MAROLO – FRUTA DA SEMANA SANTA

Siga-nos nas Redes Socias:
FACEBOOK
Instagram

Autoria de Luiz Cruz

     

 O quanto em toda vereda em que se baixava, a gente saudava o buritizal e se bebia estável. Assim que a matalotagem desmereceu em acabar, mesmo fome não curtimos, por um bem: se caçou boi. A mais, ainda tinha araticum maduro no cerrado. (João Guimarães Rosa)

A Serra de São José tem muitos atrativos. Além da paisagem, das cachoeiras e da rica biodiversidade, encontram-se alguns frutos típicos e um deles é o marolo (Annona crassiflora). É uma fruta da família Annonaceae, a mesma da fruta-do-conde. É conhecida também como araticum, bruto e cabeça-de-nego. Ela é composta por três ecossistemas: Mata Atlântica, Campo Rupestre e Cerrado.

O Cerrado sofreu forte impacto devido às atividades agrícolas, ficando poucas manchas de matas junto ao sopé da serra. Embora reduzidas, essas áreas tornaram-se da maior importância para a proteção da biodiversidade. Uma das espécies encontradas nas matas do Cerrado da serra é o marolo, uma árvore de porte médio, variando de 4 a 8 metros de altura, com folhas grossas, troncos retorcidos e bastante resistentes aos incêndios, que ocorrem no ecossistema. Ela consegue desenvolver em áreas de baixa umidade e tem crescimento muito lento. Suas flores são verdes-amarelado, solitárias e carnosas, ocorrendo entre os meses de outubro e novembro. Os frutos em bagas são encontrados entre fevereiro e abril. Podem pesar até 2 kg e, quando maduros, caem sobre o solo. Têm sabor adocicado e perfume bem característico. Possuem elevados teores de açúcares, proteínas, cálcio, ferro, fósforo, vitaminas C, A, B1, B2 e fibras. As sementes são relativamente grandes, espessas e rígidas, para germinar precisam de longo período de dormência. Seus principais dispersores são os animais que se alimentam dos frutos. Infelizmente, devido ao desmatamento, a espécie está cada vez mais reduzida às pequenas manchas de matas.

A variedade dessa espécie é grande, cerca de 25, uma delas é o Marolo de Moita (Annona dioica), que foi descrita pelo viajante francês Auguste de Saint-Hilaire. A fruta tem amplo e tradicional uso na culinária mineira. Pode ser consumida in natura, com sua polpa faz-se licores, biscoitos, bolachas, bolos, sorvetes, picolés, geleias, doces, batidas, e ainda se prepara um creme para rechear os “ovos de páscoa”, pois sua combinação com o chocolate é perfeita! Seu sabor está intrinsicamente ligado ao período da Semana Santa, devido à grande oferta da fruta nesse período do ano.

Quem tiver interesse em saborear marolo não precisa sair procurando pelas árvores atrás da Serra de São José, basta chegar até a Praça São Sebastião, no centro de Santa Cruz de Minas, e encontrar com o José Norberto dos Passos. Ele, já idoso, aos seus 81 anos de idade, mas cheio de energia, sobe a serra, colhe os frutos e os vende em seu carrinho, instalado na praça. Norberto conhece todos os pés de marolo da serra e ajuda na preservação, divulgando essa espécie tão significativa para a culinária mineira e para a biodiversidade.

Nota: Fotografias do autor mostrando José Norberto dos Passos e a fruta marolo

Views: 0

10 comentaram em “MAROLO – FRUTA DA SEMANA SANTA

  1. Ricardo Ribeiro

    Luiz,
    Não sabia que no ecossistema da Serra de São José tem pés de marolo (geralmente muito abundantes nas regiões mais quentes). O licor deste araticum fez parte de nossa infância em Oliveira: minha avó e minha mãe sempre os confeccionavam para as festas de aniversário e para servir às visitas.

    Responder
  2. Thonny Barcellos

    Olá, Luiz!
    Mais uma vez, venho me enriquecer com conhecimentos tão bem explorados por você. É sempre um prazer ler seus textos e descobrir tanta coisa interessante! Um abração!

    Responder
    1. Luiz Cruz

      Olá Thonny,
      Sua presença aqui é motivo de alegria. Tiradentes é um lugar especial e a Serra de São José enriquece nosso patrimônio. Temos muitos aspectos a serem explorados, um deles é a diversidade de frutas.

      Um grande abraço para você e grato pelo retorno.

      Luiz Cruz

      Responder
    1. Luiz Cruz

      Dear Faldon,
      It’s a pleasure to have you from South Korea here, reading my text. Thanks a lot for returning.
      The marolo’s seeds are spread by wild animals that eat the fruit. Sorry, but I don’t know about the commerce of the marolo’s seeds. I’ll ask for help in UFLA – Universidade Federal de Lavras for more informations.
      As soon as possible, I’ll send more information.

      Best regards.

      Luiz Cruz

      Responder
  3. LuDiasBH Autor do post

    Luiz

    Não conhecia essa fruta com este nome. Deve ser da mesma família da pinha, ata e graviola. Parece deliciosa. E como é rica em nutrientes! O senhor José Norberto dos Passos deve ser uma dessas pessoas conhecidas e amadas por todos do lugar.

    Abraços,

    Lu

    Responder
    1. Luiz Cruz

      Lu, querida,
      a fruta tem sabor e perfume marcantes. É realmente muito nutritiva e rica em fibras. Nosso Cerrado tem muitas preciosidades e uma delas são as frutas, sempre deliciosas. Os nomes populares variam bastante. O Sô Norberto é uma figura fantástica e com uma disposição inacreditável, atravessar a Serra de São José com balaio cheio de marolo não é tarefa fácil.

      Obrigado pela sua atenção e apoio.

      Forte abraço,

      Luiz Cruz

      Responder
  4. Terezinha

    Luiz
    Em minha cidade, não conhecemos marolo (tão próximo de Tiradentes!). Por aqui, conhecemos araticum. Faz parte de minha lembranças de infância, dois pontos da cidade em que vendiam araticum. Agora, o mais interessante, até hoje, há mais de 50 anos, nos mesmo dois lugares, nos meses de março e abril há pessoas vendendo araticum…

    Boa lembrança, Luiz.

    Responder
    1. Luiz Cruz

      Terezinha
      Os nomes populares variam muito. Araticum é o mais conhecido. Ontem fui conversar com meu tio Nelson Firmino (que parece ser uma figura que fugiu do livro Grande Sertão: Veredas), que até hoje circula muito pela Serra de São José, curiosamente ele chama o marolo de jaca. Contou-me que muitas vezes teve que se alimentar da fruta, quando passava longas horas a procura de gado perdido na serra. Essa é uma fruta que está na memória de muitas pessoas, pois esteva presente na infância, nas aventuras de sair a procura dela. Relembrar e reviver são bons exercícios. Em São João del-Rei também existem alguns pontos que tradicionalmente vendem frutas típicas, sempre estão lá.

      Um grande e forte abraço para você.

      Luiz Cruz

      Responder

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *