POVOS PRIMITIVOS E SUA ARTE (Aula nº 8)

Siga-nos nas Redes Socias:
FACEBOOK
Instagram

Autoria de Lu Dias Carvalho

                                     

Como já vimos anteriormente e não custa nada repetir, pois se trata de uma visão equivocada que muitas pessoas ainda carregam consigo e que precisam modificar, a denominação povos “primitivos” não significa que eles sejam desprovidos de inteligência, inferiores a quaisquer outros. Nada disso! A alcunha de “primitivos” relacionada a eles diz respeito apenas ao fato de que se encontram mais próximos do estado em que, num determinado momento da história, a humanidade surgiu. Mesmo nos dias de hoje ainda encontramos muitos povos cuja arte é bem primitiva, a exemplo dos maoris da Nova Zelândia.

Ainda que a arte primitiva obedeça certas convenções de modo a atender as expectativas desse ou daquele povo, ao artista é permitido mostrar sua criatividade e domínio técnico, sendo ele capaz de criar uma arte fascinante em obras de talha e cestaria, assim como no trabalho com couro ou metais. Desse modo não cabe a avaliação de que um artista tribal tenha apenas um conhecimento tosco. Basta ver, por exemplo, as obras de talha dos maoris. Devemos ter sempre em mente que não é a habilidade artística desses povos que se diferenciam das nossas, mas tão somente suas ideias, ou seja, a maneira como compreendem o mundo.

O Prof. E. H. Gombrich afirma em seu livro “A História da Arte” algo que jamais poderá ser esquecido por um amante da arte: “A história da arte em seu todo não é uma história de progresso na competência técnica, mas uma história de ideias, conceitos e necessidades em permanente evolução”. Um artista tribal, por exemplo, pode criar uma obra que represente tão bem a natureza, quanto um exímio mestre ocidental. A descoberta de uma série de cabeças de bronze (primeira ilustração à esquerda)  na Nigéria mostra o quão são bem feitas e persuasivas, considerando-se a época e os meios disponíveis ao artista (ou artistas) no que diz respeito à época em que foram feitas.

Ao compreendermos que são as ideias, os conceitos e as necessidades em constante evolução que impulsionam a arte, estaremos livres de quaisquer formas de preconceito direcionado a ela. Artistas nativos da América do Norte, por exemplo, ainda que possuam um conhecimento aprimorado das formas naturais, não se atêm àquilo que achamos ser a aparência natural disso ou daquilo. Muitas vezes apenas uma das características de um animal já é o suficiente para que  possam demonstrá-lo, ou seja, apenas isso lhes basta. Eles podem achar, por exemplo, que ao criar uma máscara apenas com o bico de uma águia estarão representando toda a ave, o que não quer dizer que não saibam representá-la por inteiro. Podemos ver isso principalmente nos mastros totêmicos de tribos ou clãs, lembrando que o totem pode ser um animal, planta ou objeto que serve como símbolo sagrado de um grupo social e é considerado como seus ancestrais ou divindade protetora (terceira ilustração à direita).

Ao analisarmos a ilustração central, representando uma estátua originária do México, possivelmente pertencente ao período asteca — o último antes de esse povo ser derrotado pelos espanhóis —, conhecida como Tlaloc, temos a prova de que a arte primitiva respondia a uma finalidade. Para os estudiosos do assunto, Tlaloc representava o todo poderoso deus da chuva para aquele povo, uma vez que essa era fundamental para a vida daquela gente, ao garantir-lhe as colheitas que a impedia de morrer de fome. E, se esse deus tão enérgico e eficiente era capaz de dominar chuvas e trovoadas, não poderia ser um fracote qualquer, daí sua forma de demônio.

O deus Tlaloc tem a boca formada por duas cabeças de cascavel, uma de frente para a outra. De suas mandíbulas saem seis venenosas presas. Tanto o nariz quanto os olhos assemelham-se a corpos retorcidos de répteis. Está claro o porquê de terem formado a cabeça de Tlaloc, tomando por base o corpo das serpentes sagradas, capazes de unirem-se à força do raio. Na imaginação daquele povo o raio era uma gigantesca e perigosa serpente. Como podemos perceber, a criação de imagens nessas remotas civilizações tinha como finalidade servir à magia e à religião, assim como era também a primeira forma de escrita. E, para finalizar, não nos esqueçamos de que “imagens e letras são parentes consanguíneos”, como ensinava o Prof. E. H. Gombrich.

Exercício:
Para o enriquecimento deste texto/aula os participantes deverão responder às questões abaixo:

  1. O que significa “povos primitivos”?
  2. O que é um totem?
  3. O que o Prof. E. H. quis dizer com “imagens e letras são parentes consanguíneos”?

