Hugo Van der Goes – ADORAÇÃO DOS PASTORES

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Autoria de Lu Dias Carvalho

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A pintura Adoração dos Pastores é o painel central do Tríptico de Portinari, obra do artista Hugo van der Goes, tido como o principal pintor dos Países Baixos nos finais do século XV. Retrata o nascimento do Menino Jesus. O tríptico de Hugo van der Goes foi uma encomenda de Tommaso Portinari, sendo instalado na capela da família, daí a origem do nome do tríptico. É uma das obras mais belas da pintura de todos os tempos.

A Virgem Maria encontra-se no centro da composição, ajoelhada. O vão ocasionado por suas mãos unidas possui o formato de um coração. Ela usa um majestoso vestido azul e manto da mesma cor. Seus cabelos finos e dourados caem-lhe pelas costas e ombros. Sua pele é muito clara, contrastando com a de José e a dos pastores. Maria olha seriamente para seu Menino que, diante de seu tamanho acima do normal, mostra-se ainda menorzinho.

O Menino Jesus encontra-se nu numa pequena praça, próximo a um estábulo, deitado sobre uma auréola de raios de ouro. Seu corpinho — voltado para sua mãe — é diminuto e sua pele extremamente clara. Os presentes encontram-se ajoelhados (até mesmo os anjos que se encontram  no ar) com as mãos postas em forma de adoração, excetuando os pastores que estão chegando. Todos os olhares convergem para a criança.

Dois grandes anjos esvoaçam dentro do estábulo, enquanto outros quatro — ajoelhados e vestidos com túnicas de um azul claro — ladeiam a Virgem e o Menino, postados à direita e à esquerda. Na parte inferior direita estão cinco anjos ricamente paramentados, portando asas coloridas. Do lado de fora — próximos à estrutura de madeira — estão quatro anjos. Numa cena mais distante, um anjo vestido de branco anuncia aos pastores em meio às suas ovelhas e a um cão a chegada de Jesus. As feições dos anjos são similares à da Virgem, assim como os cabelos, deixando à vista uma longa testa (moda típica da época). Os anjos paramentados são uma referência à Eucaristia. A disposição das figuras é mais ou menos circular. Seus rostos denotam grande expressividade.

José — trajando uma túnica amarronzada e um manto vermelho — encontra-se ajoelhado à esquerda, próximo a uma velha coluna escurecida, logo abaixo de um anjo ricamente vestido. Um dos seus tamancos encontra-se à sua frente e, ao que parece, ele está ajoelhado sobre o outro, conforme mostra um fragmento à vista. Seus cabelos e barba brancos, assim com as rugas em seu rosto e mãos, mostram que já se encontra bastante envelhecido. Ele se posta em profunda adoração diante do filho adotivo.

Três pastores, pintados realisticamente, ao contrário das demais figuras humanas, trazendo nas mãos seus instrumentos de trabalho, apresentam-se na entrada do estábulo. Mais atrás outros dois aproximam-se para ver o acontecimento. Um boi e um jumento encontram-se próximos a uma manjedoura, voltados para o Menino. Em primeiro plano estão dois vasos, cujas flores são retratadas com grande perfeição e delicadeza. Ali estão lírios, cravos e violetas esparramadas pelo chão. As violetas simbolizam humildade; os três cravos são uma referência aos três pregos usados na crucificação de Jesus; os lírios vermelhos simbolizam o sangue de Cristo; e os brancos representam a pureza da Virgem Maria.

Como a corte borgonhesa coibisse os gestos descomedidos e a exposição dos sentimentos, os personagens mostram-se introspectivos e sérios. Os pastores são uma exceção, pois representam o povo, não fazendo parte das regras extensivas à corte. São pintados em tamanho grande e com gestos expansivos e cheios de realismo. Van der Goes coloca-os no mesmo nível dos santos, quanto ao tamanho, apesar de serem tidos à época, como feios e ignorantes. Foi o primeiro pintor a retratá-los dessa manheira, mostrando que estão no mesmo patamar dos santos quando diante de Deus — para quem todos os homens são iguais.

Existem muitas referências bíblicas na composição:

  • a sandália de José diz respeito à passagem do Êxodo;
  • a harpa, sobre a porta da casa ao fundo, refere-se à casa da descendência de Davi, à qual pertencia José;
  • o feixe de espigas de trigo, perto dos vasos com flores, refere-se ao “pão da vida”, o Corpo de Cristo, etc.

Obs.: Vejam o tríptico inteiro em TRÍPTICO DE PORTINARI.

Ficha técnica  (Painel Central)
Ano: c. 1476-1478
Técnica: óleo sobre madeira
Dimensões: 253 x 304 cm
Localização: Galleria deglu Uffizi, Florença, Itália

Fontes de pesquisa
Gótico/ Editora Taschen
A Enciclopédia dos Museus/ Mirador
1000 obras-primas da pintura europeia/ Könemann

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