Pintores Brasileiros – TARSILA DO AMARAL

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Autoria de Lu Dias Carvalho

Tarsila

Sinto-me cada vez mais brasileira: quero ser a pintora de minha terra. […] Se alguma coisa eu tenho de bom na minha arte é a sua brasilidade espontânea de 1924 para cá. (Tarsila do Amaral)

Se nas obras da fase pau-brasil são as coisas da cidade e do homem que imperam, nas da antropofagia quem manda é a mata, a floresta, o mundo da água, da planta e dos seres misteriosos. (Roberto Pontual)

As fases pau-brasil e antropofágica de Tarsila são, sem sombra de dúvida, os pontos culminantes de sua carreira como pintora e as responsáveis pela sua inscrição na história da arte no Brasil. (Aracy Amaral)

Na decoração interior das igrejas (das cidades históricas de Minas Gerais), no mobiliário, nas imagens de santos, a pintora redescobre as cores que adorava em criança: azul puríssimo, rosa violáceio, amarelo vivo, verde cantante. Utilizando essas cores, inicia a primeira fase de sua pintura, chamada “pau-brasil.”. (Olívio Tavares de Araújo)

A pintora brasileira Tarsila do Amaral (1886 – 1973) nasceu numa fazenda no interior do estado de São Paulo, no seio de uma família rica. Seus pais eram grandes cafeicultores, proprietários de inúmeras propriedades. Tarsila passou sua infância junto aos pais, seis irmãos, tios e primos, entre uma fazenda e outra. A futura pintora convivia com dois mundos sociais diferentes: aquele proporcionado pela posição privilegiada de sua família e o outro ocupado pelos trabalhadores humildes das fazendas de café.

Como a França fosse uma referência de status para os endinheirados à época,  a cultura francesa esteve presente na infância da futura pintora, desde as aulas de francês às melodias tocadas no piano pela mãe. Seus primeiros anos de escola foram passados na capital paulista, na casa de seu avô paterno. A seguir, ela foi estudar como interna, juntamente com sua irmã Cecília, num renomado colégio católico em Barcelona, na Espanha, onde descobriu sua vocação para a pintura, ao copiar uma imagem do Coração de Jesus, tendo recebido estímulos para que prosseguisse nesse campo. Antes de retornar ao Brasil, sua mãe levou-a a Paris, cidade que não correspondeu a seus sonhos. De volta à vida nas fazendas da família, acabou se casando, aos 18 anos, com seu primo materno, o médico André Teixeira Pinto, um conservador que frustrava o crescimento artístico da esposa. Da união nasceu sua única filha, Dulce. Mas diante das diferenças de interesses culturais, Tarsila e André acabaram se separando e o casamento anulado.

Em São Paulo, Tarsila começou a estudar modelagem e escultura. Depois estudou desenho e pintura com Pedro Alexandrino, época em que ficou conhecendo a pintora Anita Malfatti. Antes de prosseguir seus estudos em Paris, estudou com George Elpons, para ampliar seus conhecimentos em pintura. Em Paris, ela estudou pintura, acompanhou os acontecimentos artísticos da época, levando uma vida culturalmente rica, inclusive, teve a sua tela Retrato de Mulher exposta no Salão Oficial dos Artistas Franceses.

Dois anos depois, a pintora retornou ao Brasil, quatro meses depois de ter acontecido a Semana de Arte Moderna. Através de Anita Malfatti ficou conhecendo Menotti Del Picchia, que a apresentou aos modernistas. E com o acréscimo de Mário de Andrade e Oswald de Andrade foi formado o famoso Grupo dos Cinco, vindo Tarsila a manter um namoro secreto com o último, para não interferir na anulação de seu casamento. Mais tarde, retornou a Paris, montando ali um atelier. Ela era tida como uma mulher rica e muito elegante e, junto com Oswald, frequentou e recebeu artistas e intelectuais, sem se esquecer das tradições, cores e temas de seu país.

