Autoria de Lu Dias Carvalho
O poeta exilado recebeu a visita de sua querida mulher. Seu país passara por reviravoltas políticas e ele, dentre muitos outros intelectuais e artistas, pusera-se ao lado do povo, contra a ditadura do capitalismo selvagem, o que foi suficiente para que sofresse torturas e abandonasse seu torrão pátrio. Ali estava ele numa terra estranha, de costumes que lhe eram totalmente diferentes, mas que lhe abrira os braços. Só tinha a agradecer.
Ela chegou numa manhã de inverno, quando uma chuva fina e fria cobria toda a cidade, mas o coração do poeta encontrava-se aquecido pelo fogo do contentamento. Fazia oito longos meses que não a via. Uma eternidade! Ao abraçá-la no aeroporto, em meio a lágrimas ardentes, segredou-lhe numa língua incomum para as pessoas em volta: “Eu sei que vou te amar/ Por toda a minha vida, eu vou te amar/ Desesperadamente/ Eu sei que vou te amar/ E cada verso meu será/ Pra te dizer que eu sei que vou te amar/ Por toda a minha vida”. Ela, também em lágrimas, apenas se deixava levar pelo som de sua voz.
O poeta contou à mulher como tinham sido difíceis aqueles meses sem ela. Apesar de bela, nada naquela cidade estrangeira era capaz de aquecer sua alma desalentada, senão a esperança de sua presença junto a ele, ainda que por um breve tempo. Falou-lhe de suas composições, antes tão cheias de vida, agora transbordando saudades dela, da família e de seu país. Seu calvário só teria fim no dia em que para ali voltasse.
Os dois foram felizes por um breve tempo. Foram tantos os beijos, os abraços e o suor dos corpos, escorrido, que ele tivera a certeza de no corpo dela ter deixado sua semente. Na despedida, tendo-a entre seus braços, ele confidenciou: “Eu sei que vou chorar/ A cada ausência tua eu vou chorar/ Mas cada volta tua há de apagar/ O que esta ausência tua me causou/ Eu sei que vou sofrer/ A eterna desventura de viver/ A espera de viver ao lado teu/ Por toda a minha vida”. Separam-se!
O avião levantou voo em direção ao país amado do poeta. Em seu bojo, a mulher seguia ciente de que deixara uma parte de si para trás, mas levava uma partícula de seu amado, que brotaria e daria fruto, antes que ali ela retornasse outra vez.
Obs.: ouça EU SEI QUE VOU TE AMAR
Nota: obra de Leonid Afremov
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