NÃO SEI! SÓ SEI QUE FOI ASSIM… (Parte III)

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 Autoria de Lu Dias Carvalho

   O infeliz marido optou por apelar para as rezas, sejam elas quais fossem. Por sua casa passavam benzedeiros, mata-sanos, curandeiros, pajés, abençoadeiros, saludadores e quaisquer outros nomes que se queira dar aos charlatões. Mal um saía, outro entrava. O telhado da humilde casa já se encontrava atulhado de mil e uma raízes. Não havia mais onde botar as folhas de ervas que serviam para isso ou para aquilo. Garrafadas milagrosas e velas de sete dias espalhavam-se por todos os lados.

   Na cabeceira da cama do casal havia incontáveis patuás, com inúmeras finalidades e, debaixo, descansavam mil e um amuletos, não importando de que cultura fossem: ferradura, figa, olho grego, elefante com tromba para cima, cruz, dente de alho, sapo, pé de coelho, estrela de Davi, espelho de bolsa e outras bugigangas e quinquilharias desconhecidas dos leigos. O que importava era trazer Celestina para a vida dantes.

    Pobre homem, nada, absolutamente nada, ajudava-o a molhar o seu ressentido e choroso pavio. Já totalmente desenganado, resolveu vigiar sua mulher no serviço feito Bosque do Silêncio. Lá pelas tantas, quando a pálida lua reduziu ainda mais a sua languidez sobre o local, ele a viu se estrebuchar no chão. Em meio a gemidos de luxúria, ela se mergulhava no mundo voraz da voluptuosidade. Sem que ele soubesse como, era jogada de um lado para o outro, num estado de profundo gozo.

   O esposo chifrado, por mais que tentasse, não conseguia descobrir a identidade de seu rival, não lhe era possível avistá-lo. A frouxa luz que vinha da lua parecia coligada com os amantes. Suportaria tudo de Celestina, menos uma traição tão escancarada e desenvergonhada jamais. Logo o seu nome estaria falado em toda a freguesia.

     O marido voltou destroçado para casa. Ali estava a causa da frigidez de sua mulher, antes tão obcecada pelos carinhos da vida a dois. Queria pegá-la, junto ao seu amante, no flagrante. Sabia que sozinho não daria conta, pois o sujeito parecia muito forçudo, pois levantava Celestina nos braços como se fosse uma pena, jogando-a de um lado para outro, colocando-a nas mais inusitadas posições.

     O traído lembrou-se, então, de seu substituto na lavoura – aquele mesmo que fora amante de Celestina. Contou-lhe todo o sucedido e pediu-lhe ajuda para pegá-la no flagra. O moço, ainda ressentido com o abandono por parte da antiga amante, julgando que ela se encontrava nos braços de outro, viu no convite um jeito de vingar-se da famigerada usurpadora de corações. Ela não perderia por esperar.

     Mal Celestina partiu para seu serviço no Bosque do Silêncio, marido e antigo amante puseram-se a espreitá-la caminho a fora, munidos de grossas varas de marmelo. Tinham como intuito dar uma boa surra nos dois devassos, a fim de criarem vergonha na cara. Escondidos, os dois viram o novo dia engatinhar e o sol nascer, sem que algo acontecesse. A mulher estava ali quietinha, num fechar e abrir de olhos.

   A dupla pôs-se de volta, cada um para a sua casa, de modo a não despertar a curiosidade de Celestina, que nesse dia chegou em casa um pouquinho mais animada, mas nada que fosse capaz entusiasmá-la na alcova. Literalmente continuava boa de cama, ou seja, dormia profundamente, não querendo ser perturbada por nem mesmo um beijo. Como uma estátua ela se deitou e como tal se levantou.

Obs.: Se corajoso fores, não percas o episódio IV.

 

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NÃO SEI! SÓ SEI QUE FOI ASSIM… (Parte II)

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Autoria de Lu Dias Carvalho

   Os encontros entre Celestina e seu amante aconteciam ao cair do sol, dia sim e outro também. Mas, como o mundo é muito cruel com os amancebados, o pai do traído recuperou-se antes do tempo previsto, voltando o filho para casa bem antes do esperado. Em apuros, a esposa, irrequieta, tratou de fechar portas e janelas, sob o argumento de que queria ficar na maior intimidade com o seu maridinho, sem que nem mesmo o miado de seu gato ou os ganidos de seu cão os incomodasse.

