Autoria de Carlos José Cipriano
A minha namorada (ela tem 39 anos e eu 31) terminou comigo faz dois meses. Morávamos juntos há praticamente quatro anos. No começo tínhamos um relacionamento perfeito, coisa de filme. Nós nos entendíamos em tudo, até mesmo além do limite esperado. Ela mesma dizia que a gente não brigava e vivia muito bem. Em relação ao sexo a nossa sintonia era algo fora do comum para a maioria dos casais.
Hoje consigo ver claramente que ela tinha fases depressivas. Após iniciar uma etapa financeira ruim na nossa vida (provocada por ela), uma fase eufórica começou — bem parecida com um relato que li aqui — entre o fim de um ano e começo do outro. A libido começou cair e passamos a ter relações sexuais duas ou três vezes ao mês. Chegamos a ficar dois meses sem qualquer tipo de relação amorosa. Cheguei a perguntar a ela se tinha “enjoado” de mim. Eu me sentia muito mal, pois até o beijo era diferente de antes.
No que diz respeito à questão financeira, percebi que se tratava de outro escape dela que gastava muito com roupas, mercado e, por último, com a decoração do apartamento onde morávamos. Até a forma de me tratar havia mudado. Eu sempre a chamava de minha esposa, mas notei que ela já me chamava apenas de namorado e ficava muito irritada se eu a contrariasse até mesmo nas coisas mais simples e insignificantes.
Na primeira vez em que ela teve uma crise eufórica, eu tive que chamar o SAMU. Fiquei com medo de acontecer algo mais grave, pois começou a gritar de madrugada, a me morder, a me unhar e dizer que eu estava a machucá-la. Após esse acontecimento falei-lhe para irmos a um médico. Ela resistiu, mas acabou indo, porém nunca aceitou tratamento e acredito que convenceu o médico de que não tinha nada. Ele apenas a diagnosticou como tendo sobrecarga de trabalho.
Agora no final de 2020 voltou a fase eufórica. Tentei lhe dar um calmante, mas ela literalmente surtou. Acabou me humilhando, falando coisas absurdas, distorcidas, surreais e me expulsou de sua vida. O filho dela — hoje já adulto — conseguiu levá-la a um outro médico que a diagnosticou com bipolaridade. Queria até mesmo interná-la e receitou-lhe remédios bem fortes. Ela novamente não aceitou qualquer tipo de tratamento, sob a alegação de que não tem nada e que apenas trabalha demais.
Hoje estou menos pior que antes, tentando evitar falar com ela, mas é uma vontade absurda de correr até ela e abraçá-la. No início eu tentava lhe falar todos os dias, mandava mensagens, procurava vê-la… Porém vi que isso estava me fazendo mal, deixando-me muito triste e sem ânimo. Eu a amo, queria viver para sempre com ela, mas realmente é muito pesado conviver com uma pessoa bipolar, quando essa não aceita o que tem e se recusa a fazer tratamento.
Identifiquei aqui vários relatos iguais ao que passei com a minha companheira até então. Claro que tive falhas em certos momentos, pois eu não sabia como lidar com seu comportamento instável. Na primeira vez em que ela surtou, fui extremamente paciente, como sempre, mas não adiantou nada, e da última vez tentei ser mais firme, seco, porém também de nada adiantou. Ainda fica uma esperança de ela aceitar se tratar e voltarmos, mas sei que isso é quase impossível. No seu caso vejo hoje também um ciclo. Ela trabalha muito, gasta tudo, compra algumas coisas e depois se desfaz e acaba se prejudicando e a quem está ao seu lado. Já teve vários namorados e já prejudicou muitos deles.
A única coisa da qual não posso dizer nada é sobre infidelidade. Nunca vi nada disso, mas sei que ela tem algo estranho com seus relacionamentos. Parece “enjoar” de um mesmo parceiro depois de certo tempo, pois basta terminar um relacionamento e rapidamente entra em outro. Depois de nossa separação eu já a vi no dia de Natal, saindo do trabalho com um ex-namorado. Eu a amo e espero que um dia aceite se tratar para o seu próprio bem.
Ilustração: Arlequim de Barcelona, 1917, obra de Picasso
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