Degas – MULHER ENXUGANDO-SE

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Autoria de Lu Dias Carvalho


Faça linhas, muitas linhas, seja da memória ou da natureza. (Ingres)

 Degas foi um fecundo retratista de mulheres em momentos íntimos. Além das banhistas, das bailarinas nuas descansando, das prostitutas em bordéis, retratou outras tantas se vestindo, tocando-se, penteando-se ou sendo massageadas. (Eduardo Carvalho)

O pintor impressionista Edgar Degas (1834 – 1917) nasceu em Paris. Era o primeiro filho de Pierre-Auguste Hyacinth de Gas, banqueiro, e de Celéstine Musson. Tratava-se de uma tradicional família francesa, muito rica e culta. Seu pai era um homem que nutria grande admiração pelas artes, especialmente pela música e pelos pintores italianos do Renascimento. Portanto, não causa surpresa o fato de o garoto ter mostrado sua vocação artística desde cedo.

A composição conhecida como Mulher Enxugando-se ou também Mulher Enxugando o Braço Esquerdo e ainda Mulher Enxugando o Braço Esquerdo após o Banho é uma obra do artista que era encantado pelas sensações das formas em movimento, como mostram muitas das suas pinturas representando circos, hipódromos, teatros, escolas de dança, etc. Ele levou a sério a sugestão de Ingres: “Faça linhas, muitas linhas, seja da memória ou da natureza”. Suas figuras ligeiramente esboçadas são luminosas e sugestivas.

O quadro em questão retrata uma mulher nua, sentada na cama sobre uma imensa toalha branca,  estando de costas para o observador, enquanto enxuga o braço esquerdo. Seu corpo encontra-se dobrado para frente, ligeiramente virado para a esquerda. Traz a perna esquerda voltada para baixo, com o pé apoiado no tapete, enquanto a direita descansa na cama. A posição em que se encontra acentua a linha de sua coluna vertebral. Esta obra encontra-se em solo brasileiro, no acervo do MASP, desde 1954.

Degas fez uma série de fotografias, de esboços preliminares e de obras concluídas de nus solitários em tons pastéis e óleos, sendo a maioria vista por trás, durante as décadas de 1880 e 1890, dentre as quais se encontra esta composição. São mulheres tomando banho ou dançando em diferentes posições. Alguns estudiosos chegam a dizer que o artista era um “voyer”. Ele mesmo dizia que tais obras tinham por objetivo levar ao observador a sensação de se encontrar olhando pelo  “buraco da fechadura”.

Ficha técnica
Ano: c. 1844
Técnica: pastel sobre papel
Dimensões: 57,6 x 63,7 cm
Localização: Museu de Arte, São Paulo, Brasil

Fontes de pesquisa
Enciclopédia dos Museus/ Mirador
https://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Midia/Um-certo-Degas-voyeurista/12/10414

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“AUTO TUNE” E MÚSICA ATUAL

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Autoria de Lucas Alves Assunção

Antes de explicar o porquê de os cantores sertanejos parecerem ter a mesma voz, vou dar uma breve explicação sobre teoria musical. A música é uma onda que viaja a 340 metros por segundo, porém nosso ouvido tem um “atraso” de 0,1 segundos para começar a ouvi-la e isso gera dois efeitos: a “reverbação / reverb”  e o “eco” que nada mais é do que uma continuação do “reverb”, quando as ondas da música batem em paredes, prédios, montanhas e refletem, voltando para nós. Como nosso ouvido tem esse atraso, se estivermos a uma distância de até 17 metros de uma parede, escutaremos o “reverb”. Você pode testar isso no seu banheiro. Apenas grite e o seu grito irá continuar soando por um breve momento. Agora, se estiver a mais de 17 metros, como nosso ouvido tem essa latência para captar o som, você escutará  o eco que é um “reverb” atrasado.

A música dos dias atuais em sua maioria é praticamente um barulho robotizado, pois os estúdios contam com vários sistemas de edição para “ajustar” os erros que as pessoas cometem, seja no tempo da bateria, nos instrumentos ou na voz. Na voz, todos usam um efeito chamado “auto tune” que é um processador digital de áudio que deixa sua voz na nota certa, na nota em que deveria estar no andamento da música, então, é impossível desafinar. Voltando à teoria, existem dois tipos de sistemas para usarmos em efeitos musicais: os analógicos e os digitais.

