O RENASCIMENTO EM VENEZA (Aula nº 50)

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Autoria de Lu Dias Carvalho

   

                    (Clique nas gravuras para ampliá-las.)

Até agora vimos que Florença foi o berço do Renascimento na Itália, porém não podemos nos esquecer da próspera cidade de Veneza. É fato que em razão de seu acentuado comércio com o Oriente ela levou bem mais tempo do que outras cidades italianas para se adequar ao estilo renascentista, ao uso da forma clássica grega e às construções do arquiteto Filippo Bruneslechi. Porém, quando Veneza resolveu mudar sua orientação artística, ela o fez com muita competência, dando ao estilo um novo estímulo, enchendo-o de pompa e de brilho.

Aos grandes mestres de Florença interessava muito mais o desenho do que a cor. Embora suas obras apresentassem cores requintadas, a maioria deles concluiu que a melhor maneira de usar a cor era trabalhar primeiro com a perspectiva da composição, antes de usar a tinta. Os pintores de Veneza, ao que parece, não achavam que a cor se tratasse apenas de um ornamento adicionado à pintura. Para eles ela era vital. Portanto, se os pintores clássicos da Itália central conseguiram uma nova e completa disposição entre as partes de suas obras, ao levar em conta o desenho perfeito e o arranjo equilibrado, os mestres venezianos, seguindo a orientação de Giovanni Bellini,  fizeram uso da cor e da luz para transformar num todo os seus maravilhosos trabalhos.

A Biblioteca de São Marcos — também conhecida como “Biblioteca Nacional Marciana” — (ver ilustração à esquerda e no centro), cujo arquiteto responsável foi Jacopo Sansovino (1486-1570) que, embora fosse florentino, foi capaz de adaptar seu trabalho ao espírito e à índole de Veneza, cidade de uma vívida luminosidade que se despeja sobre suas lagunas. Esse edifício é um dos mais belos exemplos da arte veneziana do Cinquencento (período do Renascimento referente ao século XVI).

Veneza é vista como o centro cultural mais ativo no perdurar do século XVI. O seu crescimento demográfico pulou de cerca de 100.000 habitantes em 1500 (século XV) para cerca de 170.000 em 1563 (século XVI), ampliando consideravelmente a riqueza entre seus habitantes. Algumas causas contribuíram para que isso acontecesse: o comércio internacional, sobretudo com o Oriente; o trabalho de manufatura; o progresso da agricultura nos seus territórios peninsulares que incluía outras cidades com ligações culturais e de mecenato com ela.

Várias fontes de mecenato contribuíram para o desabrochar da arte em Veneza: o governo republicano, as famílias patrícias mais abastadas que comandavam o governo; as várias confraternidades (scuole); as ordens religiosas que competiam entre si para ver quem mais encomendava obras de arte. Os venezianos buscavam fazer de Veneza um rival de Roma. As artes, para tanto, deveriam mostrar sua capacidade cultural, levando em conta suas transformações com o Mediterrâneo Oriental e as influências recebidas de Constantinopla (antiga Bizâncio e atual Istambul) e da Igreja do Oriente.

Segundo o escritor inglês Nicholas Mann — um estudioso do humanismo italiano — em seu livro “Renascimento”, a cidade de Veneza ganhou projeção em muitos campos artísticos, sempre buscando mostrar a sua influência: “na publicação e na difusão de imagens; na pintura a óleo e no uso das cores; na construção de palácios grandiosos sobre canais ou de habitações modestas e bem organizadas para os artesãos; na música coral, madrigais e no desenvolvimento da música para instrumento de corda; na criação de cristais requintados; no teatro vernáculo, tendo construído uma casa de ópera pública em 1637 e em procissões de entretenimento”.

Ao transformar-se num centro fundamental de impressão, Veneza não apenas diminuiu o preço dos livros como os popularizou. Livros foram publicados em latim, grego e do hebraico para o erudito. Vieram também novelas, histórias e diálogos em italiano para um público cultural mais extenso, leituras elementares para os que buscavam a alfabetização. Houve a impressão de músicas, atlas e mapas e também ilustrações para textos sobre anatomia e botânica.

