Autoria de Lu Dias Carvalho
Um filme é 80% roteiro e 20% grandes atores. Mais nada. (William Wyler)
A história de Como Roubar um Milhão de Dólares (1966) acontece na artística Paris, quando uma tela atribuída ao pintor impressionista francês Paul Cézanne, e pertencente à coleção do milionário Charles Bonnet (Hugh Griffith), atinge um altíssimo preço em um leilão, deixando seu dono radiante com a venda. Contudo, sua filha Nicole (Audrey Hepburn) ao ouvir a notícia através do rádio de seu carro, fica visivelmente preocupada, pois conhece o pai melhor do que ninguém.
Ao chegar à sua casa, Nicole procura pelo pai em seu ateliê, depois de atravessar uma porta que fica no fundo de um guarda-roupa. É ali, naquele lugar secreto e bem guardado no alto de sua bela mansão que o vaidoso e excêntrico Sr. Bonnet faz imitações de quadros de pintores famosos e antigos. No momento em que a filha entra, o espertalhão está colocando a assinatura de Vincent van Gogh num tela pintada por ele. E não apenas ignora as advertências da filhota, como se gaba de sua arte e de suas vendas milionárias.
Filha e pai conversam sobre a “arte” e o perigo da falsificação, quando um cortejo de carros chega à mansão. Nicole apavora-se com a possibilidade de que o pai tenha sido descoberto em sua farsa e que a polícia esteja ali para buscá-lo. Mas o velho Bonnet logo lhe esclarece que se trata de uma escolta que veio buscar a sua Vênus, esculpida pelo grande mestre renascentista Benvenuto Cellini, e levá-la para o Museu Kléber-Lafayette, onde figurará como a principal peça da exposição da mostra Obras-Primas de Coleções Francesas, sendo a peça mais valiosa da exposição.
Na noite da abertura do evento, Nicole opta por ficar em casa, até porque não compactua com a ambição e exposição desmedia do pai. Encontra-se deitada, lendo um exemplar de Alfred Hitchcock`s Magazine, quando ouve um barulho vindo da sala. Ao perceber que se trata de um ladrão, tira uma das armas antigas da coleção do pai e flagra Simon Dermott (Peter O`toole) mexendo no Van Gogh de seu pai. Depois de um breve diálogo com o tal sujeito e da tentativa de chamar a polícia, a arma acaba disparando acidentalmente e ferindo o moço. Aturdida, Nicole cuida de seu ferimento e é convencida a levá-lo ao hotel, onde ele se encontra, já que não consegue dirigir. Ela coloca um casaco sobre a camisola e o leva no carro dele até o local pedido que, para sua surpresa, trata-se do hotel mais sofisticado da cidade. Para voltar, ele chama um táxi para ela, paga e lhe dá um beijo de despedida.
O fato é que Nicole com toda a sua meiguice e graciosidade é desejada não só pelo ladrão esbelto e atraente, como pelo milionário norte-americano Davis Leland (Eli Wallach) que, num primeiro momento, aproxima-se dela, apenas para ficar perto da cobiçada e venerada Vênus de Cellini, mas depois, acaba se encantando com a garota, a ponto de lhe dar um espalhafatoso anel de noivado, sem que ela o deseje.
Mas, como tudo na vida flui e nunca se sabe que rumo as coisas tomam, Bonnet acaba assinando uma apólice de seguro de sua Vênus emprestada ao museu, sem saber que uma das formalidades da seguradora é fazer um exame da obra, para confirmar a sua autenticidade. Quando descobre o fato, a casa cai. O pai falsificador aceita o dissabor e as consequências que virão, mas Nicole entra em desespero, até que um insight traz-lhe a solução: roubar a superprotegida Vênus de Cellini, que na verdade fora feita por seu avô, tendo sua avó como modelo. A estatueta encontra-se extremamente vigiada, mas não existe alternativa. Então, só lhe resta pedir ajuda ao único ladrão tarimbado que conhece: Simon Dermott. Quem vir o filme rirá muito e verá como os dois se sairão. Além de conhecer uma Paris tranquila e linda daquela época.
