Recontada por Lu Dias Carvalho
Não se podia dizer que na tribo houvesse quem mais amasse os animais e as plantas do que aquele jovem índio, que com eles passava todo o tempo em que não estivesse ajudando seu povo. Não apenas entendia a linguagem dos bichos como a das plantas, desde as menorzinhas às gigantescas.
Certa noite, ao observar o céu, viu que nenhuma estrela aparecia, ainda que não estivesse chovendo ou ameaçando temporal. Alguma coisa estava errada. Uma noite escura não poderia prescindir de seus astros luminosos. Perguntou a vários bichos o que estava acontecendo, mas nenhum deles sabia responder ou tinha medo de contar. Por fim, encontrou a raposa que, enraivecida, contou-lhe que o culpado era o urubu-rei, que havia roubado as Estrelas para com elas ornar sua cabeça. Em sua vaidade, ele queria ter o penacho mais resplandecente do mundo dos homens e dos animais.
O índio procurou o urubu-rei para que confirmasse a história contada pela raposa. Raivoso, esse o ameaçou com suas garras afiadas e bico. Os dois entraram em luta corporal, mas o índio acabou vencendo, colocando a grande ave sob sua ordenança. Só a soltaria quando devolvesse ao firmamento suas Estrelas, pois ainda não existia o Sol e nem a Lua. Ainda assim, o animal fez pouco caso do aviso recebido. O índio, então, começou a retirar as penas que compunham o penacho do presunçoso. Cada pena tirada, e lançada ao ar, voava para o alto até atingir o firmamento, e lá virava Estrela de novo. Quase ao final, retirou uma pena prateada e, ao lançá-la ao ar, viu que ela havia se transformado na Lua. Uma pena dourada, que ainda restava na cabeça da ave, ao ser lançada, encheu o céu de tanta resplandecência, que apagou o brilho das Estrelas e da Lua. O índio murmurou então para si:
– Como seria bom, se o Sol dividisse seu tempo de brilho no céu com a Lua e as Estrelas, pois ele é tão poderoso, que oculta o tênue brilho delas.
E não foi que o Sol ouviu seu pedido e atendeu-o? Foi por isso que nasceu o dia e a noite. O Sol alumia durante o dia, e as Estrelas e a Lua alumiam durante a noite. Depois de tudo nos seus devidos lugares, o índio voltou para sua oca e dormiu muito feliz por ter restituído ao firmamento os seus fulgurosos adornos, além de contribuir para o aparecimento do Sol e da Lua, que criaram o dia e a noite.
Nota: imagem copiada de gartic.com.br
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