Arquivo da categoria: Mestres da Pintura

Estudo dos grandes mestres mundiais da pintura, assim como de algumas obras dos mesmos.

Lichtenstein – NUVEM E MAR

Autoria de Lu Dias Carvalho

O pintor estadunidense Roy Lichtenstein (1923–1997) nasceu numa família de classe média alta. Seu contato informal com a pintura teve início em sua adolescência — em casa —, época em que também passou a demonstrar interesse pelo jazz, como mostram os muitos retratos pintados por ele, de músicos tocando seus instrumentos. Seu contato formal com arte deu-se quando tinha 16 anos de idade, ao frequentar as aulas da Liga dos Estudantes de Arte, sob a direção de Reginald Marsh. Seu objetivo era ser um artista. Foi depois para a School of Fine Arts da Ohio State University — uma das poucas instituições do país que possibilitavam a licenciatura em belas-artes. Ali recebeu influência de seu mestre Hoyt L. Sherman, dando início aos trabalhos expressionistas.

A composição intitulada Nuvem e Mar é uma paisagem do artista, feita em esmalte sobre aço, em que ele usa formas simples. Foi criada em seu período mais popular. Ele iniciou seu trabalho pop, inspirado nos quadrinhos, usando inicialmente a paisagem. Ainda que viesse a tomar outro rumo em relação a esta temática, Lichtenstein jamais a abandonou, usando-a com certa regularidade. No lugar do sombreamento ele se inspira nos pontos Bem-Day — exagerando no efeito — que à época era usado na impressão da arte dos quadrinhos. É possível notar que o uso de pontos mais escuros em um fundo mais claro dá mais profundidade ao céu e às nuvens sem, contudo, diminuir os contornos fortes.

O que impressiona é o fato de o artista fazer uso de uma cena comum de uma maneira que parece inovadora até mesmo nos dias de hoje. Ele foi capaz de lançar mão de algo simples e transformá-lo em arte, usando linhas e pontos simples nas camadas da cena, transformando-a em algo novo.

Ficha técnica
Ano: 1964
Técnica: esmalte sobre aço
Dimensões: 76 x 152,5 cm
Localização: Museu Ludwing, Colonia, Alemanha

Fontes de pesquisa
Lichtenstein/ Editora Taschen
http://lichtensteinpaintings.com/cloud-and-sea/

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Carracci – PIETÀ

Autoria de Lu Dias Carvalho

O pintor italiano Annibale Carracci (1560-1609), oriundo de Bolonha, foi um dos grandes responsáveis pelo início do período barroco, tendo deixado uma importante contribuição para a pintura. Pertencia a uma família de artistas e estudara a arte de Veneza e a de Correggio. Quando em Roma, o artista viu-se fascinado pelas obras de Rafael Sanzio, sobretudo pela simplicidade e beleza de suas criações, numa época em que os maneiristas tomavam novos rumos.

Uma das obras-primas do artista é o retábulo Pietà que apresenta a Virgem Maria com o filho morto no colo. “Pietà” é uma palavra italiana que significa “piedade”, sendo muito presente na história da arte. Diz respeito à Virgem Maria amparando o corpo sem vida de seu filho no colo. O assunto não tem fontes registradas, mas o que se sabe é que apareceu pela primeira vez em Florença, por volta de 1500, a partir de representações da descida de Cristo da cruz, enfatizando o corpo morto e suas feridas. Tem por objetivo inspirar piedade e tristeza no observador ao ver a dor angustiante de uma mãe (simbolicamente a mãe da humanidade) por seu filho que, segundo a crença cristã, morreu pelos pecados da humanidade, apelando diretamente pela emoção.

Esta obra encontra-se entre as mais belas pinturas do século XVII. O que se sabe com certeza é que foi encomendada pelo cardeal Odoardo Farnese. Não se sabe qual era o seu destino original e tampouco a data precisa em que foi criada. Supõe-se, pelo formato da pintura, que se destinava à devoção particular do responsável pela encomenda, ornando uma capela ou a residência de Farnese. Quanto à data de sua execução, presume-se que tenha sido entre 1598 e 1600. A obra deixou Roma por um tempo, indo para Parma e depois para Nápoles, onde se encontra até os dias de hoje.

A Pietá de Carracci é sem dúvida uma das pinturas mais famosas de seu tempo, como mostram as inúmeras cópias, derivações e transposições de gravuras através dos tempos. Hoje é um verdadeiro cânone da representação da Pietà no período barroco. Antes de executá-la, o artista fez alguns estudos, tendo três deles chegado aos nossos dias, o que permite acompanhar o seu raciocínio na criação de tão belo trabalho. É possível saber que ele modificou a posição do corpo de Cristo na última versão preparatória em relação à primeira, ficando essa bem próxima do resultado final. Na primeira versão a Virgem Maria encontrava-se ajoelhada ao lado do corpo de Jesus que repousava sobre o túmulo.

