Autoria de Lu Dias Carvalho
Não restam dúvidas de que precisamos repensar nossa passagem por este planeta, principalmente em relação ao consumismo doentio de que temos nos tornado vítimas. Não mais buscamos o necessário, aquilo que nos é útil, pois tal concepção há muito perdeu o sentido. A maioria de nós, hoje em dia, não passa de colecionadores disso e daquilo, entulhando nosso espaço (e nossa mente) com coisas desnecessárias.
Seria a voragem consumista de nossos tempos que desvaira as pessoas uma consequência do vazio que permeia a vida do homem moderno? Ou o “ter” desenfreado vem jogando uma pá de cal no “ser” humilhado e cada vez mais escasso? Por que passamos a ser medidos pelo que acumulamos? Por que dizer que “fulano é bem de vida” não se refere à sua capacidade de viver bem consigo e com o mundo, mas apenas aos bens materiais acumulados ao longo de sua vida? Para que ajuntamos tanto, como se ainda tivéssemos a mesma visão dos povos do Egito Antigo que pensavam levar suas riquezas para servi-los no “outro mundo”, após a morte?
O cenário é tão desolador que bolsas de griffe, dentre outros produtos desnecessários ao nosso dia a dia e ao nosso crescimento pessoal, estão sendo alugadas por um final de semana por preços exorbitantes. E há quem pague, a fim de repassar a ideia de “bem de vida”. Nas lojas famosas algumas delas chegam a custar o serviço de meio ano de um trabalhador que ganha salário mínimo. Que subversão de valores! Quanta insanidade consumista e necessidade de “status”! Quanta vazio existencial! Quanta sujeição ao consumismo! Quanta falta de autoestima! Quanto dano à nossa Terra!
Sob o ponto de vista de nosso planeta, “jogar fora” não passa de uma figura de linguagem. Não existe “lá fora”. Tudo fica por aqui mesmo, dentro de nossa casa planetária, ainda que jogado da termosfera. O importante neste nosso planetinha – que já agrega mais de oito bilhões de pessoas – é viver com equilíbrio. Mais do que nunca se faz necessária a reutilização das coisas.
As pessoas conscientes sabem que “menos é mais” (ver minimalismo aqui no site) e que o acúmulo é na nossa vida um fardo desnecessário. A palavra-chave é “reciclar”, portanto, mãos à obra! Busquem os bazares ou brechós (prática adotada nos mais importantes centros do mundo, como Paris, Londres e Nova Yorque). Tanto o planeta Terra quanto o nosso bolso agradecem. Vamos doar e comprar principalmente nos bazares sem fins lucrativos, cuja renda vai para as obras assistenciais.*
Caro leitor, apresento-lhe parte de um texto de Luís Pellegrini, grande pensador de nossos tempos, que trata da “loucura consumista” que nos engole e rouba as riquezas da mãe Natureza.
Uma das pragas que atormentam nossas vidas de cidadãos da moderna sociedade da produtividade e do consumismo é justamente a produtividade e o consumismo, quando insustentáveis. Por insustentável queremos dizer excessivo; demasiado; para além do razoável, necessário e suficiente; sem consciência de limites.
As primeiras grandes vítimas dessa mentalidade que tomou forma desde o advento da Era Industrial, nos primórdios do século 19, e cresceu depois, sem parar, de modo obsessivo e avassalador, somos nós mesmos. Por causa dela vivemos hoje uma vida de escravos, acorrentados – muitas vezes sem o perceber – a uma existência de trabalho estafante e contínuo para produzir e consumir, na maior parte dos casos, bugigangas absolutamente desnecessárias.
Condicionados por necessidades artificiais inventadas pelo Sistema, não paramos de comprar e comprar, abarrotando nossos armários e dispensas com toda uma massa de objetos e produtos supérfluos, cujo destino, depois de algum tempo guardados, será certamente o lixo. E não estamos sozinhos no desgaste provocado por esse estado de coisas. A natureza nos acompanha nessa trajetória rumo à falência provocada por um desfrute para além de qualquer possibilidade de reposição. E isso inclui a quase totalidade de bens naturais essenciais, como a água que se bebe, o ar que se respira, as florestas, o petróleo e os minérios, e tudo o mais que existe sobre a Terra. (Brasil 247)
Depois de ler tudo isto, fica apenas a indagação: Por que somos tão estúpidos, mesmo cientes das consequências para nós e para as futuras gerações?
