Da Vinci – MONA LISA

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Autoria de Lu Dias Carvalho

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O seu sorriso era tão agradável que parecia ser divino, em vez de humano; e aqueles que o viram, ficaram espantados ao descobrir que ele parecia tão vivo quanto o original.  (Vasari)

Mona Lisa sorri e, graças a esse gosto, a esse artifício, o artista diz que a máscara agora é viva e que por trás dela há uma mente. (…) E o que gera a impressão de vida é, antes de mais nada, a relação que se estabelece entre a retratada e o espectador — e a representação da reação de um à presença do outro. (John Shearman)

O que de imediato nos impressiona é a medida surpreendente em que a mulher parece viva. (E. H. Gombrich)

Mona Lisa ou La Gioconda é uma das mais famosas obras de Leonardo da Vinci e o mais famoso retrato de toda a história da arte. A pintura levou cerca de quatro anos para ser concluída. Foi iniciada em Florença, passou pela segunda temporada do pintor em Milão e foi levada inacabada com ele para a França, onde permanece até hoje. Ao utilizar uma fórmula aparentemente simples, a unidade expressiva que Leonardo obteve entre a retratada e a paisagem torna seu trabalho um dos mais elogiados do mundo. A harmonia obtida na pintura, especialmente no sorriso da modelo, reflete a unidade entre Natureza e Homem, tão buscada pelo artista em sua filosofia.

Embora não tenham ficado registros sobre a pessoa retratada, é dada como certa que se trata de Lisa del Giocondo, mulher de um comerciante de seda, Francesco del Giocondo. Conforme pesquisas, o retrato foi feito possivelmente quando Lisa estava grávida ou após ter dado à luz. Teoria reforçada pela descoberta de um finíssimo véu negro na cabeça, usado pelas mulheres grávidas do século XVI. Tal descoberta deu-se durante estudos do Centro de Pesquisa e Restauração dos Museus da França e o Conselho Nacional de Pesquisas do Canadá, quando a pintura foi submetida a um estudo com scanners e lasers e puderam projetar uma imagem em 3D, com as várias camadas de pintura utilizadas.

Por sua vez, o historiador Maike Vogt-Lüerssen, depois de ter feito pesquisas sobre o retrato durante 17 anos, chegou à conclusão de que se trata de Isabel de Aragão, Duquesa de Milão. Segundo ele, o padrão do vestido verde escuro de Mona Lisa indica que o modelo é um membro da corte de Visconti-Sforza, onde Leonardo trabalhou como pintor durante 11 anos.

Lillian Schwartz, cientista dos Laboratórios Bell, por sua vez, sugere que a Mona Lisa é, na verdade, um autorretrato de Leonardo, porém, vestido de mulher. Esta teoria baseia-se no estudo da análise digital das características faciais do rosto do pintor italiano e nos traços do modelo. Comparando um autorretrato do pintor com a mulher do quadro, verifica-se que as características dos rostos alinham-se perfeitamente. Essa hipótese ganha ênfase em O Código da Vinci (Dan Brown). Os críticos de arte, porém, acham tal afirmação totalmente desprovida de crédito. Salientam que as similaridades são devidas ao fato de ambos os retratos terem sido pintados pela mesma pessoa, usando o mesmo estilo.

Existem também relatos de que Mona Lisa nada mais é do que o retrato de Gian Giacomo Caprotti de Oreno, de alcunha Salai, que se tornou aluno de Leonardo e com quem supostamente manteve uma longa ligação amorosa. Contudo, Freud, em seu livro, Leonardo da Vinci e uma Memória da sua Infância, fala que o pintor era homossexual, mas que nunca teria agido de conformidade com seus desejos carnais. Os escritos e os livros de notas deixados por Leonardo apontam para a sua luta com a sexualidade. O fato é que Salai manteve-se como companheiro, assistente e serviçal de Leonardo por trinta anos, tendo recebido em testamento a pintura da bela Mona Lisa.

Após a morte de Leonardo não se tem mais certeza dos caminhos tomados por sua obra. Uns dizem que foi reconduzida a Milão, outros que foi vendida por Salai aos tesoureiros do rei da França em 1517. O que se sabe com certeza é que num determinado momento o quadro de La Gioconda foi anexado às coleções reais francesas. Contudo, somente em 1797 o público teve acesso à obra, após ser anexada ao patrimônio do Louvre. No início do século XIX, a pintura saiu de circulação por alguns anos para enfeitar os aposentos da imperatriz Josephine Bonaparte.

