Recontada por Lu Dias Carvalho
Há muito e muito tempo, tempo esse que nem mais é possível precisar, numa tribo cravada no coração da Floresta Amazônica, havia um indiozinho muito amoroso e inteligente, que adorava as matas e tudo que nela existia. Apesar de pequeno, já conhecia a maioria dos animais, frutos silvestres e raízes. Sempre que seus pais iam pescar, ele ia atrás, perguntando sobre tudo que via. O molequinho conhecia as aves só pelo canto que emitiam. E elas pareciam nutrir por ele certo encantamento, pois vinham comer em suas mãos. Algumas empoleiravam em seus ombros, outras na cabeça, mais outras nos braços, num pipiar festivo, deixando-o no maior encantamento.
Na vida dos silvícolas, não apenas o Bem estava presente, vez ou outra o Mal fazia-se notar, não tanto quanto acontece na vida do homem branco. E foi assim que certo garoto da mesma tribo do indiozinho, movido pela inveja, que lhe instigava o Jurupari (demônio), por não ter o mesmo amor dos animais, assim que viu o menino entre seus passarinhos, acertou um sabiá, que se encontrava num galho próximo, com o seu estilingue. O bichinho caiu no chão tentando se safar do sofrimento, mas o moleque mau pisoteou-o.
O indiozinho, penalizado, correu para o animalzinho, tomou-o nas mãos, abriu-lhe o biquinho e ficou soprando, tentando ressuscitá-lo. Levou-o até um pequeno igarapé, onde botou gotículas de água em seu biquinho quebrado. A seguir, encostou-o em seu peito, e ficou ali deitado, pedindo ao Espírito dos Animais que lhe desse vida. Tudo em vão. O sabiá havia partido para o céu dos passarinhos. O menininho abriu uma cova aos pés de uma castanheira e lá enterrou o corpo da avezinha. Entristecido, voltou para casa, chorando. Nada o consolava. Jamais imaginara que alguém pudesse matar um passarinho, que não fazia mal nenhum e ainda alegrava a mata com seu cantar. Suas lágrimas abundantes iam pingando pelo caminho, por onde passava.
Os pais do menino índio, já incomodados com sua ausência, estavam a procurá-lo. Ao vê-lo, perceberam que, por onde passava, as lágrimas caídas de seus olhos escuros davam origem a uma nova plantinha verde, que logo crescia, e sua raiz mostrava-se carregadinha de frutos subterrâneos. Toda a tribo foi chamada para conhecer aquela nova planta, que recebeu o nome de Mãdu`i, que significa “grãos que alimentam e trazem bondade ao coração”. Mas na língua portuguesa ela ganhou o nome de amendoim, sendo também conhecida por amendoí, amendoís, mandobi, mandubi, mendubi, menduí e mindubi.
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