Arquivo da categoria: Mitos e Lendas

O mito é uma narrativa na qual aparecem seres e acontecimentos imaginários, que simbolizam forças da natureza, aspectos da vida humana, etc. A lenda é uma narração escrita ou oral, de caráter maravilhoso, na qual os fatos históricos são deformados pela imaginação popular ou pela imaginação poética.

Mit. – AS CONSTELAÇÕES DE URSA MAIOR E URSA MENOR

Recontado por Lu Dias Carvalho

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A deusa Juno sempre soube que o seu esposo Júpiter não era flor que se cheirasse, estando sempre correndo atrás de um rabo de túnica. Portanto, ela não descuidava de seu garanhão, que usava dos mais inusitados ardis para fugir à sua vigilância. Quando tomou conhecimento de que Calisto andava mais íntima de seu marido do que devia, Juno resolveu tomar providências imediatas contra a ninfa Calisto, já que nada podia fazer contra o todo poderoso. O que prova o conhecido ditado de que a corda sempre arrebenta do lado do mais fraco. E isso desde aqueles tempos. Mas quem censura o censor?

A pobre Calisto foi derrubada pelo poder da deusa que a transformou numa ursa. E assim acabou destituída de toda a sua antiga beleza, embora continuasse cônscia de seu destino, o que a fazia sofrer ainda mais. E foi assim que, sozinha, perambulou pelos bosques, pervagou perto de sua casa, foi escorraçada pelos cães e amedrontou-se com as feras encontradas nos bosques. E o seu outrora amante parecia não se importar com sua atual condição.

De uma feita, estava Calisto tristonha, lamentado a sua vida de animal acuado, quando reconheceu seu filho Arcas, que estava a caçar nas imediações de onde ela se encontrava. Mas nada pode fazer, senão olhá-lo e desejar abraçá-lo. Contudo, o rapaz, ao ver tão robusta ursa, sentiu-se amedrontado, erguendo sua lança para matá-la. Nesse momento, Júpiter resolveu dar um jeito na situação. Levou mãe e filho para o céu, transformando-os nas conhecidas constelações de Ursa Maior e Ursa Menor.

Juno, insatisfeita com a interferência do marido, que ainda deu à amante um lugar de destaque no céu, nadou até as profundezas do mar, em busca de Tétis, ninfa marítima, e Oceano, o deus das águas, para queixar-se de que estava sendo desbancada no céu, uma vez que Calisto ocupava seu lugar, juntamente com seu filho, ao ser colocada em meio às estrelas. Achava, inclusive, que Júpiter iria tomá-la como esposa, uma vez que lhe dera um lugar de tão grande importância. Clamava, portanto, a seus pais de adoção, que impedissem que a rival e o filho entrassem em suas águas.E assim aconteceu, conforme seus desejos.

As constelações de Ursa Maior e Ursa Menor forma condenadas a moverem-se em círculo no céu, de modo que jamais tivessem acesso ao oceano, como as outras estrelas, que descem por trás dele, para descansarem.

Nota
“A mitologia grega deixou-nos, no céu, imagens formadas por linhas imaginárias que nós chamamos constelações. Essas têm nomes nas suas formas. Esses grupos de estrelas são totalmente alheios à sua distância da Terra.”. (imagem e explicação copiadas de www.astronoo.com)

Fontes de Pesquisa
Mitologia/ Thomas Bulfinch
Mitologia/ LM

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Mit. – AS QUATRO IDADES DA TERRA (V)

Recontado por Lu Dias Carvalho

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Os deuses criaram a Terra, os animais e a humanidade. Aqui embaixo tudo transcorria na mais perfeita paz e harmonia. Embora não houvesse leis determinadas, reinava a inocência, a verdade e a justiça. O homem era tido como animal superior, zelando pela flora, fauna, águas e de tudo que fazia parte desse novo mundo. Em troca, a Terra, que vivia numa eterna primavera, acumulava-o de bens, suprindo todas as suas necessidades, sem que tivesse necessidade de trabalhar. Ela era tão dadivosa, que nem era preciso plantar sementes para a produção de alimentos. Os rios, em vez de água, eram cheios de leite e de vinho. As árvores vertiam mel abundantemente. Vivia-se a Idade de Ouro.

Transformações aconteceram com a humanidade que passou a desviar-se da retidão. O poderoso deus Júpiter optou por fazer mudanças na organização terrena. A primavera deixou de ser eterna e subdividiu-se em quatro estações. E com elas vieram a severidade do frio e a rudeza do calor. Para proteger-se, a humanidade teve que buscar abrigo, a princípio nas cavernas e depois em cabanas. A Terra não mais dava tudo de mão beijada. Tornou-se necessário plantar para colher. O homem conheceu o suor de seu corpo. Ainda assim, ele levava uma vida muito boa, apenas inferior à idade passada. Vivia-se a Idade de Prata.

