QUEM DÁ, É QUEM RECEBE…

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Autoria do Prof. Hermógenes

O Professor Hermógenes, um dos precursores da ioga no Brasil, escreveu mais de 30 livros sobre a saúde física e mental.  Neste texto retirado de seu livro “Yoga para Nervosos”*, ele nos fala sobre a necessidade de ter e de dar alegria.

Um dos caminhos de realizar a paz e curar-se da angústia é seva, ou seja, agir no mundo visando à realização da felicidade e benefício dos outros. É a arte de ter a alegria e de dar alegria.

Todo aspirante ao Yoga e à conquista da mente precisa pensar o quanto é fonte de sofrimento e decepção o trabalhar egoisticamente, visando, com o fruto do trabalho, adquirir coisas e conquistar posições. Este agir em proveito próprio é o “normal” na sofredora espécie humana. Pelo Yoga é denunciado como um empecilho à realização espiritual, consequentemente, à conquista da paz da mente.  O agir do usurário (bhoga), do egoísta, do mercenário não o conduz a outro resultado senão à frustração. Já velho ou no leito da morte, o usurário sente, dramaticamente visível, a inutilidade do que juntou.

A moderna psiquiatria já reconheceu que o trabalho em proveito dos outros – que não se confunde com a mera caridade (tão caricaturada) – é uma solução para muitos casos de neurose. Um ansioso é geralmente uma pessoa doentiamente interessada em si mesma. Todo seu medo, todas as suas preocupações decorrem deste anômalo amor a si mesmo. O que se puder fazer para canalizar sua hiperatenção para um trabalho generoso constitui, portanto, tratamento.

“Quem dá aos pobres empresta a Deus” é uma fórmula de caridade vulgar, que, como se pode ver, não passa de uma barganha. Dar para depois receber é espúrio. É egoísmo. No final de contas, é ainda o ego do “caridoso” que vai receber a “recompensa”. Seva é diferente. Nada tem de negociata. A prática de seva é consequência natural de um elevado bhâvana ou atitude filosófica que diz que quem ajuda é o mesmo que recebe ajuda, em termos do Absoluto Uno. Quem ajuda os outros o faz por ter a certeza de que o outro não existe fora de si mesmo e que a separação é maya (ilusão); o que faz é na convicção de que Deus Uno é quem dá e é quem recebe. Quem assim age está livre de aspirar reconhecimento, retribuição ou recompensa.

Não se utiliza dos necessitados como instrumento de egoísticos planos de “salvação” ou “indulgências”. Seva é a característica do Yoga da ação ou Karma Yoga. É trabalho desinteressado. O passo seguinte é a oferenda de todos os frutos da ação ao Senhor. O último passo e também o mais libertador consiste em considerar o Senhor como o único autor das ações. Este é o agir que liberta. Chamado Karma Yoga.

O agir no mundo só não semeia sofrimentos se for conducente à Divindade; só não gera remorsos e frutos amargos, quando a vontade individual do agente se conforma com a Sábia Vontade Divina; quando o indivíduo cumpre seu papel no mundo, mantendo-se em harmonia com o Senhor do Mundo. Esta é a ação reta de que fala o Budismo.

A atividade que visa à autogratificação ou prazer pessoal chama-se Sakma karma. É, portanto, aseva, o oposto de seva. E, como bem enunciou Cristo, cada um atinge o objeto de seus desejos, o homem que trabalha por motivos egoísticos chegará a colher os frutos decepcionantes de seus vulgares anseios. E, no fim, só frustrações ele colherá. Nishama karma, ao contrário, nunca dará frutos amargos, pois é o agir inegoístico e em harmonia com o Divino.

“Dedicando todas as ações a Deus, considerando-se a si mesmo tão somente um servo ou instrumento, isento de desejos pela colheita dos frutos da ação, a salvo do egoísmo e sem qualquer sentimento de cobiça, engaja-te na batalha.” (Gita.)

*O livro “Yoga para Nervosos” encontra-se em PDF no Google.

Nota: Roda de Samba, autoria de Carybé

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