VIDEIRAS E A GUERRA CIVIL ESPANHOLA

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Autoria do Prof. Rodolpho Caniato

Nossas quadras de videiras, como em quase toda a região, eram das variedades “barbera” e “izabel”, que produziam uvas de menor valor no mercado. A quadra de uvas “niagara” branca, a mais valorizada era de videiras muito velhas e pouco produtivas.  Era preciso renovar e ampliar nossa produção. Os “cavalos” ou porta-enxertos já haviam sido plantados. Agora, um ano depois, era preciso fazer a enxertia de todo o talhão.

O “cavalo” ou porta-enxerto é feito de uma videira selvagem que não produz frutos, mas que tem um sistema radicular mais forte e eficiente como também é mais resistente a pragas. Depois de um ano, quando atinge aproximadamente a espessura de um dedo adulto, essa videira “brava” é cortada dez centímetros acima do solo, e aplica-lhe uma ou duas cunhas feitas com galhos ou “bacelos” da uva que se deseja produzir. Embora a ideia seja simples, há alguns aspectos que são delicados e podem comprometer o êxito do enxerto. As duas cunhas devem ter uma perfeita concordância ou ajuste no tronco cortado e rachado.

Nessa época, fim da década de trinta, estava ocorrendo uma mutação genética da uva “niagara” branca. Apareceram, espontaneamente em alguns lugares, galhos que produziam uma uva semelhante em todas as propriedades da niagara branca, mas diferente na cor: aparecia a uva  “niagara”   rosada.  Já no ano seguinte se dispunha de muitos “bacelos” (fragmentos de ramos produtivos) para serem enxertados da nova variedade. Eu e meu pai fizemos uma longa viagem de carroça para trazer galhos para a enxertia da nova variedade em nossas videiras. Agora era preciso enxertá-los sem perda de tempo. Era preciso enxertar milhares de videiras em poucos dias.

Meu pai contratou vários enxertadores entre os vizinhos e mais um espanhol que andava pela região a procura desse tipo de serviço. Esse senhor, que todos chamavam de “Paco”, havia fugido da Espanha ao final da guerra civil daquele país, que havia culminado com a vitória de Francisco Franco e a derrota de todas as forças da esquerda republicana. Seu “Paco” não morava na região e por isso teve que ficar por uns dias hospedado em nossa casa. Durante todo o dia, enquanto enxertava videiras, ele ia contando episódios em que tomara parte naquele sangrento conflito da guerra civil espanhola.

Eu o acompanhava em cada enxerto. Cada videira, logo depois de feita a enxertia tinha que ter um pequeno acabamento especial. O primeiro era amarrar firmemente o enxerto com uma fibra natural, a embira que colhíamos em nosso mato. Isto ainda era feito pelo enxertador profissional. Depois era preciso isolar o enxerto com barro, uma argila (barro) bem amassada, macia e úmida, bem lisa para se tornar impermeável. Isso se fazia para evitar a exposição e desidratação no corte da videira. Depois disso, a fase final era a cobertura completa com terra: um cone de uns trinta centímetros de altura. Essas duas últimas fases estavam por minha conta junto ao seu “Paco”.

As histórias que ele contava eram do horror da guerra civil espanhola. A matança entre as facções civis e o refúgio, às vezes inútil, mesmo nas igrejas, que eram saqueadas. Esse conflito acabou por tornar-se internacional, com republicanos vindos de outros países e a primeira grande aplicação da aviação de guerra de Hitler a favor de Franco: o bombardeio e a destruição do povoado de Guernica, inspiração para Picasso. Mas nosso “Paco” contava especialmente os detalhes em que seu grupo de guerrilheiros conseguiu vencer uma batalha de rua. Todo um grupo de franquistas foi cercado e morto a tiros, contava ele. Mesmo estando do lado derrotado na guerra, em vários dos relatos que nos fez sobre o episódio em que seu grupo esteve envolvido, arrematava com orgulho: “El comandante lo matê Yo!”. (O comandante, eu o matei!)

Nota: Extraído do livro “Corrupira”, ainda inédito, do autor.

