Autoria de Lu Dias Carvalho
O conceito de que antidepressivos causam dependência é um mito. Como são tratamentos longos, fica a sensação de que viciam. (Aristides Brito)
Os antidepressivos não são viciantes. Ao contrário da nicotina, álcool e tranquilizantes, os antidepressivos não requerem aumento de dosagem com frequência para manter o efeito e fazer com que o usuário o deseje. (Virgínia Helena Quadrado).
A depressão figura no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM) como um dos transtornos mentais mais sérios, necessitando de tratamento, na maioria dos casos, com antidepressivos que vão atuar no sistema nervoso central com a função de elevar os níveis de neurotransmissores e aumentar a excitação cerebral. Contudo, é sempre bom lembrar que somente o psiquiatra, depois de analisar cada caso individualmente, assim como as condições clínicas da pessoa e os medicamentos dos quais ela faz uso, poderá receitá-los. Além disso, o paciente deve manter contato com o profissional principalmente nas semanas iniciais do tratamento em razão dos efeitos adversos que possam surgir, relatando-lhe tudo.
Inúmeros são os grupos de medicamentos antidepressivos presentes hoje no mercado, apresentando diferentes mecanismos de ação. O psiquiatra, ao receitar um antidepressivo, deve levar em conta as características do paciente e identificar o tipo de transtorno que o acomete, optando pelo medicamento que melhor lhe convém. Além dos antidepressivos usados nos transtornos mentais, existem outras substâncias, como o carbonato de lítio, que vêm sendo usadas no combate à depressão. A respeito do grande número de classes de remédios antidepressivos, comenta o psiquiatra Rodrigo Pessanha: “É como se eu tivesse vários tipos de ferramentas que pudessem se adaptar ao problema em questão. São levados em consideração aspectos como a idade, o peso corporal, a existência de uma doença subjacente e a possível utilização de outros medicamentos de uso geral”.
Uma das preocupações mais constantes daqueles que fazem tratamento com antidepressivos é saber se viciam ou não. O neurocientista Aristides Brito considera tal conceito um mito e explica: “Como são tratamentos longos, fica a sensação de que viciam”. Fica, portanto, a explicação de que o uso de antidepressivos não causa dependência, tanto é que o paciente pode interrompê-lo (depois de passar pela orientação médica) sem problema algum. O que acontece é que, na maioria das vezes, a depressão é recidiva, necessitando que a pessoa retome o tratamento, mas isso não se trata de dependência, mas do mau funcionamento do cérebro. A sensação de que os antidepressivos viciam também está ligada ao uso dos ansiolíticos. Esses, sim, são viciantes.
É muito comum, na fase inicial do tratamento, quando acontecem os transtornos adversos em razão do antidepressivo, a indicação de ansiolíticos para ajudar a contê-los, mas esses devem ser retirados em conformidade com o parecer médico, assim que o paciente começa a sentir-se melhor. Sobre eles, explica a psiquiatra Maria Cristina de Stefano: “Os fármacos dessa classe são empregados apenas pelo tempo necessário, já que eles agem em neurotransmissores diferentes dos antidepressivos e diminuem algumas das atividades dos neurônios”. O neurocientista Aristides Brito complementa: “Os ansiolíticos provocam sensação de prazer e, por isso, acabam viciando. Assim, devem ser retirados de forma gradual para não provocar abstinência e outros problemas”.
Outro ponto importante é saber que os antidepressivos não são mágicos, necessitando de alguns dias para que a pessoa sinta alterações no seu humor, pois o cérebro exige um tempo para adaptar-se à nova substância, como comprovam os efeitos adversos. Quanto à duração do tratamento, isso dependerá do grau do transtorno mental de cada um. Em média, dá-se num prazo de seis meses, mas existem casos severos que exigem um tempo maior ou seu uso contínuo. E ainda aqueles que param (com o parecer médico) e necessitam retomar o tratamento. Qualquer que seja a situação, ela deverá passar sempre pela avaliação médica. Vale ressaltar também que o uso do antidepressivo, quando associado a mudanças de hábitos e de técnicas alternativas, tem seu efeito bom potencializado.
Uma questão que vem se tornando cada vez mais séria é o uso indiscriminado de antidepressivo com a finalidade de emagrecer. O neurologista Carlos André Ramos Lopes adverte para o perigo: “O abuso de antidepressivos utilizados como emagrecedores, principalmente escondidos em fórmulas de manipulação e sem identificação específica de depressão, pode ter efeitos colaterais severos, como taquicardia, irritabilidade e desmaios”.
