Arquivo da categoria: Pintores Brasileiros

Informações sobre pintores brasileiros e descrição de algumas de suas obras

Aldemir Martins – CANGACEIRO (I)

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Tudo o que eu faço, eu faço desenhando; considero-me um repórter da vida. (Aldemir Martins)

Na obra Cangaceiros, três homens encontram-se sentados no chão, formando uma roda. O uso do chapéu de couro e a presença de uma cabaça de água à direita, repassa ao observador a sensação de que eles estão comendo ou descansando.

A obra do pintor cearense Aldemir Martins está recheada de retratos de cangaceiros, bandos de homens armados, comuns ao interior nordestino na segunda metade do século XIX e início do XX. Eram famosos pela coragem e também vistos como símbolo da vida miserável no sertão. Dentre os vários grupos estava o comandado por Lampião, cantado em verso e prosa na literatura brasileira.

O artista usa lápis crayon sobre o papel e faz uso de texturização, dando uma aparência tosca à obra, como se quisesse ligá-la à vida rústica da região de caatinga e a dureza de vida que levavam esses homens, vagando de um lado para outro do sertão. A não ser os três homens, a cabaça é o único elemento presente na composição.

O homem que se encontra em primeiro plano, é bem maior do que os outros. Ele parece alheio aos outros dois, que dão a impressão de conversarem entre si.

Esta obra deu ao artista o Prêmio de Aquisição Olívia Guedes Penteado, na I Bienal de São Paulo.

Ficha técnica
Ano: 1951
Dimensões: 32,2 x 50,3 cm
Técnica: crayon sobre papel
Localização: Acervo do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo

Fonte de pesquisa
Aldemir Martins/ Coleção Folha de São Paulo

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Pintores Brasileiros – ALDEMIR MARTINS

Autoria de Lu Dias Carvalho

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A agressividade dos cangaceiros, a postura hierática das rendeiras tecendo tramas delicadas com a musicalidade dos seus bilros, a combatividade do galo, a tristeza conformada dos retirantes, todos os temas de Aldemir Martins só poderiam ser interpretados adequadamente por traços severos, embora ágeis e livres, sem o sombreamento bonito e maneiroso dos que aprendem a desenhar na escola. E o seu desenho era duro (…) cheio de arestas cortantes como o mandacaru. (Edwaldo Pacote – jornalista baiano)

Aldemir Martins (1922-2006) nasceu em Ingazeiras, no Ceará. Seu pai, Miguel de Souza Martins, era responsável pela expansão das linhas férreas de seu Estado, enquanto a mãe era filha de índios, motivo de orgulho para o futuro pintor. Sua família era obrigada a mudar constantemente, em razão do serviço do pai. Miguel mudou-se para um município perto da capital, Fortaleza, onde seu filho deu início aos estudos no Colégio Militar. Sua habilidade para o desenhou não passou despercebida, sendo o menino escolhido com orientador artístico da turma. Do Colégio Militar, ele foi para o Ateneu de São José, onde se formou. A seguir, alistou-se no exército, onde permaneceu durante cinco anos, até o término da Segunda Guerra Mundial.

Ao desenhar o mapa aerofotogramétrico de Fortaleza, Aldemir obteve, por meio de concurso, o cargo de cabo-pintor, época em que se dedicou ao aperfeiçoamento da técnica de pintura e desenho. No tempo em que passou em Fortaleza, o artista fundou, juntamente com um grupo de artistas, dentre os quais se encontravam Mário Baratta, Barbosa Leite, João Maria Siqueira, Luís Delfino e Raimundo Campos, o Grupo Artys, que depois se tornou o Centro Cultural de Belas-Artes e a Sociedade Cearense de Artistas Plásticos (SCAP). Veio a trabalhar também como ilustrador em jornais cearenses, como O Unitário e Correio do Ceará. Foi nesse período que conheceu o intelectual paulista Paulo Emílio Salles Gomes que, além de comprar uma de suas obras, incentivou-o a buscar grandes centros.

Aldemir Martins acabou optando pela cidade do Rio de Janeiro, onde passou a usar temáticas brasileiras em suas obras, como paisagens, folclores e hábitos de seu Nordeste. Levava consigo 12 telas e 15 desenhos. Ali foi recebido pelo amigo pintor e conterrâneo Antônio Bandeira. Participou de exposições. No ano seguinte, foi para São Paulo, onde começou a trabalhar como ilustrador na imprensa paulista. A seguir faz sua primeira exposição individual, aos 20 anos de idade, composta de 10 pinturas e 15 desenhos, obras com a temática nordestina, com suas cores vivas e cruas, como explicava ele.

