Autoria de Lu Dias Carvalho
Lá fora, amor/ Uma rosa nasceu/ Uma estrela caiu/ Lá fora, amor/ Uma rosa morreu/ Uma festa acabou. (Chico Buarque)
Por que o amor chega e vai tomando forma, criando vida, trazendo brotos, inundando tudo, como se sua força fosse capaz de transformar o mundo? E por que no seu bojo também traz contratempos, perde seiva e vivacidade, esgota-se, e, aborrecido, vai enfeando tudo, e na mesma intensidade com que chegou também vai embora? Abusado, ele não se dissolve em conjunto. Enquanto uma das partes da porção alça voo, a outra, com suas asas despedaçadas, jaz no fundo do poço, aniquilada.
Carolina apareceu em meu caminho e foi me absorvendo por inteiro. Fez morada no meu corpo, povoando meus dias e minhas noites. Era meu início, meu meio e meu fim. Para ela fiz os mais belos versos e musiquei lindas canções. Ela se revigorou, recebeu minhas sementes, intumesceu e produziu frutos. Não houve benquerença maior no mundo. Mas nem mesmo sei porque, com o tempo, o meu sentir perdeu vivacidade, amornou o aprazimento e definhou, levando nossos sonhos e juras de amor. E hoje, ela, “Nos seus olhos fundos/ Guarda tanta dor/ A dor de todo esse mundo”.
Ao ver minha antiga musa assim tão murcha e amargurada, sinto-me o pior dos canalhas. “Eu já lhe expliquei que não vai dar/ Seu pranto não vai nada mudar”, mas justificativa alguma mitiga seu desalento. “Eu já convidei para dançar/ É hora, já sei, de aproveitar”, mas ela faz ouvidos ao vento. “Eu bem que mostrei sorrindo/ Pela janela, ói que lindo/ Mas Carolina não viu” a rosa que nasceu e a estrela que caiu.
Já não sei mais o que fazer para trazê-la de volta à realidade, pois “Carolina/ Nos seus olhos tristes/ Guarda tanto amor/ O amor que já não existe”. É fato que não parti de uma vez, não sendo tão cruel e covarde. “Eu bem que avisei, vai acabar/ De tudo lhe dei para aceitar/ Mil versos cantei para lhe agradar/ Agora não sei como explicar”. Sinto-me um desprezível e abjeto patife. Fui traído pelas minhas emoções, que mudaram de direção feito uma corrente desvairada, através da qual “Nosso barco partiu.”. Mas “Eu bem que mostrei a ela/ O tempo passou na janela/ Só Carolina não viu”.
Obs.:
1- música com Chico Buarque: CAROLINA
2- música com Caetano Veloso – CAROLINA
Nota: Mulher com Gato, obra de Di Cavalcanti
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