Arquivo da categoria: Mestres da Pintura

Estudo dos grandes mestres mundiais da pintura, assim como de algumas obras dos mesmos.

Mestres da Pintura – PAUL KLEE

Autoria de Lu Dias Carvalho

pakle

Concebo um motivo muito diminuto e tento representá-lo de forma sumária, naturalmente por meio de “estágios”, mas de modo prático, isto é, armado de um lápis. Partindo desta ação concreta, resulta algo bem melhor, dessa série de pequenos atos repetidos, de um élan poético sem forma e sem figuração… Todas as coisas pequeninas e justapostas umas às outras, estreitamente, formam um conjunto que em si constitui uma atividade real. Aprendo retomando desde o princípio, começo a formar alguma coisa, como se eu ignorasse tudo sobre pintura. Porque descobri uma pequena propriedade incontestada até agora, um gênero especial da representação em três dimensões sobre a superfície. (Paul Klee)

Antes de fazer o segundo ano, apeteceu-me abandonar a escola, no que fui contrariado pelos meus pais. Isto foi para mim um martírio. Só gostava do que era probido: desenhos e literatura. (Paul Klee)

O pintor, teórico da arte e educador Paul Klee (1879-1940) é originário de um lugarejo chamado Münchenbuchsee, próximo a Berna, na Suíça. Ele nasceu e cresceu numa família de músicos. Seu pai, o alemão Hans Klee, era um professor de música, e sua mãe, a suíça Ida Frick, estudava Canto, tendo o artista, incialmente, hesitado entre a escolha da música e a da pintura. Aos sete anos começou a aprender a tocar violino e, aos onze já dominava muito bem tal instrumento. Lidava com a música, a escrita e o desenho. Portanto, nada mais do que normal a relação de sua pintura com a músíca, pois ele vivia em meio a uma e a outra. Contudo, a música tinha um peso inferior ao da pintura, que lhe possibilitava criar mais.

Especula-se que foi a avó de Klee quem lhe ensinou a trabalhar com os lápis e o papel. Ainda muito jovem, ele foi para Munique, na Alemanha, onde veio a estudar na Academia de Belas-Artes. Também fez viagens ao exterior, inclusive à Itália, no intuito de aumentar seus conhecimentos. Ali estudou os velhos mestres da pintura e também fez música. Ficou encantado com os tesouros artísticos encontrados nas cidades italianas, apreendendo as lições de arquitetura do Renascimento e da estatutária de Michelangelo.  Retornou a Breda, mas sem perder contato com Munique, onde, através de exposições, ficou conhecendo a obra de Blake, Goya e James Ensor. Casou-se com a pianista Lily Stumpf, tendo com ela seu único filho, Felix. A Klee cabia cuidar da educação do filho e das tarefas domésticas, uma vez que sua esposa dava aula de piano, e a renda de ambos era muito pequena.

Nas viagens que faz a Paris, Klee encantou-se com as obras de Van Gogh e Cézanne. Embora fosse dono de uma arte natural e autônoma, o artista apreendeu lições do Cubismo, do Expressionismo e do Primitivismo. Travou contato com os pintores do grupo “Der Blaue Reiter” (O Cavaleiro Azul), ocasião em que se tornou amigo de Kandinsky, Franz Marc, Macke e Jawlensky. No ano seguinte entrou em contato com o pintor Robert Delaunay e com as obras de Rousseau, Picasso e Braque. Embora só tenha tido uma edição, a publicação “Der Blaue Reiter” é tida como o mais importante manifesto da Arte do século XX.

Dentre as viagens feitas por Klee, a visita à Tunísia, no norte da África, que teve a duração de 12 dias, foi a que mais exerceu influência sobre sua arte. O artista ficou fascinado com o brilho e luminosidade daquele país, o que o levou a transpor para suas telas uma turbulência de cores. Ele se tornou dono de um estilo pictórico que fazia uma junção perfeita entre uma fantasia livre e uma sólida organização. Aos poucos, em sua pintura, a forma foi ultrapassando o conteúdo. Ele não tinha mais como objetivo representar a realidade exterior.