  Que dureza de vida! No horário de sempre, o amante bateu na porta cerca de três vezes. Arrepios e medo. Celestina disse ao marido que poderia ser uma alma das trevas que escapara do Bosque do Silêncio, sendo preciso agir com cautela e sabedoria, pois uma alma penada jamais poderia ser enxotada, sob risco de revoltar-se e acabar com a vida do ofensor. Pediu-lhe que deixasse por sua conta o contato com o ser do além. Ela, então, recitou em voz alta:

    – Alma sarapantosa que vieste me sarapantar, volta com o teu pavio seco, e num outro dia venhas molhar. Aqui em casa não tem óleo, água ou qualquer outra coisa para te dar. Sigas em paz!

    A suposta alma sarapantosa foi-se embora, sabedora de que o mar ali não estava para peixes, enquanto o marido pôs-se a louvar a coragem de sua destemida mulher.

   As coisas teriam terminado por aí, se um íncubo, ao fazer uma vistoria pelas redondezas, não tivesse assistido a toda a cena. Desse dia em diante, Celestina passou a não ter mais sossego. Moradora que era do Bosque do Silêncio, a tal criatura, conhecida desde a Idade Média como sendo um demônio masculino que tinha relações sexuais com mulheres, não mais a deixou em paz, dela se apoderando como se fosse sua preciosa amante, noite após noite.

      A pobre mulher, quando em casa, não mais tinha aquela ardência amorosa de antes, exigindo a presença do corpo de seu marido. Seu assanhamento não mais habitava a cama do casal. Chegava em casa de manhã, após o serviço de porteira no Bosque do Silêncio, sempre entorpecida, maldisposta e desmilinguida.

  A única coisa que Celestina fazia ao voltar, era contar os sonhos eróticos que tivera, ao adormecer no serviço por alguns minutos. O coitado do marido, entusiasmava-se com os sonhos, mas não tardava a receber um chega para lá, sem entender necas de pitibiriba. Celestina se parecia com uma piedosa beata, alheia aos afagos amorosos do companheiro. Até o velho gato que lhe roçava as pernas causava-lhe repugnância.

       Preocupado com a falta de vitalidade da mulher, que parecia ter sido abduzida por um extraterrestre, o marido resolveu levá-la ao doutor da cidade vizinha, que disse ser coisas de hormônios em baixa, enchendo-a de pílulas. Passado o tempo de espera, conforme pedira o esculápio, o pobre homem não viu mudança alguma na postura de sua outrora assanhada Celestina. Os lençóis continuavam sem amassos. Tal como se deitavam, assim amanheciam, como se ambos fossem dois fervorosos penitentes.  

   Os sintomas da mulher continuavam os mesmos, ou melhor, sua energia vital parecia estar sendo drenada para o Bosque do Silêncio, pois se recusava a faltar um só dia no trabalho. Podia estar mazelenta do jeito que fosse, mas, mesmo se arrastando, rumava feliz para o seu rotineiro serviço. O que havia por lá de tão atrativo?

Obs.: Se corajoso fores, não percas o episódio III.

 

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NÃO SEI! SÓ SEI QUE FOI ASSIM! (Parte I)

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Autoria de Lu Dias Carvalho

   O Bosque do Silêncio passava por um período de amedrontadora efervescência, após o último conciliábulo de bruxos e bruxas, realizado num sábado à meia-noite, cerca de duas semanas ao que ora é aqui contado. Nem mesmo o pintor espanhol, Francisco de Goya, em seus inimagináveis delírios, seria capaz de transferir às suas telas, durante o período em que suas pinturas retratavam feitiços e bruxarias, os horrores que ali tiveram vez. Não se falava noutra coisa no lugar senão nas diabruras ali acontecidas.

     Os visitantes em derredor daquele maldito bosque, amedrontados com as sandices ali perpetradas, há muito venderam suas terras, hoje tomadas pela erva daninha e por plantas espinhosas. Não haviam palavras, contidas na mente humana, em qualquer que fosse o idioma, capazes de descrever a aversão, a repulsa e o ódio que nutriam pelos acontecimentos advindos daquele local.

    A verdade, caros leitores, é que não passava um dia sequer sem que gritos, urros e gemidos chegassem aos ouvidos dos antigos moradores. Não houve benzeduras, pajelanças ou exorcismos que dessem jeito naquela escabrosidade que subia aos céus e descia à terra, espalhando-se como esconjuro e pestilência. Até mesmo os bichos dali se escafederam, não se sabe para onde. Sumiram no mundo!

