Autoria de Lu Dias Carvalho
Não devemos recear ver-nos envolvidos no meio de elementos mais indigestos; temos apenas que esperar que as coisas mais difíceis de assimilar não venham perturbar o equilíbrio. Desta maneira, a vida é, com certeza, mais apaixonante que uma vida burguesa muito ordenada. E cada um é livre, de acordo com seus gestos, ao escolher entre o doce e o salgado dos dois pratos da balança. […] Com prudência e sabedoria ninguém cometerá grandes erros! (Paul Klee)
A composição Insula Dulcamara é uma obra do artista suíço Paul Klee, e um dos seus maiores quadros. O título em latim significa: “insula” (ilha), “dulcis” (doce, amável) e “amarus” (amargo), o que constitui uma ambiguidade. Trata-se, portanto, de uma “Ilha doce-amarga”.
A ilha possui um fundo claro, composto por tons delicados de rosa, amarelo e azul, semelhantes a grupos de nuvens. Nesta paisagem aprazível veem-se plantas e flores delicadas, contudo, linhas e pontos pretos, bem fortes, irrompem-se por toda a tela, como a desfazer toda a poesia que dela emana.
No centro da composição, emerge um rosto branco, com as órbitas circuladas por linhas pretas e a boca formada por um pequeno retângulo da mesma cor, simbolizando a morte. Na carta (ver trecho acima, em negrito) que escreve à sua nora, esposa de Felix, Klee explica os sentimentos que perpassam em sua pintura acima.
Ficha técnica
Ano: 1938
Técnica: óleo de guache sobre papel de jornal sobre juta sobre moldura de cunha
Dimensões: 88 x 176 cm
Localização: Kunstmuseum Bern, Berna, Suíça
Fontes de pesquisa
Paul Klee/ Taschen
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LuDias
Esta obra traz uma grande mensagem “Ilha doce-amarga”. Podemos entender que esta é a nossa vida.
Diante desta antítese doce e amarga, lembrei-me de um texto que escrevi:
OLHAR PARA TRÁS OU PARA FRENTE?
Dizem alguns que não olham para trás, mas somente para frente, para justificarem a maneira de vida que escolheram, perdidos no mundo das ilusões materialistas, num olhar voltado para o sucesso pessoal. É um dizer individualista que mostra a indiferença e o desinteresse pelos animais e seres humanos que habitam este mundo. No entanto, olhar para trás é se ligar ao passado. Ninguém irá modificá-lo, pois ele é imutável. Porém, o que deixamos para trás ensina-nos e nos lega a experiência e o conhecimento, que podemos usar em nosso presente e no nosso futuro. O que deixamos para trás é fundamental para o que somos no presente.
Olhar para frente é tentar vislumbrar o futuro. Porém, por mais que fizermos, ele é incerto e mutável. Ele se transforma, dia a dia, pelos fatos passados e presentes. É claro que, ao olharmos para frente, o que passamos e conhecemos será fundamental para o projeto do que seremos. Porém, o futuro é imponderável. No momento seguinte ao que estamos pensando, um fato, uma bala perdida, pode colocar fim ao destino. E aí que futuro teremos? Somos mesmo uma ilha doce e amarga e, assim, temos que meditar muito.
Por que não olharmos também dos lados? Olhar dos lados é viver o presente. Sem pensar no que passou e nem em nosso futuro, mas no que estamos vivenciando. E ao olharmos para os lados podemos, nesta ilha doce amarga, ver sucessos e fracassos. Riqueza e miséria. Alegria e tristeza. Intolerância e amor. É importante refletir se não seria melhor olhar para os lados.
Para trás foi o passado, imutável. Para frente será o futuro imponderável. Porém, para os lados estará sempre o nosso presente. E aí podemos usar os sentimentos maravilhosos que Deus concedeu ao ser humano: a solidariedade e a compaixão. Podemos transformar os fracassados em vitoriosos.. Acolher os miseráveis e ajudá-los. Levar a alegria onde hoje só há tristeza.
Olhar para os lados é ombrear-se com todos os seres humanos, nunca pensar que fomos ou seremos superiores a eles. Não podemos ter sentimentos divinos como dó, pena, piedade. Estes sentimentos só Deus os pode ter. Nós, seres humanos, temos que combater sempre a intolerância e o ódio, praticando e vencendo-os através da solidariedade e da compaixão, sentimentos maravilhosos contidos no amor!
LuDias, penso que podemos transformar o amargo em doce, nesta ilha em que vivemos. Basta olhar para os lados e praticar a solidariedade e a compaixão, nunca nos esquecendo de que não somos superiores a ninguém. Somos iguais e devemos compartilhar o que temos sempre que pudermos, pois assim estamos trilhando na estrada deslumbrante e maravilhosa do amor.
Ed
Concordo plenamente com tudo que escreveu. Muito mais importante do que olhar para o passado e para o futuro é viver o presente, com o olhar voltado para os lados, como bem explica você. Pois é ao nosso lado que estão nossos semelhantes e o pulsar do planeta Terra com sua flora e fauna. O passado já se foi e o amanhã pode ser tarde demais para mudarmos certos descaminhos.
Quem vive o agora, de bem consigo e com o planeta Terra, já está trabalhando o presente, que logo será passado, e, ao mesmo tempo, projetando os trilhos do futuro. Portanto, o presente é ao mesmo tempo passado e futuro. E é nele que, como num prisma, ao olharmos por todos os seus lados, poderemos ter um passado digno de respeito e um futuro moldado pelos mais dignos valores humanos.
Para mim, Ed, o presente é o útero que gera o passado e o futuro. Sem ele, um e outro não existiriam. A maior sabedoria está em viver um dia de cada vez, da melhor forma possível, comprometido com a vida em sua totalidade. Os povos que têm tal cultura como norma, constroem grandes nações. Todo o resto é balela!
Abraços,
Lu