Autoria de Lu Dias Carvalho
As forças da alma estão presentes tanto no homem como na paisagem. (Van Gogh)
Não é muito mais belo, glorioso e magnífico imaginar as árvores da floresta a arder em direção aos céus como tochas da alma, do que velas apenas como focos de luz que iluminam a escuridão dos nossos fornos? Será por isso que atingem aquela altura imponente? O próprio sol não pode iluminar o mundo se não tiver almas que se apercebam da sua luz. (Van Gogh)
O genial pintor holandês Vincent van Gogh (1853 – 1890) é um dos grandes nomes da pintura universal. Mas não é fácil falar sobre ele, pois suas paixões e sentimentos estão ligados à arte de tal forma que não é possível ater-se ao seu trabalho sem mergulhar na nobreza de sua alma impregnada de nobres ideais, aos quais se entregou a ponto de sacrificar a própria vida, pois nele tudo funcionava como um todo indivisível e exacerbante ao extremo. Contudo, a sua genialidade artística só foi reconhecida após sua morte. Mesmo tendo pintado 879 quadros em menos de uma década, só conseguiu vender um – A Vinha Vermelha – por um valor insignificante. Atualmente, seus quadros estão entre os mais caros do mercado das grandes obras de arte. Quanta ironia!
A composição denominada Passeio ao Crepúsculo, também conhecida como Paisagem com Casal Caminhando e Lua-Crescente, é uma obra do artista, pintada durante a sua internação no sanatório de Saint-Paul de Mausole, em Saint-Rémy, na França. Ele se encontrava à época muito doente, tomado por alucinações, como mostram as suas árvores contorcidas, espalhadas por grande parte da tela, assim como a intensidade de suas pinceladas. É também um prenúncio da tempestuosidade de suas últimas paisagens de Auvers-sur-Oise, como “Campo de Trigo” em que corvos são vistos esvoaçando.
A paisagem crepuscular apresenta um casal em primeiro plano no meio de uma vegetação verde formada por oliveiras e ciprestes. Homem e mulher dialogam entre si, como mostra o gestual de seus corpos. O homem de barba e cabelos alaranjados (parecido com o próprio artista) usa roupa azul-violeta. A mulher usa um vestido amarelo que deixa visível um de seus pés. Sua mão direita está levantada e a cabeça voltada para a sua direita, como se mostrasse algo. O amarelo do vestido da mulher e o amarelo do céu contrastam com o azul da roupa do homem e o azul das montanhas. A energia das pinceladas e as cores fortes da paisagem demonstram o agitado mundo interior do artista.
Dois altos ciprestes aparecem ao fundo, à esquerda e à direita. Outros menores alinham-se a eles. Tanto as oliveiras quanto os ciprestes fizeram parte das paisagens do artista, quando ele se encontrava em Saint-Rémy. Uma lua-crescente estonteantemente amarela, envolta por uma auréola, aparece à esquerda, tendo um céu azul pincelado de amarelo como fundo. O horizonte flameja em tons vermelho e alaranjados. As montanhas ao fundo são pintadas em pinceladas diagonais, nas cores azul e preta.
Também nesta obra de Van Gogh está presente a influência da arte japonesa (japonismo), como mostram as cores vibrantes e o contorno de linhas grossas e escuras dos elementos presentes no solo. Esta composição pertence ao acervo do Masp deste 1958, sendo tida como um de suas obras mais preciosas.
Ficha técnica
Ano: 1889/1890
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 52 x 47 cm
Localização: Museu de Arte, São Paulo, Brasil
Fontes de pesquisa
Enciclopédia dos Museus/ Mirador
https://www.1st-art-gallery.com/Vincent-Van-Gogh/Landscape-With-Couple-Walking-And-
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