Os artistas venezianos do século XVI também avançaram quanto às técnicas e à aplicação da pintura a óleo sobre tela. Importantes mestres fizeram parte dessa época em Veneza, como Lorenzo Lotto e Ticiano que deram uma nova profundidade psicológica e impulso visual ao retrato, através do uso da cor e da composição estrutural. A narrativa pictórica passou a ser criada principalmente em óleo sobre tela. Jacopo e Tintoretto produziram imensas telas com narrativas do Antigo e do Novo Testamento. Giorgione assombrou o mundo com a beleza de sua obra “A Tempestade”. Também podemos citar mestres como Ghirlandaio, Pegurugino, Carpaccio, Veronese, Sebastiano del Piombo, etc., mas o grande nome do Alto Renascimento em Veneza foi sem dúvida Ticiano Vecellio.  Estudaremos esses artistas nas próximas aulas.

Exercício

1. O que impediu Veneza de acompanhar Florença em relação ao Renascimento?
2. Que motivos levaram Veneza a transformar-se num grande centro cultural?
3. Em quais campos Veneza ganhou projeção, segundo Nucholas Mann?

Ilustração: 1. Biblioteca de San Marco (1536) / 2. Interior da Biblioteca de San Marco/ 3. Vista do Cais da Enseada de São Marco, obra de Canalleto c. 1740/1745

Fonte de pesquisa
A História da Arte / Prof. E. H. Gombrich
Renascimento/ Nicholas Mann

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8 comentaram em “O RENASCIMENTO EM VENEZA (Aula nº 50)

  1. Marinalva Autor do post

    Lu

    Excelente este texto sobre o Renascimento na cidade italiana de Veneza. Lá também havia grandes mestres. Estou ansiosa para conhecer uma obra dos principais deles.

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    1. LuDiasBH Autor do post

      Marinalva

      Depois de Florença, Veneza foi a segunda cidade mais importante do Renascimento na Itália. Nós iremos estudar, sim, uma obra de seus principais mestres.

      Abraços,

      Lu

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  2. Antônio Messias Costa

    Lu

    Veneza foi e ainda é hoje um marco na história da arte e da arquitetura. Serve de exemplo para o mundo o grande esforço de seus governantes para conter as fortes marés que ameaçavam a cidade, construindo barreiras móveis a altos custos, mas que valeram a pena, sobretudo em respeito ao seu passado grandioso.

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Antônio

      Veneza foi a segunda cidade mais importante para a arte italiana da Renascença, pois ali se concentraram grandes mestres. A primeira foi Florença.

      Abraços,

      Lu

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  3. Moacyr Autor do post

    Lu
    Pelo que ficamos conhecendo em suas aulas, Florença e Veneza são as duas cidades mais importantes para o Renascimento italiano. Estou ansioso para estudar as belas obras produzidas nesse centro artístico.

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    1. LuDiasBH Autor do post

      Moacyr

      Veneza foi realmente um centro artístico de suma importância para a Europa no que diz respeito ao Renascimento. Iremos estudar obras dos grandes mestres venezianos.

      Abraços,

      Lu

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  4. Hernando Martins

    Lu

    É importante observar que a arte é um reflexo de um contexto de vida de uma cultura num determinado momento da história. Veneza é um exemplo marcante de tudo isso em virtude de sua localização estratégica, possibilitando um intercâmbio robusto entre outras nações, principalmente das do Oriente.

    Sendo uma região portuária, Veneza facilitou toda essa troca de conhecimento nas artes em todas as suas diversidades, principalmente com os bizantinos, pela proximidade com o Mediterrâneo. Isso é evidenciado principalmente nos trabalhos feitos a óleo sobre tela com bastante ênfase nas cores e luminosidade, haja vista que é uma região com grande influência do sol, pela própria localização. E nas construções sua arte também foi bastante influenciado pela arquitetura bizantina. A diversidade cultural de Veneza propiciou originalidade em toda cultura da região, possibilitando um desenvolvimento em todos os setores da sociedade da época.

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    1. LuDiasBH Autor do post

      Hernando

      Muito bem colocada a sua definição sobre a arte:

      “…a arte é um reflexo de um contexto de vida de uma cultura num determinado momento da história.”

      A maravilhosa e iluminada cidade de Veneza acrescentou à arte italiana o trabalho de numerosos mestres, dos quais estudaremos as obras nas próximas aulas. E, como dito por você, ela “propiciou originalidade em toda cultura da região…”. A diferença entre a arte de Florença e a de Veneza somente enriqueceu a pujança da Itália, berço do Renascimento e de muitos outros estilos artísticos.

      Abraços,

      Lu

      Responder

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