Ao voltar ao Brasil, cerca de três anos depois, Tarsila viajou com um grupo de modernistas brasileiros e com o poeta franco-suíço Blaise Cendrars, para conhecer o Carnaval do Rio de Janeiro e as cidades históricas de Minas Gerais, onde conheceu a escultura de Aleijadinho e a arquitetura barroca, numa “redescoberta do Brasil”. Daí nasceu a sua Fase Pau-Brasil, voltada para as cores e temas tropicais brasileiros, destacando a fauna e a flora maravilhosas de nosso país, assim como as máquinas e os trilhos, simbolizando a modernidade urbana. Sobre isso assim se expressa Olívio Tavares de Araújo, em sua obra “A Grande Dama”: “Na decoração interior das igrejas (das cidades históricas de Minas Gerais), no mobiliário, nas imagens de santos, a pintora redescobre as cores que adorava em criança: azul puríssimo, rosa violáceio, amarelo vivo, verde cantante.”. Nessa fase é visível a importância do pintor cubista Fernand Léger. Depois, ela retornou à França, onde realizou uma exposição de suas obras.

O casamento de Tarsila e Oswald foi um grande acontecimento na capital paulista. Mas não duraria muito, pois o escritor viria a se envolver com a famosa revolucionária Pagu (Patrícia Galvão), desfazendo sua união com a pintora e a deixando muito sofrida, época em que também perdeu a fazendo onde nasceu. Mas não demorou muito para que a artista vivesse um novo relacionamento, dessa vez com o psiquiatra paraibano Osório César, com quem viajou pela União Soviética, após a venda de alguns quadros, visitando vários lugares. Voltou imbuída do espírito do trabalho operário. Chegou a ser presa por participar de reuniões de esquerda e por ter ido a um país socialista. Depois de se separar de Osório, em meados dos anos 30, ela passou a viver com o escritor Luiz Martins, vinte anos mais novo do que ela, com quem veio a se casar.

Tarsila do Amaral participou da primeira fase do movimento modernista brasileiro, ao lado de sua amiga Anita Malfatti. Seu quadro Abaporu (1928) um dos mais famosos da pintura brasileira, foi responsável por inspirar o Movimento Antropofágico, idealizado por seu então marido, Oswald de Andrade. Esse movimento rezava que as influências estrangeiras deveriam ser recebidas, mas digeridas, de modo a dar à arte brasileira uma feição própria. Nesta fase predominam a mata, a floresta, o mundo da água, da planta e dos seres misteriosos. A figura do Abaporu, tido como canibal, simbolizava o movimento.

Em 1965, Tarsila e Luís acabaram se separando. Ela passou a viver sozinha. Com problemas sérios de coluna, submeteu-se a uma cirurgia, mas um erro médico deixou-a paralítica até os seus últimos dias de vida. Um ano depois, perdeu a sua filha Dulce, vitimada pela diabetes e, posteriormente a neta, afogada. A pintora aproximou-se então do espiritismo, doando à instituição administrada por Chico Xavier, seu grande amigo, parte da venda de seus quadros. A pintora faleceu em São Paulo, aos 87 anos de idade, vítima de depressão.

Fontes de pesquisa:
Tarsila do Amaral/ Coleção Folha
Brazilian Art VII
http://www.escritoriodearte.com/artista/tarsila-do-amaral/

Nota: Autorretrato (Manteau Rouge)/ 1923

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2 comentaram em “Pintores Brasileiros – TARSILA DO AMARAL

  1. Mário Mendonça

    Lu Dias

    Grande artista brasileira; não sabia de sua história; uma herdeira que flerta com o social demonstra que realmente estava à frente de seu tempo; que final mais triste, hein?
    Abração

    Mário Mendonça

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Mário

      Eu sempre fui encantada com as obras de Tarsila do Amaral.
      Para mim, ela é a maior e a mais importante pintora brasileira.
      Embora não tenha participado do Semana de Arte Moderna, ela foi a mais importante modernista do país, nas artes.

      Abraços,

      Lu

      Responder

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