Autoria de Lu Dias Carvalho
E a minha alma alegra-se com seu sorriso, um sorriso amplo e humano, como o aplauso de uma multidão. (Fernando Pessoa)
As pessoas sorriem por muitas razões, das quais apenas algumas têm a ver com o que expressa a emoção positiva. As pessoas sorriem para estabelecer conexões com os outros, pedir desculpas, passar por situações complicadas, para impressionar, seduzir e apaziguar. Elas sorriem para mascarar sentimentos negativos, sorriem quando envergonhadas, também para restaurar relações harmoniosas. (Marianne LaFrance)
É sabido que certas culturas são mais contidas em suas emoções, enquanto outras são bem mais expressivas – como a nossa, por exemplo. Contudo, não existe um só povo que não exprima seus sentimentos usando a mesma expressão facial.
O escritor e biofísico Stefen Klein explica que “A cultura influencia muito pouco o diapasão das emoções humanas. É verdade que existem povos mais expressivos e outros mais reservados quanto à manifestação das emoções, mas todos exteriorizam alegria, aflição, medo e raiva de formas muito parecidas”. E complementa: “uma vez que a mímica facial é a mesma para todos os povos, as emoções elementares e o modo como nós as manifestamos devem ser inatos”, e não aprendidos como supunham alguns. Cita o fato de os cegos – ainda que sejam de nascença – usarem as mesmas expressões faciais ao sorrirem, por exemplo. Todavia, este é ainda um estudo em andamento.
Paul Ekman – pesquisador reconhecido por seus trabalhos no campo das emoções – descobriu que há 19 maneiras diferentes de sorrir, embora 18 delas – segundo ele – não sejam autênticas, mas se encontram inseridas no cotidiano das pessoas, servindo-lhes de disfarce para encobrir os sentimentos, quando não se quer mostrá-los por completo – sendo essenciais à convivência humana.
Quem não conhece o sorriso de constrangimento, através do qual indicamos que nos sentimos embaraçados diante de alguma piada que não nos agradou? E aquele sorriso falso que indica que estamos participando de algo contra a nossa vontade? Há também o chamado “sorriso amarelo” indicativo de medo. O sorriso forçado, como aquele de quando se tira uma foto em grupo, sob a exigência de que todos sorriam. Há o sorriso polido ou de cortesia e aquele que denota ironia. Existe o frustrado por não termos atingido um propósito e o malvado que parece dizer: “Aguarde-me, sua batata está assando!”. E outros tantos.
Se 18 dos 19 tipos de sorriso não são genuínos, concluímos, então, que existe apenas um verdadeiro. Mas onde se encontra o diferencial? – indagará leitor. O “unzinho” restante é o que transmite alegria – sentimento de contentamento, satisfação e júbilo –, enquanto os outros não passam de um arremedo de demonstração de tal sentimento.
Trata-se daquele sorriso grande, sem amarras ou elegância, moldando todo o rosto e isso quando também não balança o corpo. Ele levanta os dois cantos da boca, faz com que as pálpebras se comprimam, desenha um monte de rugas em torno do canto dos olhos (dizem até que é o responsável pelos “pés de galinha”), elevando ligeiramente as partes superiores das maçãs do rosto. E como se toda esta ginástica fosse pouca, esse sorriso gostoso ainda contrai os músculos orbiculares das pálpebras. Tem até um nome: sorriso de Duchenne – numa homenagem ao fisiologista francês que em 1862 realizou um estudo pioneiro do músculo orbicular do olho e chamava esse movimento de “Doces movimentos de emoções da alma”.
Agora que temos o conhecimento sobre o único sorriso verdadeiramente prazenteiro, nenhum sorrisinho amarelo irá mais nos enganar. Será mesmo? Mentira! Cerca de 10% das pessoas são capazes de reproduzir intencionalmente o sorriso de Duchenne, sem treinamento algum, transformando-o, assim, num sorriso falso. Nós outros, no intuito de imitá-lo, podemos recorrer a truques, como buscar a lembrança de uma piada engraçada ou a de um fato que nos fez rir muito.
Outra coisa, as mulheres sorriem mais do que os homens e conseguem fingir melhor um sorriso verdadeiro. De olho nelas! Agora que já nos encontramos exímios na avaliação de sorrisos, podemos rir à vontade dos falsos sorrisos dos políticos e dos atores ruins que não aprenderam a representar. Que tal correr até o espelho para ver se você se encontra no grupo dos 10% capazes de imitar o sorriso de Duchenne? Mais uma coisinha: você está me devendo um sorriso bem gostoso. Vamos lá!
Fonte de pesquisa
A Fórmula da Felicidade/ Stefan Klein/ Editora Sextante
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