QUEM MUITO ABAIXA A BUNDA APARECE

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Autoria de Lu Dias Carvalho bunda

Este é um ditado muito comum, conhecido em todo o Brasil, apresentando pequenas variações, tais como: “quem muito abaixa o cu aparece” ou ainda “quem muito abaixa mostra a bunda”.

O ditado em questão originou-se da expressão “quem muito se abaixa, oculto padece”, mas como a língua tem essa capacidade fantástica de modificar-se através dos tempos, pois ela é viva, moldando-se ao sabor dos ventos e das culturas,  o “oculto padece” cedeu lugar à “bunda aparece” que possui um som semelhante. Talvez seja porque nos dias de hoje essa parte carnosa de nossa anatomia anda em alta, abundando e desbundando sem nenhum acanhamento, podendo se abaixar à vontade.

E por falar em abaixar-se, estupefata fiquei eu, ao saber que certas garotas abrem mão de determinada peça interna do vestuário feminino, responsável por cobrir e proteger os “países baixos”, quando estão nos bailes funks, apesar do sobe e desce dos requebros e dos micros vestidos. É o fim do mundo! – diria minha avó Otília, se viva estivesse, mas cada um é  cada um.

Voltando ao dito popular “quem muito se abaixa a bunda aparece”, tão comum no Brasil, trata-se de uma alusão às pessoas que se tornam servis em demasia, abrem mão de qualquer pensamento crítico, para agradar outrem, sem nunca expor as suas próprias convicções, seus pontos de vista. O resultado desse rebaixamento moral é que elas acabam perdendo o respeito dos outros por si próprias,  sujeitando-se a abusos de todo tipo, pois quem não se respeita jamais será respeitado, onde quer que se encontre. Portanto, não se abaixe ao ponto de deixar a bunda aparecer. Respeite-se!

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ROSA E AZUL (Aula nº 84 C)

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Autoria de Lu Dias Carvalho

                                     

Decênios depois, a menor das modelos, então Lady por ter casado com o general Townsend of Kut, relembraria que o tédio das sessões era compensado pelo prazer de vestir o elegante vestido de renda. (Ettore Camesasca)

Parti imediatamente após terminar o retrato das meninas Cahen, tão cansado que nem lhe sei dizer se a pintura é boa ou ruim. (Renoir)

A obra Rosa e Azul, nome popularmente conhecido da composição em razão das cores das vestimentas das meninas, é também conhecida como As Meninas Cahen d`Anvers. Trata-se de um dos retratos mais conhecidos de Renoir que era exímio em retratar crianças. É também um dos quadros mais visitados no Museu de Arte de São Paulo, onde se encontra desde 1952.

Renoir retratou na composição as duas irmãs: Alice — a de cabelos escuros — e Elizabeth — a de cabelos loiros — filhas de um banqueiro judeu. Elas se encontram com a idade de cinco e seis anos, respectivamente. As duas garotinhas são representadas com seus vestidos rendados, embebidos de luz, com longas faixas na cintura. As meias e os laços dos cabelos possuem a mesma cor das faixas: uma rosa e outra azul, cores reforçadas pelo forte tom do tapete e das cortinas.

A irmã mais velha segura na mão da mais nova, como se quisesse protegê-la do cansaço. Os cabelos de Elizabeth, amarrados com um enorme laço, caem-lhe pelas costas e na frente, quase tocando-lhe a cintura, enquanto os de Alice, também amarrados com um laço, estão jogados para trás. As perninhas abertas da menor — de modo a sustentar o corpo com mais facilidade — denotam o seu cansaço, enquanto descansa a mão na sua faixa rosa. Seus olhos chorosos fitam o observador, como se estivesse a pedir uma pausa para um descanso.

Conforme relatou Renoir, não foi fácil retratar as duas pequenas, sendo necessárias várias e penosas sessões de poses. Elizabeth, a mais velhas, mostra-se vaidosa, segurando delicadamente a renda de seu vestido, mas Alice, a menorzinha, parece cansada, trazendo o rostinho fechado, querendo chorar.

Ao que parece, a família Cahen não ficou satisfeita com o resultado da composição, pois além de ter demorado um ano para pagar o pintor, ainda colocou o quadro na ala dos empregados da casa, o que denotou o seu desprezo pela pintura das filhas, embora Renoir já tivesse pintado outros quadros dessa mesma família.

A obra foi descoberta em 1900 — aparentemente abandonada — e depois disso fez uma longa caminhada até chegar ao Brasil. Foi adquirida em um leilão em Nova York em 1952 pelo Museu de Arte de São Paulo (MASP), com recursos doados por Assis Chateaubriand, fundador do Museu. O quadrinista Maurício de Sousa também criou as suas fofas menininhas, alusivas à composição, com os personagens Magali e Mônica de Rosa e Azul.

