Tarsila – O MODELO

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Autoria de Lu Dias Carvalho

A artista brasileira Tarsila do Amaral (1886-1973) estudou num colégio interno na Espanha, mas somente aos 30 anos de idade é que teve início a sua formação artística e, mesmo assim, no Brasil, primeiramente na escultura e depois na pintura. Foi estudar em Paris, como aluna da Académie Julia. Apenas depois de Émile Renard foi que ela agregou mais liberdade à sua pintura.

A composição intitulada O Modelo é uma obra da artista. Situa-se entre a ficção e a abstração. Embora tenha tido um contato breve com o artista cubista Fernand Léger, que lhe foi apresentado pelo poeta Blaise Cendrars, isso já foi suficiente para marcar o trabalho de Tarsila.  A obra em estudo foi criada nessa época.

O Modelo é uma das composições da artista que se apresenta mais abstrata e geometrizada. Nela está presente a chamada “técnica lisa”, aprendida com Léger, em que o fundo e a figura são geometrizados, dando ênfase à superfície dimensional.

A pintura apresenta uma modelo, cujo corpo é apenas sugerido, sendo extremamente simplificado e modelado. Uma esfera situa-se à sua frente, enquanto ao fundo observa-se um grupo de linhas ortogonais (formam ângulos retos) cruzado por diagonais e formas planas opostas. Observa-se que tudo é equilibrado com esmero. O cabelo de corte chanel da modelo é o seu elemento mais indicativo.

Ficha técnica
Ano: 1923
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 55 x 46 cm
Localização: coleção particular

Fontes de pesquisa
Tarsila do Amaral/ Folha Grandes Pintores
Tarsila, sua obra e seu tempo/ Aracy. A. Amaral

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CARL SAGAN – A COISA MAIS PRECIOSA (I)

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Autoria de Lu Dias Carvalho

Não deixem nada ao acaso. Não percam nenhum detalhe. Combinem as observações contraditórias. Não tenham pressa. (Hipócrates de Cós)

Toda a nossa ciência, comparada com a realidade, é primitiva e infantil – e, no entanto, é a coisa mais preciosa que temos (Albert Einstein).

Carl Edward Sagan (1934-1996)  foi um dos mais importantes nomes da Ciência do século XX. Além de ter sido um notável cientista, era também professor, escritor, astrônomo e biólogo. Tinha, portanto, um grande conhecimento sobre a vida. Marcou presença no desenvolvimento de programas espaciais para a Nasa. Publicou mais de 20 livros de ciência e ficção científica, além de 600 publicações sobre os mais diversos assuntos. Em seu mais famoso livro “O Mundo Assombrado dos Demônios”, o cientista norte-americano Carl Sagan aborda questões importantíssimas sobre o desconhecimento da Ciência em todo o mundo, o que propicia um campo fértil para a pseudociência e, em consequência, aumenta a colheita de superstições, enganadores charlatães e fakenews. Só para se ter uma ideia dessa realidade perversa, ele cita que 95% dos norte-americanos são “cientificamente analfabetos”.

Carl Sagan levanta os males que esse desconhecimento causa: ignorância sobre o aquecimento global, a poluição do ar, o lixo tóxico e radioativo, a chuva ácida, a erosão da camada superior do solo, o desflorestamento tropical, o crescimento exponencial da população, entre outros. O cientista afirma que a maioria da humanidade prefere ver tudo como divino, ao invés de reconhecer a sua ignorância, pois é muito mais fácil passar toda a responsabilidade para um “deus das lacunas” em vez de buscar respostas geradas pela Ciência. Lembra que o filósofo grego Hipócrates de Cós – o pai da medicina – que viveu nos séculos IV e V a.C., foi o responsável por introduzir elementos do método científico no diagnóstico das doenças, recomendando a observação cuidadosa e meticulosa: “Não deixem nada ao acaso. Não percam nenhum detalhe. Combinem as observações contraditórias. Não tenham pressa”.