Um sistema analógico mantém a onda musical da maneira exata que ela era antes de entrar no equipamento, seja um pedal, um disco de vinil ou o que for, enquanto o sistema digital altera essa onda que se torna digital ao passar pelo equipamento e depois volta a ser analógica, porém, ela não volta da maneira exata como era, volta “quadrada”, pois sofre alterações. Você já deve ter notado que vários cantores sertanejos da atualidade parecem ter a mesma voz, certo? Esse é o motivo, o uso do “auto tune” deixa a voz robotizada, alterada e todos que o usam terão um timbre parecido.

A música atual segue um “padrão” independentemente do estilo ou do gênero. Se você fugir desse modelo não terá espaço em mídia alguma. As letras não podem ser críticas e as melodias precisam ser simples. Em mais de 80% das vezes, as músicas não são feitas pelas pessoas que as cantam, sendo gravadas por músicos contratados, com as melodias feitas por  maestros e tudo tendo a mão de produtores no meio. Isso também quebra o ciclo de “música e sentimento”, pois os artistas “cantam” algo que não foi criado por eles. É fácil falar de amor sem nunca ter amado, de dor sem nunca ter sofrido, portanto, eu posso dizer com clareza que quase toda a música atual e quase todo esse chamado “gênero pop” nada mais são do que uma grande mentira, uma farsa que visa apenas o lucro imediato.

Falar sobre a música brasileira é algo que para mim é extremamente doloroso, pois os talentos daqui muitas vezes vagam esquecidos, sem nunca chegar ao conhecimento do público. Nosso país possui a melhor música do mundo em termos de teoria, técnica e letra, superando todo o resto, porém, 98% do que é bom fica fora das grandes mídias. A maioria da produção dos gêneros populares da atualidade é péssima (funk, sertanejo, sertanejo com funk, rap, rap com funk, emo disfarçado de rock, MPB feita por “filhinhos de papai” que fizeram faculdade de música paga fora do país e se acham os tais).

Também temos a típica “bunda”, sim, entre todos os gêneros musicais da atualidade, o mais popular é a “bunda”, quantas músicas sobre “desce o bumbum, rebola o bumbum, mexe o bumbum” você já ouviu? A verdade é que nem o público que vai aos shows com esse tipo de música está ali pra ouvi-la. Pouca importa quem está tocando ou o que está sendo tocado, pois está ali somente atrás de sexo e bebidas – essa é a triste realidade do sucesso atual. Entretanto, o Brasil é muito mais que tudo isso. Existem músicas por aqui que nem tem como ser classificar em um gênero, pois são únicas, a exemplo das de Renato Goda, músico da atualidade, um dos poucos presentes na mídia que possui talento hoje em dia. Ele é um poeta nato. Goda fez uma das músicas mais lindas que já ouvi, chama-se “Como o Mar”.

Temos várias bandas antigas, da década de 70, como: “Recordando o Vale das Maçãs”, “A Barca do Sol”, “Som Nosso de Cada dia”, “Terreno Baldio”… Temos também uma ótima banda de blues, “Bêbados Habilidosos”, que tinha um grande poeta chamado Renato Fernandes nos vocais, que infelizmente veio a falecer. As letras do grande Renato são as melhores dentre todas do blues brasileiro. Esse é apenas um dos muitos músicos brasileiros que, pela falta de cultura de nosso país, nunca teve o merecido sucesso. Tenho a certeza de que se as mesmas chances que são dadas aos arremedos de músicos fossem dadas aos bons músicos, tudo seria diferente, porém, infelizmente, é preciso seguir a mediocridade do “padrão” vigente.

Nota: O Violeiro, obra de Almeida Júnior

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ÍNDIA – A PERIGOSA TROCA DE “NUDES”

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Autoria de Ana Emília Souto

Eu sempre usei muito o Facebook e sempre aceitei pessoas de todos os países, mas nunca tinha conversado com ninguém, porque não entendia a língua delas que sempre tentavam começar a conversa do mesmo jeito, ou seja, sempre com sexo, até conhecer certo indiano que logo depois comecei a chamar de “meu príncipe indiano”.