Imagem: Guernica, obra de Pablo Picasso

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Modigliani – CIGANA COM FILHO

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Autoria de Lu Dias Carvalho

O pintor italiano Amedeo Modigliani (1884 – 1920) teve que conviver com o pouco caso da crítica e do mercado por sua pintura. E o fato de ser obrigado a abandonar a escultura, em razão de seu péssimo estado de saúde, arte que ele elevava acima da pintura, tornou sua vida ainda mais atribulada. O mais paradoxal é que, logo após sua morte, os colecionadores arrebataram suas obras, dando-lhe a atenção que não lhe dispensaram em vida. Sua pintura, dona de formas sinuosas e estilizadas, possuía uma elegância ímpar. Embora o pintor tivesse tido uma existência dramática, sua obra repassa pureza formal, perfeição e calma.

A composição intitulada Cigana com Filho, ou ainda Cigana com um Bebê, é uma obra do pintor, dono de um estilo muito peculiar. Trata-se uma composição simplificada na linguagem das formas, cor e traço. Presume-se que haja um protesto social em seu conteúdo, apesar do lirismo que o tema traz em si.

O artista apresenta em sua pintura uma jovem mulher, de frente para o observador, sentada numa cadeira, tendo ao colo um bebê. Sua expressão fisionômica é séria, sendo que seus olhos azuis transmitem uma grande tristeza. Ela veste uma blusa branca com gola de marinheiro vermelha e traz no pescoço um lenço em forma de gravata. Sua saia de um verde-acinzentado vai até a base inferior da tela, não permitindo que se veja o restante de seu corpo.

A cigana traz as mãos cruzadas em torno do corpo de sua criança de bochecha rosada, e envolto numa manta azul-escuro, e também usa um gigantesco gorro cor-de-rosa, com listras nas extremidades, e com o formato de um cone.

Ficha técnica
Ano: 1918

Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 116 x 73 cm
Localização: Galeria Nacional de Art, Washington, EUA

Fontes de pesquisa:
Enciclopédia dos Museus/ Mirador

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Louis Le Nain – PAISAGEM COM CAMPONESES

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Autoria de Lu Dias Carvalho

O pintor francês Louis Le Nain (1593 – 1648), também conhecido por o Romano, ao chegar a Paris, vindo de Lyon, juntamente com dois irmãos Antoine e Mathieu, ali abriu uma oficina de pintura. Anteriormente a isso nada se sabe sobre sua formação artística, assim como é difícil, muitas vezes, saber qual foi a obra pintada por esse ou aquele, pois os três costumavam trabalhar numa mesma tela. Mas é certo que Louis foi o mais criativo dos três. Através do apelido recebido é provável que tenha ido a Roma. Fez parte da Academia Real de Pintura e Escultura, em Paris. Os irmãos deixaram uma pequena série de pinturas históricas, mas preferiram as cenas de vida no campo, uma vez que vieram de uma família do meio rural.

A composição Paisagem com Camponeses, obra do artista, mostra uma cena doméstica, em que uma camponesa já idosa, sentada com as mãos no colo, à esquerda, próxima a um imenso muro, observa algumas crianças a brincar, possivelmente seus netos. Três garotos, sendo dois meninos e uma menina, encontram-se em primeiro plano, dois deles olhando para o observador, enquanto o do meio traz os olhos voltados para o que parece ser uma flauta.

Na estrada, em direção contrária à das crianças, passa um jovem com um chapéu na mão. Mais distante vê-se uma imensa paisagem, com céu e terra encontrando-se no horizonte, ambos ocupando, praticamente, o mesmo tamanho na tela. Pessoas tangem o gado, ovelhas ainda se encontram a pastar e um homem anda a cavalo. Uma pequena casa, com uma matinha na frente, situa-se na parte central da composição. Mais distante, em direção ao horizonte, várias edificações são vistas num terreno mais inclinado. As sombras espalhadas pela paisagem mostram que o sol não tarda a esconder-se.