   Para o bem da verdade, nem todos abandonaram aquelas cercanias. Um casal negou-se a deixar suas terras, vizinhas ao sinistro bosque. Enquanto o homem labutava na lavoura, a mulher trabalhava à noite na portaria do Bosque do Silêncio, não dando a mínima importância ao que ali acontecia. Dizia ser filha de cabra macho e não seria qualquer disse me disse que a amedrontaria, expulsando-a de suas terras.

    Alardeava a dita mulher que a laúza e a danação que dali se ouvia não passavam da voz do vento, ecoando em meio aos arbustos, árvores, pedras e grotas presentes no sombrio lugar. É fato que ela nada temia, pois esses seres escalafobéticos somente ali chegavam pouco antes da meia-noite, cobertos da cabeça aos pés por uma capa e capuz escuros, sendo de pouco falar. Deles só ouvia a senha para a abertura do rangente portão de ferro. Serviço que ela fazia com  o maior prazer.

    De uma feita, o marido de Celestina – pois este era o nome da mulher – viajou para visitar o pai doente. Ficaria por lá cerca de quatro a cinco semanas. Tempo suficiente para que sua esposa, muito chegada a um embeleco amoroso, necessitasse urgentemente de alguém que lhe oferecesse um bom chamego. Sua quentura, conhecida em toda a redondeza, era capaz de acender até fogueira.

   O marido, sabedor do queimor que saía dos quartos de Celestina, deixou-lhe um sem conta de ervas e raízes para banhos e chás, a fim de acalmar o fogaréu que dela tomaria conta durante a sua ausência. E assim, viajou o moço tranquilamente, certo de que todas as providências haviam sido tomadas em relação ao abrasamento da esposa.

  Não se sabe se foi pelo fato de a mulher não ter tomado os chás, ou por esses não terem produzido efeito algum, o fato é que ela caiu de amores pelo substituto do marido na lavoura, um rapaz musculoso e com a testosterona a sair-lhe pelos poros. Assim, a fome e a vontade de comer uniram-se numa comilança amorosa de dar arrepios até mesmo nos habitantes do Bosque do Silêncio.

Obs: Se  corajoso fores, não perca o episódio II.

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COMBATENDO A ANGÚSTIA

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Autoria do Dr. Telmo Diniz can,123456

Chamamos de angústia uma forte sensação psicológica, caracterizada por “abafamento”, insegurança, humor irritadiço, opressão no peito e “fôlego curto”. A angústia é também uma emoção que precede algo, como um acontecimento, uma ocasião ou uma circunstância. A pessoa sente fisicamente que algo ruim ou inesperado poderá ocorrer. Pode, também, a angústia chegar através de lembranças traumáticas que ocorreram no passado. Os sintomas da angústia podem simbolizar situações reais ou imaginárias.

Subitamente, e sem aviso prévio, vem aquele aperto no peito e uma “falta de ar”. Surge em qualquer momento, hora ou lugar, como se uma grande mão apertasse o peito. Em seguida, vem uma sensação bem esquisita de opressão. A pessoa quer se livrar dela, mas não consegue. O coração acelera. Num determinado momento, ela está bem e noutra a apreensão surge sem pedir licença. Em outros, a angústia está associada a alguma preocupação ou sensação de insegurança. Se você vive um momento confuso ou difícil, ela pode se instalar, gerando medos e uma terrível insegurança. Em casos mais graves a pessoa pode sentir-se perseguida, com típicos quadros de paranoia.

Partindo para a filosofia da angústia, o filósofo Arthur Schopenhauer tinha uma visão extremamente pessimista da vida, onde “viver é necessariamente sofrer”. Para ele, a própria vontade de ter algo é um mal, pois isso gera angústia e dor. Nietzsche, outro filósofo, concluiu que “é preciso ter consciência de que a vida é, sim, uma tragédia, para que possamos desviar um instante os olhos da nossa própria indigência, desse nosso horizonte limitado, colocando mais alegria em nossas vidas”. Já Jean-Paul Sartre, filósofo francês, defendeu que a angústia surge no exato momento em que o homem percebe a sua condenação irrevogável à liberdade, isto é, o homem está “condenado a ser livre”. Ao perceber tal condenação, ele se sente angustiado em saber que é senhor de seu destino.