Afirma Sagan que a ciência e a tecnologia também têm sido responsáveis por coisas ruins como as armas nucleares, a produção da talidomida, o agente laranja, os gases que atacam o sistema nervoso, a poluição do ar e da água, as extinções das espécies, etc. Contudo, afirma ele: “As vidas salvas pelos progressos na medicina e na agricultura são muito mais numerosas que as perdidas em todas as guerras”. Ou seja, diz que, apesar das desgraças criadas pela Ciência, os ganhos que ela trouxe para a humanidade são muito maiores, basta ver a expectativa de vida que vem se ampliando a cada decênio.

Como demonstrado por Sagan, a Ciência é uma espada que traz consigo dois gumes e exige que cientistas e governos assumam responsabilidade em relação à vida humana e à vida do planeta como um todo. Eles têm o dever de estar atentos às consequências de longo prazo da tecnologia, “evitando os apelos fáceis do nacionalismo e do chauvinismo”, tão comuns aos dias de hoje, apesar de todo o progresso científico.

Fonte de pesquisa

O mundo assombrado pelos demônios/ Companhia de Bolso

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Tarsila – A FAMÍLIA

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Autoria de Lu Dias Carvalho

A artista brasileira Tarsila do Amaral (1886-1973) gostava de retratar temas populares e religiosos ligados ao seu país. Na composição circular intitulada A Família ela nos apresenta uma família numerosa.  Doze indivíduos, incluindo um bebê que mama tranquilamente, fazem parte do grupo. À época no Brasil, as famílias com muitos membros eram bem comuns, ao contrário dos dias atuais, quando a criação de filhos exige muito tempo e gastos materiais. Dois animaizinhos também fazem parte do retrato: um gato que mira o observador e um cão voltado para a esquerda da tela.

Os personagens encontram-se sentados, excetuando uma menina que traz uma boneca preta de pano. Todas as figuras humanas encaram o observador, menos a mãe que dá o peito a seu bebê, o próprio bebê e um garotinho sem camisa à direita, na parte inferior. A mãe que alimenta encontra-se de perfil, dando vida a uma nova geração e, diferentemente dos demais penteados, traz um grande coque no alto da cabeça. A presença de animais, a boneca e o cacho de bananas são indicativos da vida que as crianças levam dentro da família.

O homem de amarelo à esquerda é o pai. Ele segura o que parece ser uma enxada, o que leva a crer que aquela família seja rural. Traz também uma expressão cansada. A penúltima mulher à direita pita um cachimbo de cabo muito comprido. O garoto gorducho, que se encontra no centro da composição, segura uma penca de bananas. Acima dele, também centralizada, a matriarca ampara o rosto com a mão. Os membros da família são bem parecidos, trazendo as mulheres os cabelos partidos.

A tela é coberta pelo branco, o azul, o rosa, o amarelo, o verde e pontos em preto nela espalhados. O fundo azul mistura-se com o verde do chão.

Ficha técnica
Ano: 1925
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 79 x 101,5 cm
Localização: Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofia, Madri, Espanha

Fontes de pesquisa
Tarsila do Amaral/ Folha Grandes Pintores
Tarsila, sua obra e seu tempo/ Aracy. A. Amaral

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BIPOLARIDADE X BODERLINE

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Autoria de Melissa Silva

Sou sozinha, tornei-me antissocial em razão dos problemas que carrego. Procurei no Google sobre “marido bipolar” e encontrei este site. Eu sou borderline e meu marido é bipolar. Os meus pensamentos, ao escrever, fogem um pouco e talvez esteja meio desconexo o texto, espero que entendam.

No início do namoro foi tudo muito impulsivo e apaixonante. Nenhum dos dois nada sabia sobre esse amor tóxico. Seu pai morava em Londres, achou uma oportunidade de emprego boa para nós e fomos para Camden. Tudo era lindo até a primeira briga, quando ele quebrou alguns móveis. Relevei. Depois teve um devaneio. Já que trabalhamos com internet, e nada impede o local físico de trabalho, fomos para Liberec. Maravilha! Foi lindo. Foi horrível também. Pouco antes da pandemia explodir, voltamos para o Brasil.

