Recontada por Lu Dias Carvalho
Conta-se que bem antigamente, quando as aldeias indígenas começaram a povoar o coração da Floresta Amazônica, numa das tribos ali existentes, havia uma índia formosa como a lua. E não sendo apenas a formosura suficiente, ela era muito generosa com as gentes, bichos e plantas. Seu nome era Muguxê. Não havia ninguém que não a amasse. Todos os guerreiros da tribo sonhavam em possuir o coração daquela criatura, mas foi o valente Tambatajá quem o ganhou.
Numa noite de lua-cheia, toda a tribo celebrou festivamente o casamento de Muguxê e Tambatajá. Dizem que até os pássaros vieram cantar para o casal, acompanhando o rufar dos tambores, e, que a brisa balançava as folhas das árvores para lá e para cá, de modo a propiciar uma brisa refrescante naquela noite. Em suma, aldeia e natureza mostravam-se em festa. Tudo nos dois amantes expressava o grande amor que um sentia pelo outro, sendo impossível haver um encantamento maior do que aquele. E assim viveram por um longo tempo, que não passa de poucas luas para quem ama.
Certo dia, Tambatajá, ao voltar da pesca, encontrou sua amada deitada na rede, coisa que não era de costume, pois ela sempre o recebia com um forte abraço. Aproximou-se dela e observou que estava doente. Deitou-se a seu lado, abraçando-a, na esperança de que sua força passasse para o corpo dela. No dia seguinte, ofereceu-lhe mingau de mandioca, beiju, mingau de milho e água de coco, mas ela recusava qualquer alimento. Maguxê continuava apenas murmurando, sem jamais abrir seus belos olhos. Para não deixá-la sozinha, quando fosse pescar ou trabalhar na lavoura, o guerreiro resolveu carregá-la nas costas, como fazem as índias com seus bebês. E assim o fez por algumas semanas.
Tambatajá desceu sua pesada carga em cima de umas folhas de bananeira, para pingar na sua boca algumas gotas de água de coco. Mas que triste constatação: ela estava morta. Desesperado, o guerreiro pôs-se a gritar sua dor. Quando não tinha mais voz e lágrimas, deitou-se a seu lado e fechou os olhos. Os animais da floresta velaram-nos durante toda a noite. As folhas das árvores uniram-se para que não se molhassem com as chuvas passageiras. Os cipós rodearam-nos para que não fossem perturbados por bicho algum. As flores expeliram sobre eles as mais diferentes fragrâncias. E os pássaros de cantar mais bonito pipiaram toda a noite, embalando o guerreiro em seu lancinante sofrimento.
Assim que o dia amanheceu, Tambatajá, sabedor de que não viveria sem Maguxê, fez uma enorme cova no solo dadivoso de sua floresta. Docemente acomodou ali sua amada, deitando-se a seu lado, e puxando a terra querida sobre os dois. E assim, também expirou. Passado algum tempo, uma nova planta nasceu na cova do casal. A tribo, que jamais se esquecera do sacrifício do guerreiro, deu-lhe o nome de Tambatajá, porque a uma folha maior, sempre vem colada uma menorzinha, como se a de baixo servisse de suporte para a de cima, lembrando o amor de Tambatajá por Maguxê.
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