O sorriso enigmático de Mona Lisa é visto por alguns como se denotasse crueldade, próprio do sorriso de mulheres que escravizam os homens. Outros, contudo, veem nele grande encantamento e doçura. Atestam alguns que, ao sombrear sutilmente os cantos dos olhos e a boca da mulher, o pintor tornou a natureza exata de seu sorriso indeterminada. Tal sombreado recebe na pintura o nome de sfumato (esfumaçado). As curvas dos cabelos e da roupa também são criadas através do sfumato. Os sorrisos dúbios eram uma característica comum aos retratos feitos na época de Leonardo. Ao contrário dos trajes ostentosos e joias, usados na época, a indumentária de Mona Lisa é extremamente simples, desprovida de adornos. O que faz com que o observador retenha sua atenção nos olhos que parecem nos fitar, onde quer que nos encontremos diante do quadro, e nas mãos da mulher.

Cerca de 400 anos após ser concluído (agosto/1911), o quadro foi roubado, o que motivou a prisão ou o interrogatório de várias pessoas, dentre elas a do poeta francês Guillaume Apollinaire e do pintor espanhol Pablo Picasso. Para tristeza geral, dava-se a obra como perdida. Entretanto, ela reapareceu na Itália. O ladrão era um antigo empregado italiano do museu onde se encontrava a pintura, inconformado com o fato de que o quadro mais famoso do mundo, feito por um conterrâneo seu, ficasse na França e não na Itália. Outro fato triste aconteceu quando um louco jogou ácido sobre a obra, danificando sua parte inferior, sendo necessários vários anos para a sua completa restauração. E em 2009 uma russa, indignada por não receber a cidadania francesa, jogou uma xícara vazia contra o quadro, que acabou se quebrando na proteção de vidro à prova de balas.

A famosa obra de Leonardo da Vinci inspirou muitos artistas, dentre eles o notável Rafael, com o Retrato de Maddalena Doni (1505 -1506). Também determinou um novo padrão para os retratos futuros. O pintor apresenta a modelo numa composição em forma de pirâmide, onde ela fica bem centrada, sendo vista apenas acima do busto, com uma paisagem ao fundo. As mãos superpostas permanecem na base da pirâmide, espelhando a mesma luz que clareia a face, o pescoço e o colo. Um algoritmo de computador desenvolvido na Holanda pela Universidade de Amsterdã, em colaboração com a Universidade de Illinois, nos Estados Unidos, descreveu o sorriso de Mona Lisa como uma mulher 83% feliz, 9% enjoada, 6% atemorizada e 2% incomodada.

Observação sobre a pintura de Mona Lisa:

  • A posição das mãos do modelo foi muito elogiada ao longo dos anos.
  • O sorriso enigmático deve-se à técnica de deixar os cantos da boca indefinidos, para que o espectador complete as formas com seu olhar.
  • A dama não possuía sobrancelhas e nem cílios, segundo o costume florentino da época. Nesta parte do quadro, percebe-se a técnica do sfumato.
  • A paisagem ao fundo do quadro não tem os dois lados similares. O horizonte direito está mais alto do que o esquerdo.
  • O efeito sutil do sfumato está, particularmente, nas sombras em torno dos olhos.
  • Se comparada à pintura de A Última Ceia, Mona Lisa encontra-se muito bem conservada, sem sinais relevantes de reparos ou pinturas sobrepostas, apesar do tempo em que foi feita. Porém, exames de raios-X indicaram a presença de três versões escondidas sob a atual pintura e já existem sinais de deterioração no revestimento de madeira, muito maior do que o esperado.
  • Leonardo da Vinci retratou Mona Lisa de acordo com sua visão sobre pintura, buscando uma completa harmonia entre a modelo e a natureza. Com a sua grande capacidade de observação, ele chegou à conclusão de que os contornos só serviam ao desenho, pois eles não existem na natureza. E, para eliminá-los, ele esfumaçava as cores, fazendo uma suave fusão entre elas, deixando ao observador a tarefa de delimitá-los com os próprios olhos. Tal técnica pode ser vista, principalmente, no rosto de Mona Lisa.

