Ele é um intérprete da vida contemporânea que exerceu enorme influência sobre os jovens impressionistas e a posterior história da arte. (David Gariff)
A terceira onda de revolução na França (após a primeira onda de Delacroix e a segunda de Coubert) foi iniciada por Édouard Manet. (E.H. Gombrich)
O pintor francês Édouard Manet (1832 – 1883) nasceu em Paris, numa família de classe alta, sendo seu pai juiz e sua mãe filha de um diplomata francês. Era o mais velho dos três irmãos: Eugène, que viria a se casar com a pintora Berthe Marisot, e Gustave. Embora tivesse tido uma criação muito rigorosa, encontrando a oposição de seu pai em relação à carreira de artista, seu tio Édouard Fournier, irmão de sua mãe, levava-o ao Louvre, para conhecer os grandes mestres da pintura e da escultura.
Édouard Manet não foi um aluno aplicado no colégio, obtendo resultados decepcionantes e frustrando os sonhos da família de vê-lo se transformar num advogado, como o pai e o avô paterno. Mas diante do fracasso escolar, só restaram aos pais do menino permitir que ele se tornasse marinheiro. Como fracassasse na tentativa de entrar para a Escola Naval, num cargo alto, ali entrou como simples marinheiro, inclusive vindo ao Brasil e encantando-se com o exotismo do país e abominando a escravidão. Novamente tentou entrar para a Escola Naval, não logrando êxito. Outro futuro estava reservado ao jovem adolescente.
Aos 18 anos, Manet acabou conseguindo permissão dos pais para estudar com o mestre Thomas Couture, consagrado pintor, permanecendo seis anos em seu ateliê e dali saindo após divergir artisticamente do mestre. Nesse período, fez cópias de obras dos grandes mestres e, para completar seu aprendizado, o pintor viajou para a Itália com seu irmão Eugène. Anteriormente a essa viagem, ele já havia conhecido o norte europeu, em busca de conhecimentos artísticos.
Aos 20 anos de idade, Manet tornou-se pai de um garoto ilegítimo, Léon Leenhoff, na relação que manteve com a professora de piano Suzanne Leenhoff, que serviu de modelo em A ninfa Surpresa, dentre outras composições. Seus pais opuseram-se duramente ao casamento, que só foi realizado após a morte do pai do rapaz. Porém, o artista jamais reconheceu a paternidade do filho, que também serviu de modelo para ele em vários quadros, como em O almoço no Ateliê.
Em 1859, aos 27 anos de idade, Manet tentou fazer parte do famoso Salão de Paris com sua tela O Bebedor de Absinto, mas foi recusado. A seu lado ficou apenas Delacroix, que fazia parte do júri, e, que via grandes qualidades na obra do jovem pintor. Manet admirava muito a arte espanhola, recebendo influência das obras de Diego Velázquez, de modo que seu primeiro quadro aceito no Salão foi O Cantor Espanhol.
O Salão dos Recusados era o espaço usado por aqueles que não eram aceitos pelo júri do Salão de Paris. Além desse local, Manet usou espaços privados para mostrar sua obra, pois, como apregoava, era necessário se mostrar, tornar-se conhecido. E ele necessitava do público numa relação mútua de troca.
Apesar das inúmeras rejeições, Manet ansiava por fazer parta do Salão, grande acontecimento público anual, que mexia com toda a França, atraindo um público incalculável, que trazia visibilidade para o artista e propiciava a venda de sua arte. Mas o sistema era quase que impenetrável e as formas de julgamento totalmente discutíveis. Era o Salão quem determinava o gosto do público. Para ser aceita, uma pintura não podia apresentar qualquer originalidade, inovação ou algo que contestasse o academicismo. Mesmo assim, o pintor lutava para furar a resistência de um júri não afeito ao novo, em que todos pareciam partilhar do mesmo gosto, sem abertura para o diferente.
A composição Olímpia, assim como O Cristo Desprezado, não foi bem aceita pelo Salão e também pelo público. O que deixou o artista visivelmente arrasado. Em razão desse desfecho, novos quadros de Manet foram recusados pelo Salão, no ano seguinte. Contudo, a obra do pintor já havia ganho muita visibilidade, e sua fama já se tornara tão grande, a ponto de o escritor Émile Zola sair em sua defesa e atacar o júri do Salão, quando escreveu em um de seus artigos: “Antes de julgar os artistas selecionados, parece-me interessante julgar os juízes…”.
Manet fez uma exposição privada, depois de ver 35 trabalhos seus serem recusados pela Exposição Universal, sendo esse um momento muito importante em sua carreira artística. Daí para a frente, sempre teve obras expostas no Salão. No ano de 1881, ele ganhou o direito de participar permanentemente do Salão Oficial, sem julgamento prévio, sendo a tela Um Ângulo do Café-Concerto o último de seus trabalhos a ser exposto. Manet tornou-se requisitado por importantes colecionadores. De uma só vez, vendeu 23 telas para um jovem marchand, Paul Durand-Ruel, que viria a se transformar no marchand dos impressionistas.
Assim como o pintor Gustave Coubet, anterior a ele, Manet queria criar um novo estilo de pintura que fugisse ao rigor acadêmico da época. E assim o fez, ao pintar cenas do dia a dia, retratando pessoas comuns e também artistas e nobres, gerando uma grande polêmica entre aqueles que não aceitavam mudanças. Ele abriu mão do método tradicional do uso de sombras suaves em prol de contrastes fortes, o que o colocou na mira intolerante dos conservadores. Para muitos suas obras situam-se entre o realismo e o impressionismo. Manet foi o grande responsável pelo rompimento terminante com a pintura histórica, ao optar pelas cenas do dia a dia, pela cores luminosas e pureza de seus contrastes, sendo bem considerado pelos artistas que pintavam ao ar livre.
Manet, um importante pintor francês do século XIX, era tido como um burguês elegante, sociável e carismático, que ainda muito novo contraiu sífilis que lhe causou ataxia, uma doença que dificultava a coordenação de seus movimentos. Além das dores, também teve paralisia parcial. Sua perna foi amputada em razão de uma gangrena, 12 dias antes de sua morte. Manet morreu aos 51 anos de idade. Seu caixão foi levado por Monet, Zola, Proust, Stevens e Duret.
Nota: Autorretrato de Édouard Manet
Fontes de pesquisa
Manet/ Abril Coleções
Tudo sobre arte/ Sextante
Os pintores mais importantes…/ Girassol
A história da arte/ E.H. Gombrich
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Lu
Vi num programa sobre a tela “Almoço na Relva” que o garoto, retratado na tela “O Tocador de Pífaro” é fruto de um relacionamento do pai de Manet com a professora de piano. Parabéns pelo artigo.
Francisco
Que informação interessante!
Agradeço a sua presença neste espaço. Volte mais vezes, pois será sempre um prazer recebê-lo.
Abraços,
Lu