UM ARRANCA-RABO

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Autoria de Lu Dias CarvalhoVetores Tapa de gato: Desenho vetorial, imagens vetoriais Tapa de gato|  Depositphotos

Por ocasião das últimas eleições para prefeito de Coxixó da Serra, tive a oportunidade de assistir a um comício na cidade. Ali me encontrava em visita a um familiar. Tirando as promessas mirabolantes e a verborragia vindas do palanque, tudo teria transcorrido na mais absoluta e costumeira pasmaria, se certa madame do lado opositor aos participantes do comício não tivesse passado pelo local e dado um tapa na cara da matrona, esposa de um dos candidatos, motivo suficiente para que o pau comesse.

As duas “finas” damas, depois de esbofetearem-se mutuamente seguidas vezes, passaram a rolar no chão, disputando para ver quem ficava por cima durante mais tempo, pouco se importando com as vergonhas, uma vez que ambas se encontravam de saia e com a camiseta de seu partido. O comício foi interrompido, uma vez que os presentes, achando que a rixa tinha bem mais emoção, voltaram as costas para o palanque com seus não muito distintos oradores com suas contumazes mentiras e promessas deslavadas. Toda a atenção pública passou a concentrar-se nas duas gladiadoras. A turba, como é comum acontecer,  instigava a desavença. Queria mais!

A notícia da quizila correu as ruas poeirentas de Coxixó da Serra. Os partidários da agressora, responsável pelo tabefe inicial, foram chegando e tomando o seu partido. Os seguidores da colega de comício também acharam por bem tomar suas dores. Assim, o tumulto dividiu-se em duas torcidas organizadas. Ninguém acudia. Ninguém separava. Todos queriam ver o circo pegar fogo. Repentinamente uma guinchada de sangue atingiu o rosto de alguém da plateia. Uma das desordeiras havia literalmente tirado parte da orelha de sua opositora que, em contrapartida, arrancou-lhe a ponta do nariz.

O arranca-rabo só acabou quando as tais foram parar na delegacia, sendo logo após encaminhadas ao posto de saúde, para tomarem vacina contra raiva e coisa e tal.  Dizem as más línguas que as duas chibantes desfilam atualmente por Coxixó da Serra de braços dados. Uma sem a ponta da orelha e a outra sem a ponta do nariz, mas agora pertencentes ao mesmíssimo partido. Que loucura!

O termo arranca-rabo foi trazido pelos colonizadores portugueses que, por sua vez, herdaram-no da tradição egípcia. Está ligado às batalhas de antigamente, quando arrancar o rabo do cavalo do inimigo era um grande trunfo. Quanto mais rabos de cavalos apresentasse, mais prestigiado era o guerreiro. Tal costume também foi comum entre os cangaceiros nordestinos, aqui no Brasil, como forma de humilhar os donos das propriedades invadidas. As bestas humanas digladiavam e eram os pobres animais as maiores vítimas, sem terem nada a ver com a rixa. O que prova que o rabo dos mais fracos sempre fica mais desprotegido.

Fontes de Pesquisa:
A Casa da Mãe Joana / Reinaldo Pimenta
http://www.brasilescola.com/curiosidades/arranca-rabo.htm

 

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8 comentaram em “UM ARRANCA-RABO

  1. Marinalva Autor do post

    Lu,
    essa do arranca- rabo acontece em muitas ocasiões, seja na política, por causa das divergências, seja em secretaria de saúde, po rcausa da demora no atendimento e por aí vai. Eu me lembro, na escola primária, todos os dias saíamos correndo quando a aula terminava para ver as brigas. Os colegas, grandes e arrogantes , valentões, sempre os mesmos, brigavam todos os dias, após as aulas. Ficávamos acompanhando de longe. Ninguém se metia. As professiras e as irmãs não conseguiam separar os brigões . O arranca-rabo terminava com caras sangrando e eles cansados e sujos de terra da rua.

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    1. LuDiasBH Autor do post

      Marinalva

      Esses arranca-rabos eram o máximo. A torcida só ia aumentando. Penso que isso ainda acontece nos dias de hoje. Crianças e adolescentes são sempre os mesmos em quaisquer tempo e cultura.

      Abraços,

      Lu

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    1. LuDiasBH Autor do post

      Alfa

      A cena é mesmo hilária. E é verdadeira, acrescentei apenas algumas pitadinhas de humor.

      Abraços,

      Lu

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  2. Adevaldo R. de Souza

    Lu
    O arranca-rabo sempre acontece entre políticos, hoje e sempre. Existe um povoado no estado Bahia que é chamado de “Rajado”. Certa vez nesse lugarejo houve um comício durante a eleição para prefeito e vereadores. Durante o evento o candidato a prefeito, que estava ao lado de sua esposa, que era secretária de desenvolvimento de um vereador, fez seu discurso concluindo:

    “Povo de Rajado, espero o voto de todos vocês para que eu seja reeleito”.

    Depois foi a vez do vereador que pronunciou em alta voz:

    “Pois é meu povo. Vocês devem votar no prefeito e em mim também, pois eu e sua secretária vamos colocar o Rajado prá cima”.

    A mulher do vereador que já andava de olho na ligação do marido com a mulher do candidato a prefeito, não gostando do que ouvira, subiu na palanque e pegou a mulher do prefeito pelo cabelo e foi aquele “arranca-rabo”. Esse fato nunca saiu da memória do povo simples daquele lugar.

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    1. LuDiasBH Autor do post

      Adevaldo

      Está na cara que você é um bom historiador, pois suas histórias são hilárias. E o mais interessante de tudo isso é que elas são verdadeiras, pois o interior do país produz verdadeiras pérolas da cultura popular. Continue enriquecendo nosso repertório.

      Abraços,

      Lu

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  3. Alfredo Domingos

    Lu
    Estamos lendo mais um ótimo texto. Parabéns! Consultando o “Aurélio”, tive como resposta para o verbete “arranca-rabo” a palavra “rolo”. Sempre me detenho em conhecer as demais palavras para o mesmo significado. Gostei, porque quando se entra num “arranca-cabo” faz-se um “rolo” de fato.

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    1. LuDiasBH Autor do post

      Alf

      Em todo arranca-rabo está presente um grande rolo. É incrível a riqueza de nossa língua. Eu sou fascinada por essas expressões. É muito interessante saber como surgiram.

      Abraços,

      Lu

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