Autoria de Lu Dias Carvalho
Alguns escritores, sem nunca ter colocado os pés no subcontinente indiano, apregoam em verso e prosa que ali está o lugar espiritualmente mais rico do mundo. E alegam que essa espiritualidade existe como forma de contrabalançar a sua extrema pobreza material. Como se a espiritualidade fosse o produto principal da miséria. Sem mesmo se darem conta de que a privação material absoluta destrava os projéteis da superstição, do fatalismo, do servilismo e dos engodos da mente. Separam matéria e espírito (ou mente, para alguns) em compartimentos blindados, como se o êxito de um não dependesse do sucesso do outro. Como se a matéria não fosse responsável por suprir o espírito. E vice-versa.
Mesmo que se adote a visão de que a matéria é irrelevante e transitória, em absoluto ela pode faltar ao espírito na sua passagem terrena. Nunca conheci ninguém que fosse só espírito ou só matéria, mesmo quando vive como poeira, relegado ao descaso absoluto, ou supostamente santo. Ainda que se confirme que o espírito é duradouro, perpétuo, mesmo assim ele necessita da matéria para ganhar vida, enquanto faz sua passagem pelo planeta Terra. É uma capa que deve ser bem protegida e da qual o espírito não pode se desgarrar, sob o perigo de trazer para si as maldições que o acompanharão em outra dimensão, se houver.
Imagino que, se há um Ser Absoluto, Ele deve ser muito sábio. E jamais poderá colocar na mesma balança um espírito que teve um corpo material bem nutrido, e outro que carregou um esqueleto miseravelmente raquítico, durante sua passagem terrena. Eles terão balanças diferentes para serem pesados. Não diz o livro dos cristãos que “A quem muito foi dado, mais lhe será cobrado?”
Não sei como se pode exigir espiritualidade onde grassa a miséria. Se assim fosse, o planeta estaria protegido por um halo de espiritualização, se juntados quase 2/3 dos seus pobres e miseráveis. Teríamos a redoma da espiritualidade em quase a totalidade do campo de força da Terra. O poderio atômico que ameaça a desintegração da Terra jamais deixaria um gosto amargo em nossa boca. Nem mesmo o lixo espacial e os meteoros, que gravitam sobre nossas cabeças, seriam páreo para a maioria dessa humanidade tão espiritualizada (?). A prevalecer o raciocínio desses profetas de ar condicionado, ou dos miseráveis nus que acocoram pelo mundo, chegaremos à conclusão de que a extinção dos dinossauros foi resultante da falta de espiritualidade.
Tanto uma vultosa riqueza espiritual ou uma esmagadora pobreza são maléficas ao homem, pois nenhuma deixa perceber as misérias humanas, nas suas mais diferentes vestimentas. Sem o equilíbrio, tudo desanda. Melhor seria se à riqueza espiritual complementasse a material, e vice-versa. Não é à toa que muitos ascetas acabam loucos varridos, e um número alarmante de ricos tomba sob o no vazio da futilidade e do excesso.
Três grandes sábios da Antiguidade: Aristóteles, Buda e Confúcio reconhecem em seus ensinamentos que o extremismo é a execração à harmonia, quer em nós quer nos outros. Fecho a minha elocução com um belo pensamento de Confúcio, que penso resumir tudo aquilo que pretendi dizer:
“Ir além é tão errado, como ficar aquém.”
Nota: Imagem copiada de http://dicasterapeuticas.blogspot.com.br
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