Mesmo com as mudanças proporcionadas por Júpiter, a humanidade não aprendeu que era preciso retomar a vida de inocência, verdade e justiça. Ao contrário, mostrava-se indiferente às lições de Júpiter. Parte dela já vivia sob o poder de certas armas, ainda que toscas. Mesmo assim, ainda havia esperança no coração dos deuses. Eles torciam para o retorno à vida de antes, bastando apenas corrigir o mal que não havia tomado conta de toda a Terra. Vivia-se a Idade do Bronze.

E por último, a Terra viveu seu pior momento com a Idade do Ferro. A humanidade havia perdido todo o senso da razão. Não se importava com os deuses e tampouco com os próprios semelhantes e demais formas de vida. A criminalidade fez-se presente. A modéstia, a verdade, a justeza e a honra cederam lugar à violência, à corrupção, ao egoísmo exacerbado, à sede de poder e à estupidez. Árvores foram sendo aniquiladas e a terra deixou de ser comunitária, para ser dividida em posses, numa briga feroz. Perfuraram-lhe o corpo em busca de metais preciosos, sugando o ouro, a prata, o ferro… E por eles surgiu a guerra com suas armas cada vez mais mortíferas. Não havia confiança nem mesmo entre pai e filho ou marido e mulher. O sangue passou a banhar a terra. Os deuses então a abandonaram, ficando apenas Astreia (deusa da inocência e da pureza) talvez por acreditar, inocentemente, que ainda poderia salvar a humanidade.

Nota: imagem copiada de dodecateismo.blogspot.com

Fontes de Pesquisa
Mitologia/ Thomas Bulfinch
Mitologia/ LM

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Mit. – O DILÚVIO E A NOVA HUMANIDADE (VI)

Recontado por Lu Dias Carvalho

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Mesmo depois de a Terra passar por quadro Idades (do Ouro, da Prata, do Bronze e do Ferro), isso não foi suficiente para que a humanidade aprendesse com seus erros e castigos subsequentes, restando ao poderoso deus Júpiter tomar uma decisão mais severa. Eu diria que enérgica até demais! Deu ordem para que todos os deuses apresentassem-se em seu palácio no céu. Todos eles, com o respeito que lhes era peculiar, tomaram o caminho denominado Via Láctea, que levava ao todo poderoso. Pela convocação, pressentiram que o fato era bem grave.

Júpiter abriu a assembleia falando sobre seu descontentamento com a humanidade,  que se encontrava cada vez mais inconsequente, desagradecida e prepotente. E que tomara uma decisão irrevogável: destruí-la. Uma nova raça seria criada, mais digna e mais sábia, incapaz de envergonhar os deuses, pois já se encontrava cansado daquela. Ao terminar sua fala, muniu-se de um raio, apontando-o para a Terra. Ela seria destruída pelo fogo, que a consumiria com extrema rapidez. Mas, antes de atear fogo a ela, lembrou-se de que esse também poderia alcançar o céu. Melhor seria que fosse inundada pela água, embora demorasse mais.

O plano foi posto em execução com o auxílio do vento norte e do vento sul. O céu foi tomado por trevas profundas. Nuvens escuras avolumaram-se sobre a Terra. Bastou apenas que uma delas se rompesse num rasgão, para que um turbilhão de água desmoronasse sobre ela. Júpiter achou que a tragédia evoluía lentamente. Recorreu, então, a seu irmão Netuno, o deus dos rios, mares, oceanos e terremotos, que enviou suas águas com extremado furor. E, para culminar, sacudiu a Terra com um gigantesco terremoto, levantando as águas do oceano que, abruptas, engoliam tudo que encontravam à frente. Toda a vida pereceu, assim como tudo que fora construído pelo homem. E, se alguma coisa restou, tombou sob a voracidade da fome.

O Monte Parnaso, porém, era o único a não ter sido coberto ainda pelas águas. E foi justamente ali que um homem chamado Deucalião abrigou-se com sua esposa Pirra, ambos pertencentes à raça de Prometeu. E Júpiter, após averiguar que a Terra estava totalmente limpa daquela espécie maldita, excetuando o último casal que era formado por pessoas agradecidas e fieis aos deuses, ordenou aos ventos que deixassem o céu e a Terra à vista. E Netuno pediu a seu filho Tritão, deus marinho, que providenciasse a retirada das águas. Não demorou muito tempo para que tudo voltasse ao normal.