O diretor alemão, William Wyler, foi um dos grandes nomes do cinema, sendo indicado 12 vezes ao Oscar, um recorde na história do cinema, e levado três pelos filmes: Rosa de Esperança, Os Melhores Anos de Nossas Vidas e Ben-Hur. O último chegou a conquistar 11 prêmios, sendo um dos filmes mais premiados da história. Coincidentemente, os filmes acima também ganharam o Oscar de melhor filme. O diretor trabalhou desde o cinema mudo até os anos de 1970. Era um perfeccionista. Repetia uma cena incontáveis vezes, até ficar plenamente satisfeito com o resultado. Morreu aos 74 anos.
Audrey Hepburn
Nasci com uma enorme necessidade de receber e dar afeto. (A. Hepburn)
Normalmente não falo sobre o elenco dos filmes que comento, mas não poderia deixar de falar sobre essa gracinha chamada Audrey Hepburn, que ainda continua encantando uma legião de fãs, apesar de ter morrido aos 63 anos de câncer abdominal (1992). Ela disse certa vez: Nunca pensei que me tornaria modelo fotográfico com um rosto como o meu. E nós nos espantamos com o seu espanto.
Audrey nasceu em Bruxelas, na Bélgica. Estudou num colégio interno na Inglaterra após o divórcio dos pais. Mudou depois com a mãe e os irmãos para a Holanda, com medo da guerra. Mesmo sendo neutra, a Holanda foi invadida pela Alemanha e a família começou a passar dificuldades. Edda, nome usado para despistar os nazistas, em razão de seu nome inglês, pois havia perdido muitos parentes na Resistência, apresentava-se como bailarina em eventos secretos, que tinham por finalidade angariar fundos para resistir à ocupação. Ela também trabalhou como voluntária num hospital, tratando dos feridos da guerra. Sem comida, sua mãe, como muitas outras, chegou a usar bulbos de papoula para fazer farinha.
Quando a guerra acabou, a família voltou para Londres e Audrey continuou com suas aulas de balé e começou a fazer interpretação. Depois foi ser modelo fotográfica, mas almejava ser atriz, e ganhar melhor para ajudar a família. A seguir começou a fazer peças no teatro e pontas no cinema. Premiada por sua interpretação de Gigi, no teatro, foi convidada para fazer um teste para A Princesa e o Plebeu. O diretor William Wyler (o mesmo do filme comentado acima) ficou encantado com ela e confessou: Ela tinha tudo o que eu procurava: charme, inocência e talento. E era muito engraçada também. Além de absolutamente encantadora. E Gregory Pack, astro do filme, exigiu que seu nome tivesse o mesmo tamanho do dele, tamanho foi seu encanto por ela. Ganhou o Oscar de melhor atriz por sua atuação no mesmo filme.
Audrey casou-se com o ator Mel Ferrer, seu par em Ondine. A seguir fez Sabrina. Em pouco tempo tornou-se uma das atrizes mais queridas de Hollywood e uma referência no mundo da moda por sua extrema elegância. Foi indicada ao Oscar quatro vezes. E, com Bonequinha de Luxo transformou-se num ícone do cinema. Outro grande sucesso foi Um Clarão nas Trevas. Teve um filho com Ferrer e se divorciou, casando-se depois com um psiquiatra italiano, quando teve o segundo filho. Seu último filme foi Além da Eternidade (Spielberg) onde, como participação especial, faz um anjo.
Audrey foi indicada como Embaixadora da Boa Vontade da Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), além de já ter trabalhado para a instituição da ONU. Sua dedicação era absoluta, tendo as viagens facilitadas com a fluência que tinha em línguas (francês, espanhol, italiano, inglês e holandês). Foi premiada com a Medalha Presidencial da Liberdade por seu trabalho na Unicef e, também, recebeu um prêmio humanitário da Academy of Motion Picture, Arts and Sciences. Em 2003 o Serviço Postal norte-americano estampou a sua efígie num selo. Em 2006, um dos seus pretinhos básicos, usados em Bonequinha de Luxo foi arrematado num leilão por 900 mil dólares, quantia que foi doada a uma instituição de caridade na Índia.
A encantadora atriz fez Como Roubar um Milhão de Dólares aos 37 anos, vivendo o papel de uma garota inocente. A idade poderia ter sido um problema, mas a sua interpretação foi tão boa, assim como o entrosamento com o Peter O`Toole, de modo que a idade não teve argumentos, para alegria dos fãs.
Fonte de pesquisa:
Cinemateca Veja
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