Arquivo da categoria: Mitos e Lendas

O mito é uma narrativa na qual aparecem seres e acontecimentos imaginários, que simbolizam forças da natureza, aspectos da vida humana, etc. A lenda é uma narração escrita ou oral, de caráter maravilhoso, na qual os fatos históricos são deformados pela imaginação popular ou pela imaginação poética.

A LENDA DO UIRAPURU (I)

Recontada por Lu Dias Carvalho

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Em certa aldeia situada na floresta Amazônica, existiam duas indiazinhas que eram muito amigas. Dividiam tudo que possuíam e, onde uma estava a outra também ali se encontrava. Toda a aldeia comentava que nunca vira uma amizade tão bonita e leal. Mas eis que, passeando pela selva, elas encontraram um belo guerreiro de uma tribo vizinha. Imediatamente, as duas garotas enamoraram-se do jovem, mas sem que uma dissesse à outra, pois temiam ser rejeitadas pelo valente guerreiro. Diziam apenas que se encontravam apaixonadas, mas não sabiam se eram correspondidas. E assim que tivessem certeza de que o amor era mútuo, revelariam os sujeitos de tamanho ardor.

Certo dia, com o coração explodindo de tanta paixão, uma delas resolveu contar o seu segredo. E, para sua surpresa, a amiga estava apaixonada pelo mesmo índio que ela. Ainda assim, não desfizeram a amizade, e resolveram perguntar-lhe qual das duas ele amava.  Para espanto das garotas, ele disse amar as duas. Mas isso não estava certo, conforme as regras da tribo. Para resolver com qual se casaria, o guerreiro apresentou-lhes uma prova: aquela que flechasse certa ave, após sua ordem, seria a escolhida. E, como haveria de ser, apenas uma delas ganhou.

O guerreiro indígena casou-se com a vencedora, mas a outra ficou inconsolável, pois amor não é coisa que a gente joga fora quando quer. Sem falar que não mais  teria a companhia da amiga como antes. Então ela chorou, mas chorou tanto, que suas lágrimas criaram um novo riacho. Ao ver aquele pequeno rio até então inexistente, Tupã foi ver o que estava acontecendo. Ele encontrou a jovem índia desfazendo-se em lágrimas. Ela lhe disse que sentia saudades da amiga e do guerreiro. Queria pelo menos vê-los, mas eles iriam perceber como se encontrava desolada. Ela então foi transformada num passarinho, pelo deus Tupã, e foi visitar o casal. Mas ao ver a felicidade dos dois, sentiu-se mais triste ainda.

Tupã não queria ver aquela jovem, que virara um passarinho, desfazendo-se em tristeza. Resolveu, então, dar-lhe um canto tão maravilhoso, mas tão belo, que fosse capaz de parar todo o vozeio das aves, para escutá-la, e ao ouvir a belezura de sua voz, ela própria  sentir-se-ia alegre. E assim aconteceu . Deu-lhe o nome de uirapuru, que alguns chamam de irapuru, guirapuru, arapuru, irapurá, virapuru, tangará, dentre outros nomes.

Nota: Escutem a voz melodiosa do pássaro e a música que o tornou famoso, clicando nos links abaixo:

CANTO DO UIRAPURU

MÚSICA O UIRAPURU

Uirapuru
Composição de Jacobina/ Murilo Latini

Uirapuru, uirapuru
Seresteiro cantador do meu sertão
Uirapuru, uirapuru
Tens no canto as mágoas do meu coração!
A mata inteira fica muda ao teu cantar
Tudo se cala para ouvir sua canção
Que vai ao céu numa sentida melodia
Vai a Deus em forma triste de oração!
Se Deus ouvisse o que te sai do coração
Entenderia que é de dor, tua canção
E dos seus olhos tanto pranto rolaria
Que daria pra salvar o meu sertão!

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A LENDA DA MÃE-DA-LUA

Recontada por Lu Dias Carvalho

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A mãe-da-lua possui muitos nomes, sendo o mais conhecido o de “urutau”, mas, qualquer que seja ele, lembra uma história muito triste de uma sertaneja, história essa passada há muitos anos, quando a humanidade achava que só a formosura física tinha razão de existir. Mas o fato é que essa criatura nasceu deserdada de qualquer traço de belezura. Tudo em seu corpo físico estava atrelado à fealdade. Ninguém fazia caso dela, embora fosse uma boa filha para seus pais idosos, e, para quem dela precisasse. Seus pais temiam que ela pudesse ficar desvalida no mundo. Tinha também uma inteligência superior à das outras sertanejas do povoado. Mas isso não contava. Todos só viam sua feiura e, por isso, desprezavam-na.

