Autoria de Lu Dias Carvalho
(Clique nas ilustrações para ampliá-las.)
A competição era intensa entre os artistas das cidades holandesas, principalmente entre aqueles que não se adequavam ao gênero do retrato. Em razão disso eles buscavam se especializar naquilo em que obtinham mais sucesso de venda. Se o artista, por exemplo, lograva êxito vendendo paisagens enluaradas, buscava trabalhar apenas nelas. Muitos dos pintores que não tinham grande notoriedade passaram a criar o mesmo tipo de pintura em série.
A tendência para a especialização começou nos países setentrionais (protestantes) no século XVI, vindo a tornar-se ainda maior no século XVII. O único país protestante em que a arte conseguiu sobreviver à crise provocada pela Reforma foram os Países Baixos. Isso se deveu a especialização. Os artistas buscavam se aperfeiçoar em todos os temas que não fossem proibidos pela Igreja Protestante, pois sabiam que a competição em torno do retrato era muito grande, não havendo cliente para todos eles. Isso fez com que alguns buscassem terras católicas e outros se tornassem exímios em temas permitidos em terras protestantes.
Segundo o Professor E.H. Gombrich em seu livro “A História da Arte”, “Os artistas holandeses eram capazes de transmitir a atmosfera do mar usando meios simples e despretensiosos. E foram os primeiros da história da arte a descobrir a beleza do céu”. Eram também exímios na criação de naturezas-mortas. Talvez tenha sido esse o ramo mais “especializado” da pintura holandesa. Ainda segundo Gombrich: “A natureza refletida na arte reproduz sempre o próprio espírito do artista, suas predileções, seus prazeres e, portanto, seu estado de ânimo”.
Simon de Vligier (1601–1653) foi um especialista em marinhas. A primeira ilustração (da esquerda para a direita) é uma de suas obras, intitulada “Vaso de Guerra Holandês e Vários Navios Expostos à Brisa”. A segunda ilustração retrata uma obra de Jan Van Goyen (1596-1656), denominada “Moinho à Beira de um Rio”. Jan Steen (1626-1679) foi outro grande artista holandês desse período. Era genro de Jan Van Goyen. Era também dono de uma estalagem, pois a pintura não lhe dava o sustento necessário. Jacob Van Ruisdael (c.1628-1682) foi um especialista em paisagens, como mostra a terceira ilustração, intitulada “Campos de Trigo”. Agradava-lhe o estudo sobre o efeito e a sombra nos terrenos em torno da cidade de Haalem. Sua especialidade eram as cenas florestais. Assim como Claude Lorrain na pintura italiana, Ruisdael foi responsável por descobrir a poesia da paisagem nórdica. O artista Willem Kall (1619-1693) foi um importante pintor do gênero.
O Mestre Rembrandt Van Rijn (1606-1669) é tido como o mais notável pintor holandês e um dos mais brilhantes da história da arte. Também foi um exímio artista gráfico. A quarta ilustração apresenta uma das águas-fortes de Rembrandt em que é ilustrado uma cena bíblica (A Pregação de Cristo). Rembrandt criou magistrais retratos. Era virtuoso e hábil em seu ofício. Achava que cabia somente ao artista dar uma pintura por acabada, ou seja, saber quando “seu objetivo foi atingido”. Sobre os seus retratos, assim define o Professor H.E. Gombrich “nos grandes retratos de Rembrandt nós nos sentimos frente a frente com pessoas de verdade, sentimos o seu calor, sua necessidade de simpatia e também sua solidão e sofrimento. Rembrandt, assim como outros artistas de sua época, levava em conta a mensagem de Caravaggio. Tomara conhecimento da obra do mestre italiano por meio de artistas holandeses que por ele foram influenciados. Por isso, em sua arte dava mais destaque à verdade e à franqueza do que à harmonia e à beleza. Rembrandt foi muito importante para a arte holandesa.
Um dos grandes nomes da pintura holandesa foi Jan Vermer Van Delft (1632-1675), nascido uma geração depois da de Rembrandt. Pintou poucos quadros ao que se sabe, mostrando-se lento e meticuloso em seu trabalho. Seus quadros dizem respeito a coisas simples, normalmente retratam uma ou duas figuras no interior de uma casa holandesa. Segundo a visão de E.H. Gombrich, “Seus quadros são na realidade naturezas-mortas incluindo seres humanos. Sua obra intitulada “Moça Com Brinco de Pérola” encontra-se entre as 50 mais belas da arte pictórica. O trabalho de Vermer prova que o tema não é o elemento mais importante numa obra.
Técnica da água-forte – consiste em cobrir a superfície da lâmina de cobre com cera, sobre a qual se desenha com uma agulha que retira a cera e deixa o cobre a descoberto. A seguir, a lâmina de cobre é posta num ácido que corrói o cobre, onde a cera foi removida e, assim, transfere o desenho para a lâmina. Após esse processo, a lâmina é impressa do mesmo jeito que uma gravura. O trabalho é tão interessante que o único meio de diferenciar uma água-forte de uma gravura é analisando a qualidade das linhas.
Views: 43