O quadro é simples, harmonioso e tocante. A Virgem está sentada no chão, tendo parte do corpo de Jesus repousando sobre suas pernas e ventre. A cabeça de Cristo descansa sobre sua mão direita que a ampara ternamente. Seu rosto choroso está voltado para o filho morto, cujas pernas estão estendidas sobre a mortalha branca no chão. Carracci conseguiu repassar, através das feições da Virgem e de sua mão esquerda — retratada num exímio encurtamento — como se perguntasse sobre  o porquê de tamanha judiação, repassando muita dor.

A escala monumental das figuras e a composição piramidal repassam a gravidade da morte de Cristo e o grande sofrimento de sua mãe. Um anjo tristonho se debruça sobre o corpo da Virgem e sustenta a mão direita de Jesus Cristo, como se mostrasse a ferida ocasionada pelo prego. À direita da tela está um segundo anjinho, com seu rostinho contristado, que espeta o dedinho na coroa de espinhos de Jesus. Ele olha diretamente para o observador, como se o convidasse a refletir sobre o sofrimento pelo qual passou o Salvador e sobre a dor de sua mãe Maria.  

O corpo de Cristo mostra uma beleza apolínea. Seu pé esquerdo, postado à frente do direito, mostra a marca do prego. Em razão de sua postura suas costelas estão visíveis, assim como seus músculos. A pintura carrega um acentuado vigor escu—ltórico. O grupo formado pela Virgem, pelo corpo de Jesus e pelos dois anjos desalentados está próximo ao sepulcro que se encontra aberto. Todos eles, envoltos pela escuridão noturna, repousam sobre a terra pedregosa, só visíveis em razão dos efeitos de luz e das cores de suas vestimentas. Luz e cor agregam à pintura uma atmosfera de grande emoção íntima, lembrando Correggio.

Após presentear Nápoles com esta obra, o cardeal Farnese encomendou outra pintura com o mesmo tema a Carracci e que hoje se encontra no Louvre. Carracci mostra nesta obra a sua habilidade em combinar de forma original o estilo de artistas do passado — Correggio e Michelangelo. A obra acima compartilha várias semelhanças composicionais com a escultura de Michelangelo. Carracci tomou emprestada a composição piramidal, o gesto da Virgem e a fluidez flácida do corpo inanimado de Cristo.

Ficha técnica
Ano: 1599-1600
Dimensões: 156 cm x 149 cm
Técnica: óleo sobre tela
Localização: Museu de Capodimonte, Nápoles, Itália

Fontes de pesquisa
História da Arte/ E. H. Gombrich
https://it.m.wikipedia.org/wiki/Pietà_(Annibale_Carracci)
https://www.artble.com/artists/annibale_carracci/paintings/pieta

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Veronese – BANQUETE NA CASA DE LEVI

Autoria de Lu Dias Carvalho

banacale                                                  (Clique na gravura para ampliá-la)

A composição Banquete na Casa de Levi ou Cristo na Casa de Levi é uma obra do pintor maneirista italiano Paolo Veronese. Foi feita com a finalidade de ornamentar o refeitório do mosteiro dominicano dos santos João e Paulo na cidade de Veneza. Inicialmente foi intitulada como “Última Ceia”, designação que acabou por levar o artista aos tribunais da Inquisição, sob a alegação de irreverência e heresia.

Quando houve um incêndio no convento dominicano, o quadro “O Cenáculo”, feito por Ticiano, foi destruído. Os monges pediram, então, a Veronese que fizesse outro para colocar no lugar. A colossal tela levou dois anos para ficar pronta.  A temática era sobre a Última Ceia, e esse foi o título recebido. Mas o artista, criativo como era, colocou a cena relativa à passagem bíblica, com Cristo e seus apóstolos, no centro da composição e agregou nas laterais uma festa tipicamente veneziana. Em volta da cena principal os personagens comunicam entre si, mostrando uma variedade de posições e riqueza cromática.

A pintura mostra um imenso e rico cenário, com um grande número de personagens, embora poucos deles interajam com a cena principal. Ali se encontram nobres, bufões, soldados, anões, escravos, etc. Cristo está ladeado pelos apóstolos Pedro e João. Meio distante, vestido de vermelho e com um turbante da mesma cor, Judas encontra-se de costas para o observador, mas com o rosto de perfil. Grandes pilares, três imensos arcos e duas escadarias — uma à esquerda e outra à direita — fazem parte do cenário. Através dos arcos pode-se ver uma bela vista com suntuosos edifícios.