Ele era doce, bonito, muito educado e romântico, dizia me respeitar e sempre foi muito atencioso. Eu o conheci no ano passado, em novembro se não me engano. Estava separada do meu marido, carente e com problemas no casamento. Comecei a ficar amiga do rapaz, acreditando em tudo que ele dizia. Passamos a ficar mais e mais íntimos. Ainda que virtualmente, passei a sentir muito desejo por ele, mas hoje sei que era em razão da vida problemática que estava vivendo. O indiano funcionava como um apoio emocional, preenchendo todo o meu vazio.

Não demorou muito para que nós começássemos a trocar “nudes” e a fazer chamadas de vídeos. Sei que muitos vão me julgar e se perguntarem como eu pude cair nessa. Para dizer a verdade, acho que a minha idiotice foi em razão da insegurança em que me encontrava, sentindo-me muito infeliz. Eu estava realmente apaixonada pelo sujeito.

Em meio ao sobe e desce de minha vida conjugal, meu marido resolveu retomar o nosso relacionamento, refazer nossa vida juntos. Depois de muito pensar, resolvi aceitá-lo de volta para que juntos criássemos nossos filhos. Pensei também no meu relacionamento virtual com o tal indiano, pessoa de quem eu gostava muito, ainda que virtualmente. E doeu pensar em parar de falar com ele, mas tinha que fazer essa opção, pois meu marido era real, assim como nossos filhos que necessitavam muito de nós. No fundo eu sabia que o indiano era uma ilusão e que eu tinha que tentar ser feliz com o pai dos meus filhos. Mas as coisas não seriam tão fáceis assim.

O “meu príncipe indiano” transformou-se num verdadeiro demônio quando eu lhe disse que não podia mais conversar com ele, explicando-lhe os fatos. Bloqueei-o e o exclui do meu Facebook, mas como ele mesmo me disse, isso não era nada, pois poderia me achar de 1001 formas. Foi aí que começou a me chantagear, dizendo que ia jogar minhas fotos na rede e acabar com a minha vida. Ele me xingava e agia como um louco, dizia que se não falasse com ele iria infernizar minha vida. Ligava-me e me mandava mensagem o tempo inteiro, me chantageando e dizendo que não se importava com meus filhos ou com meu marido e muito menos com minha família, que só queria me destruir, que eu não conhecia o poder de um indiano quando tomava uma decisão.

Eu estava com muito medo de que meu marido e sua família, meus filhos e a minha família  me vissem nua, como se fosse uma vadia na  internet. Desesperada, entrei no Google e comecei a pesquisar sobre os indianos e encontrei este blog maravilhoso. Li os comentários e uma matéria que falava exatamente do que eu estava passando. Eu só sabia chorar até que fiz um curto comentário para Lu e pedi para ela falar comigo por e-mail. Ela entrou em contato comigo imediatamente, com muita paciência e atenção. Expliquei tudo para ela que me pediu para ficar calma e me orientou no que fazer. Pediu-me para não demonstrar medo em nenhum momento ao falar com o sujeito. Deveria entrar em contato com a PF (Polícia Federal) e com a embaixada indiana, caso ele não parasse com a chantagem, e que lhe informasse sobre o que estava disposta a fazer. Agi em conformidade com a orientação dela. Não demorou para que o “meu ex-príncipe indiano” me pedisse “por tudo que era mais sagrado” para esquecer o ocorrido, dizendo que nunca mais iria me incomodar. Ele mesmo me bloqueou nas redes sociais.

Mulheres, estou escrevendo este depoimento para alertá-las. Não sejam ingênuas como eu fui. Não caiam nesse conto de fadas, pois por pouco não perdi minha família. Eu só tenho a agradecer a Deus e a Lu, um anjo na minha vida, porque se Deus não a tivesse colocado no meu caminho, não sei como esta história teria terminado, com certeza não teria sido bem. Abram os olhos e não cometam o erro que eu cometi.

Nota: Nu Vermelho, obra de Modigliani

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Van Gogh – A ARLESIANA

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 Autoria de Lu Dias Carvalho

O genial pintor holandês Vincent van Gogh (1853 – 1890) é, sem sombra de dúvidas, um dos grandes nomes da pintura universal. Contudo, não é fácil falar sobre ele, pois suas paixões e sentimentos estão ligados à arte de tal forma que não é possível ater-se a seu trabalho sem mergulhar na nobreza de sua alma impregnada de nobres ideais, aos quais se entregou, a ponto de sacrificar a própria vida, pois nele tudo funcionava como um todo indivisível e exacerbante ao extremo. Contudo, a sua genialidade artística só foi reconhecida após sua morte. Mesmo tendo pintado 879 quadros em menos de uma década, só conseguiu vender um, A Vinha Vermelha, por um valor insignificante. Atualmente, suas pinturas estão entre as mais caras do mercado das grandes obras de arte. Em 1990, o retrato O Dr. Gachet foi vendido por 82 milhões de dólares.

