Recontada por Lu Dias Carvalho
Gente má existiu e sempre existirá neste mundo, em quaisquer que sejam as épocas. E numa delas, em que se pode precisar o tempo, como sendo o da escravidão, aconteceu um fato muito triste aqui em nosso país.
Certo fazendeiro, que mais se parecia com o filho do diabo do que do Criador, era senhor de muitas terras, muitas reses e muitos escravos. A sua riqueza evoluía na mesma proporção em que sua maldade crescia em relação aos menos favorecidos. Assim, esse tal senhor, no inverno de certo ano, por sinal muito gélido, comprou duas dúzias de reses da melhor e mais cara espécie, encarregando um meninote negro, ainda imberbe, para delas cuidar, quando no pasto estivessem.
O molecote levava todos os dias o gado para a pastagem e, à tardinha, voltava com ele, estando na maioria das vezes faminto, pois tinha que se valer com as frutas que encontrava pelo caminho. De uma feita, ao contar as reses, o que fazia diariamente, o homem deu pela falta de um novilho. Depois de castigar impiedosamente o garoto, fez com que ele retornasse ao campo em busca da rês desgarrada.
Já estando muito cansado de tanto procurar o novilho e já sendo noitinha, o garoto, usando um toco de vela, encontrou-o, por sorte, pastando detrás de uma moita alta de capim. Laçou-o, mas seu cavalo e suas forças eram fracas para conter um animal no auge de sua resistência. O laço rompeu-se e o novilho desapareceu em disparada. Já era noite alta, quando o rapazola voltou para contar ao amo o que lhe acontecera. Como castigo, o menino negro, depois de apanhar muito, foi amarrado pelos pés e mãos, e deixado nu dentro de uma cova, que não era outra coisa senão um formigueiro aberto.
No dia seguinte, o fazendeiro mau, acompanhado de um grande séquito, a quem queria mostrar sua valentia e dar exemplo, retornou ao lugar, onde se encontrava o menino negro, para dar continuidade ao suplício. O grupo foi parado inesperadamente por uma nuvem que se levantava da cova, tendo em seu seio o pequeno mártir, ascendendo aos céus, como um santo.
Conta-se que, até os dias de hoje, as pessoas do lugar e adjacências, quando perdem alguma coisa, fazem promessas ao Negrinho do Pastoreio para encontrá-la, sendo comumente ouvidas.
Nota: imagem copiada de www.studioclio.com.br
Fonte de pesquisa
Literatura oral para a infância e a juventude/ Henriqueta Lisboa
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