O Tribunal de Inquisição levantou a questão de que a presença de certos pormenores na pintura dessacralizavam o tema da Última Ceia, dentre os quais: um homem sangrando pelo nariz, soldados vestidos de alemães bêbados, um bobo com um papagaio, anões, vestimentas extravagantes, etc. Embora não se convencesse com as explicações de Veronese, o Tribunal deu ao artista três meses para efetuar modificações na pintura ou então mudar o título do quadro. Bobo que não era, o artista fez a opção pela mudança do título, passando a obra a chamar-se Banquete na Casa de Levi (Lucas: 5;27-32)

Ficha técnica
Ano: c. 1573
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 555 x 1280
Localização: Galleria dell’Accademia, Veneza, Itália

Fontes de pesquisa
Veronese/ Abril Cultural
1000 obras-primas da pintura europeia/ Könemann

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Lichtenstein – MOÇA AFOGANDO-SE

 Autoria de Lu Dias Carvalho

                                       

À época eu estava muito empolgado e muito interessado no conteúdo altamente emocional, mas destacava o manejo impessoal do amor, do ódio, da guerra, etc., nessas imagens de desenho animado. (Lichtenstein)

O pintor estadunidense Roy Lichtenstein (1923–1997) nasceu numa família de classe média alta. Seu contato informal com a pintura teve início em sua adolescência — em casa —, época em que também passou a demonstrar interesse pelo jazz, como mostram os muitos retratos, pintados por ele, de músicos tocando seus instrumentos. Seu contato formal com arte deu-se quando tinha 16 anos de idade, ao frequentar as aulas da Liga dos Estudantes de Arte, sob a direção de Reginald Marsh. Seu objetivo era ser um artista. Foi depois para a School of Fine Arts da Ohio State University — uma das poucas instituições do país que possibilitavam a licenciatura em belas-artes. Ali recebeu influência de seu mestre Hoyt L. Sherman, dando início aos trabalhos expressionistas.

A composição intitulada Moça Afogando-se é uma obra de Roy Lichtenstein e uma das pinturas mais representativas do movimento da Pop Art, sendo vista como um dos trabalhos mais importantes do artista estadunidense. Tem sido descrita como uma obra-prima do melodrama. Trata-se de uma das primeiras imagens do artista retratando mulheres em perigo.

A pintura apresenta uma garota com os olhos fechados, de onde escorrem grossas lágrimas. Ela já chorou tanto que um rio de lágrimas formou-se ao seu redor. A pungente tristeza de seu rosto mostra que está tomada por fortes emoções, sem forças para reagir às suas forças destrutivas. Através da frase contida no balão — Eu não me importo! Eu prefiro afundar a pedir socorro a Bred — é possível conhecer o que se passa no pensamento da jovem mulher, portanto, Bred Brad (nome encontrado em vários trabalhos do artista) é o causador de tamanho sofrimento. Ela prefere ser tragada pelo mar a pedir-lhe ajuda.

Roy Lichtenstein inspirou-se, para compor sua obra, numa história publicada em quadrinhos, intitulada “Run for Love”, na revista “Secret Love” em 1962. Ele eliminou o namorado da moça que aparece afogando-se ao fundo, agarrado a um barco. Deixou apenas a parte que se refere à garota (cabeça, ombro e a mão, vistos acima da água) e o mar. O pensamento da garota, contido no balão, também foi reduzido. Ela se encontra sozinha, centralizada na composição, e em meio a uma onda feroz parecida com um redemoinho. O artista jogou no sofrimento da moça toda a força da composição. O observador, na ausência de outros elementos, é incapaz de construir uma narrativa correta em torno de Bred, ficando a interpretação ao prazer de cada um.

Segundo alguns críticos, as representações de mulheres com os olhos lacrimejantes por parte de Lichtenstein, até meados da década de 1960, podem ter sido influenciadas pelas mulheres chorosas de Picasso e também pelo desmoronamento de seu casamento na com Isabel Wilson de quem se separou em 1963.

Nota: Lichtenstein reconhece que a onda presente na composição é uma adaptação da famosa gravura de Hokusai  conhecida como A Grande Onda de Kanagawa, cujo estudo se encontra presente neste blogue.

Ficha técnica
Ano: 1963
Técnica: óleo e magna sobre tela
Dimensões: 171,8 x 169,5 cm
Localização: Museu de Arte Moderna, Nova Iorque, EUA

Fontes de pesquisa
Lichtenstein/ Editora Taschen
https://en.m.wikipedia.org/wiki/Drowning_Girl
https://www.moma.org/learn/moma_learning/lichtenstein-drowning-girl-1963/

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Giovanni Bellini – A MADONA GREGA

Autoria de Lu Dias Carvalho

A composição denominada A Madona Grega — também conhecida como A Madona e o Menino —  é uma obra do pintor italiano Giovanni Bellini. Trata-se de uma obra arcaizante que segue a tradição do ícone. O artista deixou trabalhos apaixonantes relativos a Cristo e a Madona que em sua arte são, sobretudo, humanos.