Em 2010 fui a um psiquiatra. O tratamento à base de clonazepam durou um bom tempo. Respondia bem, aí meu marido achou melhor diminuir a dose e parar. Em 2015 a depressão chegou e novamente fui a outro psiquiatra, desta vez diagnosticada com Transtorno Borderline devido a outros sintomas e histórico. Novo tratamento, tudo à risca e anotado em um bloco de papel os horários do medicamento. Conseguia executar as tarefas domésticas e ainda trabalhar com ânimo na empresa. Tudo correndo perfeitamente. Mas nada dura muito. Os psicotrópicos me maltratam, amortecem o corpo e dão alucinações.

Meu marido acha melhor parar com o tratamento. Diz que passeios, sol, foco e carinho são a cura. Desisti. Mas permaneço centrada e atualmente as crises são poucas, mas quando chegam são severas. Eu tentei de todas as formas voltar ao psiquiatra e fazer o tratamento até me estabilizar. Ele me bloqueia, dizendo que eu não tenho nada e médicos são comerciantes. Minha família acha que ele cuida de mim e “tá tudo certo”, pois sempre fui assim, segundo ela. Todas as vezes em que eu tento retornar ao tratamento, esse funciona por meses e logo após tudo vira uma bagunça e ele me impede de prosseguir. Eu aceito, pois acho melhor parar a virar um inferno. Ele não acha que preciso medicação, pois tudo é uma cura pela natureza e preciso somente de água, luz solar e ocupar minha cabeça para não deixar minha doença me atacar. Eu caio na dele novamente e entre surtos me machuco.

O meu marido sofre de bipolaridade desde jovem, mas não aceita medicação nem terapia. Diz que não existe transtorno mental, que é invenção para os médicos “roubarem” dinheiro, puro comércio. A família dele em seu último surto alegou que ele não tem nada e fui eu quem o droguei com alguma medicação minha, resultando daí o “show da bipolaridade”. Em certas crises ele se torna compulsivo e deslumbrado. Realiza compras, faz planos, vemos apartamentos fora de nosso Estado como a chance para uma nova vida. Eu me iludo, entro na dele e pesquiso, faço compras e idealizo diversas coisas. De repente tudo muda. As compras já não fazem mais sentido e ficam entulhando cantos da casa, os apartamentos pesquisados viram lixo eletrônico no computador. Quantas vezes planejamos as coisas e de véspera ele cancela tudo, dizendo que não dará certo, ou que não é o momento. Quantos empregos desistidos. Se não fosse o meu salário não teríamos mais nada.

O relacionamento já não presta mais e o sexo é raro. Tudo muda da água pro vinho. Juras de amor tornam-se brigas. Abro o celular ou notebook dele, geralmente encontro pornografia escancarada ou conversas com mulheres aleatórias de chats de relacionamento. Mas o sexo não existe entre nós. Como sou borderline, isso é uma linha tênue. Nosso casamento é tóxico. Há dias em que ele me diz que sou a mulher mais linda do mundo, noutro a pornografia toma conta de seu computador e sou um lixo. Mas eu insisto em levar nosso casamento para a frente. Quando ele surta, fica jogado na cama vendo TV a semana toda, ou faz compras e planejamentos fantásticos. Quando surto, fico louca, gritando e esbravejando, quebrando as coisas. Como viver assim?

Filhos é impossível devido a minha condição e a falta de libido dele. É um devaneio após outro. Eu mergulho em seus planos e assim vivemos, mas depois tudo muda. É uma montanha russa. Separação? Improvável, morreremos assim. Inúmeros papéis de advogados desfeitos ou rasgados na minha frente. Assinados, depois cancelados. Viagens e passaportes rasgados. Apartamentos com a obra pela metade, depois vendidos por não conseguir morar na própria obra.  Ofertas em trabalhos de multinacionais abandonados por ele dizer que “não está preparado ainda”. Nossa vida é feita de diversos percalços, devaneios, surtos, vislumbres, altos, baixos, minha agressividade, a impulsividade dele, o amor doentio, o ódio supremo.