Paul Klee foi convocado para servir na Primeira Guerra Mundial, mas logo retomou sua arte (soube-se depois que seu pai trabalhou para que ele não fosse mandado para o front). Já bem conhecido, foi convidado para lecionar na renomada Bauhaus. Continuou com suas excursões pelo mundo (Itália, Córsega, Egito), sempre agregando novas influências à sua arte. Foi chamado para lecionar na Academia de Belas-Artes de Düsseldorf, na Alemanha, quando o nazismo já mostrava a cara. Sua pintura passou a ser chamada de “bolchevismo cultural” pelos nazistas, e de “facismo cultural” pelo stalinistas. Ele foi retirado do cargo. Dentre as obras de Klee, 102 delas foram confiscadas pelo governo nazista, e 17 passaram a fazer parte da “Exposição  de Arte Degenerada”.

O artista retornou à Suíça, dando início à última parte de sua carreira. Encontrava-se angustiado ao conscientizar-se de quão frágil era a arte diante da prepotência das ditaduras. Suas telas passaram a ter nomes sombrios como “O Medo” ou “A Máscara do Medo”. O colorido de sua arte cedeu lugar às formas arredondas, em ziguezagues, de limites indeterminados. Nessa fase, Klee passou a excluir qualquer traço ou matiz supérfluo, numa crescente economia de meios, e ampliou a dimensão de seus quadros. Ele também lutava contra uma doença de pele (esclerodermia progressiva) que, ao enrijecer-lhe os tecidos, dificultava-lhe o manuseio do pincel, o que tornou sua obra ainda mais angustiante.

Paul Klee, ao contrário de Kandinsky, não queria subtrair a naturza de sua obra, mas apenas modificá-la através de sua sensibilidade e imaginação. Foi na obra do pintor holandês Van Gogh, em sua deformação da linha,  que ele encontrou um dos subsídios para seu estilo original. O artista morreu, em 1940, após cinco anos de sofrimento, na batalha travada contra sua doença de pele, quando tinha início a Segunda Guerra Mundial.

Acerca de Klee tem-se dito que sua evolução artística foi lenta. É possível que seu ambiente familiar tenha contribuído para isso, uma vez que a música ocupava o lugar principal na casa paterna, sem falar que o artista também tinha, por esta forma de arte, grande paixão, dedicando-lhe bastante tempo. Embora Paul Klee tenha nascido e sido criado na Suíça, era considerado cidadão alemão como seu pai.

Paul Klee é tido como um pintor primitivista, levando-se em conta o fato de que ele modelou suas pinturas tomando por base os desenhos infantis, como fizeram artistas como Picasso, ao usar as máscaras primitivas tribais e figuras de coleções antropológicas. Inclusive, o artista, em seus estudos, tomou como base os desenhos de infância de seu filho Felix. Klee não achava que os desenhos infantis fossem bonitos, mas apenas que eles mostravam caminhos para que valores mais profundos fossem encontrados.

Fontes de pesquisa
Gênios da pintura/ Abril Cultural
Paul Klee/ Taschen

Views: 0

Grünewald – A PEQUENA CRUCIFICAÇÃO

Autoria do Prof. Pierre Santos

apecru

A Crucificação, obra do germânico Mathias Grünewald, é um soco na nossa cara, como se o tema do quadro estivesse nos reprovando: “Estão vendo o que vocês fizeram?”, tal a violência expressiva da linguagem de Grünewald. Aliás, são assustadoramente atuais os ‘Cristos’ deste pintor alemão. Não é sem razão, e por aí se vê, que esse artista é considerado não só o precursor do Expressionismo, mas, acima disto, o iniciador desse movimento artístico, com quase quatro séculos de antecedência, que só vingou no princípio do século XX.

