Rafael – RESSURREIÇÃO DE CRISTO

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Autoria de Lu Dias Carvalho

A preocupação com o ponto de equilíbrio figura-espaço circundante, traduzida em uma leve e graciosa estrutura estelar, é uma qualidade tipicamente rafaelesca, alheia ao universo úmbrio, como alheia a esse universo é também a pronunciada perspectiva da tumba e, enfim, a orquestração espacial da obra. (Juliana Barone)

 Eu estava completamente no escuro. Era a primeira vez na minha vida que enfrentava um caso tão repleto de incertezas. Porém meu pendor por uma conclusão definitiva transparecia em meus olhos. Procedi, como dizem certos experts, ‘pelo faro’. Quando os brasileiros foram se retirando para o almoço, fiz sinal positivo a Assis. A pintura era do MASP. Moreira Salles foi um de seus doadores. (Pietro Maria Bardi)

 Rafael Sanzio (1483-1520) foi um dos pintores mais importantes da Alta Renascença italiana, período em que houve uma grande concentração de gênios na arte e em que o homem era visto como a medida de todas as coisas.

A composição denominada Ressurreição de Cristo, também conhecida como Ressurreição Kinnaird (em razão de um seu antigo dono chamado Lord Kinnaird) é obra do artista. Encontra-se em solo brasileiro, sendo um dos quadros mais importantes do MASP, tendo sido incorporado à sua coleção em maio de 1954. A tela foi comprada em Nova York. Sua originalidade foi atestada pelo historiador de arte italiano Roberto Longhi. Trata-se de uma das primeiras pinturas conhecidas e conservadas do grande pintor renascentista. É possível que tenha sido parte de uma predela, tendo Longhi aventado a hipótese de o painel ser uma das obras remanescentes do retábulo de “San Nicola da Tolentino”.

O Cristo ressuscitado, trazendo na mão o estandarte da ressurreição, ocupa o centro da tela, dividindo-a verticalmente ao meio. Um manto vermelho cobre seu corpo, deixando nua a parte frontal do dorso. Com o braço direito erguido ele faz o conhecido sinal de abençoar. No nível de seus pés está o sol nascente que também é um símbolo da ressurreição. A figura esbelta de Cristo eleva-se acima de seu túmulo, ladeado por dois anjos que trazem os olhos voltados para a cena que ocorre embaixo.

O trabalhado sarcófago de mármore, onde estava o corpo de Jesus Cristo, encontra-se semiaberto. Dois peixes (serão peixes?) dourados enfeitam a sua base e três outros estão dispostos na parte superior da tampa. O túmulo ocupa o centro da parte inferior da pintura, formando um retângulo englobado por outro, onde se encontram os soldados. Sua tampa encontra-se na posição diagonal. Ao fundo descortina uma paisagem com água, vegetação verde, estradinhas sinuosas e um vasto céu azul. Os caminhos sinuosos de terra (à direita e à esquerda) ligam os planos da composição.

Um soldado e um homem comum estão caídos no chão, enquanto dois outros soldados continuam de pé (três deles com armadura), todos extasiados com a visão que se descortina diante de seus olhos. A calma vista na parte superior da pintura – Cristo e dois anjos – contrasta com a vista na parte inferior – os soldados assombrados.

As Três Marias (Maria, mãe de Tiago e José, Maria Salomé e Maria Madalena) encontram-se em segundo plano, como comprovam o seu reduzido tamanho em relação ao das demais figuras. Elas descem do monte, onde se vê uma cruz, em direção ao sepulcro. Vestem túnicas e longos mantos que lhes deixam apenas rosto, mãos e pés descalços à vista. Maria Madalena traz na mão esquerda um frasco de unguento. O halo da cabeça das três mulheres indica divindade.

Na parte inferior da tela, à frente dos guardiões do túmulo, caídos, podem ser vistos uma cobra (representando o mal, conforme apregoa o simbolismo cristão), à esquerda, e um caracol (símbolo lunar da renovação constante), à direita. Mais à frente, atrás do soldado postado à direita, vê-se uma cegonha, cuja simbologia cristã é a de exterminar o mal, pois engole serpentes. Também é tida como símbolo da ressurreição pelo fato de migrar e voltar todo ano ao local de partida.

A preocupação do artista foi a de levar o olhar do observador imediatamente para o Cristo ressuscitado, como mostram o dedo indicador dos dois anjos e as mãos para o alto dos soldados. A tela apresenta três cenas: Cristo e os dois anjos, os soldados agitados, as três mulheres e as duas árvores à direita.

Ficha técnica
Ano: c.1499/1502
Técnica: óleo sobre madeira
Dimensões: 52 x 44 cm
Localização: Museu de Arte, São Paulo, Brasil

Fontes de pesquisa
Enciclopédia dos Museus/ Mirador
https://pt.wikipedia.org/wiki/Ressurrei%C3%A7%C3%A3o_de_Cristo_(Rafael)
http://www.academia.edu/10103811/AN%C3%81LISE_FORMALISTA_E_ICONOL
http://vctcst.blogspot.com.br/2008/11/raffaello-sanzio-e-ressureio-de-cristo.html

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