Estou criando coragem para sumir disso tudo e viver minha vida, meu tratamento. Tenho total consciência de que se eu voltasse à terapia e à medicação eu seria “normal”. Mas tenho pena de largá-lo, pois sei que ele não consegue seguir sozinho, sua vida é uma bagunça.

Ao ler meu relato, vocês podem pensar que isso é só ficção. Quem me dera fosse. É o relato de uma mulher de 38 anos com o coração quebrado e que já não suporta mais tudo isso! Fica meu recado para que jamais se envolvam com um homem assim. E se envolver por acaso, por favor insista no tratamento, pois será impossível do contrário viver. Nunca assinem contrato compartilhado, sociedade juntos ou algo do gênero. Tudo muda no mês seguinte, quando a fase da doença mental dele muda e isso pode causar danos financeiros e emocionais seríssimos.

Ilustração: A Banheira, 1886, obra de Edgar Degas

 

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A VIUVEZ EM CERTAS CULTURAS

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Autoria de Lu Dias Carvalho

aviuva

A perda de bens é um dia perdido, a perda de um marido é uma vida arruinada. (Provérbio birmanês)

 À porta da viúva fabricam-se muitos escândalos. (Provérbio Chinês)

 A viuvez foi sempre uma triste companheira da mulher ao longo da história, muito menos pela falta que faz o falecido e muito mais pelo modo como a viúva é tratada por certas culturas. Nessas, a morte da mulher é vista com a mais absoluta normalidade, mas se quem parte é o homem, os fatos tomam outro caráter. Os provérbios, choramingando a falta do varão e citando as cruezas vividas pela pobre viúva, não são poucos. Alguns chegam a ser bastante desrespeitosos, para não dizer cruéis: “Quando o marido morre, a mulher fica três anos de luto; mas, quando ela morre, ninguém a recordará por mais cem dias”, provérbio chinês; “A morte da mulher é a renovação do casamento”, provérbio árabe dizendo que o marido terá novas núpcias; “Dor por mulher morta dura até a porta”, provérbio espanhol; “A morte da mulher e a saúde do gado ajudam o homem a prosperar”, provérbio italiano.

É sabido que em certas culturas, a mulher era obrigada a cometer o sati, ou seja, imolar-se na mesma pira funerária do esposo. Isso ainda costuma existir em certos vilarejos indianos, por exemplo. Sem falar na “viúva branca” que é aquela que se enviuvou sem ter conhecido o esposo sexualmente, porque era criança à época do casamento, muitas vezes ainda morando com os pais. Mesmo a infeliz “viúva branca” era obrigada a cumprir o mesmo rigor das demais. Além disso, em certas sociedades a viúva carrega um fardo doloroso, pois, além de ser vista como um peso para a família, é também olhada como sexualmente perigosa. A família do marido morto usa de todas as artimanhas para tomar as propriedades deixadas por esse, sem assumir a responsabilidade de sustentar sua viúva que, muitas vezes, é queimada (com se se tratasse de um acidente) para que possam roubar seus dotes, pois os casamentos são arrumados com base em motivos financeiros.

Em certas culturas, ao perder o marido, a viúva é vista com desprezo, como se dele dependessem o seu status e integridade, como bem explica um provérbio da cultura Mali: “O baobá caiu, agora as cabras sobem em cima dele”, e o provérbio chinês reza: “Uma viúva é um barco sem leme”, uma vez que perdeu seu comandante. Um provérbio espanhol indica o que fazer com uma viúva charmosa: “Viúva bonita deve ser casada, enterrada ou colocada num convento”. E se ela não tem um filho varão, o problema é mais sério, como indaga um provérbio chinês: “Em quem se apoiará a desgraçada?”. Mas, se ela tiver sorte, poderá ser “herdada” pelo irmão do marido. O “levirato” ou “levirado” é uma prática encontrada no Antigo Testamento, entre os hebreus, em que o irmão do marido morto casava-se com a viúva, cuidando dela e dos filhos, em nome do falecido.

