Arquivo da categoria: Pintores Brasileiros

Informações sobre pintores brasileiros e descrição de algumas de suas obras

Pintores Brasileiros – ELISEU VISCONTI

Autoria de Lu Dias Carvalhoelisvisc

Nasce uma nova paisagem na pintura do Brasil […] Foi pena que o movimento moderno brasileiro, no seu início, não tivesse tido contato com Visconti. Os seus precursores teriam tido muito que aprender com o velho artista, mais experimentado, senhor da técnica da luz, aprendido diretamente na escola do neoimpressionismo. (Mário Pedrosa)

O professor e pintor brasileiro Eliseu d’Angelo Visconti (1866-1944) nasceu na Itália, mas aos sete anos de idade veio para o Brasil com sua irmã Marianella, ao encontro dos irmãos mais velhos, que para aqui vieram anos antes. Os dois foram morar na propriedade do barão de Guararema, em Minas Gerais, ganhando a afeição da baronesa Francisca de Souza Monteiro de Barros, que os conheceu na Itália, onde estivera em tratamento. A baronesa, apreciadora de arte e colecionadora de pinturas, encarregou-se dos estudos de Eliseu, por quem nutria grande carinho, sendo também sua grande incentivadora nas artes. O garoto foi para a cidade do Rio de Janeiro, onde iniciou seus estudos de música. Mas ao ver um de seus desenhos, a baronesa incentivou-o a estudar artes.

Eliseu Visconti, aos nove anos de idade, foi matriculado no Liceu de Artes e Ofícios. Ali se tornou um destaque entre os colegas. Em uma das exposições de final de ano, sua escultura “As Romãs” chamou a atenção de dom Pedro II, que lhe sugeriu estudar na Academia Imperial de Belas-Artes (Aiba), tendo Eliseu acatado sua sugestão. Na nova escola, onde teve como mestres Zeferino da Costa, Rodolfo Amoedo, Henrique Bernardelli, Victor Meirelles e José Maria de Medeiros, grandes nomes da arte brasileira, ele recebeu inúmeros prêmios pelos trabalhos apresentados. Mas em 1890, aos 17 anos, juntou-se ao grupo dos “modernos”, composto por professores e alunos que não mais aceitavam a imposição das normas ensinadas pela Academia de Belas-Artes. O grupo criou o “Ateliê Livre”.

O governo republicano aprovou reformas na Academia, que veio a tornar-se a Escola Nacional de Belas-Artes. Sob novas diretrizes, Eliseu Visconti retomou seu lugar de aluno na instituição. E logo depois foi agraciado com um prêmio que lhe foi concedido pela República, conhecido como Prêmio de Viagem ao Exterior, que o levou a estudar na Europa. Na França foi aluno de Eugène Samuel Grasset, tido como uma das mais importantes figuras da “Art Nouveau”. Estudou também com os mestres Bouquereau e Ferrier. Em muitos de seus trabalhos estão visíveis as influências dos movimentos simbolista, impressionista e art-nouveau. Em Madri, ele teve contato com a arte de Diego Velázquez.

Em Paris, Visconti recebeu uma medalha de prata na Exposição Universal de 1900, por seus quadros “Oréadas” e “Gioventù”. Lá também passou a viver com Louise Palombe, aquela que viria a ser sua esposa durante toda a vida e mãe de seus filhos. Ao retornar ao Brasil faz sua primeira exposição, que foi bem recebida pelos críticos de arte da época, como o famoso Gonzaga Duque. Foi chamado para decorar o Teatro Municipal do Rio de Janeiro, decoração essa feita em Paris, em duas etapas. Após esse trabalho, ao retornar ao Brasil, em 1920, passou a criar um impressionismo próprio, bem ao jeito tropical.

Eliseu Visconti foi um dos grandes artistas do cenário brasileiro. Sempre aberto a ideias novas, trabalhou com diversas técnicas e influências, trafegando pelo naturalismo, renascentismo, realismo, pontilhismo, impressionismo e neorrealismo. Infelizmente, aos 78 anos de idade, o artista sofreu um assalto em seu ateliê, quando levou um golpe na cabeça, morrendo três meses depois. Ele se tornou oficialmente brasileiro em razão de uma lei que tornava brasileiros todos os imigrantes que viviam no país, quando a República foi proclamada.

