Gauguin – O PINTOR E SUA ARTE

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 Autoria de Lu Dias Carvalhogauguin12

Quero fazer uma arte simples, muito simples. Para isso, preciso recuperar minhas forças em contato com a natureza virgem, ver apenas como os selvagens vivem a sua vida, sem nenhuma preocupação, com a simplicidade de uma criança que traduz as fantasias da mente, com o único meio real e eficaz: aqueles da arte primitiva. (Gauguin)

Pouco a pouco, a civilização sai de mim. Estou começando a pensar com simplicidade e a ter apenas um resto de intolerância para com os outros – começo até a amá-los. Gosto de toda a felicidade dos seres humanos de vida livre e dos animais. Fujo do artificial e entro na natureza: com a certeza de um amanhã similar a hoje, tão livre e tão belo, a paz vem a mim. Minha vida corre naturalmente e não tenho mais pensamentos vazios. (Gauguin)

Depois de Gauguin, a pintura deixou de ser um simples instrumento de descrição e conhecimento da natureza, e se converteu também na abstração dessa mesma natureza, em expressão livre das emoções e da imaginação do artista. (ArtBook/ Gauguin)

Paul Gauguin estreou na pintura aos 28 anos de idade. Começou colecionando obras dos pintores impressionistas, usando a pintura como passatempo. Também gostava de estudar os velhos mestres no Louvre. Suas primeiras obras tratavam de temas ligados à vida familiar. Mas tinha em casa a indiferença da mulher, Mette, que não compartilhava de sua euforia pela arte.

Era na índole índia que se dava a busca do artista pelo primitivo, pois, para ele, o essencial era o valor simbólico das linhas, que indicavam a estrutura primária da realidade. Não mais se prendia à simples imitação da natureza. Por isso, acabou perdendo o apoio de amigos como Theo e Degas, que não foram capazes de compreender sua nova pintura simbólico-abstrata. E, por não receber o sucesso que julgava merecer, foi se tornando um crítico cada vez mais ácido da civilização que o ignorava. O pintor abraçou uma nova concepção pictórica: o sintetismo (as formas são simplificadas, sendo a ideia mais importante do que a realidade. São usadas linhas grossas e traços escuros que delimitam as formas, criando compartimentos de cor).

Gauguin passou por momentos dramáticos, quando se viu distanciado dos filhos e vitimado pela indiferença da mulher, que não aceitava a sua dedicação extremada à pintura. Aliado a isso, não contava com o apoio dos amigos, que não aceitavam sua nova maneira de pintar. Somente a aceitação de um grupo pequeno de pintores, em Le Pouldin, na costa da Bretanha, serviu-lhe de incentivo. Em certos períodos da arte do pintor, as paisagens marinhas, as naturezas-mortas e a vida no campo lembram a xilogravura japonesa de Hokusai, Hiroshige e Kuniyoshi, talvez pela convivência com Van Gogh, admirador e colecionador desse tipo de arte japonesa.

Quando esteve em Mateia, próxima a Papeete, capital do Taiti, Gauguin uniu-se a uma garota maori, Techura, que trouxe muita inspiração para seus quadros, ambientados na cabana em que juntos viveram. Essas obras acabaram atraindo os simbolistas. O pintor era também um grande ceramista. Aprendeu com Ernest Chaplet, um hábil ceramista, o uso de técnicas japonesas de cozimento em fogo vivo, e com Bracquemond  aprendeu a arte do entalhe. Também se dedicou à fundição em bronze. Suas criativas obras mostraram-se extravagantes para o público da época, trazendo para o artista pouco lucro. Também foi notável na escultura, que trazia influência das culturas pré-colombianas e da arte japonesa.

Em seu estilo sintético, Gauguin simplificava a realidade, pintando de memória, pois não era mais necessário pintar do natural. Enquanto os impressionistas pintavam postando-se diante do objeto, ele o fazia através da imaginação, sem se ater à forma e às cores da realidade. Tinha liberdade plena para sintetizar aquilo que lhe ditava suas emoções, ou seja, aquilo que elas suscitavam na sua memória.  Não tinha preocupação com a perspectiva, os matizes, as sombras ou os claros-escuros. A tinta era espalhada por superfícies planas, delimitadas por contornos escuros.  Segundo alguns, era o início do longo caminho que levaria, tempos depois, ao nascimento da arte abstrata. Gostava da natureza selvagem e dos fortes contrastes. Mas seus quadros não eram bem aceitos no mercado. A maioria dos críticos e do público parecia não compreender sua arte.

Logo após as primeiras mostras póstumas do pintor, ficou evidente que sua obra exerceria uma grande influência na arte do século XX. Os nabis (grupo de artistas da segunda geração simbolista, cujo nome significa “profetas”, “inspirados”) proclamaram-se seus discípulos. Também ganhou a admiração de pintores como Pablo Picasso e Henri Matisse, assim como dos expressionistas alemães. Pouco antes de morrer, Gauguin recebeu uma carta do amigo Manfred que dizia:

“Presentemente o senhor é o artista fascinante e misterioso que envia do Taiti as suas obras, confusas, mas inigualáveis. São criações de um grande homem, que parece praticamente desaparecido do mundo. O senhor goza da imunidade dos Grandes já mortos, entrou na história da arte.”.

Gauguin é tido como um dos pioneiros do Modernismo, ao evidenciar a ligação entre a arte e a vida, o que viria a dominar o mundo pictórico do século XX, ficando patente a sua advertência:

Um conselho, não copiem muito a natureza. A arte é uma abstração. Preocupem-se mais com a criação do que com o resultado.

Nota:  Mulheres do Taiti (1891)/ Gauguin

Fontes de pesquisa
Gauguin/ Coleção Folha
Gauguin/ Abril Coleções
Gauguin/ Art Book
Gauguin/ Taschen

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