Arquivo da categoria: Mestres da Pintura

Estudo dos grandes mestres mundiais da pintura, assim como de algumas obras dos mesmos.

Mestres da Pintura – CORREGGIO

Autoria de Lu Dias Carvalho

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O pintor que seria considerado por gerações subsequentes o mais “progressista” e o mais audacioso inovador de todo o período levou uma vida solitária na pequena cidade de Parma, no norte da Itália. (E.H. Gombrich)

O pintor italiano Antonio Allegri (c. 1489-1534) nasceu em Corregio, na Emília, e acabou adotando o nome da cidadezinha de seu nascimento — Corregio. Era filho de Pellegrino de Alegris e de Bernardina Ormani, mas sua grande ligação foi com o seu tio Lorenzo, pintor de profissão que o incentivou no gosto pela pintura e repassou-lhe os primeiros rudimentos sobre a arte que viria a adotar. Presume-se que tenha sido aluno de Francesco Biachi Ferrarri, embora tenha recebido grande influência dos trabalhos de Andrea Mantegna, Leonardo da Vinci, Rafael Sanzio e Michelangelo.

Corregio é tido como um dos mais renomados pintores do Alto Renascimento. Ao buscar em sua obra o máximo possível de leveza e elegância, acabou por ser o primeiro a criar a pintura ilusionista. Ao usar a cor, para equilibrar as formas em sua pintura, acabou inovando nos efeitos de luz e sombra. Foi também responsável por criar uma inusitada tridimensionalidade, através do uso do escorço e da sobreposição. Para criar profundidade de campo, usou a iluminação aliada às diagonais de alinhamento.

O artista foi responsável por dar início ao movimento Barroco na pintura. E sua refinada técnica e extrema aptidão no uso das cores foram responsáveis por pavimentar a renomada “escola veneziana”. É uma pena que tenha morrido muito jovem, não tendo sido capaz de esgotar toda a sua capacidade criadora. Seu filho Pomponio, também pintor, não herdou o grande talento artístico do pai.

Segundo E.H. Gombrich, “Correggio, ainda mais que Ticiano, explorou a descoberta de que luz e cor podem ser usadas para equilibrar formas e dirigir nossos olhos na direção de certas linhas”.

Fontes de pesquisa
Correggio/ Abril Cultural
A História da Arte/ E.H. Gombrich

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Gentile Bellini – S. MARCOS PREGANDO EM ALEXANDRIA

Autoria de Lu Dias Carvalho

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A composição São Marcos Pregando em Alexandria, também conhecida como A Pregação de São Marcos em Alexandria,  ou ainda, São Marcos Pregando na Praça Santa Eufêmia, em Alexandria, no Egito, é uma obra do pintor italiano Gentile Bellini. A obra foi encomendada por uma associação religiosa para ornamentar a Scuola di San Marco, uma vez que o culto de São Marcos em Veneza confundia-se com a própria cidade. Este quadro ficava na biblioteca, no primeiro andar, juntamente com seis outros relativos ao referido santo. Embora não conhecesse a cidade de Alexandria, o pintor situou o sermão do pregador ali, diante de um grupo de venezianos e orientais, propiciando um belo e exótico cenário oriental. Ao incluir-se na cena, ele a transpôs para a sua época, sem observar o enquadramento histórico.

A gigantesca tela traz em sua parte central a fachada de uma igreja, com contrafortes semicirculares a reforçá-la. O artista não retratou uma obra real, apenas idealizou grande parte dela, pois as três cúpulas e o arco superior remetem à Basílica de São Marcos, em Veneza. A obra refere-se à cidade de Alexandria, embora tenha sido pintada em Veneza. Pelos azulejos decorados das escadas e do pedestal, onde se encontra São Marcos a pregar, pode-se concluir que Gentile Bellini admirava a cidada de Constantinopla, que visitara, pois esses foram pintados de acordo com a cultura islâmica. A cidade aqui é vista como exótica, com as figuras usando toucados e enormes gorros, além da presença de dois dromedários e de uma girafa.

São Marcos apresenta-se à esquerda de uma praça retangular, de pé sobre uma espécie de púlpito, trajando um manto azul, cuja cor não está presente na vestimenta dos demais, diferindo-o, portanto, das pessoas à sua volta. Ele traz a mão direita erguida, enquanto segura um pergaminho com a esquerda, em referência ao fato de ter sido um dos quatro evangelistas. Atrás do pregador, um homem,  sentado num banco, parece ler ou fazer anotações. Uma multidão, formada por homens, mulheres árabes e crianças, composta por cristãos e pagãos, imobiliza-se para ouvir o pregador. Algumas pessoas transitam pela praça, incluindo homens montados em seus cavalos, e pequenos grupos conversam.