Ficha técnica
Ano: c.1640

Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 46 x 57 cm
Localização: Galeria Nacional de Art, Washington, EUA

Fontes de pesquisa:
Enciclopédia dos Museus/ Mirador

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MOLEQUES DA CIDADE E DO MEIO RURAL

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Autoria do Prof. Rodolpho Caniato

Meus novos amigos eram garotos das famílias vizinhas, quase todos sitiantes de origem italiana.  Mudei dos cariocas de Copacabana para os moleques que nunca haviam estado em uma cidade. De Copacabana eu levara para o sítio um baú com os brinquedos acumulados em todos os natais.  Isso era um forte atrativo para meus amigos que nunca haviam visto nada igual: ficavam encantados.  Aos domingos, um dos programas era bater longos papos, sentados no pomar dos Ceolin. Primeiro colhíamos um monte de laranja-lima e laranja-cravo. Depois chupávamos laranja até não aguentar mais. Essa era a hora de grandes conversas. Hoje eu diria que foi um grato e útil encontro de diferentes culturas. Eu ainda não sabia nada das coisas familiares para eles: fazer e usar estilingues, arapucas, alçapões, bolas de meia e tantas outras coisas.

Eu nunca havia descascado uma laranja. Ali todos tinham seu canivete marca “Corneta” para isso.   Fazer as “necessidades” era sempre no “exterior”. Só havia uma privada em casa e ninguém voltava para casa para isso. Era só buscar um lugar um pouco mais discreto e “soltar o barro”. No lugar de papel higiênico sempre se usava algumas folhas. Quase todos, menos eu, tinham fezes secas e duras e nem folhas usavam. No começo, eu ainda levava do Rio a minha “amebiana” que sem qualquer medicação desapareceu. Por outro lado, eu tinha muito que contar e eles estavam ávidos por saber. Eu vinha da capital do Brasil: conhecia o mar, vira navios, aviões, autogiro, o futuro helicóptero e, sobretudo, vira várias vezes o “Zeppelin”. Era muito assunto. Todos nós aprendemos algo de novo, uns dos outros.

Nota: Extraído do livro “Corrupira”, ainda inédito, do autor.

Imagem: Jogo de Futebol em Brodósqui, obra de Portinari

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François Clouet – UMA SENHORA EM SEU BANHO

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Autoria de Lu Dias Carvalho

O pintor francês François Clouet (c.1520 -1572), também conhecido como François Janet, teve como pai o também pintor Jean Clouet, de quem foi aluno e com quem também trabalhou. A influência do estilo realista e naturalista do norte europeu, como da pintura da corte alemã, pode ser notada em seus retratos e pinturas mitológicas. Em seu trabalho o artista também adotou elementos do Maneirismo de Florença. Foi pintor da corte dos reis franceses Francis I, Henry II e Charles IX, onde era tido em alta estima.

A composição Uma Senhora em seu Banho, também conhecida como Diana de Poitiers, é  uma obra do artista, como mostra sua assinatura na borda da banheira. É tida como uma obra-prima da arte renascentista francesa. Trata-se de uma obra totalmente assimétrica em que a figura principal ocupa o canto frontal direito, tendo seu antebraço tocado pela ponta do cortinado vermelho.

A modelo chegou a ser identificada como sendo Diana Poitiers, amante de Henrique II, mas tal afirmação é hoje rejeitada, dando-se sua identidade como desconhecida, alegando alguns se tratar de Mary Stuart. O retrato é típico de uma amante real, levando em conta as características aristocráticas da mulher.

A bela jovem, em primeiro plano, encontra-se nua, lindamente iluminada, sentada dentro de uma banheira forrada com um lençol branco, voltada para o observador. Ela traz a mão esquerda sobre a borda da banheira, tendo recolhido parte do lençol, deixando à vista a assinatura do pintor, logo abaixo. Sua mão direita descansa numa tábua coberta com uma toalha branca, sobre a qual se encontram uma fruteira e flores. Entre seus dedos ela traz uma flor. Seus traços são delicados. Tem os cabelos presos, tendo uma pérola a enfeitar-lhe a ampla testa branca, conforme moda da época. Seus seios são pequenos e rijos. Usa ricas joias em ouro e pérolas.

A cena acontece no canto de uma sala suntuosa, onde se vê uma lareira acesa, em segundo plano, para onde o olhar do observador é atraído, onde uma criada manipula um cântaro metálico com água quente para o banho de sua senhora. Sobre a lareira está um quadro de tapeçaria com a figura de um unicórnio que na corte simbolizava a castidade. Um garotinho, próximo à banhista, levanta o braço para pegar um cacho de uvas. E mais ao lado, uma ama de leite, com traços grosseiros, sorri, enquanto alimenta um bebê de rosto grande e corpo pequeno, muito bem enrolado. Grossas cortinas vermelhas de cetim, entreabertas, deixam à vista o restante do ambiente.