Não resta dúvida de que as sociedades que aceitaram o divórcio contribuíram muito para que a viúva passasse a ser vista com outros olhos, tendo o direito de casar-se de novo. Ainda assim, alguns provérbios alardeiam sobre o perigo de casar-se com viúva: “Não te cases com uma viúva, a menos que o primeiro marido tenha sido enforcado”, provérbio inglês; “Quem se casa com viúva tem que suportar algumas mortes”, provérbio mexicano; “Flertaste com viúva, não sabes que ela matou o marido?”, provérbio bassari; “As viúvas são fantasmas dos homens mortos”, provérbio brasileiro; “Mula adestrada por outro sempre guarda alguns vícios”, provérbio espanhol; “Não te cases com uma viúva, a cada briga recordará o defunto”, provérbio bamum. E assim é dedilhado o rosário das viúvas.

Ilustração: Mulher Chorando, obra de Picasso

Fontes de pesquisa:
Nunca se case com uma mulher de pés grandes/ Mineke Schipper
Livro dos provérbios, ditados, ditos populares e anexins/ Ciça Alves Pinto
Provérbios e ditos populares/ Pe. Paschoal Rangel

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Tarsila – A CUCA

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Autoria de Lu Dias Carvalho

Estou fazendo uns quadros bem brasileiros que têm sido muito apreciados. Agora fiz um que se intitula A CUCA. É um bicho esquisito, no mato com um sapo, um tatu e outro bicho inventado. (Tarsila)

Nesta pequena tela a pintora nos faz abandonar o mundo da realidade pelo da abstração. Faz viver diante de nós seres fantásticos em meio a plantas de formas rudimentares, como deviam ser as da época terciária. (M. Kuntzler)

A Cuca é uma das mais belas obras da artista paulista Tarsila do Amaral (1886-1973). É anterior à sua fase antropofágica, antecedendo as suas formas fantásticas. Está ligada à infância de Tarsila quando na fazenda da família ela ouvia histórias de mitos e lendas do folclore brasileiro. Embora o folclore nacional apresente uma cuca malvada, afeita a assustar as crianças desobedientes, a cuca presente na obra da artista parece ser bem dócil e receptiva com seus grandes olhos.

Tarsila insere nesta obra aquilo de que tanto gostava: as cores e a magia das formas, mostrando uma fauna e uma flora bem peculiares (tarsilianas). É a sua fase do colorido bem brasileiro. Ela conta que já amava essas cores das festas populares do interior paulista desde a sua infância passada na fazenda. Sobre as cores usadas ela escreveu:

“Ensinaram-me depois que eram feias e caipiras. Segui o ramerrão do gosto apurado… Mas depois me vinguei da opressão, passando-as para as minhas telas: azul puríssimo, rosa violáceo, amarelo vivo, verde cantante, tudo em gradações mais ou menos fortes, conforme a mistura de branco. Pintura limpa, sobretudo, sem medo de cânones convencionais. Liberdade e sinceridade, uma certa estilização que a adaptava à época moderna. Contornos nítidos, dando a impressão perfeita da distância que separa um objeto do outro.”

Além da grande cuca amarela, assentada com as mãos junto aos joelhos, estão presentes na composição um sapo que se mostra bem contente, uma taturana e um ser esquisito, parecido como uma mistura de ave com tatu. O sapo gorducho está de frente para a cuca e traz um grande sorriso na cara. Logo atrás vem a taturana com sua boca de espanto. Mais ao fundo, debaixo de uma árvore com copa composta por 17 corações, está o ser híbrido que parece passar por trás da cuca.  O verde predomina na composição. A vegetação luxuriante apresenta formas arredondadas, bem comuns ao trabalho da artista.

Ficha técnica
Ano: 1924
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 73 x 100 cm
Localização: Museu de Grenoble, França

Fontes de pesquisa
Tarsila do Amaral/ Coleção Folha
Tarsila do Amaral/ Folha Grandes Pintores
Tarsila, sua obra e seu tempo/ Aracy. A. Amaral

 

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