Arquivo da categoria: Mitos e Lendas

O mito é uma narrativa na qual aparecem seres e acontecimentos imaginários, que simbolizam forças da natureza, aspectos da vida humana, etc. A lenda é uma narração escrita ou oral, de caráter maravilhoso, na qual os fatos históricos são deformados pela imaginação popular ou pela imaginação poética.

Mit. – A CRIAÇÃO DA MULHER (IV)

Recontado por Lu Dias Carvalho

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Os deuses criaram a Terra com toda a sua belezura, e deram aos irmãos Prometeu e Epimeteu a ordem para criar os bichos e o homem. Todos os animais ganharam uma companheira, excetuando o homem, que andava meio borocoxô, como se lhe faltasse alguma coisa. Por isso ou por aquilo, o fato é que ela acabou sendo criada. Mas será que a presença da fêmea seria um castigo para o macho ou um presente? É exatamente isso que iremos descobrir neste mito.

Segundo as más línguas da Antiguidade, Júpiter (Zeus) o pai de todos os deuses, trocando em miúdos, o figurão do Monte Olimpo, ficou abespinhadiço quando soube que o titã Prometeu, com a ajuda da deusa Minerva (Palas), para ajudar seu irmão Epitemeu, roubou o fogo do carro do sol, para dá-lo ao homem. O primeiro e o segundo seriam castigados pelo roubo, e o terceiro por aceitar a oferta. Ou seja, quem recebesse de ladrão também não tinha escapatória naqueles tempos. Isso que era justiça! Mas a poderosa Minerva ficou de fora da escaldadura, o que me cheira a imparcialidade, pois a punição maior deveria ser a dela. O que fez Júpiter? Criou a mulher e mandou-a para a Terra com o intuito de castigar os infratores. Conheçamos como se deu a sua criação.

Pandora foi o nome dado à primeira mulher. Cada um dos deuses que passavam por ela, ainda no céu, e já em fase de acabamento, acrescentava-lhe mais um predicado. Só para efeito de citação: Vênus (Afrodite) deu-lhe a formosura, Mercúrio (Hermes) a habilidade da argumentação e Apolo (Febo) a música. Depois de maravilhosamente acabada, possuidora de todos os dons, ela foi enviada como presente a Epitemeu, que, deslumbrado com tanta inteligência e beleza, não deu a mínima para os conselhos do irmão Prometeu, que já sabia que os presentes de Júpiter não eram flor que se cheire,  e tomou-a como esposa.

Quem leu os mitos anteriores, sabe que Epitemeu foi responsável por distribuir os atributos dos bichos e do homem, tendo recusado dar ao último os distintivos maléficos (embora isso não tenha adiantado nada, bastando olhar os dias de hoje), guardando-os numa caixa, mas, como a “esperança” é uma coisa boa, suponho que ele não a tenha visto, acabando por misturá-la às coisas ruins. Melhor seria se o titã tivesse jogado aquela caixa nos quintos do Inferno, pois curiosidade e mulher sempre formaram uma dupla perigosa.

Pandora encheu-se de vontade de saber o que continha aquela caixa, sempre quietinha no mesmo lugar, sem ser jamais ser bulida. O que conteria? Chegou um dia em que ela lhe tirou a tampa, a fim de dar uma rápida olhadela. Mas o conteúdo foi mais rápido do que as mãos da diva, dispersando-se mundo afora. E o homem ferrou-se! Todas as dores e as pragas imagináveis e inimagináveis desabaram-se sobre ele, transformando sua vida num flagelo. Voltemos à caixa! Nem tudo conseguiu fugir de dentro dela. Lá no fundo, bem tímida, ficou a “esperança”. E é justamente a esperança, adquirida pelo homem, de que tudo pode mudar para melhor, é que o fez ter momentos de alegria em sua breve existência.

Contudo, as boas línguas da Antiguidade dizem, não sei se para reabilitar Júpiter, que Pandora não foi enviada como castigo. O pai dos deuses enviou-a com a amável intenção de agradar o homem, ali na Terra, tão sozinho, coitado. E de presente de casório, deram-lhe os deuses uma caixa cheia de coisas boas. Mas que, num descuido da noiva, a tampa da caixa foi pelos ares, fugindo todos os bens, e ficando apenas a “esperança”. Deve ser por isso que há tanta maldade no mundo, ficando a esperança cada vez mais amedrontada, lá no seu cantinho, no fundo da caixa.