A composição denominada Arlesiana, também conhecida como Retrato de Madame Ginoux ou ainda A Mulher de Arles, é a transposição pictórica de um desenho esboçado por Paul Gauguin, quando ele e Vincent van Gogh conviviam em Arles. A retratada é Mme. Ginoux, cujo marido Joseph-Michel Ginoux era o arrendatário do “Café de la Gare” da estação ferroviária do lugar.

A figura em branco e preto, sentada à mesa com a mão esquerda descansando sobre o rosto, foi fortemente estruturada em suas linhas construtivas.  Seus grandes olhos encimados por sobrancelhas arqueadas fitam o observador. Ela ganha destaque ao contrastar-se com a parede avermelhada, ao fundo, com o verde mais escuro que cobre a mesa e o mais claro que dá cor aos livros cujos títulos estão em dourado. As cores da obra são características das que artista usava durante o curto período em que viveu em Arles. Este quadro pertence ao acervo do MASP desde 1954.

 Ficha técnica
Ano: 1890
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 65 x 54 cm
Localização: Museu de Arte, São Paulo, Brasil

Fontes de pesquisa
Enciclopédia dos Museus/ Mirador

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GÊNEROS MUSICAIS MAIS POPULARES NO BRASIL

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Autoria de Lucas Alves Assunção

Se existe algo que me faz ter orgulho do Brasil é o samba, não o do Carnaval, mas o do grande Cartola e de tantos outros sambistas de verdade. O samba é como o blues dos estadunidenses. Quando os africanos chegaram aqui começaram a misturar ritmos da África com a música dos portugueses, assim nasceu o samba, uma música sofrida que consegue ser triste e alegre ao mesmo tempo. Com o passar do tempo, o samba virou pagode. E o pagode que já era ruim, virou uma piada. Hoje em dia, no país em que este gênero musical foi criado, mal se escuta falar de samba, o que é uma pena, pois este gênero merece mais respeito e amor dentre todos os outros, pois, afinal, é a cara do Brasil. É a nossa identidade musical.

O chamado sertanejo universitário é bem diferente do sertanejo de raiz. Há muito tempo este gênero tem sido empurrado goela abaixo do povo brasileiro. Tudo o que se precisa para ter sucesso no sertanejo universitário é um topete, uma barba bem cuidada, um rosto levemente bonito, vestir-se relativamente bem e saber executar uma dancinha grotesca. É o gênero que mais abusa do “auto tune” e tem a maioria de suas letras compostas por terceiros na atualidade. Aqui também são poucos os talentos, sendo a imensa maioria fabricada pela mídia.

A música popular brasileira já não é a mesma de antes. Cito como exemplo o cantor Thiago Iorc que ganhou um Grammy com a música “Trevo de Quatro Folhas”, música essa que possui três acordes. Sabemos que complexidade não é sinal de perfeição, por isso, até hoje tento entender o que a letra da música quer dizer, a exemplo deste trecho: “eu só quero o leve da vida pra te levar”.  A verdade é que a MPB era um gênero extremamente rico. Todos os que já ouviram Cartola, Tom Jobim, Chico Buarque, João Gilberto e muitos outros percebem que o brasileiro conseguia misturar toda a complexidade do jazz com o ritmo do samba, o que resultava numa perfeição incrível. Até os jazzistas lá de fora idolatravam os nossos músicos, porém, infelizmente, hoje em dia estamos na contra mão de nossa história musical.

