Recontada por Lu Dias Carvalho
Em certa aldeia situada na floresta Amazônica, existiam duas indiazinhas que eram muito amigas. Dividiam tudo que possuíam e, onde uma estava a outra também ali se encontrava. Toda a aldeia comentava que nunca vira uma amizade tão bonita e leal. Mas eis que, passeando pela selva, elas encontraram um belo guerreiro de uma tribo vizinha. Imediatamente, as duas garotas enamoraram-se do jovem, mas sem que uma dissesse à outra, pois temiam ser rejeitadas pelo valente guerreiro. Diziam apenas que se encontravam apaixonadas, mas não sabiam se eram correspondidas. E assim que tivessem certeza de que o amor era mútuo, revelariam os sujeitos de tamanho ardor.
Certo dia, com o coração explodindo de tanta paixão, uma delas resolveu contar o seu segredo. E, para sua surpresa, a amiga estava apaixonada pelo mesmo índio que ela. Ainda assim, não desfizeram a amizade, e resolveram perguntar-lhe qual das duas ele amava. Para espanto das garotas, ele disse amar as duas. Mas isso não estava certo, conforme as regras da tribo. Para resolver com qual se casaria, o guerreiro apresentou-lhes uma prova: aquela que flechasse certa ave, após sua ordem, seria a escolhida. E, como haveria de ser, apenas uma delas ganhou.
O guerreiro indígena casou-se com a vencedora, mas a outra ficou inconsolável, pois amor não é coisa que a gente joga fora quando quer. Sem falar que não mais teria a companhia da amiga como antes. Então ela chorou, mas chorou tanto, que suas lágrimas criaram um novo riacho. Ao ver aquele pequeno rio até então inexistente, Tupã foi ver o que estava acontecendo. Ele encontrou a jovem índia desfazendo-se em lágrimas. Ela lhe disse que sentia saudades da amiga e do guerreiro. Queria pelo menos vê-los, mas eles iriam perceber como se encontrava desolada. Ela então foi transformada num passarinho, pelo deus Tupã, e foi visitar o casal. Mas ao ver a felicidade dos dois, sentiu-se mais triste ainda.
Tupã não queria ver aquela jovem, que virara um passarinho, desfazendo-se em tristeza. Resolveu, então, dar-lhe um canto tão maravilhoso, mas tão belo, que fosse capaz de parar todo o vozeio das aves, para escutá-la, e ao ouvir a belezura de sua voz, ela própria sentir-se-ia alegre. E assim aconteceu . Deu-lhe o nome de uirapuru, que alguns chamam de irapuru, guirapuru, arapuru, irapurá, virapuru, tangará, dentre outros nomes.
Nota: Escutem a voz melodiosa do pássaro e a música que o tornou famoso, clicando nos links abaixo:
Uirapuru
Composição de Jacobina/ Murilo Latini
Uirapuru, uirapuru
Seresteiro cantador do meu sertão
Uirapuru, uirapuru
Tens no canto as mágoas do meu coração!
A mata inteira fica muda ao teu cantar
Tudo se cala para ouvir sua canção
Que vai ao céu numa sentida melodia
Vai a Deus em forma triste de oração!
Se Deus ouvisse o que te sai do coração
Entenderia que é de dor, tua canção
E dos seus olhos tanto pranto rolaria
Que daria pra salvar o meu sertão!
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