Curiosidade
Prometeu é tido como aquele que se pôs em defesa da humanidade, quando Júpiter ficou indignado com ela. É responsável por ter lhe ensinado a civilização e as artes. Como castigo, o pai dos deuses amarrou-o a uma rocha do Cáucaso, para que um abutre arrancasse-lhe o fígado. Sua tortura não tinha fim, pois à medida que seu fígado era consumido pela ave, ele voltava a regenerar-se. O titã seria poupado se se submetesse ao poder de Júpiter, contando-lhe qual era o segredo que lhe garantiria o trono eternamente. Porém, não o fez, tornando-se o símbolo da resistência à opressão.

Nota: O Pintor e a Modelo, obra de Pablo Picasso.

Fontes de Pesquisa
Mitologia/ Thomas Bulfinch
Mitologia/ LM

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Mit. – A BELEZA DA MITOLOGIA (I)

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Desde a Antiguidade, os seres humanos buscaram explicar aquilo que não compreendiam. Na falta de métodos comprobatórios, lançaram mão de histórias fabulosas de deuses, semideuses, heróis e outras criaturas mitológicas, para explanarem a origem do universo e a vida desses seres fantasiosos, como nos mostra a mitologia da Grécia e da Roma antigas, vistas à época como uma religião politeísta, mas que hoje se encontram agregadas aos mais diferentes tipos de arte, e não mais vistas com o mesmo sentido de então. Vamos conhecer um pouco da mitologia greco-romana sob o prisma da Antiguidade, sem nos esquecermos de que, aquilo que chamamos hoje de “mito”, era tido como real para as gentes daqueles tempos.

Os gregos foram responsáveis, por difundir para os romanos e outras nações, a visão que possuíam sobre a ciência e a religião. Para eles, a Terra era achatada e redonda, ocupando a Grécia (Hélade) seu centro, e tendo na sua parte central o Monte Olimpo, onde viviam os deuses e seus séquitos. Essa esfera terrestre era dividida ao meio, de leste a oeste, pelo Mar e o Ponto Euxino (continuação do Mar). A Terra era envolta pelo rio Oceano, que na sua parte ocidental corria do sul para o norte e na oriental dava-se o contrário, ou seja, de norte para o sul. Esse rio Oceano era responsável por suprir todos os rios da Terra com suas águas.

Os gregos acreditavam que a aurora, o sol e a lua emergiam-se do Oceano, no lado oriental, para levar luz tanto para os deuses quanto para os homens. O mesmo faziam as estrelas, excetuando as que compunham as constelações da Ursa Maior e da Ursa Menor e outras próximas a elas. Emergiam e imergiam no Oceano, depois de completada a missão diária. Ao deitar-se, o deus-sol tomava um barco alado, que o levava até o lugar onde emergiria no dia seguinte.

Os deuses moravam no píncaro do Monte Olimpo. Ali, as deusas, denominadas Estações, eram responsáveis por uma porta de nuvens, a qual abriam para a saída dos seres imortais em direção à Terra e para o regresso desses. Embora tivessem moradas separadas, quando convocados, todos os deuses deveriam comparecer ao palácio de Júpiter (ou Zeus), o rei do Olimpo, até mesmo aquelas divindades que tinham moradia na terra, águas ou embaixo do mundo. Nas reuniões eram servidos ambrosia, responsável por dar e conservar a imortalidade, e néctar. Esse serviço cabia à deusa Hebe. Discutiam assuntos relacionados com a terra e o céu. A Apolo, deus da música, cabia alegrar os convidados, tocando sua lira, enquanto as musas cantavam. As assembleias terminavam ao pôr do sol, quando todos buscavam suas respectivas moradas.