Assim como a maioria das donzelas daquela época, a nossa personagem sonhava em se casar com um bom moço, porém, todos a rejeitavam, alguns com cautela e outros com zombaria e judiação. Mas seu ser inocente não perdia a esperança. Até que, cansada de tanto esperar, resolveu tomar seu cachorro e a noite como companheiros. Parecia que todas as coisas da natureza ficavam cheias de contentamento com a presença dela, pois eram capazes de sentir a bondade de sua alma. Só quando o dia começava a clarear é que voltava para casa, para cuidar de seus pais.

Certa noite, quando a lua mal e mal rasgava a escuridão, ouviu o tropel de um cavalo. Dele desceu um jovem, que lhe pediu informações sobre certo lugar nas cercanias. E durante um tempo caminharam juntos. Ele se encantou com a voz e a inteligência da moça. Disse-lhe que era um príncipe e desejava se casar com ela. Mas mal um feixe de luz alumiou seu rosto, o homem alegou estar com pressa, dizendo que voltaria, o mais breve possível, para se casarem. Partiu a galope, sem olhar para trás.

A sertaneja voltava seguidamente ao lugar, na esperança de encontrar seu noivo. Tudo em vão. Passaram todas as fases da lua, e a moça continuou só, acompanhada apenas do cão, dos elementos da natureza e da esperança. Até que certa noite, ela se deparou com uma mulher estranha, a quem falou sobre sua longa espera pelo noivo. Disse-lhe que queria ser uma ave, para ir à procura do amado, pois ele poderia estar doente, precisando dela. Compadecida, a mulher, que era uma feiticeira, transformou-a numa ave, que voou, voou, voou, e voltou sem ter encontrado o tal príncipe.

A moça pediu à bruxa que a fizesse voltar à sua forma normal, mas a feiticeira havia se esquecido das palavras que usara para o encantamento. Assim, a rapariga ficou sendo uma ave para sempre, morando num oco de árvore, vivendo silenciosamente. Até hoje ela usa sua plumagem para camuflar-se num tronco ou galho de árvore, pois não gosta do convívio humano. Só quando a lua nasce é que grita: “Foi, foi, foi, foi”! Muitos dizem que, na verdade, ela quer dizer: Ele (o noivo) foi embora, foi, foi, foi! E foi assim que surgiu a mãe-da-lua ou urutau.

Nota: imagem copiada de redeglobo.globo.com

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A LENDA DE SAPUCAIA-OROCA

Recontada por Lu Dias Carvalho

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Conta-se que houve um tempo em que os índios de uma tribo reuniram-se na ocara de sua taba, para debater sobre a construção de uma cidade tão rica e bela, que no mundo nenhuma outra a ela se igualaria. E assim fizeram, criando a mais suntuosa, a mais fascinante de todas as cidades já vistas. O luxo do lugar estendia-se a seus habitantes. Para comemorarem a magnífica obra, eles resolveram festejar durante uma semana, com um banquete regado a finas iguarias, bebidas e danças. Com o passar do tempo, embriagados pela opulência, puseram-se a festejar dia e noite, noite e dia, sem nenhum pedacinho de tempo para trabalhar a lavoura ou refletir sobre tanta riqueza e poder.

O Deus Tupã, lá do alto, observava tudo. Vendo que os índios estavam perdendo sua antiga grandeza, enviou-lhes muitas advertências, para que retomassem o caminho da união com a natureza, onde habitava a inocência e a simplicidade. Subjugados pelo poder da ostentação, eles fizeram ouvidos moucos. Foi então que Tupã, irritado, enviou uma chuvarada que durou dias e noites, com a água subindo, e cobrindo tudo que encontrava pela frente, inclusive a cidade. Ainda assim, apaixonados pela fortuna e pela beleza, eles não arredaram pé do lugar, até serem cobertos pela água. Mas o bom Tupã, compadecido, permitiu que continuassem vivendo dentro d`água, transformando-os em seres encantados.

Dizem ainda, que quem passa por aquele lugar, ouve galos, espíritos protetores dos índios, cantando dentro do rio, para alertar os habitantes de povoações das proximidades, para que não se deixem levar pela cobiça, para não serem castigados. Foi daí que surgiu o nome Sapucaia-Oroca, ou Sapucaia-Roca, que significa “galinheiro”.