Em 1947, Aldemir Martins participou da exposição 19 Pintores, em que ganhou o terceiro lugar, tornando-se mais conhecido entre os artistas, que trabalhavam com a linguagem expressionista, no início do pós-guerra. Ainda nesse ano, Ademir participou de uma pequena mostra, Desenhistas Brasileiros, na cidade de Praga, atual República Tcheca. Em 1949, ele, que era um autodidata declarado, resolveu fazer o curso de história da arte, com a finalidade de atuar como monitor no museu do MASP. Seu álbum Cenas da Seca do Nordeste ganhou o prefácio da escritora cearense Rachel de Queiroz. Participou de inúmeras mostras e recebeu muitas premiações. Em 1956, na XXVIII Bienal de Veneza, recebeu seu mais importante prêmio: Premio della Presidenza de Consiglio dei Ministri, de melhor desenhista internacional. E, para completar, foi escolhido pelo júri da Galerie Rive Gauche, como o melhor desenhista das dez primeiras Bienais de Veneza do pós-guerra (1946-1966).

Depois de muitas viagens pelo Brasil, recebeu um convite para expor em Washington, EUA, onde ficou três meses. O Prêmio de Viagem ao Exterior levou-o a Roma, onde permaneceu dois anos. Viajou depois para a Inglaterra e a China, sempre aprimorando sua técnica e travando intercâmbio com outros artistas. Aldemir trabalhou também como ilustrador de obras literárias e desenhou painéis cenográficos e murais para inúmeros meios de comunicação, como o teatro e a televisão, editando diversos álbuns, conquistando vários prêmios. Também trabalhou junto à indústria de tecelagem e de embalagens, tornando-se muito conhecido, inclusive do público, deixando um riquíssimo legado, ao morrer com 84 anos, vitimado por um infarto.

Aldemir Martins era artista plástico, ilustrador, pintor e escultor autodidata, dono de uma personalidade generosa, sempre preocupado com as questões da arte e da identidade nacional, conhecido no país e no exterior. O artista foi um marco de extrema importância para a história da arte do Brasil.

Fonte de pesquisa
Aldemir Martins/ Coleção Folha de São Paulo

Views: 5

Segall – NAVIOS DE EMIGRANTES

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Bem que o senhor poderia, como já evocou por meio do desenho uma visão do “pogrom”, mostrar toda a miséria dos refugiados de hoje diante dos consulados, nos navios, nas ferrovias, nas estradas! Isso teria um efeito monumental de uma parte à outra do mundo, e o senhor com isso criaria um documento de nosso tempo. (Stefan Sweig, escritor)

Eu observo o ser humano como eterno refugiado e desde sempre tratei deste problema na minha arte. (Laser Segall)

Navio de Emigrantes é a maior das telas do artista lituano naturalizado brasileiro, Lasar Segall (1889-1957). Mesmo sendo também um judeu emigrante, para ele o assunto tratava-se de uma temática universal, sempre presente na vida da espécie humana.

A visão que se tem dos emigrantes acumulados no convés do navio é do alto, mas o pintor aproxima os 150 personagens do observador, ao individualizá-los, como se ele estivesse observando cada um dos passageiros, nas mais diferentes situações: mães cuidando de seus bebês, pessoas dormindo, conversando, ensimesmadas, na amurada do navio a observar o mar com suas ondas bravias, etc.

No grande grupo de emigrantes presente na composição encontram-se crianças, mulheres e homens nas mais diferentes idades. Cinco enormes chaminés são responsáveis por fazer circular o ar dos porões.

Além da tristeza, um grande cansaço e desesperança parecem tomar conta dos viajantes. Muitos se recostam uns nos outros, enquanto as crianças amparam-se em suas mães. A maior parte dos passageiros está de frente para a popa da embarcação.

O ponto de fuga da composição é a proa que aponta em direção à nova terra que ainda não se encontra à vista. Na parte superior, à esquerda, atrás das cordas, três gaivotas sobrevoam o navio de emigrantes, indicando que a nova pátria está se aproximando. O céu carregado de nuvens escuras acentua o desalento do grupo por ter deixado para trás a sua querida pátria.

Ficha técnica
Ano: 1939-1941
Técnica: óleo com areia sobre tela
Dimensões: 230 x 275 cm
Localização: Acervo do Museu Lasar Segall, São Paulo/SP, Brasil

Fonte de pesquisa
Lasar Segall/ Coleção Folha

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Segall – POGROM

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Não há gritos de dor, não há imprecações, não há rictus de dor, não há desespero, há, sobretudo, uma suave tranquilidade – homens, mulheres e crianças estão envolvidas por uma transcendental quietude, a serenidade da morte está bem fixada nos seus semblantes calmos. (Lasar Segall)

O artista Lasar Segall nasceu na Lituânia, quando o país encontrava-se sobre o poder da Rússia czarista. E lá passou sua infância, convivendo com os bárbaros “pogroms”, que se referiam às perseguições desumanas impingidas aos judeus, dentre os quais se encontrava sua família.

A composição Pogrom mostra um amontoado de corpos, formado por crianças, mulheres e homens, tanto jovens quanto idosos, nas mais diferentes posições. No meio deste depósito humano, o olhar do observador é direcionado para o rosto de um menininho, cujo corpo está voltado para cima, e funciona como o centro figurativo da tela. O seu braço direito descansa sobre o corpo de uma mulher, possivelmente a sua mãe.

O silêncio e a tristeza são reforçados pelo uso de tons ferrosos. Casas velhas, despencando-se ao fundo, intensificam a sensação de abandono. Uma árvore de galhos secos, sem vida, reforça a presença da morte. É possível divisar 11 corpos, mas fica a sensação de que muitos outros jazem por baixo.

Na parte inferior da tela, à esquerda, uma Torá (nome que recebe os cinco principais livros do judaísmo, que constituem o texto central da doutrina ) encontra-se aberta no chão. Junto a ela, há um vaso com uma pequena muda de planta, possivelmente oliveira, a única vida ali existente, ao lado de outros objetos. Os corpos parecem ter sidos atirados num monturo.

Logo abaixo da árvore seca, uma pomba branca paira sobre os corpos, talvez simbolizando a paz que por fim alcançaram aquelas pessoas, depois de levarem uma vida de extrema brutalidade. A perseguição antissemita espalhava-se por toda a Rússia e a palavra “pogrom” significava, em russo, “devastação”. Uma violência desmedida era perpetrada contra os judeus.

Ficha técnica
Ano: 1937
Técnica: óleo com areia
Dimensões: 184 x 150 cm
Localização: Acervo do Museu Lasar Segall, São Paulo/SP, Brasil

Fonte de pesquisa
Lasar Segall/ Coleção Folha

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Segall – INTERIOR DE POBRES II

Autoria de Lu Dias Carvalho

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A composição Interior de Pobres II, obra do artista Laser Segall, mostra uma nova fase de sua pintura, a começar pelo uso de tons mais suaves. Nesta tela, os tons ocre, cinza e marrom são os mais usados pelo pintor. E, ao contrário de outros trabalhos seus, aqui se vê o uso da perspectiva, que traz ao observador a impressão de profundidade. Os quatro personagens possuem espaços delimitados, ou seja, Segal preocupou-se com a organização espacial, dando a cada um deles um espaço próprio.

Ao olhar o quadro, a sensação que o observador possui é a de que os personagens estão representando, como se fossem atores, no palco de um teatro, pois todos estão virados para a frente, com exceção do morto. Encontram-se numa posição diferenciada, como se estivessem de frente para uma plateia. A arrumação dos objetos e o chão de madeira também reforçam a ideia de um teatro.

Na parte inferior da composição, em primeiro plano, encontra-se um homem de chapéu, diante de uma pequena mesa. Sobre ela é possível identificar uma xícara dentro de um pires, acompanhada de uma colherzinha. As vestes da figura possuem tons mais fortes que as dos demais. Seu rosto é muito expressivo, seus olhos são grandes e vesgos. Sua testa vincada pelas rugas remetem ao sofrimento e à preocupação.

No centro da tela, há uma segunda mesinha, coberta com uma toalha transparente. Sobre ela se vê um vaso de planta e um prato. A pequena mesa também se mostra diáfana, sondo possível ver o chão através dela. À sua esquerda, sentada numa banqueta de madeira, está uma mulher magérrima, cujos olhos são díspares e tristes. Ela traz a boca minúscula fechada, como se nada tivesse a falar, e o alaranjado em volta de seus olhos denota doença, fraqueza. Seus seios caídos podem ser visualizados através do vestido. E, enquanto uma de suas mãos toca o braço esquerdo, a outra está depositada entre suas pernas. Ela está descalça com os pés apoiados no chão de madeira. Outro personagem encontra-se à direita da mesinha central, também assentado num banco de madeira. É o mais jovem do grupo. Traz os braços jogados no colo, numa expressão de conformismo. Seus olhos são apagados e tristes.

Ao fundo, próxima à parede, um homem jaz numa cama. Seu rosto pálido, com a boca aberta, está virado para cima. Uma mão descansa sobre seu corpo, enquanto a outra se encontra sobre a mesa, embora pareça haver uma distância acentuada entre a cama e a mesa. Também há a impressão de que é a transparência da mesa que permite ver a mão do homem deitado. A sensação repassada ao observador é a de que ele se encontra muito doente. Contudo, fugindo à regra, os três personagens estão de costas para ele, como se nada mais pudessem fazer, a não ser esperar o seu último suspiro.

Na parede, situada de frente para o observador, está exposto um quadro abstrato. Ou seria uma janela?

Ficha técnica
Ano: 1921
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 140 x 173 cm
Localização: Acervo do Museu de Laser Segall, São Paulo/SP, Brasil

Fonte de pesquisa
Lasar Segall; Coleção Folha

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