Além dos deuses e deusas gregos havia também:
• as Musas, responsáveis, cada uma em separado, por uma divisão da literatura, da ciência e das artes. Eram nove ao todo;
• as Três Graças eram as deusas do banquete, da dança, das diversões sociais e das belas-artes;
• as Parcas tinham como função tecer o fio do destino humano, usando a tesoura para cortá-lo, quando quisessem. Elas eram três.
• as Erínias (ou Fúrias) eram responsáveis por punir aqueles que escapuliam da justiça pública ou dela escarneciam;
• os Sátiros eram divindades responsáveis pelos bosques e campos.

No quadro que ilustra o texto (Parnaso, de Andrea Mantegna) podemos ver:
• ao centro, as nove musas das artes, filhas de Zeus, que dançam, enquanto Apolo, considerado o deus da beleza, juventude e da luz na mitologia grega, toca sua harpa. São elas:

• Calíope – musa da poesia e a eloquência
• Clio – musa da história
• Erato – musa da poesia lírica
• Euterpe – musa da música
• Melpômene – musa do canto e do teatro
• Polímnia – musa da música cerimonial
• Terpsícore -musa da dança
• Talia – musa da comédia e da sátira
• Urânia – musa da astrologia e da astronomia

• à esquerda está Vulcano, o deus romano do fogo, usando unicamente sua capa vermelha, brincando com Eros, o deus grego do Amor. À direita, Mercúrio, deus do comércio e da eloquência, está próximo a Pégaso, cavalo alado e figura da mitologia grega.

• Acima, no ponto central superior da tela, estão Marte, o deus romano bélico, vestido com sua armadura de guerra, e Afrodite (Vênus), a deusa do amor e da beleza, presidindo a cena. Eles se encontram sob um monte que foi escavado como um túnel, que leva à cidade dos deuses, ao fundo.

Nota: Parnaso, obra de Andrea Mantegna (ver estudo da obra no blog)

Fontes de pesquisa
1000 obras-primas da pintura europeia/ Könemann
Renascença/ Folio
Mitologia/ Thomas Bulfinch

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QUANDO A HUMANIDADE DEIXOU O CÉU

Recontada por Lu Dias Carvalho

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Contam os índios mais velhos da Amazônia, que em tempos que ficaram bem distantes no passado, os homens, antes de povoarem a terra, moravam no céu. Ali viviam felizes, até o dia em que um caçador, perseguindo um tatu, notou que o bicho entrou num esconderijo dentro da terra, pois no céu também havia terra, água, bichos e árvores. Perseguindo sua caça, começou a cavar um buraco, trabalhando durante dias e noites. Quando estava prestes a botar a mão no animal, esse escorregou e caiu num grande vão. O homem dilatou mais ainda a cavidade, curioso para ver o que havia lá embaixo. E qual não foi a sua surpresa, ao deparar-se com um lugar cheio de florestas exuberantes, grandes rios e um sem conta de animais, tudo mais belo do que o que existia ali onde vivia.

A história do caçador alastrou-se pelos quatro cantos do céu. E foi combinado que um dos homens iria primeiro, para certificar-se de como eram mesmo aquelas terras desconhecidas. Foram trançados infinitos metros de cordas de cipó, juta e algodão, durante um tempo que não se pode precisar, de modo que o aventureiro desceu por elas. Extasiado diante de tanta beleza, voltou o mais rápido possível para o céu, onde contou a todos o que vira, deixando-os entusiasmados. Foi-lhe pedido que voltasse mais uma vez àquele lugar, para amarrar a corda no tronco de uma gigantesca e forte árvore. O aventureiro retornou à terra desconhecida, e amarrou a ponta da corda num baobá. A partir daí, só se via uma fileira, a perder de vista, das gentes descendo do céu. Mas também houve um pequeno grupo que teve medo de aventurar-se, resolvendo ali permanecer. A corda foi desamarrada e houve o desligamento entre o céu a terra.

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A LENDA DO GUARANÁ (II)

Recontada por Lu Dias Carvalho

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O indiozinho nasceu com os olhos mais bonitos da Floresta Amazônica, até então jamais vistos entre os habitantes da aldeia. A oca de seus pais vivia cheia de mulheres prenhes, mirando nos olhos do pequenino, para que seus filhos fossem agraciados com tamanha maravilha. À medida que ele crescia, tornava-se cada vez mais esperto, ajudando seus pais numa coisa e noutra. Também gostava de colher frutas com os garotos de sua idade.