Artista meticuloso, Gentile Bellini retratou as roupas da época com extrema exatidão. À direita são vistos homens usando enormes gorros vermelhos, semelhantes aos da aristocracia militar circassiana. As mulheres, postadas na parte central da composição, mais próximas a São Marcos, encontram-se acocoradas, excetuando duas delas. Usam um toucado alto, encimado por uma túnica branca. São vistos também o obelisco egípcio  e os minaretes muçulmanos, assim como as casas cúbicas de telhado plano e caiadas de branco.

O artista preocupou-se em mostrar profundidade espacial, usando a perspectiva central e as listras de pedra clara. Em seu testamento, o artista delegou a seu irmão mais novo, Giovanni Bellini, a incumbência de completar esta pintura, que ainda se encontrava inacabada por ocasião de seu falecimento.

Ficha técnica
Ano – c. 131505
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 347 x 770 cm
Localização: Pinacoteca de Brera, Milão, Itália

Fontes de pesquisa
Los secretos de las obras de arte/ Taschen
Enciclopédia dos Museus/ Coleção Mirador
1000 obras-primas da cultura europeia/ Könemann

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Mestres da Pintura – GENTILE BELLINI

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Gentile Bellini (c.1426-1507), nascido em Veneza, era filho do famoso pintor Jacopo Bellini, irmão do não menos renomado Giovanni Bellini, e também cunhado do reconhecido artista Andrea Mantegna. Ainda em idade precoce mostrou seu talento como retratista. Teve como primeiro mestre o próprio pai, trabalhando em sua oficina, a qual, tempos depois, passou a dirigir. Chegou a receber o título de “Conte Palatino”. Esteve em Constantinopla em missões diplomáticas no cargo de embaixador de Veneza. À época, era o único pintor ocidental famoso a viajar pelo mundo islâmico. É provável que, através de Constantinopla, também tenha chegado a Jerusalém e ao Egito. Foi tido como um dos grandes nomes da pintura veneziana.

O artista chegou a trabalhar no palácio dos Doges da cidade de Veneza, mas nada recebia por isso, pois se encontrava a cargo do Senado, num cargo honroso, pelo qual recebia uma renda fixa. Nesse tempo era tido, portanto, como um artista oficial, período em que foi enviado à Turquia. Também fez parte do grupo de artistas contratados para pintar a série narrativa de 10 pinturas denominadas “Os Milagres da Relíquia da Cruz”.

As pinturas do artista destacam-se, sobretudo, pelo modo como fazia uso da perspectiva na execução dessas, assim como pelos contornos usados nas áreas de cor mais delicada, além de ser preciso e cuidadoso nos pormenores. Por se ater às minúncias e por ser dono de um estilo narrativo, Gentile Bellini foi capaz de legar à posteridade uma visão pormenorizada da Veneza da época. É lamentável, entretanto, que grande parte dos trabalhos do artista, incluindo seus quadros mais importantes, como as telas gigantescas que ornamentavam o Palácio do Doge, em Veneza, tenham perecido num incêndio em 1577.

Fontes de pesquisa
Los secretos de las obras de arte/ Taschen
1000 obras-primas da cultura europeia/ Könemann

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Rousseau – CRIANÇA COM MARIONETE

Autoria de Lu Dias Carvalho

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A composição Criança com Marionete, também conhecida como A Criança e a Marionete, é uma obra-prima do pintor francês Henri Rousseau. É tida como um dos mais belos retratos de criança da história da pintura. Apresenta uma garotinha, pequena na idade, mas gigantesca no tamanho, que ocupa a parte central da tela. Suas formas rechonchudas e roliças conduzem o observador à arte do artista colombiano Fernando Botero.

A meninha encontra-se em meio a um campo florido, salpicado de margaridas e papoulas. Ela usa a saia de seu vestido branco, dobrada e segura com a mão direita, para arrebanhar as inúmeras flores colhidas. Com a mão esquerda a não tão pequena manipula um boneco (fantoche, mamulengo, briguela, mané-gostoso…), que muitos veem como sendo a representação do próprio artista, o que remete às indagações: Seria ele um pintor ingênuo, uma eterna criança? Ou estaria apenas ocultando uma suposta ingenuidade atrás da máscara de seu pierrô, para assim ser aceito e melhor lidar com o mundo à sua volta, no qual era desdenhado por ser um pintor amador, sem nenhuma formação acadêmica?

Atrás da criança gigantesca, semelhante a uma boneca de porcelana e, que parece chamar a atenção do observador para seu brinquedo, cujas cores estão também contidas nas flores, passa um caminho de terra, dividindo o prado em duas partes.

Ficha técnica
Ano: c.1903
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 100 x 81 cm
Localização: Kunsthalle Winterthur, Winterthur, Suíça

Fontes de pesquisa
Rousseau/ Editora Taschen
http://www.montableau.com/fr/rousseau-henri-enfant-a-la-marionnette-pv2952.html

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Rousseau – UMA NOITE DE CARNAVAL

Autoria de Lu Dias Carvalho

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A composição Uma Noite de Carnaval é uma obra do pintor francês Henri Rousseau. Com ela ele fez a sua primeira participação no Salão dos Independentes, em Paris, onde se reuniam as obras desprezadas pelo Salão oficial. Para dele participar era necessário apenas o pagamento de um uma pequena contribuição, pouco importando se o artista fosse amador ou se não tivesse qualquer conhecimento teórico sobre arte. Ali se seguia o lema do pintor Gustave Courbet, para quem a arte era um campo democrático que deveria estar ao alcance de todos.