O casal, salvo do dilúvio, consultou o Oráculo, num templo coberto pela lama, e conseguiu decifrar o que lhe fora repassado. Entenderam que a terra era a mãe e as pedras os seus ossos que deveriam ser jogados para trás. E, à medida que as arremessava, elas iam, aos poucos, transformando-se em seres humanos. O mais interessante é que as pedras lançadas por Pirra davam origem às mulheres, e as lançadas por Deucalião produziam os homens. E assim surgiu uma nova humanidade que era forte e trabalhadora, bem diferente da primeira.

Nota: obra de Léon Comerre, Le Déluge

Fontes de Pesquisa
Mitologia/ Thomas Bulfinch
Mitologia/ LM

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Mit. – CÉFALO, PRÓCRIS E A BRISA

Recontado por Lu Dias Carvalho

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O jovem Céfalo já se encontrava de pé antes mesmo do amanhecer, para praticar seus exercícios e pôr-se em busca da caça. E foi assim que a Aurora (Eos), deusa do alvorecer na mitologia romana, caiu de amores por ele, raptando-o. Porém, o coração do belo moço já pertencia à jovem Prócris, sua esposa e favorita de Diana (Ártemis), deusa da lua e da caça na mitologia romana, que havia presenteado sua protegida com um cão, Lelaps, que punha para trás qualquer outro em velocidade, e um dardo poderoso, que jamais deixava de alcançar o objeto almejado. Mas, como prova de seu amor, Prócris dera tais presentes a seu esposo. Eles se a amavam intensamente.

Cansada de mendigar pelo amor de Céfalo, Aurora libertou-o. O casal retomou a vida de antes, vivendo em plena felicidade. Nesse ínterim, certa divindade, chateada com a ambição dos caçadores, enviou à Terra uma raposa esfaimada, que passou a devorar tudo que encontrava pela frente. O que via e o que não via. Preocupados, os caçadores reuniram-se num grande grupo com o fim de capturá-la, mas tudo inutilmente. O animal era muito ladino. O jeito seria ir à procura de Céfalo, para que esse lhes emprestasse seu cachorro Lelaps.

O cão partiu como um raio em busca da raposa. De longe, todos observavam a cena. Lelaps não conseguia se aproximar de sua presa. Céfalo já ia lançar seu dardo, quando observou que os dois animais haviam interrompido a luta abruptamente. Os deuses, que a tudo observavam, não queriam ver nenhum dos dois, criações deles, vencedor. E, por essa razão, petrificara-os. Mas mesmo sem seu estimado cão, o jovem Céfalo prosseguiu com a caça, seu esporte favorito, andando pelos bosques a partir do alvorecer. Quando se cansava, deitava-se debaixo de uma sombra, à beira de um regato, deliciando-se com a brisa, e ali ficava por muito tempo.

De uma feita, estava Céfalo descansando de uma tarde de calor, quando uma brisa suave banhou-lhe o corpo vigoroso. Em voz alta, ele agradeceu aquele afago, suplicando à brisa que não o deixasse, que o acariciasse e levasse para longe aquele queimor que tanto o importunava. Contudo, uma pessoa que passava naquele momento, imaginando que ele estivesse a falar com uma mulher, correu para contar à sua esposa, que ficou atordoada com tal notícia. Disse, porém, que só acreditaria se visse tal cena acontecer.

No dia seguinte, Prócris saiu furtivamente atrás do marido, escondendo-se próxima ao local, onde ele fora visto descansando. E a mesma cena aconteceu. Baseando-se apenas nas palavras ouvidas, em que o jovem elogiava a brisa, a espiã fez um ruído como se fora um soluço, deitando-se no mato e balançando a folhagem. Céfalo imaginou que se tratava de uma fera. Imediatamente lançou seu dardo, que jamais errava o alvo. Ao chegar ao local, viu sua esposa toda ensanguentada. Desesperado, tentou salvá-la, sentindo-se culpado. Mas antes que exalasse seu último suspiro, ela reuniu forças e pediu ao marido que, se realmente amava-a, que não casasse com a aquela maldita “Brisa”, causa de seu infortúnio. Ele ainda teve tempo de contar-lhe toda a verdade, fazendo com que ela morresse em paz.

Nota: Céfalo e Prócris, obra do pintor Marques de Oliveira

Fontes de Pesquisa
Mitologia/ Thomas Bulfinch
Mitologia/ LM

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Mit. – A CRIAÇÃO DO MUNDO (II)

Recontado por Lu Dias Carvalho

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Segundo conta a mitologia grega, no princípio do mundo não havia coisíssima alguma, mas tão somente uma mistura de todas as coisas, que resultava numa massa disforme e maldistinta, à qual era dado o nome de “Caos”. Mas cansados daquela bagunça, os deuses resolveram botar tudo nos seus devidos lugares, em outras palavras, arrumarem a casa, pois nem os deuses aguentam muito desarranjo.

Primeiramente, eles apartaram a terra do mar e depois desuniram o céu desses dois. Era preciso criar um firmamento para colocar no meio. E esse foi criado a partir das matérias mais leves que existiam na mistura, que aos poucos ia desaparecendo. Para preencher o firmamento, os deuses usaram o ar. Acontece, porém, que as matérias tinham pesos diferentes, sendo a terra a mais pesada de todas. Em razão disso, ela ficou mais embaixo, mas a água, ao concentrar-se num ponto inferior, fê-la subir.

O certo é que ainda havia muito serviço para ser feito. Ufa! Faltava-lhes arrumar a terra, botando as coisas nos seus lugares específicos, pois os deuses queriam deixar tudo nos trinques. E assim foi feito com os rios e lagos. A seguir, ergueram belas montanhas, escavaram esplendorosos vales e espalharam campos, bosques, florestas e uma infinidade de maravilhas por toda parte. Aos irmãos titãs Prometeu e Epitemeu foi dada a incumbência de criar os bichos. E assim, depois de tudo pronto, foi feita a distribuição daquelas riquezas. Aos peixes foi dado o mar; as aves foram presenteadas com o ar, e a terra foi obsequiada aos quadrúpedes.

Nota:  imagem ilustrativa: A Criação do Mundo, de Hyeronimus Bosch

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Mitologia/ Thomas Bulfinch
Mitologia/ LM

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Mit. – A CRIAÇÃO DO HOMEM (III)

Recontado por Lu Dias Carvalho

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Uma vez que os deuses deixaram a Terra nos trinques, com cada coisa em seu devido lugar, inclusive os bichos das mais diferentes espécies, acharam que, para usufruir de tanta beleza, e depois de tanto trabalho, teriam que criar um animal mais célebre, que se regozijasse com tudo aquilo. E assim foi criado o homem. Como pode concluir o leitor, até os deuses erram. Mas vamos deixar isso para lá, pois o que está feito não mais está por fazer. Vejamos o processo usado pelas divindades.

É fato que no resto daquele caldo chamado “Caos”, ainda existiam algumas sementes celestiais, com certeza já passando do prazo de validade, e foi delas, juntamente com terra e água que foi feito o homem. Aos dois irmãos titãs Epitemeu e Prometeu os deuses deram a tarefa de criá-lo. Ao primeiro coube a execução da obra e ao segundo a supervisão. Para dar um porte mais altivo a esse novo ser, ele foi criado diferente dos outros animais, à semelhança dos deuses. Por isso, ao contrário dos bichos, cujo rosto é voltado para baixo, como se agradecessem pelo chão em que pisam, o novo animal anda olhando para frente, e pode contemplar o céu e as estrelas sempre que quiser. Mas alguns levam tal postura tão a sério, que se tornam vitimados pelo torcicolo da vaidade.

Epitemeu, portanto, foi incumbido de meter a mão na massa, enquanto cabia a Prometeu apenas a tarefa de examinar o produto final. Espertinho, não? Contudo, houve um probleminha, que acabou refletindo nos dias de hoje, pois ao trabalhador Epitemeu também coube a tarefa de distribuir a todos os animais seus devidos dons (ligeireza, coragem, força, audição aguçada, etc.). E nesse toma aqui e dá ali, já cansado, o titã nem percebeu que não deixara nem um poucochinho de faculdades necessárias ao animal nobilíssimo, chamado homem, para a sua vivência na Terra. Pelos deuses, o que fazer? O pobre titã estava em meio a um angu de caroço. Ou seria num mato sem cachorro?

Prometeu, que havia trabalhado menos, é bom que se saiba, foi chamado para socorrer seu irmão Epitemeu. Era o mínimo que poderia fazer, por não ter supervisionado a obra como deveria. Pediu ajuda à deusa Minerva (Palas), a mandachuva da sabedoria. Ambos foram até o céu, e ali, ocultamente, acenderam um archote no carro do sol, dando ao homem o fogo. E foi ao apoderar-se do uso dessa energia, que ele, o animal nobre, conseguiu comandar o mundo. Com ele construiu as mais perversas armas, sobrepujando os outros animais, e depois a espécie pôs-se a brigar entre si, numa ferocidade desmedida. Deve ser por isso que dizem por aí que a espécie humana é “fogo” nas ardilezas. Lamentavelmente o homem é o único animal capaz de conceber o mal e colocá-lo em prática.

Nota: pormenor da obra de Michelangelo, A Criação de Adão

Fontes de Pesquisa
Mitologia/ Thomas Bulfinch
Mitologia/ LM

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