*Bazar da Associação da Igreja da Boa Viagem
Rua Sergipe, 178, Bairro Boa Viagem, Belo Horizonte, MG
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Lu do céu! E da Terra, do mar, do Planeta todo!
Não é que somos mesmo estúpidos? Devo confessar, com certa leveza, não ser muito consumista. Não por não gostar de algo novo, mas por julgar, verdadeiramente, um exagero o ter demais. De que preciso? Um abrigo, roupas para aquecer e esconder o que é feio, ou tido como despudorado; comida que não precisa ser em toneladas, afinal, ainda não tenho o restaurante que deveria ter, e quem disse que sou ligada a tecnologias de última geração e que estragam tão rapidamente quanto foram lançadas? Fico no luxo da TV 40 polegadas, gosto de enfeites que nem sempre são lá muito baratinhos, mas que duram séculos, enfeitam minha casa mas não entopem lugares.
Sempre comentei e fui sincera que meu maior erro era o não saber desfazer-me de nada e aí entrava o entulho de que consegui, a custosas horas de olhar e olhar, despedir-e e trazer de volta, um montão de coisas, que julgava, faziam parte da minha história. Hoje, dou vivas, porque consegui, não com certo pesar, colocar tudo onde deveria: para fora de casa e servindo a outros que com certeza tiveram um bom destino. Não sou lá de ir à lojas e entupir-me de roupas. Compro, com o maior prazer, peças da Moda Mineira (aliás, Minas é o que é, não?. Roupa perfeitas, duradouras e cabem no meu orçamento. Por vezes, parceladamente, mas ainda assim, não sufocam.
Tenho medo do consumismo pelo prazer que é momentâneo. O advento da Era Industrial facilitou, ao passo que infiltrou na humanidade meio insana, a necessidade de ter, sempre, muito e mais… Onde leva essa necessidade? Mostrar que detemos um poder maior do ponto de vista financeiro ou só para desfilar inutilidades vida afora? Tô fora! Obviamente, e com consciência, comprar algo bom é ótimo, mas temos que pensar que o exagero, em qualquer das suas facetas é exagero e pronto! Se tenho um brinco de excelente qualidade, porque preciso de dez para “variar’? Preciso nada! Vou de uma bela pérola, clássica, imponente, um tanto discreta, mas bela, e o melhor, dura uma eternidade e ladrões quase não se interessam por elas… rs.
Bem colocado que extraímos da natureza em detrimento dela própria o exagero do ter, conseguir… Falta de bom senso. Tudo o que temos demais se esgota, inclusive a paciência (essa eu não tenho), mas procuro manter o bom senso, sem com isso privar-me do necessário, mas não desfilo modismos, tampouco os lindos babados do passado. Cada coisa a seu tempo, sempre e sempre…
Dá pena esse consumo que não supre carências. Da mesma forma, o passar necessidade por pão-durismo, aliás, uma doença. O pão-duro, sovina, sofre, mesmo que disfarce. Esse também, ao seu modo é um exagerado. Tivéssemos consciência de quanta inutilidade nos é ofertada diariamente, estaríamos melhores. Não acho que uma cabana e o amor sejam suficientes, mas não preciso de um palácio, trombetas e pompa para viver tranquila e segura. Basta-nos o que nos basta e gratidão é necessária, pois na pronúncia da gratidão, o universo nos devolve belezas e conquistas!
Belo texto do Luiz Pellegrini, que com seu programa Papo Cabeça ele nos joga de cara em nossas tolices!
Abraços, menina!
Miss Celi
Concordo plenamente com você. Sempre pensei que o consumismo doentio nada mais é do que falta de autoestima. A pessoa deve carregar um vazio imenso dentro de si, a ponto de comprar e comprar, como se quisesse compensá-lo. Mas sabemos que não é por aí. É preciso buscar as causas de tamanha carência. Somente assim poderá encontrar realmente o que lhe falta. Quanto ao comportamento de pão-duro, isso também é uma doença com as mesmas características de falta de autoestima, só que ao inverso… risos.
Beijos,
Lu