O costume de retratar mulheres, enquanto tomavam banho dentro de uma banheira, era peculiar à Escola de Fontainebleau. É possível que o nu, um tipo de Vênus, represente a beleza ideal e não uma figura feminina específica. A pintura também pode ser uma alegoria à fertilidade. Este tipo de quadro que mostra uma visão íntima da vida cotidiana era muito apreciado pela aristocracia da época.

Ficha técnica
Ano: c.1571

Técnica: óleo em carvalho
Dimensões: 92 x 81 cm
Localização: Galeria Nacional de Art, Washington, EUA

Fontes de pesquisa:
Enciclopédia dos Museus/ Mirador
Renascimento/ Editora Taschen
https://www.nga.gov/content/ngaweb/Collection/art-object-page.46112.html

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BRASIL – DESEMPREGO E DOENÇAS

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Autoria do Dr. Telmo Diniz

Pela primeira vez no Brasil, o número de desempregados chega à cifra de impressionantes 14 milhões de pessoas procurando por trabalho (sem falar nos que não foram contabilizados). Este quadro alarmante é fruto de uma política pública desastrada, corrupta e incompetente. Os brasileiros já sentem os efeitos colaterais no bolso e na saúde mental.

Um estudo publicado nos Estados Unidos analisou o impacto que a falta de perspectiva gerada pelo desemprego causa na saúde da população. O estudo teve como foco a população masculina americana, que cresceu ou estava no auge da idade produtiva, quando ocorreu a recessão global de 2007/2008. Estudiosos e economistas da Universidade de Princeton concluíram que um percentual expressivo dos desempregados apresentava dores crônicas – sem um motivo aparente – e praticavam um consumo abusivo de analgésicos.

Atualmente no Brasil, estamos com uma taxa de desemprego recorde, de acordo com a Pnad contínua. O Brasil vive a sua pior crise no mercado de trabalho. São milhões de trabalhadores sem emprego com um tempo médio de até oito meses para recolocação. Além dos efeitos evidentes nos orçamentos domésticos, o desemprego tem graves reflexos na saúde das pessoas. Os principais riscos são as doenças mentais que, sem o tratamento adequado, podem levar até mesmo ao suicídio.

O impacto do desemprego na saúde vai variar de pessoa a pessoa. O estresse físico e emocional é maior para quem tem filhos e irá enfrentar uma situação financeira mais difícil até conseguir um novo emprego. Isso pode causar sérios danos à autoestima da pessoa, que poderá ter episódios frequentes de angústia, ansiedade e chegar à depressão. Do ponto de vista físico, o desemprego pode desencadear queda de cabelos, insônia, ganho de peso, pressão alta, piora do diabetes, infarto e até câncer. Não dormir várias noites seguidas e fugir do convívio social com um isolamento característico são sinais de alerta.

Para quem está desempregado, é possível manter a saúde emocional minimamente equilibrada gastando pouco ou nada. Uma rotina simples com atividade física, exercícios de respiração regular e meditação contribuem para reduzir os efeitos nocivos da inatividade laboral. Parece fácil falar em sair para caminhar e estar sem emprego. Entretanto, se você fizer um teste verá que uma simples caminhada de meia hora irá reduzir seu estresse, melhorar sua disposição diária e lhe proporcionará forças para seguir adiante.

A terapia com um psicólogo estimula um olhar positivista, ajudando a seguir e procurar por dias melhores. Lembre-se que tudo passa, até as coisas ruins. Pense também no lado positivo do processo, que enquanto procura um emprego terá mais tempo para uma caminhada matinal, fazer seu café da manhã com mais calma junto da família e, quem sabe, ajudar o próximo. É isso mesmo! Está provado que o voluntariado retorna em dobro para quem pratica o ato. Certa vez, um ministro de Estado falou: “eu não sou ministro, estou ministro”. De igual forma, você não é um desempregado e, sim, está, momentaneamente, sem emprego

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