Autoria de Lu Dias Carvalho
A vida é tudo o que tenho. A vida e somente a vida. É sobre ela que estou construindo a minha obra. (Vicente do Rego Monteiro)
Em geral, o ideal do artista brasileiro é fugir de sua terra para ir adorar os ídolos europeus e voltar com alguns esquisitos nus de “cocotes” francesa ou alguns pinheiros romanos, pintados e repintados por meio mundo, como se não houvesse lindas mulheres e poderosas paisagens em nossa terra.” (Enrico Castelli, o Chim)
O pintor, ilustrador, desenhista, muralista, escultor, poeta e professor Vicente do Rego Monteiro (1899-1970) nasceu na cidade do Recife/PE. Era filho do comerciante de tecidos Ildefonso do Rego Monteiro e da professora Elisa Cândida Figueiredo Melo do Rego Monteiro. Desde pequenos ele e seus irmãos foram incentivados pela mãe em relação às artes. Dos cinco filhos três tornaram-se pintores, outro se tornou arquiteto e a outra, escritora.
A família de Vicente mudou-se para a França, quando ele estava com a idade de 12 anos. Antes disso tivera contato com a arte, ao acompanhar sua irmã mais velha nos cursos na Escola Nacional de Belas-Artes (Enba), no Rio de Janeiro. Em Paris o garoto frequentou importantes academias, nas quais teve aulas de escultura, desenho e pintura. Também aproveitou para conhecer muitos países europeus, dando ênfase à visita de museus de arte. Paris também lhe proporcionou o conhecimento dos espetáculos de dança. Apaixonou-se, sobretudo, pelo balé russo, paixão essa que se faria presente em seu trabalho. Aos 13 anos de idade participou do Salão dos Independentes com duas obras: uma pintura e uma escultura.
No final de 1914 a família de Vicente retornou ao Brasil, fugindo da Primeira Guerra Mundial. O artista passou a viver no Rio de Janeiro, onde fez esculturas e mostrou-se interessado pela música e pela dança popular do país. Três anos depois voltou ao Recife, onde fez desenhos de danças e pinturas. O pintor criou desenhos e aquarelas tendo como referência as lendas amazônicas e outras temáticas do país, como as cabeças de negras. Tempos depois seria a vez da temática marajoara. O estudo da arte e culturas indígenas levou-o ao conhecimento da obra de Rugendas e Debret, tendo o último exercido grande influência em seus trabalhos. Também dedicou-se à temática religiosa. Em São Paulo tornou-se amigo dos modernistas Victor Brecheret, Anita Malfatti, Di Cavalcanti e do pintor acadêmico Pedro Alexandrino. Em sua viagem à Bélgica e à Alemanha travou conhecimento com os expressionistas que sobre ele exerceriam uma grande influência. Também viria a interessar-se pelo Surrealismo.
O artista retornou a Paris, onde montou um ateliê, ali permanecendo até 1933, morando mais de 10 anos na França. Segundo os críticos, ele realizou nesse período a sua mais representativa produção pictórica. Foi nessa época que apresentou sua primeira exposição individual. Dois livros com ilustrações suas foram publicados: “Montmartre” e “Quelques Visages de Paris”. Foi também nesse período que perdeu várias obras em razão de um incêndio em seu ateliê. Ali também conviveu com artistas e intelectuais brasileiros.
Ao retornar ao Brasil, Vicente ficou um grande período sem se dedicar à pintura com o afinco de antes. Comprou uma fazenda, onde passou a fabricar cachaça. Em 1937 retornou a Paris, apenas por alguns meses, e ali realizou duas exposições. Em 1942 retomou a pintura. Dedicou-se aos temas nordestinos, religiosos e às cenas de dança. Dedicou-se também à poesia. Continuou indo a Paris para expor sua arte. Foi professor na Escola de Belas-artes da Universidade Federal de Pernambuco.
Tendo se separado de sua primeira esposa, a francesa Marcelle Louis Villard, Vicente uniu-se a Crisolita Pontual Barreto Beltrão que lhe deu três filhos, e com quem viveu até o final de sua vida. O artista morreu de infarto na cidade do Rio de Janeiro em 1970, aos 71 anos de idade.
Fontes de pesquisa
Vicente do Rego Monteiro/ Coleção Folha
A arte brasileira em 25 quadros/ Rafael Cardoso
Views: 11