A cena noturna Uma Noite de Carnaval e a pintura “Tarde de Domingo na Ilha da Grande Jatte”, de Georges Seurat, foram as duas obras que mais chamaram a atenção do público e da crítica, à época, embora fossem poucos os julgamentos positivos, alusivos à ingenuidade e originalidade presentes nas duas composições. A maioria das críticas eram desdenhosas, ridicularizando as duas obras.

Muitos críticos achavam que Henri Rousseau, em sua composição, não tinha nada a acrescentar à História da Arte, pois sua obra não passava de uma superfície, onde se postavam uma lua branca, tufos de nuvens em azul-noite, um embaraçado de árvores escuras cobertas de folhas, um pequeno coreto transparente e um casal fantasiado, como se fosse tirado de uma publicidade de chocolate e colado na tela. Achavam também que o artista não passava de um pintor ridículo, cuja capacidade artística igualava-se com a de uma criança de seis anos.

Rousseau chamou este tipo de pintura de retrato-paisagem, em que o retrato vem em primeiro plano e a paisagem apresenta-se ao fundo. Embora a lua apresente-se límpida num céu estrelado, tem-se a impressão de que, por trás das árvores, o sol ainda se encontre em seu ocaso. As duas figuras humanas, em suas fantasias, estão de braços dados, de frente para o observador, como se estivessem sendo fotografadas.

Ficha técnica
Ano: 1886
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 106,9 x 89,3 cm
Localização: Philadelphia Museum of Arte, Filadélfia, Estados Unidos.

Fonte de pesquisa
Rousseau/ Editora Taschen
http://totallyhistory.com/a-carnival-evening

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Caravaggio – A CEIA EM EMAÚS (II)

 Autoria de Lu Dias Carvalho

Aproximando-se da aldeia para onde iam, deu ele a entender que ia para mais longe. Mas eles o constrangeram, dizendo: Fica em nossa companhia, porque é tarde e o dia já declinou. Ele entrou para ficar com eles. (Lucas, 24:28-29)

Esta composição é uma das duas pinturas em que Caravaggio retrata o mesmo tema religioso: a Ceia em Emaús. Trata-se de uma pintura mais dramática, mais simples e mais escura do que a anterior. Nesta, os movimentos dos personagens são mais comedidos e o colorido da tela é menos intenso, quase monocromático, o que dá mais ênfase à dramaticidade da cena, e destaca o azul da túnica do Mestre. A natureza morta sobre a mesa é também mais modesta. Aparentemente Cristo já abençoou o pão, que descansa partido no prato. Uma forte luz ilumina toda a cena, que acontece diante de um fundo escuro. Existe um espaço de cerca de cinco anos entre as duas pinturas.

Uma mesa de madeira, em formato retangular e com desenhos entalhados, ocupa o primeiro plano. Sobre sua toalha esbranquiçada estão um jarro de água, com a alça voltada para o observador, e dois pratos de barro, dos quais emanam filetes de luz.  Dentro de um dos pratos encontra-se um pão já partido, enquanto outro repousa em frente a um dos personagens. Os objetos, todos muito simples, criam fortes sombras. Ocupando a parte central da mesa está Cristo, enquanto um dos apóstolos ocupa a lateral direita e outro a esquerda. De pé, entre Jesus e um dos apóstolos, está o hospedeiro e sua serva, atentos ao trio.

Na composição, que se estrutura em torno do gesto eucarístico do Mestre, Caravaggio retrata cinco personagens: Cristo, os dois apóstolos, o estalajadeiro e a serva. A cena parece mostrar o momento logo após a bênção do alimento. Os personagens, com seus gestos, apontam ao observador a figura de Jesus, excetuando a mulher, que traz os olhos baixos, direcionados ao apóstolo à direita. Os detalhes pouco elaborados da tela permitem que a atenção do observador esteja voltada para o conteúdo emocional da cena.

A passagem bíblica narra que Cléofas e Pedro (possivelmente), entristecidos com a morte do Mestre, resolvem caminhar até a aldeia de Emaús. Durante o trajeto, um desconhecido agrega-se à companhia dos dois. Ao chegar a Emaús, o pequeno grupo detém-se em uma estalagem para comer. Antes da ceia, os dois discípulos surpreendem-se ao ver o desconhecido abençoar o pão. A seguir, descobrem que se trata do Cristo ressuscitado, que repete o mesmo gesto feito na Última Ceia.

Ficha técnica
Ano: 1606
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 175 x 141 cm
Localização: Museu de Brera, Milão, Itália

 Fontes de pesquisa
Enciclopédia dos Museus/ Mirador

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