plano são vistas manchas verdes e cor de terra, que repassam a sensação de sombra. São poucas as paisagens feitas pelo artista, mas nas poucas que fez, como neste caso, exprimiu imaginação e liberdade. Esta obra foi tão sublime que, séculos mais tarde, as pinturas da Villa Barbaro seriam igualadas às músicas de Bach.

A pintura mostra uma alameda com gigantescas árvores. Em primeiro plano está um homem conduzindo três cachorros. Mais atrás, uma carroça, guiada por um cocheiro e puxada por dois cavalos brancos, conduz duas mulheres ricamente vestidas. Dois homens a cavalo e dois outros a pé, acompanham a carruagem. Ao fundo vê-se a imponente Villa Barbaro. Uma carruagem está parada em frente, mostrando alguém que desce (ou sobe). Pessoas são vistas nas varandas. Um homem está sentado debaixo de uma árvore, ao lado de seu animal. Um céu majestosamente azul com nuvens brancas e três aves voando encimam a paisagem.

Ficha técnica
Ano: c. 1561
Técnica: afresco
Dimensões: medidas não encontradas
Localização: Villa Barbaro, Maser, Itália

Fontes de pesquisa
Veronese/ Abril Cultural
1000 obras-primas da pintura europeia/ Könemann

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