Não obstante a carga emocional que passa, o quadro em si é de extrema simplicidade em seu arranjo cênico e em sua composição. Chama-nos a atenção, no primeiro plano, este abaulamento das linhas composicionais à frente do quadro: Nossa Senhora, de pé, envolta por sua dor, evita nos olhar, como se nos considerasse coniventes, corresponsáveis por aquele acontecimento – e, mesmo passados dois milênios, será que não seríamos? – O manto, que lhe cobre a cabeça, desce pelo ombro direito e vai numa curva compor-se com o cotovelo direito de Maria Madalena, orando ajoelhada aos pés da cruz; com a ponta dos pés do Crucificado, e com a dobra do panejamento da capa de São João, terminado na linha de sua face avultada contra a sombra do fundo.

Esta forma abaulada aí está para acolher, ungir e amparar o corpo do Redentor, que parece estar resvalando lentamente para baixo pela áspera face do madeiro, onde está cruelmente pregado, e tanto, que os braços da cruz vergam-se ao peso do corpo relaxado pela morte, que havia acabado de acontecer. A multidão, que estivera ali, já tinha ido embora e só restaram esses três personagens, como testemunhas que foram do martírio, minuto a minuto, ao longo de horas e mais horas.

A sombra da noite é profunda, quase tétrica, e atenua o valor das tonalidades de cores. A disposição cênica dos elementos composicionais é sumária, em decorrência do laconismo que o tema exigiu do pintor: apenas quatro pessoas; pequena elevação rochosa à esquerda, encimada por um arbusto verde musgo, com ligeiras e diminutas formas avermelhadas; um pequeno monte relvado à direita, nas costas e do mesmo tamanho de São João; e na faixa central um diminuto campo verde gramado com pequeno rochedo ao fundo. Este sustenta o plano da frente, salientando a parte vertical da cruz, que só não se confunde com o fundo azul escuro do céu, porque suas margens estão marcadas por sutis traços brancos, destacando o madeiro. Enquanto isso, a parte horizontal da cruz, lá em cima, e o Cordeiro sacrificado, que tem ali pregadas as mãos meio crispadas, mais parecem constituir um conjunto miraculoso de perdão.

Jesus Cristo, maior do que os outros personagens por exigência da própria composição, parece avançar para nós, a fim de abraçar-nos em sua infinita misericórdia. O resto é magia, tanto quanto é mágica a disposição daquela pequenina lua (ou um eclipse?), quase sumida, acima da cruz, que se compõe com o corpo meio inclinado para trás de João, que reza de pé, como as mãos postas, para neutralizar o peso da parte esquerda, acentuado pela inclinação da cabeça de Nosso Senhor,  que revela ao mundo o seu sofrimento.

Ficha técnica
Ano: c. 1511/1520
Técnica: óleo em tela
Dimensões: não encontradas
Localização: National Gallery of Art, Washington, Estados Unidos

Views: 1

Giuseppe Arcimboldo – O HORTICULTOR

Autoria de Lu Dias Carvalho

horta

A composição O Horticultor é uma obra do famoso pintor italiano Giuseppe Arcimboldo, retratista oficial na corte dos Habsburgos. Faz parte de uma série conhecida como “Diversões”. O mais interessante nesta caricatura, a exemplo da obra “O Cozinheiro”, é que ela pode ser invertida, ou seja, virada de cabeça para baixo, trazendo ao observador um novo sentido:

  • Na primeira pintura temos uma tigela verde-escura cheia de legumes.
  • Ao virá-la (segundo quadro), os legumes transformam-se na cabeça rechonchuda de um suposto horticultor, e a tigela transforma-se em seu chapéu.