Fonte de pesquisa
Revista Segredos da Mente, Cérebro e Meditação – nº 1
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Oi, Lu!
Amei o texto!
É impressionante, (para mim é Deus falando com a gente, sabe?!), eu estava precisando ler isso.
Ontem ouvi uma daquelas histórias: “eu tive depressão, mas um dia deixei o remédio pela minha fé!”. Puxa, como essas coisas ainda me deixam em dúvida… Ainda sinto como se eu é que estivesse num caminho dúbio, seguindo meu tratamento psiquiátrico e fazendo terapia… Também já ouvi teorias da conspiração: “os laboratórios fabricam antidepressivos justamente para causar dependência”. E aí quando tive que trocar o esc, que me fez tão bem por alguns anos, pela duloxetina+Bup, realmente dá a sensação de que esta teoria faz sentido. Mas a verdade é que a pessoa com quem eu falei ontem, quando teve um quadro depressivo (e só agora percebi) estava era em luto, pois em menos de 3 anos perdeu a mãe e o pai… e quem receitou a medicação foi um neurologista, não sei se ele foi assertivo (apesar de tê-la orientado a ir ao psicólogo também).
Outro dia, conversando com amigos, ouvi relatos de que no trabalho deles, falam sobre antidepressivos, como se estivessem falando de remédio para dor de cabeça, sabe?! Inclusive com pessoas indicando remédios para outras tomarem antes de algum evento importante… Fiquei abismada com tamanha irresponsabilidade… E também já ouvi relatos de pessoas que pedem o Rivotril da irmã quando não conseguem dormir… Olha que loucura!
Enfim, o interessante é que há alguns dias eu sonhei que estava brigando com meu chefe que, no sonho, falava para eu parar de tomar os remédios, ao que eu respondia muito brava para ele, que convivesse comigo um mês sem eles e depois me dissesse suas conclusões…
Enfim, fato é que eu realmente preferiria não precisar de antidepressivos, mas o que vou fazer se meu cérebro não funciona direito? Por isso, minha meta agora é incluir atividade física na minha rotina para ajudar um pouco mais o trabalho do coitado, rs.
Lu, parabéns pelo seu trabalho! E obrigada por este espaço!
Um beijo grande no seu coração!
Leila
Sinto-me feliz ao saber que os textos sobre “Transtornos Mentais” estão ajudando quem os lê. Isto é muito bom, pois quanto mais aprendemos sobre o funcionamento de nosso cérebro, melhor lidamos com os nossos transtornos, aprendendo a aceitá-los. A falta de conhecimento joga-nos num labirinto sem saída, permitindo que acreditemos nos conselhos infundados de pessoas sem a menor compreensão do que seja um transtorno mental, uma vez que jamais o vivenciou ou estudou sobre ele. Falam por falar, sem nenhum conhecimento de causa. O melhor é fazer ouvidos moucos.
A teoria de que apenas a fé cura não passa de um mito quando se trata de um caso sério de transtorno mental. Não entendo o porquê de não dizerem o mesmo quando se trata de uma doença cardíaca, hepática, renal ou da AIDS, por exemplo, pois seja lá qual for a fé, a pessoa busca ajuda médica contando com todo o apoio familiar. Como vê, o desconhecimento é ainda muito grande, tendo possibilitado que muitas pessoas tirassem a própria vida por não estarem com o transtorno controlado. A fé ajuda, sim, mas na maioria das vezes, tais doenças exigem remédios alopáticos. Não se pode brincar com o funcionamento de nosso cérebro e com o sofrimento do outro.
É fato que existem pessoas irresponsáveis em todas as profissões, mas nem por isso podemos abdicar de nosso tratamento. Se não confiamos em quem nos atende, mudemos para outro. É fundamental a sintonia entre médico e paciente. Sempre digo que só temos a agradecer por vivermos nesta época da história da humanidade, quando não mais existem os sanatórios e manicômios e temos antidepressivos que nos possibilitam viver como pessoas normais. Se a época fosse outra (se num passado mais distante), tenho a certeza de que não estaria aqui interagindo com você. Portanto, bendito sejam todos os pesquisadores que trabalham para nos mostrar a luz no fim do túnel. Também preferiria não estar tomando antidepressivo, mas bendigo a sua existência. E que muitos outros venham, cada vez melhores, até que se dê a descoberta para a cura total.
Abraços,
Lu