Recontado por Lu Dias Carvalho
O jovem Céfalo já se encontrava de pé antes mesmo do amanhecer, para praticar seus exercícios e pôr-se em busca da caça. E foi assim que a Aurora (Eos), deusa do alvorecer na mitologia romana, caiu de amores por ele, raptando-o. Porém, o coração do belo moço já pertencia à jovem Prócris, sua esposa e favorita de Diana (Ártemis), deusa da lua e da caça na mitologia romana, que havia presenteado sua protegida com um cão, Lelaps, que punha para trás qualquer outro em velocidade, e um dardo poderoso, que jamais deixava de alcançar o objeto almejado. Mas, como prova de seu amor, Prócris dera tais presentes a seu esposo. Eles se a amavam intensamente.
Cansada de mendigar pelo amor de Céfalo, Aurora libertou-o. O casal retomou a vida de antes, vivendo em plena felicidade. Nesse ínterim, certa divindade, chateada com a ambição dos caçadores, enviou à Terra uma raposa esfaimada, que passou a devorar tudo que encontrava pela frente. O que via e o que não via. Preocupados, os caçadores reuniram-se num grande grupo com o fim de capturá-la, mas tudo inutilmente. O animal era muito ladino. O jeito seria ir à procura de Céfalo, para que esse lhes emprestasse seu cachorro Lelaps.
O cão partiu como um raio em busca da raposa. De longe, todos observavam a cena. Lelaps não conseguia se aproximar de sua presa. Céfalo já ia lançar seu dardo, quando observou que os dois animais haviam interrompido a luta abruptamente. Os deuses, que a tudo observavam, não queriam ver nenhum dos dois, criações deles, vencedor. E, por essa razão, petrificara-os. Mas mesmo sem seu estimado cão, o jovem Céfalo prosseguiu com a caça, seu esporte favorito, andando pelos bosques a partir do alvorecer. Quando se cansava, deitava-se debaixo de uma sombra, à beira de um regato, deliciando-se com a brisa, e ali ficava por muito tempo.
De uma feita, estava Céfalo descansando de uma tarde de calor, quando uma brisa suave banhou-lhe o corpo vigoroso. Em voz alta, ele agradeceu aquele afago, suplicando à brisa que não o deixasse, que o acariciasse e levasse para longe aquele queimor que tanto o importunava. Contudo, uma pessoa que passava naquele momento, imaginando que ele estivesse a falar com uma mulher, correu para contar à sua esposa, que ficou atordoada com tal notícia. Disse, porém, que só acreditaria se visse tal cena acontecer.
No dia seguinte, Prócris saiu furtivamente atrás do marido, escondendo-se próxima ao local, onde ele fora visto descansando. E a mesma cena aconteceu. Baseando-se apenas nas palavras ouvidas, em que o jovem elogiava a brisa, a espiã fez um ruído como se fora um soluço, deitando-se no mato e balançando a folhagem. Céfalo imaginou que se tratava de uma fera. Imediatamente lançou seu dardo, que jamais errava o alvo. Ao chegar ao local, viu sua esposa toda ensanguentada. Desesperado, tentou salvá-la, sentindo-se culpado. Mas antes que exalasse seu último suspiro, ela reuniu forças e pediu ao marido que, se realmente amava-a, que não casasse com a aquela maldita “Brisa”, causa de seu infortúnio. Ele ainda teve tempo de contar-lhe toda a verdade, fazendo com que ela morresse em paz.
Nota: Céfalo e Prócris, obra do pintor Marques de Oliveira
Fontes de Pesquisa
Mitologia/ Thomas Bulfinch
Mitologia/ LM
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