Ficha técnica:
Ano: 1881
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 119 x 74 cm
Localização: Museu de Arte de São Paulo, São Paulo, Brasil

Fontes de pesquisa:
Renoir/ Folha Coleções
Renoir/ Abril Coleções

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OS PROVÉRBIOS E AS CULTURAS

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Autoria de Lu Dias Carvalho

provarab

Quase todos os mesmos provérbios ou semelhantes, ainda que com palavras diferentes, encontram-se em todas as nações; e a razão é que os provérbios nascem da experiência, ou seja, da observação das coisas, as quais são as mesmas ou semelhantes em todos os lugares. (Francesco Guicciardini)

Todas as máximas têm máximas opostas. Os provérbios deveriam andar aos pares, cada um representando uma faceta da vida. (W. Matthews)

Parece-me, Sancho, que não há ditado que não seja verdadeiro, porque todos são observações retiradas da própria experiência, a Mãe de todas as Ciências. (Cervantes)

A sabedoria popular está presente em todas as línguas, sendo expressa através de várias maneiras: provérbios, adágios, sentenças, aforismos, parêmias, apotegmas, anexins, rifões, ditos e ditados populares. É interessante notar como os provérbios foram difundidos através dos tempos: na forma oral, na forma escrita, no espaço local, no espaço nacional e no espaço internacional.

O provérbio apareceu bem antes da história da escrita, sendo transmitido, ao longo dos séculos, através das tradições orais dos mais diferentes povos. A sua existência é tão remota que exemplos de sua existência datam de 2600-2550 a.C. O romancista, dramaturgo e poeta espanhol Miguel de Cervantes (1547-1616) dizia que os provérbios são frases curtas extraídas da longa experiência. Certo dito holandês de que os provérbios são os filhos da experiência cotidiana corrobora com Cervantes. O idioma ioruba dá ainda uma abrangência maior ao adágio ao exprimir que os provérbios são os cavalos da fala. Portanto, não causa surpresa o fato de estarem presentes em todas as culturas.

Segundo pesquisas, o humanista Erasmo de Rotterdam foi um dos mais conhecidos colecionadores de provérbios. E ele, por sua vez, diz que Aristóteles foi o primeiro a  entregar-se a tal tarefa. O filósofo levava sempre um caderno consigo, no qual recolhia os ditos populares. Já mais próximos de nós, Shakespeare e Cervantes também tinham grande admiração pelos provérbios, como mostram suas obras.

Os provérbios expressam, com poucas palavras, conhecimentos adquiridos pela sabedoria popular ao longo dos tempos, através da observação. Eles devem ser analisados sempre dentro de um contexto, para que sejam mais bem compreendidos, pois possuem um uso instantâneo em ocasiões propícias. Trazem em si diversas funções: solucionar um mal-entendido; dar conselhos; ensinar regras para se viver; pôr um ponto final numa discussão; usar de ironia; dar prosseguimento a um diálogo; ou dizer uma verdade que o emissor não quer dizer diretamente ao receptor, mas deseja levá-lo à reflexão.

Num provérbio pode estar embutido:

  • um conselho: Em vez de dar o peixe, ensine a pescar;
  • um aviso ou previsão: Quem não ouve conselho, ouve coitado;
  • uma observação: Em boca fechada, não entra mosca;
  • uma afirmação abstrata: A união faz a força;
  • uma experiência concreta: Quem planta e cria, tem alegria.

Nos tempos atuais não resta dúvida de que a importância dos provérbios foi reduzida nas culturas onde predomina a escrita, mas eles ainda persistem com força. Estão na Bíblia, no Corão, no Talmude, nos Vedas, nos textos poéticos, políticos ou religiosos. Nas culturas orais os provérbios encontram-se nas citações dos chefes e anciãos que citam seus ancestrais como seus representantes. Eles sempre se iniciam com as palavras: “Como diziam nossos antecipados…”. Essas pessoas são respeitadas e admiradas pelo vasto conhecimento de provérbios que detêm, sabendo utilizá-los no momento necessário.

É fantástica a capacidade que os provérbios populares possuem ao condensar numa pequena frase uma grande dose de sabedoria popular. A universalidade das mensagens que muitos desses provérbios encerram é outra característica interessante. É possível encontrá-los, com o mesmo sentido, nas mais diferentes culturas e línguas, o que torna muito difícil conhecer a origem de cada um deles. Os provérbios demonstram o quanto as culturas em todo o mundo possuem em comum, embora exista a ideia de que são as diferenças que as concebem.

