O Professor Hermógenes, um dos precursores da ioga no Brasil, escreveu mais de 30 livros sobre a saúde física e mental. Neste texto, retirado de seu livro “Yoga para Nervosos”*, ele nos ensina onde realmente se encontra a cura.
Houve épocas em que a ciência defendia um ponto de vista chamado dualista, considerando o ser humano dividido em corpo e alma. Na Idade Média dizia-se até ser a alma coisa de Deus, e o corpo, do diabo. Por muitos séculos admitiu-se um hiato irreconciliável entre estes dois opostos. Hoje, a ciência evoluiu o suficiente para voltar a afirmar que não existem alma (mente) e corpo ou espírito e matéria como duas realidades essencialmente diversas. São as faces da mesma moeda.
Nada se passa na mente que o corpo não manifeste. Nada se passa no corpo sem que a mente não reflita. Isto porque não há corpo e uma alma, mas uma unidade. Quinhentos anos antes de Cristo, Sócrates doutrinava: “Todo o bem e mal, quer no corpo ou na natureza humana, origina-se na alma e daí extravasa… Portanto, para curar o corpo, deve-se começar curando a alma”. Milhares de anos antes, isto é, muito mais remotamente, o grande poema épico da Índia – Mahabharata – considerava que “existem duas espécies de doenças – física e mental. Uma se origina da outra. As perturbações mentais originam-se das físicas e, de igual maneira, as perturbações físicas originam-se das mentais”.
Se uma corrente admite ser a mente desarmônica, prejudicando o corpo, uma outra, igualmente importante, dá explicação diametralmente oposta, isto é, procura demonstrar serem as perturbações orgânicas que geram os sofrimentos mentais. A primeira vê o nervoso como um doente do psiquismo, isto é, da mente ou da alma. A segunda considera-o um enfermo do corpo, principalmente, dos nervos e das glândulas. Nervos e glândulas em desarranjo provocariam todas as anomalias nos órgãos por eles regulados, com repercussão automática sobre a vida mental. Contudo, o Yoga, cujo fundamento é a escola do pensamento hindu, que afirma o não dualismo, sabendo que a mente e o corpo não deixam de ser a mesma Realidade Una, não se atém a um exclusivismo terapêutico, isto é, não trata exclusivamente da matéria ou do espírito. Socorre a pessoa como um todo, e o faz por várias frentes de ação terapêutica.
A convicção essencial que tenho é que só a transformação é que merece ser chamada de cura. Curar-se não é deixar de sentir sintomas, mas trocar repressão por compreensão; ignorância por sabedoria; ansiedade por contentamento; psicodelismo por alegria tranquila; alienação por autoconhecimento; desespero por coragem; regressão por evolução; erotismo por amor; fadiga por energia; ódio por benevolência; guerra por paz; medo por serenidade; tédio por alegria de viver; prazeres por felicidade; astenia por vibração; vício por liberdade; vazio por plenitude; mentira por verdade; desejos por vontade; agitação por quietude; desvarios por sobriedade; dependência por autossuficiência; brutalidade por refinamento; angústia por segurança; fragmentação por unidade; doença por higidez; ociosidade por ação fecunda; embotamento por criatividade; distância de Deus por eucaristia; apego por renúncia; hipocrisia por autenticidade; ressentimento por perdão; fragilidade por invencibilidade; passividade por cooperação; mendicidade por doação; cobiça por desapego; distância e conflito, carência e sofrimento por Yoga.
*Esse livro encontra-se em PDF no Google.
Nota: Odalisca com Vestido Listrado, obra de Matisse.
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Lu
Os textos do prof. Hermógenes me fazem lembrar minhas aulas de ioga com o Mestre dos Sarvas. Na sala de exercícios, um grande painel em madeira com as palavras SEM PRESSA NEM PAUSA. Bateu com o assunto da semana anterior, direitinho. O pensamento holístico vê o homem como um todo: o físico e o espiritual (sentimentos),o difícil equilíbrio entre os dois.
A aceleração que estamos sofrendo:correrias, problemas, competição, crises, trazem-nos grande ansiedade que, por sua vez, traz preocupações e doenças. Essa roda-viva está sugando a nossa energia. Precisamos aprender a desacelerar.
Abraços
Matê
Matê
Cada vez fica mais evidente que não se pode tratar o corpo humano por partes. A yoga, essa sabedoria milenar, sempre ensinou que mente e corpo formam uma única unidade.
Realmente é preciso aprender a desacelerar para se ter uma vida com qualidade.
Abraços,
Lu