Nota: autorretrato do pintor

Fontes de pesquisa
A arte brasileira em 25 quadros/ Rafael Cardoso
Eliseu Visconti/ Coleção Folha
http://www.eliseuvisconti.com.br/Site/Apresentacao/Sobre.aspx

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Di Cavalcanti – O NASCIMENTO DE VÊNUS

Autoria de Lu Dias Carvalho

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A composição O Nascimento de Vênus é uma obra do pintor brasileiro Di Cavalcanti, que nela faz uma releitura de uma dos mais famosos quadros da história da pintura, “O Nascimento de Vênus”, obra do pintor italiano Sandro Botticelli. No seu trabalho, o artista brasileiro transpõe a Vênus mitológica para um ambiente tropical.

Botticelli apresenta na sua obra, a bela Vênus, deusa da beleza e do amor da mitologia grega, como personagem principal, em meio a outras figuras do universo mitológico. Di Cavalcanti, por sua vez, faz uso das figuras de quatro mulatas, inseridas dentro de um contexto atual.

Ao contrário da Vênus de Botticelli, que está de pé numa concha sobre a água, a de nosso pintor encontra-se na areia, em primeiro plano, no colo de uma mulher. Tanto a deusa do pintor italiano quanto a do brasileiro estão nuas e direcionam um dos braços para baixo, ocultando a genitália.

São quatro as figuras femininas presentes na pintura do artista brasileiro, todas elas bem opulentas. A Vênus ruiva, nua e rechonchuda, traz a cabeça virada para sua direita. As outras três mulheres tem a atenção voltada para ela, com um sentimento de visível admiração. Aquela que a segura ao colo, sustenta suas costas com o braço esquerdo. Sua mão esquerda segura o ombro, enquanto descansa a direita sobre seu joelho. De costas para Vênus, mas com a cabeça voltada para ela, uma mulher traz nas mãos um lençol, provavelmente para cobri-la. Todas as figuras estão descalças e aparentam ser pessoas simples, gente do povo.

Ao fundo, em segundo plano, o mar, com suas cores tropicais, encontra-se margeado por uma areia branca e coberto por um céu multicor.

Ficha técnica
Ano: década de 1940
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 54 x 65 cm
Localização: não encontrada

Fontes de pesquisa
Livro de arte brasileira/ Projeto Brazilian Art
http://www.arte.seed.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe.php?foto=102

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Vicente do Rego Monteiro – SUA ARTE

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Eu planejo o quadro como um arquiteto. Uso cálculos sucessivos até achar a linha final para a construção definitiva. O quadro se fabrica, se constrói como uma casa. Esse negócio de falar de inspiração, só no tachismo e no expressionismo, aonde o artista vai com o corpo e a cara, com tudo, improvisa. Mas eu acho que o artista, depois do cubismo, constrói seu trabalho. (Vicente do Rego Monteiro)

 O primeiro contato do pintor brasileiro Vicente do Rego Monteiro com a arte foi através de sua irmã mais velha, ao acompanhá-la nos cursos na Escola Nacional de Belas-Artes (Enba), no Rio de Janeiro. Depois sua família mudou-se para a França, quando ele estava com 12 anos de idade. Em Paris, o garoto frequentou importantes academias, nas quais teve aulas de escultura, desenho e pintura. Também aproveitou para conhecer muitos países europeus, dando ênfase à visita de museus de arte. Paris também lhe proporcionou o conhecimento dos espetáculos de dança, que teria grande influência em sua arte.

Vicente montou um ateliê em Paris, ali permanecendo até 1933, morando mais de 10 anos na França. Segundo os críticos, ele realizou nesse período a sua mais representativa produção pictórica. Foi nessa época que apresentou sua primeira exposição individual. Dois livros com ilustrações suas foram publicados: “Montmartre” e “Quelques Visages de Paris”. Foi também nesse período que perdeu várias obras, em razão de um incêndio em seu ateliê.

 No Brasil, o pintor criou desenhos e aquarelas, tendo como referência as lendas amazônicas e outras temáticas do país, como as cabeças de negras. Tempos depois seria a vez da temática marajoara. O estudo da arte e culturas indígenas levou-o ao conhecimento da obra de Rugendas e Debret, tendo o último exercido grande influência em seus trabalhos. Em São Paulo tornou-se amigo dos modernistas Victor Brecheret, Anita Malfatti, Di Cavalcanti e do pintor acadêmico Pedro Alexandrino. Em sua viagem à Bélgica e à Alemanha travou conhecimento com os expressionistas, que sobre ele exerceriam uma grande influência. Também viria a interessar-se pelo Surrealismo.

Vicente foi muito aberto em relação à temática de sua obra, que apresenta telas religiosas, músicos, nus femininos, trabalhadores, esportistas, etc. Contudo, quando se trata do estilo, pode-se dizer que esse era único, pois quase todas as suas obras trazem suas figuras meio geometrizadas, sendo que o volume e o peso escultórico recebiam um tratamento especial. Em seu trabalho de poucas cores, os tons ocre e marrom são predominantes. Usava contornos e sombreados pretos para sugerir relevo.

No início de sua carreira, Vicente frequentava aulas de escultura, de desenho e de pintura. E esse interesse pela escultura acompanhou-o, principalmente pela egípcia antiga, gosto esse que se fez presente em algumas de suas obras.

Ficha técnica
Obra: Adoração dos Magos
Ano: 1925
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 82 x 101 cm
Localização: não encontrada

Fontes de pesquisa
Livro de arte brasileira/ Projeto Brazilian Art
Vicente do Rego Monteiro/ Coleção Folha
A arte brasileira em 25 quadros/ Rafael Cardoso

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Di Cavalcanti – A MULATA EM SUA OBRA

Autoria de Lu Dias Carvalho

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A mulata, para mim, é um símbolo do Brasil. Ela não é preta nem branca. Nem rica nem pobre. Gosta de música, gosta do futebol, como nosso povo. (Di Cavalcanti)

 Bem poderíamos dizer que Di compôs com imagens um outro hino nacional nosso, verdadeiro, malicioso, mestiço. (Roberto Pontual)

 As mulheres passam pela minha vida como fonte de inspiração. É com elas que desenvolvo a forma e as cores da minha pintura. (Di Cavalcanti)

O pintor brasileiro Emiliano Di Cavalcanti é muitas vezes conhecido como “O Pintor das Mulatas”. É verdade que nenhum outro artista dedicou às cabacrochas um espaço tão grande em sua arte.  Mário de Andrade chamava-o de o  “mulatista-mor“ da pintura.

É fato que o pintor Lasar Segall (1891-1957) nascido em Vilna, na Lituânia, mas que aos 32 anos de idade, escolheu o Brasil como nova pátria, onde já viviam três de seus irmãos, também retratou a mulata em seus trabalhos. Contudo, ele a via como um tipo étnico, uma questão social do país, ao contrário de Di, “que a tomou por fonte de sensualidade a toda prova, entre o erótico e o onírico, o lírico e o fantástico, o cotidiano e o intemporal”, como explica o crítico de arte Roberto Pontual, em sua obra “Entre Dois Séculos”. Di Cavalcanti sentia uma grande fascinação pela figura dessas mulheres corpulentas, voluptuosas e sensuais, apresentadas quase sempre nuas ou seminuas.

Di Cavalcanti mostrava a mulata em sua brasilidade, como gente da terra, parte intrínseca da população do país. O pintor evitava o apelo ao exotismo, ainda que, vez ou outra, principalmente na fase final de sua vida, talvez inconscientemente, tivesse buscado certos elementos para obter um efeito estético, estilizando-as.

Segundo Casimiro Xavier de Mendonça, em “As Musas de Passagem”, texto de apresentação do catálogo da exposição de Di Cavalcanti na Galeria Milan, São Paulo, junho de 1988, “Di transforma suas mulatas em odaliscas com as cores quentes dos trópicos e o pincel ainda carregado de um dramático romantismo”, parecendo que “as suas maiores influências tenham sido de Braque e Delacroix.”.

As fascinantes e misteriosas mulatas acompanharam o artista até o final de sua vida. Nos últimos anos, em suas telas, elas se tornaram mais evanescentes, como se fossem apenas uma lembrança da presença física dessas.

Segundo o crítico Fredederico Morais, “Em nenhum outro artista brasileiro, a mulata recebeu tratamento pictórico tão alto e tão digno. Sem paternalismos, sem menosprezo. Di deu-lhe a dignidade da madona renascentista, “madonizou” a nossa mulata, o que não é o mesmo que “mulatizar” a madona, como o fez Athayde no céu barroco de Minas. (…) Altaneiras, monumentais quase sempre, alegres ou sonhadoras, em devaneios – o gato no colo, a flor sobre o busto – apenas por alguns momentos o olhar parece triste ou vago. Porque, hedonista nato, amoroso da vida e das pessoas, Di não se deixa abater pelos problemas existenciais, pela inquietação política ou social.”.