É fato que os provérbios também contradizem entre si, pois, assim como a vida é cheia de contradições, eles não poderiam omitir a dualidade. O emissor faz uso desse ou daquele provérbio de acordo com o contexto em que se encontra inserido num determinado momento. São as circunstâncias as responsáveis pela escolha do provérbio, de modo que cada um puxa brasa para a sua sardinha. A exemplo de: “Deus ajuda quem cedo madruga” / “Mais vale quem Deus ajuda do que quem cedo madruga”.

Fontes de pesquisa:
Provérbios e Ditos Populares/ Pe. Paschoal Rangel
A Sabedoria Condensada dos Provérbios/ Nelson Carlos
Nunca se Case com uma Mulher de Pés Grandes/ Mineke Schipper

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O BOM E O RUIM DA VARIANTE ÔMICRON

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Autoria de Leandro Demori*

Sim, estamos na 3º onda!

A variante ômicron dominou o mundo e isso é uma péssima e uma ótima notícia. Eu não sou infectologista, mas fiquem tranquilos, as informações abaixo foram tiradas de dois excelentes podcasts que ouvi na madrugada de ontem: o da revista Slate e o do jornal The New York Times (ambos em inglês). Abaixo, de modo bastante objetivo, está tudo o que eles trouxeram sobre a nova mutação da covid-19 (com referências extra).

A variante ômicron já dominou o planeta, sendo que no Brasil o vírus vem se espalhando rapidamente. Por aqui, 6 em cada 10 infectados pegaram essa variante. O restante foi contaminado pela variante delta, a bambambã até poucas semanas atrás.

Estamos vivendo uma terceira onda no Brasil e talvez ela seja a pior de todas em número de contaminados. Essa onda ainda não aparece na imprensa, porque o Ministério da Saúde resolveu sofrer um ataque hacker que causou um apagão de dados. Mesmo assim, a média móvel aumentou 639%

Essa terceira onda chega em um momento em que nosso psicológico já foi para o espaço – estávamos contando com o fim aparente da fase aguda da pandemia para reatar os laços sociais e a vida lá fora. Portanto, essa é a péssima notícia. A vida normal vai ter que esperar.

Os sintomas da ômicron aparecem, em geral, no terceiro dia de contaminação. Os da delta apareciam no quinto dia. A nova variante, a princípio, também desaparece mais cedo.

A ômicron pode ser um dos vírus de mais rápida propagação da história. Uma fonte ouvida pelo El País fez um cálculo comparando a nova variante com o vírus do sarampo, um dos mais contagiosos do planeta. A conclusão: num cenário de ausência de vacinação, um caso de sarampo daria origem a outros 15 casos em apenas 12 dias. Já um caso de ômicron daria origem a 216 casos no mesmo período. Mas isso pode ser bom…

A variante ômicron é menos agressiva que a delta, seus efeitos são mais brandos e, sobretudo, ela tende e não atacar com violência os pulmões, concentrando-se muito mais no nariz. A possibilidade de parar em uma UTI e ser entubado cai muito, assim como a de morrer pela doença.

E o melhor de tudo: a ômicron parece proteger contra a delta, o que significa que a nova variante vai engolir a antiga e virar o vírus dominante no mundo. Muitos cientistas têm esperança de que o fim da pandemia aconteça por isso e com + vacinação.

Por fim, as vacinas estão segurando a onda. Com duas doses da Pfizer, a chance de você parar em um hospital é reduzida entre 60% e 70%. Com três doses é partir para o abraço (mas com o uso da máscara!). Cuidem-se!

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*Editor-Executivo do Jornal “The Intercept Brasil”

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O ALMOÇO DOS REMADORES (Aula nº 84 B)

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Autoria de Lu Dias Carvalho 

Estou em Chatou. Comecei a pintar um quadro de remadores que me tentava havia muito tempo. De vez em quando é preciso buscar coisas que estejam acima das próprias forças. (Renoir)

Tenho conhecido pintores que não fizeram nada de útil, porque se dedicaram a seduzir as mulheres em vez de pintá-las. (Renoir)

Renoir foi um dos principais integrantes do Impressionismo, sendo sua composição O Almoço dos Remadores a sua última grande obra no estilo, antes de buscar novos caminhos na pintura, como veremos mais adiante. Na composição o pintor retrata um almoço num dia de feriado, no terraço do restaurante francês La Fournaise, nas margens do rio Sena em Chatou, num dia quente de verão. A maioria dos modelos ali presentes são seus amigos e clientes habituais do lugar, todos muito jovens. Este quadro tornou-se uma das mais importantes criações do movimento impressionista.