Curiosidades:

  • Mona Lisa, como o quadro mais famoso do mundo, adquiriu um estatuto de ícone cultural. São numerosas as suas reproduções e utilização na publicidade, objetos do dia a dia e como referência cultural.
  • Em 1919, o dadaísta Marcel Duchamp pintou sobre uma reprodução barata da Mona Lisa um bigode e uma pera, e a inscrição L.H.O.O.Q. (que significa Elle a chaud au cul, algo como Ela tem fogo no rabo, em português)
  • Em 1950 Mona Lisa foi uma balada de Nat King Cole em tributo ao quadro, foi o single mais vendido durante oito semanas, atingindo três milhões de cópias vendidas. A música foi premiada com o Oscar de Melhor Canção numa Banda Sonora.
  • Outras canções sobre o quadro são Mona Lisas and Mad Hatters de Elton John (Honky Chateau, 1972), Mona Lisa de Willie Nelson (Somewhere over the Rainbow, 1981), Mona Lisa de Slick Rick (The Great Adventures of Slick Rick, 1988), A Mona Lisa dos Counting Crows (inédita, 1992) e Mona Lisa de Britney (EP Chaotic, 2006). Em 1953, o cineasta Roberto Rossellini dirigiu o filme La Gioconda.
  • Salvador Dali, o famoso pintor surrealista espanhol, pintou o Autorretrato como Mona Lisa em 1954.
  • Em 1963, Andy Warhol lançou uma série de serigrafias a cores da Mona Lisa, afirmando o seu estatuto de ícone, ao lado de Marilyn Monroe ou de Elvis Presley.
  • O Sorriso de Mona Lisa (2003) é um filme que explora os ideais feministas.
  • A pintura detém um papel central no livro best-seller O Código da Vinci de Dan Brown (2003).
  • O cantor e compositor de música popular brasileira Jorge Vercillo compôs e gravou em 2004 uma canção chamada “Mona Lisa“.
  • É muito popular no Brasil uma representação da Mônica (principal personagem da  Turma da Mônica) igual a Mona Lisa.

Ficha técnica:
Ano: 1503/1506
Técnica: pintura a óleo sobre madeira de álamo
Dimensões: 77 x 53 cm
Localização: Museu do Louvre, Paris, França

 Fontes de pesquisa:
1000 Obras Primas da Pintura Europeia
Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência
Grandes Mestres/ Abril Coleções
A História da Arte/ E. H. Gombrich

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12 comentaram em “Da Vinci – MONA LISA

  1. Antônio Costa

    Lu

    Acredito que Mona Lisa seja, de fato, é um autoretrato do autor. Detrás desse sorriso maroto a luz e um olhar sorrateiro em uma face pouco feminina há nítido deboche, o que reforça um propósito revelador. Ver com diferentes percepções é o grande valor dessa obra do genial artista.

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Antônio

      Pode ser que sim, pode ser que não. Tudo são conjecturas. Nunca saberemos a verdade sobre essa obra imortal de Da Vinci. Qualquer que tenha sido na realidade em nada muda a sedução que nela existe e que se perpetua através dos tempos.

      Abraços,

      Lu

      Responder
  2. Patricia

    Ei Lu!

    Adoro este sorriso enigmático. Quem Leonardo retratou ou o que representa este sorriso será sempre um mistério.

    O fato é que esta pintura será sempre conhecida e admirada pelo mundo inteiro e, em tempos de outrora, abriu as portas a outros artistas para ousarem em suas técnicas e representações.

    Bjos.

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Pat

      Se até hoje não conseguiram descobrir o retratado, com tanta tecnologia à disposição, também acho que o mundo nunca conhecerá tal mistério.

      É uma pena que o quadro esteja sofrendo com o tempo.

      Beijos,

      Lu

      Responder
  3. Pierre Santos

    Lu, acabo de ler seu texto aqui no avião. Amanhã cedo estarei aí. Vou demorar apenas uma semana e volto para a Ilha. Tenho algumas coisas a dizer-lhe sobre a Monalisa, mas isto vai ficar para depois. Também estou escrevendo algo novo sobre Guignard, baseado naquele texto de minha entrevista. Ainda esta semana, antes de minha volta, remeter-lho-ei. Estou com saudade de nossos papos. Abrs.

