Autoria de Lu Dias Carvalho
Sinto a língua molhada no meu rosto,
lambuzando-me com beijos de afago.
O corpo enroscado às minhas pernas,
olhos bebendo-me a alma – em tragos.
Enquanto Amiga corria pela praia,
de volta ao seu costumeiro destino,
lágrimas escorriam sobre meu rosto,
de volta ao meu, perdida – sem tino.
Ela – só um pontinho na areia branca.
Eu – um tosco borrão dentro do barco.
Ambas perdidas no tempo e no espaço,
salpicadas de gotas e pingos – amargos.
A chuva caía lá fora, molhando-a toda.
Regavam-me o rosto lágrimas doídas.
Eu levava um sentimento dilacerante,
ao deixá-la sozinha pra trás – na vida.
Ainda sinto o seu corpo naquele banho.
Desajeitada, com uma carência franca,
queria fugir, em meio às minhas pernas,
que, rijas, a sustinham – pelas ancas.
Ensaboava seu corpo de pelos dourados,
com o meu sabonete cheiroso de lavanda,
salpicando sobre si uma cascata cheirosa
de uma reconfortante espuma branca.
Deitamo-nos ao sol diante do mar azul,
sob o olhar surpreso de nossos vizinhos.
E secamos nossos corpos encharcados,
sob o farfalhar do morno vento marinho.
Eu – explodindo de afeto.
Ela – carente de afeição.
Eu – acariciando seu corpo.
Ela – beijando minha mão.
Antes de partir, roguei aos pescadores
que olhassem aquele serzinho solitário,
que caçava caranguejo, com destreza,
nas areias da praia – em desamparo.
Ainda sinto a ternura de seu abraço,
sua língua molhada sobre minhas pernas,
e seus olhos famintos de amor nos meus.
Amiga, como foi difícil dizer-lhe Adeus!
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