Ilustração: 1. Oni, Nigéria (bronze), séc. XII-XIV / 2. Tlaloc, o Deus da Chuva (pedra), séc. XIV-XV/ 3. Exemplos de totem.

Fonte de pesquisa:
A História da Arte/ E. H. Gombrich

12 comentaram em “POVOS PRIMITIVOS E SUA ARTE (Aula nº 8)

  1. Matê Autor do post

    Lu
    A imagem foi realmente a primeira forma de escrita e ao mesmo tempo foi a representação visual das civilizações mais antigas. Era a memória de um grupo, de um povo. Muito interessante.

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Matê

      Também achei muito interessante essa descrição do Prof. E. H. Gombrich sobra imagem. Vamos ver isso com mais força ainda nas aulas que virão.

      Beijos,

      Lu

      Responder
  2. Antonio Messias Costa

    Lu

    Muito boa a reflexão sobre o significado de povos “primitivos”. De fato, cada estágio de uma espécie reflete o resultado bem sucedido de sua luta evolutiva, sem o qual o processo de desenvolvimento não continuaria. A própria zoologia não associa mais um estágio de vida evolutiva de uma espécie ao “primitivo” que reportaria ao menos desenvolvido. Por exemplo um jacaré (réptil) que surgiu antes das aves e dos mamíferos, tudo de que precisa ele evoluiu dentro do seu contexto ambiental. Cada um em seu quadrado. O conceito de animal primitivo já não se vê mais como no passado, pois cada espécie viva representa um sucesso evolutivo.

    Quanto ao parentesco da letra e da arte é fato, a letra além de revelar a arte visual expõe as verdades sombrias que existem em cada um, daí a existência dos grafólogos, verdadeiros curadores das letras.

    Abraços

    Messias

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Antônio

      Excelente a sua explicação sobre animais “primitivos” numa correlação com povos “primitivos”, o que nos ajuda a compreender melhor ainda o real significado da palavra “primitivo” no contexto de nossa aula.

      Abraços,
      Lu

      Responder
  3. Marinalva Dias Autor do post

    Lu
    Entendo que os povos primitivos de antigamente eram inteligentes e criaram muita coisa bela e interessante, apesar de suas limitações, assim como os de hoje, como os maoris. O que existe agora em matéria de arte é continuação daquilo que começaram. Os artistas aperfeiçoam a arte baseando-se no que existe em nosso tempo. Daqui a muito tempo à frente, muita coisa mudará também.

    Beijos!

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Marinalva
      A arte vai mesmo formando uma corrente no caminhar das épocas. Ela é produto da criatividade dos artistas de um certo período. Aquilo que aprenderam vai sendo repassado para os seus sucessores. E, como diz, daqui a alguns anos, novos elos serão acrescentados à corrente. É por isso que a arte está ligada à história da humanidade.

      Beijos,

      Lu

      Responder
  4. Débora Autor do post

    Lu

    Estou amando o curso e em dia com a matéria. Não tenho encontrado nenhuma dificuldade até agora.

    Um beijo

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Débora

      É muito bom saber que está gostando. A História da Arte é muito interessante.

      Parabéns por estar em dia com as aulas”

      Beijos,

      Lu

      Responder
  5. Hernando Martins

    Lu

    É muito interessante entender como os povos primitivos expressam sua criatividade através de elementos encontrados na natureza. Cada civilização tem sua inspiração baseada nos conceitos de vida estabelecidos pelos grupos de pessoas relacionados a cada região. Verifica-se que, desde os primórdios e até os dias de hoje, o homem precisa de referências da natureza para balizar a sua vida. O símbolo é o elemento chave para agregar conceitos de vida em prol da unificação entre os povos. Toda essa simbologia é materializada através da criatividade do artista que, com sabedoria e conhecimento das possibilidades que oferece a natureza, consegue captar e revelar a verdadeira essência transformadora e libertadora do pensamento humano.

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Hernando

      A natureza foi e será sempre a grande mestra do artista. É ela que o motiva a expressar a sua sensibilidade. Penso que, sem ela, os artistas não existiriam. Por isso, é muito importante buscar entender a obra dos povos primitivos, compreendendo como se processa a sua criatividade, pois, como você afirma:

      “Toda essa simbologia é materializada através da criatividade do artista que, com sabedoria e conhecimento das possibilidades que oferece a natureza, consegue captar e revelar a verdadeira essência transformadora e libertadora do pensamento humano.”

      Abraços,

      Lu

      Responder

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *