Arquivo da categoria: Pintores Brasileiros

Informações sobre pintores brasileiros e descrição de algumas de suas obras

Di Cavalcanti – CINCO MOÇAS DE GUARATINGUETÁ

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Em nenhum outro artista brasileiro, a mulata recebeu tratamento pictórico tão alto e tão digno. Sem paternalismos, sem menosprezo. Di deu-lhe a dignidade da madona renascentista, madonizou a nossa mulata. (…) Altaneiras, monumentais quase sempre, alegres ou sonhadoras, em devaneios – o gato no colo, a flor sobre o busto – apenas por alguns momentos o olhar parece triste ou vago. Porque, hedonista nato, amoroso da vida e das pessoas, Di não se deixa abater pelos problemas existenciais, pela inquietação política ou social. (Frederico Morais, crítico).

A composição Cinco Moças de Guaratinguetá é uma das mais conhecidas pinturas do artista brasileiro Di Cavalcanti, primando pela exuberância cromática e plástica. Faz parte do acervo do MASP desde 1947, doada por Frederico Barata.

As garotas ocupam quase toda a tela, em planos diferentes:

• Em primeiro plano encontram-se duas delas. À esquerda, está a moça de vestido azul e chapéu de cor idêntica, de frente para o observador, enquanto sua companheira, à direita, encontra-se de perfil, embora seu olhar pareça voltado para fora do quadro. Ela parece carregar uma sombrinha fechada.

• No meio da tela, outras duas moças encontram-se na mesma posição das primeiras, com uma alteração: a da direita está de frente para o observador e a da esquerda de perfil. Uma delas carrega uma sombrinha aberta.

• Ao fundo, no canto superior direito da tela, com a cabeça apoiada no braço que se firma sobre a janela, está a quinta moça. Ela olha para fora da tela, com seu olhar distante e devaneador.

Todas as garotas têm o mesmo tom de pele, excetuando a de vestido azul, que tem a pele mais clara e os traços mais finos. Todas as cinco moças usam chapéu.

A presença de uma parede descascada mostra que o local, onde se encontram as personagens, é muito simples, mas mesmo assim, provido de encanto. No quadro há fortes contrastes cromáticos.

Nota: informação recebida de José Ramos Neto sobre a obra:

José Ramos Neto escreveu na cronologia de MASP – Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand. Uma história que poucos conhecem, da página do Grupo ”FOTOS E FATOS DE GUARÁ ANTIGA”.

Ariel Garcia Sebastião Carvalho Filho:
Estou muito feliz por poder passar a vocês a história desse quadro. ”As 5 Moças de Guaratinguetá” Di Cavalcandi 1930.

“ESSE QUADRO RETRATA MINHA AVÓ E SUAS 4 FILHAS”.
Di Cavalcanti era muito amigo do meu avô, pessoa muito conhecida e respeitada no meio artístico, de origem circense. “Palhaço Piolin” (Abelardo Pinto Piolin). Di Cavalcanti pintou quadro do meu avô, da minha mãe e da minha avó junto das suas 4 filhas. Os Modernistas reuniam-se no Circo do meu avô desde 1922. A esposa de Piolin era de Guaratinguetá, muito bonita, ficava na janela, se perceberem, no quadro existe uma moça na janela. Os rapazes ficavam passando na frente da casa, encantados com sua beleza. Piolin esteve em 1918 com o Circo em Guaratinguetá e fugiu com essa moça, minha avó. Por isso a música “E o palhaço o que é, é ladrão de mulher.”

Como somente minha mãe nasceu em Guaratinguetá, meu avô relatou a Di Cavalcanti, onde fez o quadro “A menina de Guaratinguetá” Nomes das 5 moças de Guaratinguetá:

Benedita França Pinto (avó).
Áurea Pinto (tia).
Ayola Garcia (mãe)
Albertina Ribeiro de Barros (tia).
Ariel Pinto (tia) (atriz Ana Ariel).

Ficha técnica
Ano: 1930
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 92 x 70 cm
Localização: Museu de Arte de São Paulo, S. Paulo, Brasil

Fonte de pesquisa
Di Cavalcanti/ Coleção Folha
Enciclopédia dos Museus/ Mirador

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Di Cavalcanti – BORDEL

Autoria de Lu Dias Carvalhodi12345

Na sua composição Bordel, Di Cavalcanti apresenta quatro roliças personagens femininas, que preenchem quase toda a tela, como se fossem um bloco único. As bordas da pintura são irregulares, feitas com a mesma sinuosidade vista nos corpos das mulheres.

As quatro prostitutas encontram-se no interior de um bordel. Duas delas são mulatas, a terceira é loira e a quarta é negra. Todas elas possuem olhos grandes, bastante maquiados, lábios e unhas pintados de vermelho e roupas sensuais. A loira, que se encontra ao meio, olha-se no espelho ao fundo, que está seguro pela negra e pela mulata.

Ao fundo, descortinam-se o mar e as montanhas.

Ficha técnica
Ano: 1940
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 80 x 103 cm
Localização: Acervo da Fundação José e Paulina, Nemirovsky, São Paulo, Brasil

Fonte de pesquisa
Di Cavalcanti/ Coleção Folha

Views: 18

Di Cavalcanti – CASA VERMELHA

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Di foi o primeiro a trazer para a pintura a gente dos morros, a gente dos subúrbios, onde nasceu o samba. (…) O que lá se passa é autêntico, de origem e sensibilidade. (Mário Pedrosa)

Na sua composição Casa Vermelha, o pintor brasileiro Di Cavalcanti apresenta três personagens femininas, que ocupam o centro da tela.

Uma das mulheres está de frente para o observador, parecendo fitá-lo. Ela traz as mãos entrelaçadas à frente do corpo e as pernas ligeiramente abertas. De costas para o observador, estão duas outras mulheres. A que se encontra à esquerda, traz na cabeça um cesto, que é firmado por sua mão esquerda, enquanto gesticula com a outra. A terceira mulher, à direita, encontra-se de perfil, como se conversasse com a companheira.

Ao fundo, estão três casas, sendo duas à direita da rua e uma à esquerda. Dentre elas está a casa vermelha, que dá nome ao quadro.

Ficha técnica
Ano: sem data
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 80 x 60 cm
Localização: Acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo, S. Paulo, Brasil

Fonte de pesquisa
Di Cavalcanti/ Coleção Folha

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Pintores Brasileiros – DI CAVALCANTI

Autoria de Lu Dias Carvalho

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A nossa arte tem de ser como a nossa comida. O nosso ar, o nosso mar. Tem de ser reveladora de nossa cultura, pois a boa arte é sempre cultural e sua dimensão própria é a de participar um momento cultural. O artista verdadeiro torna-se moderno para a sua época: ele traz o novo, é o arauto de uma nova era. (Di Cavalcanti)

Sensual, mulherengo, bom prato, bom copo e um papo fabuloso. Positivamente, nuna seria um juiz, um bispo, um casto. Mas saberia respeitá-los. (Jayme Maurício)

A cultura não apaga os meus sentidos, sou sempre o vagabundo, o homem da madrugada, o amoroso de muitos amores. (Di Cavalcanti)

Di Cavalcanti é demasiado terra-a-terra, demasiado sensorial, demasiado materialista. (Mário Pedrosa)

Grande carioca, grande brasileiro, grande homem é também um grande amoroso e um grande boêmio. […] É assombrosa a quantidade e a variedade de suas relações humanas. Tem amigos entre políticos e operários, diplomatas e malandros, banqueiros e pobres-diabos, intelectuais e analfabetos, senhoras grã-finas e mulheres da gafieira. A vida, para ele, é um espetáculo variado, belo e fascinante, a que não se limita assistir de camarote, mas de que também participa, como um dos personagens mais ativos. ( Luiz Martins)

Emiliano de Albuquerque de Mello, o nosso famoso Di Cavalcanti, (1897 – 1976), nasceu na cidade do Rio de Janeiro. Seu pai era um tenente do exército que fazia parte da Guarda do Palácio Imperial e sua mãe era cunhada de José do Patrocínio. Foi na casa desse tio abolicionista, em meio à música clássica e à literatura, que o menino Didi cresceu.

Ainda criança, Di Cavalcanti já demonstrava seu talento com as letras e a caricatura. Começou a trabalhar muito cedo, com a morte do pai. Ao se mudar para São Paulo, entrou para a Faculdade de Direito, que nunca viria a concluir. Trabalhou em revistas e jornais e como ilustrador de livros de autores nacionais e internacionais. Aos 24 anos de idade, ele se casou com uma prima distante, Maria Cavalcanti.

Di Cavalcanti teve grande participação na Semana de Arte Moderna, coordenando o evento, criando peças gráficas e exibindo 12 de suas obras. Com a venda de algumas delas, o artista rumou para Paris, pois era o único que ainda não trabalhara no exterior, onde conheceu Blaise Cendais, Jean Cocteau, Sergio Milliet, Henri Matisse e Pablo Picasso, tornando-se grande amigo desse último. Ali também teve contato direto com a obra de grandes nomes da pintura do passado, como Lautrec, Pissarro, Manet, Renoir, Gauguin, Cézanne, Delacroix e El Greco. De Paris foi até à Itália, onde se encantou com as obras de grandes mestres, como Michelangelo e Leonardo da Vinci.

Ao retornar ao Brasil, Di passou a viver entre as cidades do Rio de Janeiro e São Paulo. Influenciado pelas vanguardas europeias e engajado politicamente, Di usou na sua pintura a temática nacionalista aliada à questão social. Simplificou as formas de seus personagens, tornando-os curvilíneos e deu intensidade à cor. Fundou o Clube dos Artistas Modernos, ocasião em que passou a ter um relacionamento amoroso com Noêmia Mourão, uma de suas alunas de pintura.

Em razão de sua intensa participação política, tendo se filiado ao Partido Comunista, foi preso três vezes. Acabou se exilando em Paris, onde veio depois a receber a medalha de ouro por sua participação na Exposição Internacional de Artes Técnicas de Paris. O contato com o Expressionismo alemão, cujo enfoque era a crítica social, fortaleceu a vontade de Di em mostrar as mazelas políticas e sociais de seu país, apresentando temáticas relacionadas com o cotidiano do povo brasileiro: o samba, o carnaval, a boemia, as prostitutas, as favelas, as mulatas, o malandro, etc., sempre ambientadas na cidade do Rio de Janeiro.

Di retornou ao Brasil, após a invasão de Paris pelas forças nazistas. Ele se mostrou mais consciente ainda de que a arte devia ser vista como uma forma de participação social, pondo em destaque a identidade da gente de seu país. O artista fez sucesso não apenas no Brasil, como em outras partes do mundo: Argentina, Estados Unidos, Escócia, Uruguai, Inglaterra, etc. Nesse período, terminou o seu relacionamento com Noêmia e passou a viver com a inglesa Beryl Tucker Gilman, adotando Elizabeth Di Cavalcanti, filha dela. Mas o pintor teve muitos outros relacionamentos passageiros, tendo sido amante de muitas mulheres famosas.

Em 1953, juntamente com Alfredo Volpi, Di Cavalcanti recebeu o Prêmio de Melhor Pintor Nacional. E, em 1956, na Itália, ganhou o Primeiro Prêmio na Mostra Internacional de Arte Sacra de Trieste, com sua obra Crucificação, comprada pelo Instituto de Arte Litúrgica de Roma.

Em 1966, aos 69 anos, Di Cavalcanti, que completava cinquenta anos de arte, concorreu a uma vaga na Academia Brasileira de Letras (ABL), mas não foi aceito. Em 1975, Di passou por duas cirurgias e uma terceira no ano seguinte. Morreu em 1976, aos 79 anos de idade, vitimado pela cirrose, deixando uma produção calculada em 9.000 obras, entre pinturas e desenhos. Sua arte está espalhada por todo o Brasil,  América Latina, Estados Unidos e Europa.

Di foi um artista polivalente: pintor, ilustrador, caricaturista, muralista, desenhista, jornalista, escritor e cenógrafo. Foi, sem dúvida, um dos maiores pintores brasileiros do século XX.

Para finalizar este breve texto sobre a vida de Emiliano Di Cavalcanti fica aqui o testemunho de Mario Schenber: “Na minha opinião, uma das coisas mais importantes em Di foi a sua contínua preocupação em fazer uma arte brasileira, ligada aos aspectos cotidianos da vida brasileira e procurando através deles definir a nossa identidade cultural. Esta tendência foi tão forte nele que não conheço qualquer trabalho de Di Cavalcanti que não a reflita, não reflita esta preocupação. Qualquer trabalho de Di, bom ou ruim, é um trabalho brasileiro.”

Fonte de pesquisa
Di Cavalcanti / Coleção Folha
Brazilian Arte VII

Nota: autorretrato do pintor

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Ianelli – BAMBUZAL

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Eu fechava os olhos e imaginava apenas as grandes massas, os volumes e a cor. O caminho para uma boa pintura é se desligar do supérfluo e buscar o essencial. (Arcangelo Ianelli)

Através das fendas, deixadas pelos troncos do cerrado bambuzal, é possível observar a paisagem que se estende em segundo plano. O caule das árvores possuem cores e larguras diferenciadas. A paisagem ao fundo é composta por duas casas, um campo verde, árvores e montanhas.

A verticalidade das árvores, que compõem o bambuzal, contrasta com a horizontalidade das casas, do campo e das montanhas. E, como o pintor busca apenas o essencial, as folhas do bambuzal não estão presentes na tela, mas apenas seus esguios troncos.

Esta é uma das pinturas mais famosas de Arcangelo Ianelli.

Ficha técnica
Ano: 1959
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 80 x 60 cm
Localização: Coleção particular

Fonte de pesquisa
Arcanjo Ianelli/ Coleção Folha

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Ianelli – CASA

Autoria de Lu Dias Carvalhoianelli1234

A cor é o elemento formal que emana luz e sensualidade. (Arcangelo Ianelli)

Eu não persigo a beleza; se ela ocorre, é involuntária. Busco fazer um trabalho profundo ao depurar a cor. (Arcangelo Ianelli)

De acordo com o pintor Arcangelo Ianelli, para se ter uma boa pintura é preciso abrir mão do supérfluo na busca do essencial. É exatamente isso que ele faz na sua fase do abstracionismo geométrico.

As composições iniciais de Ianelli eram figurativas, mas com o tempo, ele foi se distanciando da arte figurativa, abstraindo-se do real, até alcançar o abstracionismo, onde as cores e as formas abstratas ocupam toda a tela.

Na sua composição Casas, o artista impacta o observador pelo jogo de cores apresentado. As casas limitam-se apresentar o indispensável, para que possam ser reconhecidas como habitações. Formas retangulares e triangulares dão vida a elas, com suas cores frias, quentes e neutras, com grande predominância do azul e do branco.

Ficha técnica
Ano: 1960
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 80 x 58 cm
Localização: Coleção particular

Fonte de pesquisa
Arcanjo Ianelli/ Coleção Folha

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