Filosofias à parte, para a ciência, mais especificamente para a psiquiatria, a angústia, se não tratada, pode evoluir para a depressão. As pessoas que apresentam quadro de angústia e não têm acompanhamento profissional desenvolvem outros distúrbios emocionais, como cansaço físico e mental, comportamento inadequado e baixa autoestima.

Ficamos angustiados por opção, por força de nossas próprias escolhas, por causa de coisas e pessoas. Assumimos compromissos financeiros que não podemos saldar, adquirimos bens pelos quais não podemos pagar. Tudo em busca de status. Compramos o que não precisamos, com o dinheiro que não temos, para mostrarmos a pessoa que não somos. O ato da compra é sublime e fugaz. A obrigação decorrente é amarga e duradoura. É angustiante.

O tratamento deve ser feito com as medicações psicotrópicas, com tranquilizantes e/ou antidepressivos. Elas ajudam a pessoa a superar os sintomas que acompanham a angústia. Porém, a psicoterapia cognitivo-comportamental é de suma importância para a prevenção. Para as pessoas com religiosidade, sugiro que voltem a alimentar o espírito, com prática de atividades físicas, mais lazer e, principalmente, voltem a respirar fundo e ter fé em si, para ultrapassar os limites e superar seus medos e receios.

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ANATOMIA DA INFELICIDADE

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Autoria de Lu Dias Carvalho

O ânimo para viver depende tanto da realidade de uma situação quanto da avaliação que fazemos dela. (Stefan Klein)

 Não resta dúvida de que os acontecimentos externos interferem em nosso ânimo e quanto piores forem, maior é a sua intervenção em nossa vida. Contudo, para que não nos transformemos em sacos de pancada de tais ocorrências, temos que pensar em nós mesmos, desenvolvendo uma maneira de proteger a nossa saúde física e mental ao avaliá-los, o que não significa cruzar os braços, tornando-se omissos. Nada mais racional do que a oração de São Francisco para guiar a nossa conduta de modo a tornar nossa existência mais leve:

“Senhor, dai-me força para mudar o que pode ser mudado, resignação para aceitar o que não pode ser mudado e sabedoria para distinguir uma coisa da outra”.

Muitas pessoas, ao se verem vitimadas pelos acontecimentos nefastos, entregam logo os pontos, dizendo para si mesmas que nada que façam irá adiantar. Achar que “não há nada a fazer” é o lema dos deprimidos e derrotados que preferem jogar a toalha. Quando isso acontece, mente e corpo apresentam-se totalmente enfraquecidos, havendo uma redução do impulso vital. Pesquisas científicas através de exames de tomografia já são capazes de revelar com nitidez o quanto a atividade do hemisfério esquerdo do cérebro diminui sua atividade quando em tal estado.

Segundo o biofísico Stefan Klein, “Como a área do hemisfério esquerdo é responsável tanto pela motivação e pelo prazer quanto pelas emoções negativas, a melancolia acaba prejudicando o bem-estar mental por esses dois caminhos. A pessoa necessita de motivação, mas ao mesmo tempo apresenta grande dificuldade para vencer a tristeza, a vergonha e também o medo do futuro. Por um lado, a depressão é uma decorrência dos sentimentos negativos e por outro  é uma consequência da ausência de prazer”.

Os neurologistas londrinos, Chris Frith e Raymond Dolan, descobriram em suas pesquisas que basta muito pouco para que o desânimo apodere-se até mesmo de pessoas consideradas psicologicamente saudáveis. Eles usaram frases negativas (A Vida não Vale a Pena, Nada Faz Sentido, O Futuro é Péssimo…), acompanhadas de uma música fúnebre em suas pesquisas e logo viram os voluntários demonstrarem sensações de desânimo, desinteresse e inutilidade. O cérebro deles mostrava o mesmo padrão observado em pessoas sob tratamento de transtornos depressivos. Contudo, não levou muito tempo para que recuperassem o equilíbrio. Disso, eles chegaram à conclusão de que “o abatimento comum é efêmero — e é isso que o diferencia da depressão clínica que se apresenta como um túnel sem saída —, mas o efeito emocional é o mesmo nos dois casos”.

É fato que acontecimentos negativos alteram o nosso estado de ânimo, assim como o nosso humor influencia a maneira como sentimos e percebemos qualquer situação na qual nos encontramos. Para mudar essa relação, precisamos aprender a avaliar os acontecimentos, impedindo que esses nos derrubem. A escritora Eleonor H. Porter em seu livro “Pollyana”, publicado em 1913, mostra que em qualquer que seja o acontecimento que nos machuca no agora, sempre existirá uma janelinha aberta para a positividade.