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    1. LuDiasBH Autor do post

      PP

      Você aqui, que maravilha.
      Já estou até com raiva dessa tal de ilha de Chipre.
      Aguardo com ansiedade a sua crítica sobre a Monalisa, assim como os textos de Guignard.

      Abraços,

      Lu

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  4. Terezinha

    Ah, Lu. Você me mata…
    O dadaísta Marcel Duchamp é muito debochado! E aquela sua idéia de quem decide o que é arte é o artista! “Um vaso sanitário invertido é arte porque eu quero que seja.”
    Quanto ao sorriso da mulher mais famosa do mundo que pode nem ter existido, vejo-o como irônico. De alguém que diz “bem feito” “viu?” “você se f.”
    Beijo,
    TT

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      TT

      Também sou totalmente contrária à ideia de que arte seja aquilo que o artista define como tal.
      Semana passada estive numa galeria e vi um quadro que mais parecia feito por uma criança de 4 anos.
      E não me venham falar que aquilo é arte, pois, até eu que nem sei pegar num pincel, farei melhor.

      Gostei da interpretação dada por você ao sorriso da Mona Lisa.

      Beijos,

      Lu

      Responder
  5. Beto

    Lu,

    Em 2007 visitei o Louvre, que expõe em destaque esta famosa obra do mestre Leonardo da Vinci. Infelizmente temos que apreciá-la à uma distância razoável e protegida por uma “muralha” de vidro! Acredito que a Mona Lisa seja um autorretrato do pintor.

    Admiro em especial a Renascença Italiana que, além de Leonardo, nos legou obras magníficas de Giotto di Bondone (1266-1337) – pintor e arquiteto italiano. Um dos precursores do Renascimento. Obras principais: O Beijo de Judas, A Lamentação e Julgamento Final; Fra Angelico (1395 – 1455) – pintor da fase inicial do Renascimento. Pintou iluminuras, altares e afrescos. Obras principais: A coração da virgem, A Anunciação e Adoração dos Magos, Michelangelo Buonarroti (1475-1564)- destacou-se em arquitetura, pintura e escultura.Obras principais: Davi, Pietá, Moisés, pinturas da Capela Sistina (Juízo Final é a mais conhecida); Rafael Sanzio (1483-1520) – pintou várias madonas (representações da Virgem Maria com o menino Jesus); Sandro Botticelli – (1445-1510)- pintor italiano, abordou temas mitológicos e religiosos. Obras principais: O nascimento de Vênus e Primavera; Tintoretto – (1518-1594) – importante pintor veneziano da fase final do Renascimento. Obras principais: Paraíso e Última Ceia; Veronese – (1528-1588) – nascido em Verona, foi um importante pintor maneirista do Renascimento Italiano. Obras principais: A batalha de Lepanto e São Jerônimo no Deserto; Ticiano – (1488-1576).

    A Ala Italiana do Museu do Louvre é indispensável para quem dispor de somente um dia ou menos para visitá-lo.

    À propósito, recomendo a todos uma visita ao MASP da Avenida Paulista em São Paulo que apresenta atualmente uma mostra dos quadros de Portinari e outros temas de pintores impressionistas e pós-impressionistas, o que o coloca no mesmo patamar dos melhores museus do mundo.
    Um grande abraço e parabéns pelo texto.

    Beto

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Beto

      Também sou apaixonada pelos mestres do Renascimento.
      E, para grande alegria de nosso blog, a procura por eles tem sido constante.
      As pessoas gostam de arte, mas no nosso país ela é muito cara.
      O nosso querido Prof. Pierre é especialista em Giotto.
      Já tenho textos prontos sobre todos os citados por você.
      Estou postando um por dia.

      Gostei do convite para a visita ao MASP.
      Ao contrário do que pensam muitos, nosso povo gosta de arte.
      O problema é que o acesso a ela é muito caro em nosso país.

      Abraços,

      Lu

      Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Mário

      Há tantas hipóteses acerca deste quadro que não podemos descartar nenhuma.
      Mas os críticos de arte refutam tal ideia.

      Abraços,

      Lu

      Responder

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