Nota: imagem copiada de www.flogao.com.br

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PORQUE O QUERO-QUERO TEM ESTE NOME

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Contavam os antigos, viventes de priscas eras, que, quando Maria e José fugiam dos soldados de Herodes, que andavam no encalço do casal para matar o Menino Jesus, os dois procuravam passara parte do dia nas grutas das montanhas, e viajar durante a noite, para fugir da perseguição.

O burrinho, companheiro de jornada do casal, não urrava, procurando fazer sua marcha silenciosamente. E mesmo os animais, encontrados pelo caminho, pareciam paralisados, sem emitir qualquer ruído, à passagem da santa família, de modo a protegê-la de seus perseguidores. Até as árvores deixavam de balançar suas folhas para não fazer barulho. Contudo, o quero-quero, também conhecido como tetéu, terém-terém e espanta-boiada, pareceu não se comover com o sofrimento do santo casal, que carregava sua preciosa carga. Por todo lado, onde se encontrava a ave, era possível ouvir o alarido de sua voz dizendo: quero, quero!

Como castigo pelo seu mau procedimento, o pássaro passou a não ter descanso, sempre alertando sobre sua presença, onde quer que esteja. Seu grito é repetido inúmeras vezes, tanto ao dia quanto à noite, até os dias de hoje: quero, quero!

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PORQUE O BEIJA-FLOR TEM ESTE NOME

Recontada por Lu Dias Carvalho

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A Terra estava luxuriante, cheia das mais diferentes frutas. Os bichos passavam horas e horas comentando entre si sobre a beleza de suas cores e a gostosura de seus sabores. Ao amanhecer de certo dia, eles perceberam uma nova fruta: amarelinha, meio oval e muito cheirosa. Ninguém sabia o nome e tampouco se era comestível. Era preciso ter cuidado, pois algumas tinham apenas a função de enfeitar a natureza, como as flores, embora delas as abelhas aproveitassem o néctar. Por isso, optaram por enviar o tico-tico ao céu, para se informar com o Todo Poderoso sobre aquela belezura.

O Criador esclareceu ao tico-tico que o nome da fruta era “laranja” e que podia ser comida verde ou madura. E, como a distância a ser percorrida por ele era muito grande, para não se esquecer do nome, aconselhou-o a voltar com a cabeça abaixada, beijando todas as flores que encontrasse. Mas o bichinho não fez nem uma coisa e nem outra, encantado com a vastidão do céu. Quando chegou à floresta, não se lembrava de absolutamente nada, para tristeza dos animais, que esperavam ansiosos.

Ao beija-flor coube a mesmíssima incumbência dada ao tico-tico. Recebeu a mesma resposta do Criador e a mesmíssima ordem. A avezinha voltou cumprindo todas as instruções que lhe foram repassadas. Ao chegar à floresta, explicou aos animais tim-tim por tim-tim. Disse que o nome da fruta era “laranja”, que poderia ser comida sem receio algum, mesmo quando estivesse com a casca verde. Contou-lhes também quais foram as instruções recebidas do Divino, para que não se esquecesse da mensagem.

E assim, por ter beijado todas as flores que encontrou no seu trajeto, a avezinha ficou sendo chamada por todos os bichos de “beija-flor”.

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A ORIGEM DO RIO AMAZONAS

Recontada por Lu Dias Carvalho

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Conta-se que houve um tempo na história do mundo, em que o Sol e a Lua apaixonaram-se um pelo outro, querendo se casar. Chegaram a ficar noivos, mas, para infelicidade de ambos, descobriram que, se contraíssem núpcias, aniquilariam a Terra, pois a paixão abrasadora do astro-rei acabaria queimando todas as fontes de vida, e o satélite terrestre, com suas lágrimas copiosas, vertidas em razão de tão descomunal ardor, alagaria a Terra. O casal apaixonado era, portanto, incompatível, apesar do amor que os unia, só lhes restando a dor do afastamento, numa prova de amor maior ainda.

O Sol partiu para bem distante, onde não pudesse ouvir os soluços da Lua, enquanto ela chorava dia e noite o grande amor perdido. E chorou tanto a bela deusa prateada, que suas lágrimas foram gotejando na Terra. Mas o mar, enciumado, não quis receber as gotas que de seus olhos emanavam. Então, suas lágrimas caíram em solo terrestre, e foram se ajuntando, até formar o rio Amazonas, que serpenteia pela floresta, contando à fauna, à flora e aos homens a bela história de amor que um dia aconteceu entre o Sol e a Lua.

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