O rock no Brasil tem uma história bem conturbada, pois nenhuma banda que realmente tocava rock chegou a um nível alto de sucesso, excetuando os “Mutantes”, mas quem conhece essa banda hoje em dia? Grande parte dos brasileiros pensa que o rock brasileiro começou nos anos 80, com os Paralamas do Sucesso, Legião Urbana, Barão Vermelho, dentre outros, e que não existem bandas de rock no Brasil. Acontece que nenhuma dessas bandas dos anos 80 tocava  rock. Elas tocavam um pop suave chamado de pós-punk. As verdadeiras bandas de rock do Brasil começaram nos anos 50, várias outras surgiram nos anos 60/70/80, porém, o rock no Brasil sempre fez parte do underground (dos porões), jamais podendo alcançar a grande mídia. Podem ser citadas como bandas de rock brasileiras: Made in Brazil, Patrulha do Espaço, Casa das Máquinas, Máscara de Ferro, Harppia, Salário Mínimo, Centúrias, Excalibur, Golpe de Estado e Inox,  dentre muitas outras que sempre viveram no esquecimento. Vários músicos talentosos participaram dessas bandas.

Não há muito o que se dizer sobre o funk. Creio que o único motivo de fazer sucesso está no fato de ser uma das únicas formas de entretenimento do povo mais carente de nosso país. É sempre a mesma batida, as letras sempre falam das mesmas coisas. É um gênero musical agressivo e pouco original, cujas letras estão sempre focadas em dinheiro, mulheres (tratadas com termos abusivos) e carros importados. É um pena que artistas que poderiam sobressair em outros gêneros musicais optem por esse.

Nota: Receita de Samba, obra do pintor brasileiro Heitor dos Prazeres

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EU NÃO POSSO DESISTIR DO BRASIL

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Autoria de Carlos Alberto Pimentel

Após viajar por este imenso país nos últimos 20 anos, de norte a sul e de leste a oeste, por mar, ar e terra, descobri o quanto eu amo a terra em que nasci. Só não conheço ainda o Amapá e o Tocantins. Conheci gente sofrida, mas hospitaleira e trabalhadora. Comi vatapá na Bahia e pato no tucupi no Pará. Churrasco na campanha Gaúcha e o tambaqui grelhado no restaurante da Bia, às margens do Rio Negro, em Manaus. Naveguei pelo Rio Negro, encantado com o boto cor de rosa e sentindo-me pequeno frente à imensa e bela Floresta Amazônica.

Já estive em 14 países e já trabalhei em dois, mas como seria se eu desistisse do Brasil? Como seria não ouvir o gorjeio das nossas aves, ver de perto a beleza das nossas matas e seus bichos, como o canto melancólico do sabiá? Deixar os meus amigos? Perder todos os vínculos de quase sete décadas de vida.

Algum leitor desatento, talvez, poderia entender esse meu lamento como uma patriotada. Não me importo. Descobri que, com raízes muito profundas fincadas aqui, não posso desistir do Brasil. Descobri que não posso desistir de minha pátria principalmente depois de uma experiência em viagem recente à terra dos pais da minha avó paterna: a Suíça.

Uma comerciante de Zurique, ao perceber o meu sotaque, quis saber de onde eu vinha. Ao saber, fez alguns comentários sobre o que lera nos jornais locais que me atingiram em cheio. Um dardo no coração! Imediatamente comecei a defender o meu Brasil – embora, infelizmente, muito do que ouvia era a mais pura verdade. Até aquele momento, pensava que o meu DNA fosse uma mistura: 50 % helvético e 50 % lusitano. Estava totalmente errado! Meu DNA é 100% brasileiro! Mais uma razão pela qual não consigo desistir do Brasil.

Apesar de ser bombardeado diariamente pela mídia com más notícias: corrupção, doentes em corredores de hospitais sofrendo, criminalidade crescente, governantes ladrões, etc., não posso desistir do Brasil. Já vivi no exterior por meses sem falar o Português – a sensação foi como comer todos os dias uma comida sem tempero! Que língua maravilhosa a nossa! Leva tanto sentimento. Saudade! O vínculo de gratidão ao outro ao dizer obrigado! Ela nos une nos quatro cantos desse imenso país, com regionalismos deliciosos. Meus amigos lá de fora ficam encantados quando a ouvem.

Muitos compatriotas mais jovens e qualificados estão desistindo do Brasil. Indo embora. Não os culpo. Eles têm razão de sobra. Foram os que mais sofreram com as canalhices dos maus políticos e maus empresários. Psicopatas e canalhas. Entretanto, as minhas raízes são muito profundas e, mesmo se quisesse, não poderia deixar o Brasil. Assim, só me resta lutar para mudar o meu país e, um dia, nele morrer. Não podemos mais deixar o Brasil ser estraçalhado nas mãos desses canalhas e psicopatas.

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