.Assim que o dia clareava, lá estava o garoto indígena com o cesto às costas, coletando frutas das mais variadas espécies e sabores. Certa manhã, estava tão embevecido com o seu trabalho, que nem percebeu que se afastava dos amigos que o acompanhavam. E, sem se dar conta, foi cada vez mais se embrenhando na selva. Perdido em meio àquele mundaréu de sons e de tantos perigos desconhecidos, procurou o oco de uma árvore bem alta, para ali pernoitar. Contudo, o Jurupari, um espírito malfeitor da floresta, sempre à cata das pessoas solitárias, não se detinha diante de obstáculo algum, quando via uma vítima indefesa. O malvado sentiu prazer em tirar a vida do indiozinho inocente, em cujo corpo moravam os olhos mais lindos da floresta.

Homens, mulheres e jovens da aldeia passaram toda a noite à procura do menino índio, selva adentro. Depois veio o dia, prosseguindo a busca incansável. Quando o sol bandeava para o meio do céu, um dos grupos de busca encontrou o cesto de frutas no pé de uma alta árvore. Dois guerreiros subiram até sua copa e lá, para desolação de todos, estava o corpo do pequeno índio. Durante um dia e uma noite, a aldeia velou, entre lamentos e lágrimas, o corpo do indiozinho. Mas, em meio àquela dor, na qual sucumbia a tribo, um trovou chamou a atenção para a voz de Tupã, que disse à tribo:

– Peguem os olhos do pequeno índio e plantem-no junto a uma árvore já destituída de vida. Reguem-na com as lágrimas de seu povo. E aguardem o brotar de uma nova espécie de planta, cujos frutos ofertarão um suco energético, capaz de tornar fortes todos os que o tomarem. E virá um tempo em que muitos homens, em várias partes do mundo, procurarão por ele. O fruto terá o nome de Guaraná, que significa “a árvore da vida e da vitalidade”.

E assim aconteceu.

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COMO SURGIU O CURARE

Recontada por Lu Dias Carvalho
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No coração da densa Floresta Amazônica morava um índio que, não se sabe a causa, desde pequenino preferira viver só, distante de sua tribo. Não tinha mulher, companheiros de caça e tampouco amigos. De manhã, ele se levantava e ia cuidar da caça, e, à tarde, com a barriga cheia, partia para sua pequena lavoura, onde cultivava mandioca e milho.

Certa manhã, o personagem em questão, partiu costumeiramente para a caça, matando mais bichos do que o necessário para a sua sobrevivência diária. Dentre eles estava uma guariba. Ele olhou para o corpo do animal, e resolveu deixá-lo sobre o moquém para comê-lo no dia seguinte. Partiu para sua lavoura e, ao voltar, observou que o bicho estava muito diferente de como o deixara. Tinha o pelo do corpo raspado, as mãos retorcidas e os dentes à vista, como se quisesse sorrir. O índio comeu umas raízes de mandioca e umas espigas de milho que trouxera, e caiu na rede de tanto cansaço e sono.

O índio acordou já pensando em comer a macaca, mas ao encarar o animal, toda a sua vontade de comê-lo evaporou-se, como se aquilo estivesse enfeitiçado. Mesmo assim desejou que Tupã transformasse-a numa índia, para que tivesse uma família e alguém que dele cuidasse. Comeu alguns peixes moqueados e partiu para a lavoura. Ao voltar, porém, encontrou a cabana arrumada, fogo aceso, água nas cuias, caldo de peixe e farinha. Era preciso saber quem fizera aquilo. Depois de muito procurar, encontrou uma bela índia. Ao querer saber de onde viera, ela lhe contou que era a guariba. Apesar de achar esquisito, ele não queria abrir mão daquela mulher bela e fogosa, que lhe aquecera o corpo à noite e fizera os serviços da casa. Resolveu encerrar o assunto por ali.