Embora haja quatorze figuras na cena, são os dois barqueiros o eixo central da composição, não só pela robustez de seus corpos musculosos, como pelo tipo de roupa que usam, contrastando com os demais. Eles, ao contrário dos outros, usam camisetas brancas, deixando braços e pescoço nus. À época a moral burguesa exigia que todo o corpo estivesse coberto, sendo que os braços nus dos atletas poderiam trazer constrangimento às mulheres, o que não parece ocorrer com as da composição.

Todas as cinco garotas presentes na mesa usam chapéus, pois esses eram à época o símbolo da respeitabilidade e de status social. As mais pobres têm os chapéus adornados de flores e fitas, decorados por elas mesmas. Ao fundo uma mulher, ricamente vestida com seu casaco de pele e usando luvas, tapa os ouvidos para não escutar os elogios dos dois fãs ao seu lado.

O terraço está fechado por uma balaustrada. Finas estruturas de metal suportam o toldo de listras vermelhas que o cobre. Uma garota apoia-se despreocupadamente na balaustrada, enquanto ouve atentamente o personagem à sua frente. No parapeito também se encosta um dos barqueiros, numa atitude de ausência, parecendo mirar ao longe. Alguns personagens estão assentados ao redor de duas mesas, enquanto outros encontram-se ao fundo, no lado esquerdo da composição. Uma moça (futura esposa de Renoir) tem um cãozinho nos braços que traz suas patinhas traseiras sobre a mesa.

Ao fundo, entre as ramagens e na parte superior esquerda da composição, algumas embarcações podem ser vislumbradas, deslizando sobre as águas do rio Sena. Observando os objetos nas mesas, é possível concluir que o almoço está chegando ao fim, ou seja, os remadores e seus amigos acabam de comer.

Renoir mostra aqui sua perícia em pintar naturezas-mortas, ao representar os restos da refeição. Sobre a toalha branca da mesa em primeiro plano encontram-se um guardanapo amassado, uma fruteira, um pequeno barril de conhaque, garrafas de vinho semi-cheias e diversos tipos de copos: os grandes para o vinho tinto, os altos para o café, os pequenos para conhaques e licores.

Ficha técnica
Ano: 1880-1881
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 130 x 173 cm
Localização: The Phillips Collection, Washington, EUA

Fontes de pesquisa
Renoir/ Coleção Folhas
Renoir/ Coleção Girassol
Renoir/ Abril Coleções
Los Secretos de las Obras de Arte/ Editora Taschen

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BAILE NO MOINHO DA GALLETE (Aula nº 84 A)

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Autoria de Lu Dias Carvalho

É difícil entender por que este quadro provocou uma tempestade de indignação e escárnio. Percebemos sem dificuldade que a aparente superficialidade nada tem a ver com desleixo, mas é, pelo contrário, o resultado de um grande talento artístico. Se Renoir tivesse pintado todos os detalhes, o quadro teria um aspecto enfadonho e sem vida. (E. H. Gombrich)

Levou algum tempo até o público descobrir que, para apreciar um quadro impressionista, deve recuar alguns metros e desfrutar o milagre de ver essas manchas intrigantes súbito se organizarem e ganharem vida diante dos olhos. (E. H. Gombrich)

Os artistas da época do Impressionismo estavam sempre presentes nos bailes realizados no ex-moinho, situado na colina de Montmartre em Paris, a uma hora de caminhada do centro da cidade, onde se reuniam costureiras e trabalhadores em seus dias de folga, em busca de modelos para suas pinturas ou aventuras passageiras. Havia muitas garotas pobres ali que cobravam muito pouco para posar. Renoir retrata nesta composição um baile no local, onde os personagens são os seus amigos, garotas e operários que estão pousando para ele.

Baile no Moinho da Gallete é uma das mais conhecidas e admiradas pinturas de Renoir, tida como a mais bela do século XIX e uma das obras-primas do Impressionismo. Nela o pintor faz um uso excepcional do espaço, trazendo uma fantástica ideia de multidão, através da superposição de rostos. Também dá vida a uma festiva combinação de cores brilhantes, trazendo o efeito da luz do sol sobre os alegres participantes. Raios de sol atravessam as folhas das árvores frondosas, iluminando pessoas e ambiente, o que nos traz a certeza de que ainda era dia (os bailes ali começavam às 15h e acabavam às 23h). Os postes brancos com lampiões dão uma beleza singular à cena.