O biofísico Stefan Klein explica que “A área frontal do cérebro exerce uma forte influência sobre os nossos estados de ânimo, pois funciona ao mesmo tempo como memória de trabalho, armazenando temporariamente as informações que voltaremos a necessitar em breve. É por esse motivo que a disposição de espírito está profundamente relacionada ao modo como lidamos com o que acabamos de ver, ler e ouvir. Quando começamos a ver o mundo com tristeza, o cérebro procura manter o estado de ânimo negativo, escolhendo os estímulos que combinem com esse quadro”.

Está explicado, portanto, o porquê de os pensamentos ruins, as experiências desprezíveis e as lembranças dolorosas terem prioridade de acesso na nossa consciência. Nós somos os responsáveis por cultivá-las, regando-as todos os dias com a nossa negatividade. Portanto, cabe somente a nós lidarmos melhor com os acontecimentos, quaisquer que sejam eles.

Nota: ilustração – Campo de Trigo com Corvos, obra de Vincent van Gogh

Fonte de pesquisa:
A Fórmula da Felicidade – Stefan Klein – Editora Sextante

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A SOLIDÃO MACHUCA

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Autoria de Lu Dias Carvalho

Estudos clínicos e neurobiológicos atestam que a solidão gera um estresse sombrio para o corpo e a mente. As pessoas que vivem isoladas mostram-se tristes e doentias. Isto porque a capacidade de compreensão e a sensibilidade do solitário acabam se tornando insensibilizadas pelos efeitos do hormônio do estresse, o que compromete sua saúde, ao enfraquecer seu sistema biológico.

É interessante notar como certas culturas enaltecem a solidão (a alemã, por exemplo) enquanto outras abominam-na (a exemplo da indiana). Ao contrário dos asiáticos, os europeus não conseguem entender o porquê de eles sentirem tanta necessidade de contato social. De acordo com o Professor Martin Seligman, o pai da psicologia positiva, “O individualismo ocidental é o responsável pela disseminação quase epidêmica da depressão entre nós”.

O que dizer, então, do mundialmente conhecido provérbio que reza “Antes só do que mal acompanhado”? Ele contém uma grande verdade, não se opondo à necessidade de contato social, ao contrário, apenas reafirma-a. O que ele quer dizer é que o convívio social é tão importante e exerce tamanha influência nas pessoas que uma companhia ruim pode causar um grande dano, tanto ao equilíbrio psíquico como ao corpo.

Os casais que vivem mal, por exemplo, têm o sistema imunológico afetado. E quanto maior for a hostilidade entre eles, mais desregulado torna-se tal sistema “responsável por combater as invasões de germe no organismo”, uma vez que o estresse enfraquece as defesas imunológicas, segundo pesquisa realizada pela psiquiatra Janice Kielcot-Glaser e seu marido, o imunologista Robert Glaser. Portanto, quando não se tem simpatia pela pessoa com quem se convive, e não há uma maneira para reverter a situação, o melhor mesmo é colocar o provérbio acima em ação. Forçar um convívio estressante resultará em sérios danos à saúde.

Pesquisas mostram que as pessoas solitárias tendem a perder a autoestima. Como ser social, que gosta de compartilhar suas alegrias e tristezas, o homem necessita de contato com os de sua espécie, tanto é que as substâncias da felicidade (já estudadas em outro texto) também estimulam o contato social. Por que somos mais sociáveis, quando estamos de bom humor? A resposta é muito simples. Quando está bem-humorada, a pessoa sente-se mais confiante para travar relações. Seus temores de ser rejeitada ou julgada desaparecem.

O neurocientista e psicobiólogo Jaak Panksepp, responsável por cunhar o termo “neurociência afetiva” (nome do campo que estuda os mecanismos neurais da emoção), relatou em seus estudos que “a busca de contato com outras pessoas deve-se, sobretudo, ao medo que temos da solidão”. Por sua vez Stefan Klein, biofísico alemão, afirma que “quanto mais próximos estamos uns dos outros, mais doamos de nós mesmos; e quanto mais damos e recebemos, mais unidos nós nos sentimos”.

Nota: ilustração – Melancolia, obra de Edvard Munch

Fonte de pesquisa:
A Fórmula da Felicidade – Stefan Klein – Editora Sextante

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