Certo dia, a índia resolveu convidá-lo para conhecer sua família que, para seu espanto, morava na parte alta de uma castanheira. Com extrema dificuldade subiu com ela até o local, onde encontrou uma grande família de guaribas. Ao amanhecer, a mulher disse que ia dar um passeio com os parentes, deixando o homem no alto da árvore. Só que ela e os símios jamais regressaram. O índio, depois de muitos dias no topo da castanheira, só conseguiu descer da árvore gigantesca com a ajuda do urubu-rei e do gavião-real. O último soltou uma gosma pelo bico que, ao endurecer, transformou-se num grosso cipó, através do qual ele desceu.

O gavião-real, que não era muito afeito aos símios, instigou o índio a vingar-se dos guaribas, ensinando-lhe como fazer o curare (veneno muito forte, de ação paralisante, extraído da casca de certos cipós), onde deveria mergulhar a ponta das flechas. Quando o bando apareceu na lavoura do índio,  foi morto por ele a flechadas. E foi assim que surgiu o curare.

Nota: imagem copiada de rollingstone.uol.com.br

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COMO NASCEU A TAMBATAJÁ

Recontada por Lu Dias Carvalho

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Conta-se que bem antigamente, quando as aldeias indígenas começaram a povoar o coração da Floresta Amazônica, numa das tribos ali existentes, havia uma índia formosa como a lua. E não sendo apenas a formosura suficiente, ela era muito generosa com as gentes, bichos e plantas. Seu nome era Muguxê. Não havia ninguém que não a amasse. Todos os guerreiros da tribo sonhavam em possuir o coração daquela criatura, mas foi o valente Tambatajá quem o ganhou.

Numa noite de lua-cheia, toda a tribo celebrou festivamente o casamento de Muguxê e Tambatajá. Dizem que até os pássaros vieram cantar para o casal, acompanhando o rufar dos tambores, e, que a brisa balançava as folhas das árvores para lá e para cá, de modo a propiciar uma brisa refrescante naquela noite. Em suma, aldeia e natureza mostravam-se em festa. Tudo nos dois amantes expressava o grande amor que um sentia pelo outro, sendo impossível haver um encantamento maior do que aquele. E assim viveram por um longo tempo, que não passa de poucas luas para quem ama.

Certo dia, Tambatajá, ao voltar da pesca, encontrou sua amada deitada na rede, coisa que não era de costume, pois ela sempre o recebia com um forte abraço. Aproximou-se dela e observou que estava doente. Deitou-se a seu lado, abraçando-a, na esperança de que sua força passasse para o corpo dela. No dia seguinte, ofereceu-lhe mingau de mandioca, beiju, mingau de milho e água de coco, mas ela recusava qualquer alimento. Maguxê continuava apenas murmurando, sem jamais abrir seus belos olhos. Para não deixá-la sozinha, quando fosse pescar ou trabalhar na lavoura, o guerreiro resolveu carregá-la nas costas, como fazem as índias com seus bebês. E assim o fez por algumas semanas.

Tambatajá desceu sua pesada carga em cima de umas folhas de bananeira, para pingar na sua boca algumas gotas de água de coco. Mas que triste constatação: ela estava morta. Desesperado, o guerreiro pôs-se a gritar sua dor. Quando não tinha mais voz e lágrimas, deitou-se a seu lado e fechou os olhos. Os animais da floresta velaram-nos durante toda a noite. As folhas das árvores uniram-se para que não se molhassem com as chuvas passageiras. Os cipós rodearam-nos para que não fossem perturbados por bicho algum. As flores expeliram sobre eles as mais diferentes fragrâncias. E os pássaros de cantar mais bonito pipiaram toda a noite, embalando o guerreiro em seu lancinante sofrimento.

Assim que o dia amanheceu, Tambatajá, sabedor de que não viveria sem Maguxê, fez uma enorme cova no solo dadivoso de sua floresta. Docemente acomodou ali sua amada, deitando-se a seu lado, e puxando a terra querida sobre os dois. E assim, também expirou. Passado algum tempo, uma nova planta nasceu na cova do casal. A tribo, que jamais se esquecera do sacrifício do guerreiro, deu-lhe o nome de Tambatajá, porque a uma folha maior, sempre vem colada uma menorzinha, como se a de baixo servisse de suporte para a de cima, lembrando o amor de Tambatajá por Maguxê.

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