Ficha técnica
Ano: c. 1590
Técnica: óleo sobre madeira
Dimensões: 35 x 24 cm
Localização: Museo Civico Ala Ponzone, Cremona, Itália

Fontes de pesquisa
Arcimboldo/ Editora Paisagem
https://www.nga.gov/exhibitions/2010/arcimboldo/arcimboldo_brochure.pdf

Views: 95

Giuseppe Arcimboldo – QUATRO ESTAÇÕES / QUATRO ELEMENTOS

Autoria de Lu Dias Carvalho

quaes           quael

   (Faça o curso gratuito de História da Arte, acessando: ÍNDICE – HISTÓRIA DA ARTE)

O Verão é quente e seco, como o Fogo. O Inverno é frio e molhado, como a Água. O Ar e a Primavera são ambos quentes e molhados, e o Outono e a Terra são frios e secos. (Giambattista Fonteo)

As alegorias referentes às Quatro Estações e aos Quatro Elementos não foram invenções de Giuseppe Arcimboldo. A novidade encontrava-se na forma como o artista representou-as, ou seja, em forma de cabeças, embora antes dele já houvesse cabeças compostas com diversos objetos, mesmo antes do Renascimento. A pintura criativa, engenhosa e cheia de detalhes do artista é que fez toda a diferença.

O famoso pintor italiano Giuseppe Arcimboldo pintou a primeira série das Quatro Estações, composta por “Primavera”, “Verão”, “Outono” e “Inverno” em 1563, quando se encontrava a serviço do Imperador Fernando I. Infelizmente o “Outono” dessa primeira série perdeu-se. Mas o pintor fez outras séries com pequenas diferenças, mas todas elas dotadas do mesmo nível de qualidade e criatividade.

O tamanho das quatro telas de Quatro Estações é igual e todas ostentam uma guirlanda de flores em volta da figura. A grinalda possui forma retangular e mostra-se bem diferente do estilo das pinturas. Existe a hipótese de que tenha sido agregada à tela mais tarde. O fundo escuro das telas dá projeção às figuras. Há muitas simetrias simbólicas nas quatro composições. As cabeças encontram-se de perfil, duas voltadas para a direita e duas para a esquerda. Na ilustração do texto temos: “Verão e Primavera” e “Inverno e Outono”.

Depois vieram os Quatro Elementos, compostos por “Água”, “Fogo”, “Terra” e “Ar”, sendo que os dois últimos não foram ainda localizados. Também são obras famosas do pintor: “O Advogado”, “O Cozinheiro” e “O Escanção”, estando as duas últimas perdidas. Assim como nas telas relativas Às Quatro Estações, as pinturas referentes aos Quatro Elementos são pintadas sob a forma de uma cabeça em perfil.

Para Giambattista Fonteo — ajudante e amigo de Arcimboldo — as séries Quatro Estações e Quatro Elementos possuem várias características comuns, a começar pelo número quatro e pelas características pares: frio/quente, molhado/seco.

Por ocasião do Ano Novo os súditos do Imperador presenteavam-no. E em 1569 o Imperador Maximiliano II recebeu de Arcimboldo as séries Quatro Estações e Quatro Elementos, acompanhados de um poema (com 308 estrofes) de Giovanni Battista Fonteo, amigo e ajudante do artista, relativo aos quadros, o que reforça a ideia de que esses foram feitos para o Imperador que muito os apreciou, inclusive postando-os em seu quarto de dormir. Também reafirma a suspeita de que a arte de Arcimboldo estava correlacionada com a vida na corte, podendo ser explicada em termos de “alegorias imperiais”.

A composição dessas séries, sempre pedidas pelo Imperador, a quem servia o artista, reafirmou o talento de Giuseppe Arcimboldo como pintor, tornando-o muito conhecido em sua época. Tem sido motivo de estudo até os dias de hoje, no que diz respeito à história do pensamento humano, levantando uma série de abordagens. É preciso levar em conta, sobretudo, que na corte em que vivia Arcimboldo havia um grande número de intelectuais, alquimistas e mágicos, havendo, portanto, no século XVI, uma grande proximidade entre as artes e aquilo que se tinha como as ciências da época.

Nota: conheçam as obras acima em detalhes, aqui neste blog, procurando no ÍNDICE GERAL por MESTRES DA PINTURA  e depois pelo nome do pintor.

