O LIVRO DOS MORTOS DO ESCRIBA ANI

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Autoria de Lu Dias Carvalho

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Nota: Antes de ler este texto, o leitor deverá conhecer o artigo O LIVRO DOS MORTOS, postado anteriormente, para melhor entendimento do tema. Clique nas figuras para ampliá-las.

O egiptólogo Sir E. A. Wallis Budge comprou em 1880, em Luxor, um rolo de papiro de 23,79 m de comprimento x 38 cm de largura, chamado de Livro dos Mortos do escriba Ani, que se encontrava dividido em 37 fragmentos. O papiro calculado em 3.000 anos de existência era cobre claro ao se desenrolar, mas escurecia assim que entrava em contato com a luz. Retrata o julgamento do escriba Ani no mundo dos mortos. Conheçamos um pouquinho sobre ele.

Ani viveu em torno de 1300 a.C., em Tebas, capital do Reino do Nilo, logo após o reinado do faraó Tutankamón. Pertencia à classe dos ricos funcionários e, por isso, podia comprar o seu Livro dos Mortos na época em que viveu.

Análise do primeiro fragmento (ilustração acima)

  • O escriba real encontra-se adentrando no mundo dos mortos. Apresenta-se ligeiramente inclinado em atitude de respeito. O braço direito apoiado ao peito é sinal de humildade diante dos juízes. A sala, onde são julgadas as ações do escriba no mundo dos vivos, é chamada de sala da justiça plena.
  • Tutu, a esposa de Ani, dança atrás dele (provavelmente morreu antes dele e o acompanha num trecho da jornada). Ela carrega na mão direita um instrumento de metal com que acompanhava as canções do templo, onde era sacerdotisa. Marido e esposa usam roupas de festa e perucas cerimoniais enroladas e trançadas.
  • Uma grande balança encontra-se no centro da composição e, na parte superior, encontram-se os senhores da justiça que reinam sobre a balança. São quarenta e dois juízes, correspondendo às quarenta e duas províncias do Egito.
  • O deus Anúbis (com a cabeça preta de chacal) ajoelha-se sob o braço direito da balança em que pesa o coração do escriba, tendo uma pluma de avestruz como contrapeso. Para os egípcios, o coração era a essência do homem e, por isso, não era necessário pesar a pessoa inteira.
  • Acima do braço esquerdo da balança encontra-se um uma frase de magia, chamada Fórmula para que o coração não se rebele contra o falecido no mundo dos mortos.
  • Um macaco de cócoras sobre o suporte de sustentação da balança olha para o Thoth, deus da escrita e da matemática e monitoriza o funcionamento da balança a partir do topo de sustentação dos braços, para que não haja erros.
  • Atrás do deus Thoth está o devorador de almas e de corpos, Ahmut, esperando o resultado do julgamento. Se o coração de Ani for mais pesado que a pluma de avestruz significa que sua vida não foi justa e, portanto, será entregue ao monstro que devorará seu coração e ele não mais existirá, ou seja, não mais encarnará.
  • Três divindades de baixa patente encontram-se abaixo do braço esquerdo da balança. São elas Shai (o deus do destino) e as deusas Meretseger e Renenutet (uma ao lado da outra). As duas são também deusas do destino, portanto, podem livrar Ani de suas culpas diante do tribunal dos juízes.
  • Ao lado das duas deusas, sobre o túmulo branco, está a alma de Ani que tem a forma de um homem com cabeça de pássaro. Ela está atenta ao ritual da balança que definirá o seu destino.
  • Acima de Shai está a pedra (bloco retangular em que as mulheres egípcias se ajoelhavam) do nascimento de Ani e sobre ela a cabeça da deusa Meretseger mais uma vez representada.
  • Maat, a deusa da justiça e da verdade, é simbolizada pela pluma de avestruz que repousa em um dos pratos da balança. O coração de Ani deve ser tão leve quanto o símbolo da ordem divina.
  • Thoth, o deus dos escribas, de pé atrás de Anúbis, traz na mão esquerda uma paleta de cavidade para tinta e na direita a pena. Anota na parede o resultado da balança, usando uma pena de cana de junco. O julgamento só terá validade após ser escrito.

Análise do segundo fragmento (ilustração acima)

  • Como Ani é absolvido pelos juízes, pois está em harmonia com a ordem divina, é conduzido pelo deus Hórus (com cabeça de falcão) até uma mesa onde se encontram diversas oferendas: bolos, carnes e frutas. Ao fundo encontram-se recipientes de bebidas (vinho ou cerveja).
  • De joelhos Ani oferta tais presentes ao deus Osíris, o Senhor do Mundo dos Mortos.
  • Osíris encontra-se sentado em uma embarcação, dentro de um majestoso tabernáculo de madeira (onde os deuses eram levados em procissões nos dias festivos). Atrás de Osíris estão as deusas Ísis e Néftis.
  • O Senhor da Eternidade leva nas mãos os distintivos do poder: o cajado, o flagelo e o cetro. Sobre a cabeça carrega uma coroa branca, em forma de mitra e duas penas de avestruz.
  • O Livro dos Mortos do Escriba Ani é tido como um dos mais famosos papiros já encontrados, tanto pelo seu tamanho quanto pelas representações gráficas das diferentes fases do julgamento que acontece no mundo dos mortos e por ser um dos mais completos. Encontra-se no Museu Britânico.

Fonte de pesquisa:
Los Secretos de las obras de arte/ Taschen

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2 comentaram em “O LIVRO DOS MORTOS DO ESCRIBA ANI

    1. LuDiasBH Autor do post

      Mirian

      Fiquei muito feliz com a avaliação que fez do blog.
      É sempre bom sabermos que estamos no caminho certo.

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