Autoria de Lu Dias Carvalho
Dizem alguns que o Criador deu-nos dois ouvidos para que ouvíssemos mais e uma boca para que falássemos menos. Mas não parece ser esta a compreensão da maioria das pessoas neste mundo de meu Deus, pois tudo é feito ao contrário: fala-se muito e não se ouve quase nada. Parece que nos encontramos cada vez mais surdos.
Quem não conhece alguém que fala pelos cotovelos? Certo apresentador televisivo de uma poderosa emissora, por exemplo, é extremamente mal-educado, pois nunca deixa seus entrevistados falarem. Ele corta o raciocínio das pessoas ou responde por elas. É um chato de galochas. Parece vendedor ambulante em meio a uma feira.
Outro nhenhenhém insuportável vem dos funcionários de telemarketing. Como é duro aturar essa gente, embora eu compreenda que esteja fazendo o seu trabalho e aquilo é o seu ganha-pão. Soube que tais operadores devem observar duas regras básicas: serem rápidos e não darem muito tempo para a vítima pensar. Mas já me ensinarem um jeito de me livrar deles:
– Nhenhenhém… – diz o operador em sua cantilena.
– Um momento, por favor! – deve sempre responder a vítima.
A seguir, o ser torturado deixa o fone fora do gancho ou o celular sobre a mesa e aguarda uns dois a três minutinhos. Observará depois com alívio que o chato evaporou-se, partindo em busca de uma nova vítima.
Para quem não conhece índios de perto, digo-lhes que são falantes por natureza. Quando juntos, haja ouvidos para aguentar tanto falatório. Contam alguns, portanto, que os portugueses quando cá estiveram, no século XVI, ficavam enlouquecidos com o parlatório de nossos irmãozinhos, os donos legítimos destas terras. E, como “nheen” significa “falar” em tupi, eles triplicaram o verbo: nhenhenhém = falar, falar e falar.
Há também uma explicação contrária para a origem desta expressão. Alguns historiadores contam que foram os índios que, por não entenderem aquele blablablá danado de esquisito dos portugueses, criticavam-nos por ficarem naquele nhenhenhém sem fim.
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Nhenhenhém a meu ver, é aquela pessoa que quer justificar demais algo que falou e não repercutiu bem, daí fica naquele nhenhenhém.
Eliana
É isso mesmo! Acha que com o nhenhenhém consegue se desculpar, mas ninguém aguenta e o tiro acaba saindo pela culatra.
Beijos,
Lu
Lu
Chega de nhennhenhém é uma expressão comum em todos os lugares onde haja gente: conhecidos ou não. Aqui onde moro também é assim. Costumamos dizer que essas pessoas ” falam mais do que a boca.”
Marinalva
É verdade, é muito comum usarem a expressão “fala mais do que a boca” ou “boca de tramela”. Como a nossa língua é rica!
Abraço,
Lu
Lu
Não sei o que é pior: “nhenhenhém” ou “mimimi”. Pior mesmo são aqueles noticiários ou programas de TV em que todo dia é o mesmo nhenhenhém.
Adevaldo
Ninguém aguenta “nhenhenhém” no ouvido por muito tempo. Há muito não vejo mais programas de televisão. Estão a cada dia piores.
Abraços,
Lu
Lu, amei seu texto.Também conheço pessoas que são capazes de passar horas no maior henhenhem, sem acrescentar absolutamente nada.
Beijos
Ester
E como essas pessoas são chatas. Conheço uma que não deixa a gente abrir a boca.
Ela mesma pergunta e responde… risos.
Abraços,
Lu
Lu
Você colocou muito bem no texto a questão do telemarketing ativo. Essa invenção moderna que invade a nossa intimidade sem quaisquer escrúpulos! Neste caso, o problema não se resume ao nhenhenhém (o nome técnico do script que eles leem), mas sim a gerundismo que fere o nosso ouvido, o uso inadequado dos nossos dados pessoais (que deixamos por boa fé ou por força legal em alguma instituição, etc.). Na coisa pública também há muito nhenhenhém aqui e acolá (os ditadores fazem discursos muito longo, até dez horas, enquanto falta pão ao povo). Políticos falam muito e agem pouco. Os nossos queridos índios falavam muito, mas respeitavam e conviviam muito bem com a Natureza. Hoje, fala-se muito com relação ao desenvolvimento sustentável e preservação das nossas florestas e rios, mas na realidade o que vemos são ações insuficientes e isoladas. Veja também, por exemplo, a distância entre o verbo e a pesquisa internacional que nos deixa estacionados no indicador IDH, comparados com outros países.
Beto
O telemarketing é o resultado da modernidade. A gente ganha de um lado e perde do outro. O gerundismo é mesmo um terror. Haja ouvidos! Eu sei é que a distância entre aqueles que possuem a consciência dos deveres para com o seu país, incluindo fauna e flora, está muito distante daqueles que pouco se lixam. Uns sofrem, outros se esbaldam. A qualidade da educação vem caindo, mesmo em países como os Estados Unidos. Que mundo louco é este?
Abraços,
Lu
Lu,
E quanto nhenhenhém que não leva a nada, hein? Mas gostei de saber que a origem é indígena. Beijo.
Aninha
Acabei de comentar isto acima. E a gente ainda fica com a cabeça cheia.
Beijos,
Lu
Lu
O nhenhenhém só me faz lembrar um tal de ex-presidente…
TT
Nada pior do que um nhenhenhém que não leva a nada.
Beijos,
Lu
Lu
querida, você tem o talento de escrever. Quem não tem, fala. Eu preferia saber escrever como você, talvez quando eu crescer consiga.
Celita
Você tem tantos talentos que não tenho. Quantos trabalhos delicados! Quantos pratos deliciosos! Quanto saber no falar!
Beijos,
Lu