Ficha técnica
Obra: Samba
Ano: 1925
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 177 x 154 cm
Localização: Destruída em um incêndio no Rio de Janeiro, em  13/08/2012.

Fontes de pesquisa
Livro de arte brasileira/ Projeto Brazilian Art

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Vicente do Rego Monteiro – COMPOSIÇÃO

Autoria de Lu Dias Carvalho

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A tela denominada Composição é uma obra do artista brasieliro Vicente do Rego Monteiro. A pintura apresenta características impressionistas.  O artista foi influenciado por várias correntes, inclusive pelo expressionismo e surrealismo.

A composição mostra figuras dançando com os braços abertos. O movimento faz com que sejam absorvidas, tirando a definição de seus corpos. As duas figuras, em primeiro plano, têm a cabeça tombada para a esquerda do corpo.

A cor predominante na pintura é a amarela, mas a tela também apresenta tons azuis, vermelhos, alaranjados e verdes. A cor vermelha, mais forte e em maior profusão, chama a atenção para a posição dos braços e das cabeças. Um seio está visível, com um mamilo pintado de vermelho. Quanto mais o observador desce os olhos, mais indefinidos tornam-se os dançarinos, pois nesta composição, o pintor deu mais ênfase às cores e ao deslocamento das figuras, o que comprovam os traços indefinidos e o cruzamento das áreas de cor.

O escritor Mário de Andrade foi o dono desta pintura que hoje encontra-se num acervo na cidade de São Paulo.

Ficha técnica
Ano: 1921
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 70 x 50 cm
Localização: Acervo do Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo, Brasil

Fonte de pesquisa
Vicente do Rego Monteiro/ Coleção Folha

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Vicente do Rego Monteiro – FIGURA SENTADA

Autoria de Lu Dias Carvalho

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A composição Figura Sentada é uma obra do pintor brasileiro Vicente do Rego Monteiro, que nutria grande interesse pelas culturas primitivas, conforme comprova a tela em questão. Nela, o artista demonstra a associação dessas culturas com as vanguardas históricas europeias.

A figura representada é um nu feminino frontal, que se encontra numa postura típica dos deuses indígenas. Na sua tela, o pintor unifica elementos da arte da ilha do Marajó, apreendidos através do estudo das cerâmicas da região, com as artes assíria e egípcia, estudadas nos museus europeus.

O artista mais uma vez faz uso da geometria para compor seu trabalho, que assim pode ser descrito:

  • rosto retangular;
  • braços formando um círculo;
  • e seios e patelas circulares.

O corpo da figura é volumoso e possui um formato arredondado. Os cabelos escuros descem até a altura do ombro, enquanto uma franja reta cai pela testa. Seus braços cruzam no topo da cabeça e envolvem-na. Os traços do rosto são diminutos, em relação ao corpo, e a cabeça está encaixada no tronco, sendo a pintura de tom terroso, características essas próprias da arte marajoara. E embora se encontre nua, a figura feminina é destituída de qualquer tipo de sensualismo, deixando patente a sua posição de ídolo e seu caráter decorativo. Seus braços e pernas cruzados, em posturas similares, formam uma simetria horizontal.

De cada lado da figura está uma ave. Elas são exatamente iguais, formando uma simetria vertical. A linha sinuosa que esboça o tronco da figura da mulher é similar à das aves, como se ali pudessem ser encaixadas. As aves mostram a influência da cultura egípcia no trabalho artista.

A luz que é projetada sobre as figuras advém do canto inferior esquerdo da tela, pois, deste lado, a claridade é mais intensa nas figuras, sendo que o lado esquerdo está coberto por sombras. A luz é responsável por repassar a sensação de relevo e também de volume. O fundo escuro da tela põe as figuras em maior evidência.

Ficha técnica
Ano: 1924
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 92,3 x 72 cm
Localização: Acervo da Fundação José e Paulina Nemirovsky, São Paulo, Brasil.

Fontes de pesquisa
Vicente do Rego Monteiro/ Coleção Folha

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