Fontes de pesquisa:
Arcimboldo/ Editora Paisagem
https://www.nga.gov/exhibitions/2010/arcimboldo/arcimboldo_brochure.pdf

Views: 417

Botticelli – A VOLTA DE JUDITE A BETÚLIA

Autoria de Lu Dias Carvalho

avodejube

A composição A Volta de Judite a Betúlia é uma obra do pintor italiano Sandro Botticelli (1445-1510), que aos17 anos de idade tornou-se aluno do prestigiado artista frade Filippo Lippi, mas não demorou muito para que o aluno superasse o mestre, com suas figuras suaves, rostos sérios e expressões contemplativas, buscando apresentar a realidade interior de seus personagens. Os artistas Antonio del Pollaiuolo, Andrea del Verrochio, Ghirlandaio e Perugino também exerceram influência na arte de Botticelli.

Nesta sua pintura, Botticelli mostra a influência recebida de alguns de seus mestres Lippi, Verochio e Pollaiolo. Ele retrata o momento em que Judite, depois de matar Holofernes, retorna a Betúlia, acompanhada por outra jovem. Apesar do assassinato cometido, nada há no rosto ou nas vestes de Judite que possam denunciar seu crime, a não ser a cabeça decepada de Holofernes, o inimigo de seu povo, que sua serva carrega numa cesta, envolta em panos.

A hebreia Judite e sua serva Abra encontram-se numa elevação. Ela caminha à frente, carregando na mão direita a espada usada no crime e um galho verde de oliveira na esquerda, o símbolo da paz para os hebreus, após a morte do general. Abra segue atrás, segurando a saia do vestido e carregando a cabeça do general. Elas se mostram apressadas. As ondulações das roupas das duas figuras, dos véus e do galho, mostram que se encontram em movimento. À frente das duas jovens está uma árvore de tronco reto. Embaixo, no vale, os soldados de Holofernes, em seus cavalos, buscam pela culpada. A luz pálida denuncia a madrugada.

O artista conseguiu expressar na pintura tanto o movimento quanto a imobilidade, num equilíbrio único. Enquanto a criada parece andar velozmente, com sua passada larga, Judite parece parar e voltar-se para o observador.

Obs.: A história bíblica sobre Judith, que matou o general Holofernes, comandante-em-chefe do rei assírio, porque ele perseguia os hebreus em Betúlia, foi um dos temas favoritos do Renascimento florentino.

Ficha técnica
Ano: c. 1470-1475
Técnica: têmpera sobre madeira
Dimensões: 31 x 24 cm
Localização: Galleria deglu Uffizi, Florença, Itália

Fontes de pesquisa
A Enciclopédia dos Museus/ Mirador
1000 obras-primas da pintura europeia/ Könemann
http://www.jornada.unam.mx/2010/10/03/sem-annunziata.html
http://www.wga.hu/html_m/b/botticel/1early/12judith.html

Views: 21

Pontormo – A CEIA EM EMAÚS

Autoria de Lu Dias Carvalho

acema

O pintor italiano Jacopo Carucci (1494–1556) nasceu na cidade de Pontormo na Toscana, apelido que viria a dotar em sua arte. Teve como mestre Leonardo da Vinci e Piero di Cosimo, vindo depois a entrar para o ateliê de Andrea del Sarto, tendo desenvolvido um estilo maneirista distinto. Em 1522 foi morar no monastério da Ordem dos Cartuxos, onde pintou uma série de afrescos, cujo tema era a Paixão e a Ressurreição de Jesus Cristo. Foi professor de seu filho adotivo Agnolo Bronzino e também colaborador de Michelangelo. Suas últimas obras receberam a influência das gravuras de Albrecht Dürer, por quem nutria grande admiração e seguiu o modelo de Michelangelo. Assim como Rosso Florentino, Pontormo tornou-se o expoente máximo do Maneirismo, com seus trabalhos dramáticos e expressivos.