O local, antes de Renoir, tinha trinta moinhos de vento funcionando. E “galette” — dá nome aos moinhos — era um tipo de pastel liso feito de farinha moída, servido ali. Os dois moinhos que sobraram pertenceram à família Debray, sendo um deles transformado em uma construção isolada, ao lado da qual foi aberto um local de dança. Tratava-se de um barracão já bem arruinado, ornamentado com vime e pintado de verde. Ao lado havia um jardim com muitas árvores, onde uma orquestrava tocava polcas, valsas, cancan, etc. Cobrava-se uma quantia insignificante para se frequentar os bailes.

O clima da composição é festivo, mostrando casais dançando, jovens conversando em suas mesas, pessoas de pé observando o movimento, algumas assentadas em bancos, outras próximas à orquestra e outras no pátio do local. O pintor francês organizou sua composição da seguinte maneira:

1- dois círculos, sendo um mais fechado, no lado direito em volta da mesa, e o outro mais aberto, à esquerda em volta da mulher de vestido cor de rosa e seu par;
2- uma pirâmide: as três figuras do primeiro plano formam uma pirâmide;
3- linhas verticais formadas por pessoas de pé, pares dançantes, suporte dos lampiões, etc;
4- linhas horizontais formadas pelos postes dos lampiões, pela construção de madeira pintada de branco, etc.

O quadro parece ter vida própria, tamanha é a vibração, que repassa ao observador, como se tudo fosse movimento. Como se trata de uma obra impressionista em que não há preocupação com os contornos e detalhes, a composição parece que ainda está por terminar, pois apenas algumas cabeças das figuras, no primeiro plano, trazem detalhes, ainda que de maneira não convencional.  À medida que vão se afastando do primeiro plano, as figuras vão se tornando cada vez mais fugidias, desmanchando-se ao sol e no ar.

É interessante notar que o pintor corta parte das figuras nas margens direita e esquerda, para repassar a ideia de continuidade, ou seja, a de que ele captara com seus pincéis apenas parte do ambiente onde se realiza o baile. É também um meio para dar mais naturalidade à cena, de modo a passar a impressão de que os personagens não estão pousando para ele e que tudo acontece naturalmente.

Os personagens ao redor das mesas formam o primeiro plano da composição. A moça do vaporoso vestido listrado, assentada num banco de frente para um rapaz assentado numa cadeira e de costas para o observador, tem os cabelos e parte do rosto coberto pelas sombras, enquanto o sol reflete sobre sua boca e queixo. A modelo tinha 16 anos na época. A mulher de vestido cor de rosa e seu par ganharam um destaque especial no quadro, podendo ser visualizados por inteiro, isolados dos demais casais dançantes. Tem-se a sensação de que o par dança sobre nuvens. No centro da parte esquerda da tela é possível flagrar um casal em clima de flerte. O homem descansa o braço esquerdo no tronco da árvore, inclina-se para a frente, cortejando a moça vestida de azul, recostada na árvore bem à sua frente.

Crianças também estão presentes na composição, o que dá à cena um certo ar de pureza. No canto inferior esquerdo da pintura, uma garotinha de cabelos loiros com fita conversa com uma moça. Ambas estão assentadas num banco. Na verdade, à noite, quando se acendiam as lamparinas, para ali vinham delinquentes e prostitutas com seus cafetões, acontecendo muitos brigas ou navalhadas. Durante a parte da tarde, ao contrário do que acontecia à noite, as mulheres eram obrigadas a se comporem com um chapéu em sinal da respeitabilidade. Quanto menos roupa uma garota usasse, mais duvidosa era a sua reputação, mas muitas garotas na composição de Renoir são vistas sem chapéu. Todos os homens são vistos usando chapéu no Moulin de la Galette, mesmo quando estavam dançando, pois uma pessoa educada devia deixar o chapéu na cabeça (Como mudam os tempos!). Alguns usavam um chapéu de palha de verão, outros um chapéu preto de feltro. Grenadine era a bebida mais usada. Tratava-se de um xarope de Granada, com água.

Renoir usou pinceladas cintilantes para unir as personagens do baile, sem se preocupar com a clareza das formas. Talentoso, o artista nutria indiferença por qualquer tipo de intelectualismo.

Dados técnicos
Data: 1876
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 131 x 175 cm
Localização: Museu d`Orsay, Paris, França

Fontes de Pesquisa
istória da Arte/ E. H. Gombrich
Renoir/ Abril Coleções
Renoir/ Coleção Folha
Renoir/ Coleção Girassol
Tudo sobre arte/ Editora Sextante
Los secretos de las obras de arte/ Taschen

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