A Virgem Mãe, de pé, envolta na beleza de seu manto azul-escuro, usado sobre seu vestido vermelho, segura nos braços seu Menino, cujos pezinhos apoiam-se no que parece ser o peitoril de uma janela. O corpo da criança mostra-se inclinado para a esquerda.

A Virgem e o pequeno Jesus têm o rosto voltado para a esquerda. Ambos exprimem uma profunda tristeza. O Menino traz uma pera na mão esquerda. Tal fruta simboliza a Paixão e a Redenção de Jesus Cristo. Mãe e Filho trazem a cabeça cingida por um halo fino dourado que caracteriza a divindade de cada um.

Esta obra recebeu o nome de A Madona Grega em razão da inscrição abreviada, em grego, escrita na parte esquerda da composição. Ali está escrito: “Mãe de Deus”, acima, e “Jesus Cristo”, ao lado. Em razão de tal inscrição presume-se que esta obra foi feita para uma igreja bizantina.

Ficha técnica
Ano: c. 1470
Técnica: painel
Dimensões: 62 x 82 cm
Localização: Museu de Brera, Milão, Itália

 Fontes de pesquisa
1000 obras-primas da pintura europeia
Enciclopédia dos Museus/ Mirador

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Albrecht Dürer – AUTORRETRATO COM…

Autoria de Lu Dias Carvalho

O pintor alemão Albrecht Dürer é responsável por um dos mais belos autorretratos da história da pintura — sua obra Autorretrato com Casaco de Pele. Presume-se que tenha sido pintada nos primeiros meses do início do ano de 1500, alguns meses antes de seu aniversário que aconteceria no dia 21 de maio. De acordo com a inscrição ao fundo, ele estaria com 28 anos, próximos aos 29 que faria em maio do mesmo ano.

Dürer encontra-se entre os artistas do Ocidente que mais produziram autorretratos que foram de suma importância para mostrar o seu crescimento como pintor, assim como as transformações sofridas pela pintura de sua época, tendo caminhado de simples arte para o ofício e depois para as belas-artes, sendo ele um dos responsáveis por essa caminhada. É importante saber que, naquela época, uma pose frontal só era comum aos retratos religiosos, sobretudo para os de Cristo, sendo Dürer um inovador. A ausência de fundo no autorretrato torna-o atemporal, enquanto as inscrições parecem flutuar no espaço escuro.

O artista encontra-se no auge de sua beleza. Seu autorretrato de busto repassa ao observador a força de seus traços, demonstrando solenidade e dignidade. Com seus cabelos grandes, volumosos e cacheados e a mão direita erguida no meio do peito em postura de bênção, fixando o observador, Dürer parece ter tomado para si o modelo iconográfico do Cristo Redentor, representado nas pinturas medievais. Existem também outras semelhanças com as convenções da pintura religiosa de então, como a simetria e os tons escuros. Ele veste um luxuoso casaco com guarnição em pele. À sua direita a inscrição refere-se ao ano em que a pintura foi feita e ao seu monograma, e  à sua esquerda, uma inscrição em latim diz que o artista pintou seu autorretrato aos 28 anos de idade.  É tido como o autorretrato mais pessoal e icônico que fez.

O retrato de Dürer, ao lembra algumas representações medievais de Cristo, remete à sua quase divindade como pintor — um dos mais criativos de seu tempo —, concepção essa que coadunava com o conceito renascentista do ser humano. Presume-se que esta pintura tenha sido profundamente retocada pelo pintor em princípio de 1520, após sua visita aos Países Baixos. Tal constatação deve-se ao fato de que foi após essa época que sua obra ganhou grandeza e força, havendo inclusive maior intensidade no colorido. E apesar da simetria mostrar-se aparentemente rígida, é possível observar que alguns elementos fogem desta regra: a cabeça do artista — ocupando o centro da composição — está ligeiramente voltada para a direita; os cachos dos cabelos, caem diferentemente em ambos os lados, enquanto seu olhar inclina-se ligeiramente para a esquerda.

Ficha técnica
Ano: 1500
Técnica: óleo sobre madeira
Dimensões: 67 x 49 cm
Localização: Pinacoteca de Munique, Alemanha

Fontes de pesquisa
Enciclopédia dos Museus/ Mirador
1000 obras-primas da pintura europeia/ Könemann
https://en.wikipedia.org/wiki/Self-Portrait_(D%C3%BCrer,_Munich)

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