A composição A Ceia em Emaús é uma obra do pintor que  fez esta gigantesca tela para ornamentar o mosteiro de Certoza del Galluzzo, no sul de Florença, onde ele se refugiou para fugir da peste que minava a cidade. Em sua tela Pontormo relata a passagem bíblica que fala sobre o encontro de Cristo ressuscitado com dois de seus apóstolos, quando a caminho da aldeia de Emaús, não sendo por eles reconhecido, mas o Mestre revelou-se quando se encontrava à mesa com esses (Lucas: 24:13-33).

Jesus Cristo encontra-se sentado diante de uma mesa redonda, forrada com uma toalha branca. Ele olha diretamente para o observador, como se também o abençoasse, embora aparente estar distante em seus pensamentos. Mostra-se piedoso e cheio de amor. Usa uma túnica azul que cai sobre seus ombros e peito, formando um decote em V. Na mão esquerda traz o pão partido ao meio, enquanto o abençoa com a direita. Acima dele está o Olho da Providência, dentro de um triângulo azul que se encontra sobre um círculo dourado de luz. O Olho da Providência volta-se para baixo, acompanhado o encontro entre Jesus e seus dois discípulos.

O triângulo com o Olho da Providência é o ponto mais elevado da composição piramidal formada pelos dois apóstolos e a extremidade da toalha branca. A figura de Cristo, vestida de azul forma, por sua vez, um segundo triângulo, ou seja, há um triângulo dentro de outro.

Dois discípulos estão sentados em bancos de madeira, à mesa — um ao lado do outro. Seus pés rudes e descalços estão à vista. O discípulo da esquerda enche seu copo com vinho, enquanto o da direita segura um pão e fita Jesus. Ao grupo foi agregada a presença de cinco monges cartuxos (eles foram os responsáveis pela encomenda da obra). Dois deles estão de pé, de corpo inteiro, cada um ao lado de Cristo à mesa. O da esquerda também se encontra em postura de bênção, tendo dois outro atrás dele, dos quais só se vê a cabeça e uma mão. O da direita está ereto, voltado para o observador. Atrás dele está um monge com uma taça na mão.

Todas as figuras têm corpos alongados e cabeças finas, característica do estilo maneirista do pintor. A pintura repassa a impressão de arte primitiva. Excetuando Jesus, que traz um halo acima da cabeça, simbolizando sua divindade, as demais figuras são retratadas como pessoas pobres e comuns. O tema tem a ver com a realidade humana.

A forma oval da mesa permitiu ao pintor agregar com facilidade as figuras em torno dela. Os tons marrons claros e o amarelo são dominantes, mas em perfeita sintonia com os puros: o azul do manto de Jesus, ao meio; o vermelho do manto de um dos apóstolos, à esquerda; e o verde do manto do outro, à direita. Há uma certa melancolia na composição.

Sobre a mesa encontram-se um prato de metal, duas facas, uma garrafa de vidro e duas taças. Na parte inferior esquerda, atrás do banco, está um cãozinho e logo atrás vê-se um gato, e à direita, abaixo do banco, vê-se o rosto de um segundo gato, todos eles fitando o observador.  Cristo e o apóstolo à direita trazem a mão direita sobre a mesa, segurando um pão, formando uma bela simetria.

Nota: O Olho da Providência, também conhecido por “Olho de Deus”, simboliza a presença de Deus, tendo sido usado durante muitos séculos. Encontra-se presente na moeda americana. O que aparece na pintura é tido como um acréscimo posterior, provavelmente feito pelo pintor Jacopo da Empoli.

Ficha técnica
Ano: c. 1525
Técnica: óleo sobre madeira
Dimensões: 230 x 175 cm
Localização: Galleria deglu Uffizi, Florença, Itália

Fontes de pesquisa
A Enciclopédia dos Museus/ Mirador
1000 obras-primas da pintura europeia/ Könemann

Views: 171