Autoria de Lu Dias Carvalho
O poeta ficou ensimesmado com a brevidade da paixão. Suas chamas, que queimam como uma fornalha em brasa, apagam-se na mesma celeridade. E “De repente do riso faz-se o pranto/ Silencioso e branco como a bruma”. Nada há que de pé fique. Vai-se todo o encantamento e poesia: “E das bocas unidas faz-se a espuma/ E das mãos espalmadas fez-se o espanto”. Por que o encantamento findou tão breve como nasceu?
Por que se deixar tomar por tão estranho sentimento, se “De repente da calma fez-se o vento/ Que dos olhos desfez a última chama”? Por que se embrenhar em mares tão bravios, sabendo-se que o navio há de soçobrar na tempestade “E da paixão fez-se o pressentimento/ E do momento imóvel fez-se o drama”? Foi-se do farol a chama, deixando o navio em águas paradas.
E o apaixonado “De repente não mais que de repente/ Fez-se de triste o que se fez amante/ E de sozinho o que se fez contente”, sem lhe sobrar absolutamente nada da paixão antes tão enraizada em seu corpo e mente. Foi-se como um balão vazio, tão somente. Que fogo é esse que em cinza se arvora, e num piscar de olhos reduz à calmaria o queimor?
E, passada a torrente de ardor tão exaltado, pode-se dizer que “Fez-se do amigo próximo, distante/ Fez-se da vida uma aventura errante/ De repente, não mais que de repente”. Terá valido a pena tanto arrebatamento emanado numa paixão que, qual alma extinta, jaz na sepultura do esquecimento, em cinzas transformado? Sei lá, não sei!
E o poeta disse para si mesmo: “A paixão só existe nos versos poéticos, pois todo o resto é devaneio e quimera. É um fazer de conta por um pequeno espaço de tempo. É ilusão e fantasia, ainda que se tenha a impressão de que existiu um dia.”. Ele estava certo!
Obs.: ouça SONETO DA SEPARAÇÃO
Nota: obra do pintor russo Leonid Afremov
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