Vermeer – A LEITEIRA

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Autoria de Lu Dias Carvalho

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A Leiteira, obra do pintor holandês Jan Vermeer, é tida como uma das mais importantes obras-primas de todos os tempos. A personagem vista na composição é uma jovem e vigorosa camponesa, extremamente concentrada em seus afazeres. O ambiente em torno dela é muito simples: paredes pintadas, mas já descoradas e descascadas pelo tempo, janela com o vidro quebrado e vários objetos comuns, mas que de forma alguma tiram a concepção de ordem, tendo por objetivo mostrar a ampla gama de cores, texturas e contrastes da composição. A pintura já ousada por retratar uma empregada doméstica à época, ainda apresenta muito detalhamento.

A janela rústica deixa entrar um pequeno foco direto de luz, através de um dos pequenos painéis de vidro que se encontra quebrado. A luz incide sobre o caixilho à direita. A claridade que entra através dela é a única fonte de luz a iluminar o ambiente. Na mesma parede, onde a janela encontra-se, podem ser vistos um quadro negro de ébano, uma cesta de vime para guardar pão e um balde de bronze com uma longa alça. Tais objetos encaminham o olhar do observador para o centro temático da pintura, representado pelo leite que é derramado no recipiente de barro. O leite é o ponto focal da composição, assim como é o ponto de concentração da mulher.

Na mesa coberta com uma simples toalha verde estão o pão, o jarro e a bacia que também chamam a atenção para o foco da pintura. O pão que se encontra na cesta parece bem real, se visto de longe. Ali, pequenos pontos na pintura dão a sensação de que há centelhas de luz no pão e na borda do jarro. De perto podemos ver com clareza os “pointillés” (pequenos pontos feitos com tinta opaca grossa) do pintor. O pano azul que se encontra sobre a mesa é parte do avental azul-escuro da camponesa.

A mulher — com o rosto virado para baixo e antebraços expostos — veste inúmeras camadas de roupa para proteger-se do rigor do inverno. Usa uma touca branca que cai até os ombros; um colete de couro camurça amarelo, trançado na frente; mangas azuis e verdes que parecem compor o colete, mas que na verdade não fazem parte dele, pois são usadas separadamente; uma pesada saia vermelha feita de lã; um avental azul que desce da cintura, sendo que parte dele descansa sobre a mesa. Sua figura, esculpida por meio de sombreamento, repassa a impressão de que ela é quase tridimensional.

Acima da cabeça da leiteira — na parede atrás dela — vê-se um prego fincado onde, possivelmente, deveria haver algo dependurado, mais uma prova da meticulosidade do pintor. Uma fileira de azulejos decorados dá terminação à parede na sua parte inferior, a fim de proteger o rodapé. Bem próximo, vê-se um escalda-pés, tão comum à época, cuja finalidade era esquentar as partes inferiores do corpo durante o inverno rigoroso, sendo visto como um símbolo do amor e da gentileza.

A serenidade vista no rosto da mulher, ao executar seu trabalho, traz a impressão de que ele é costumeiro. A extrema simplicidade do lugar e a calma que nele se encontra dão vida a tudo que ali está representado. Infelizmente nem tudo pode ser captado através da reprodução do quadro, como o brilho e a profundidade do avental azul, pintado com uma camada transparente de ultramar (pigmento extraído do lápis-lazúli).

Vermeer gostava de retratar mulheres em interiores, ficando conhecido pela maestria na observação do cotidiano. Nenhum detalhe escapava-lhe. O prego visto na parede faz jus à observação feita ao artista, pois de tão detalhista a obra A Leiteira traz a impressão de que a cena foi retratada com fidelidade, através da observação direta do pintor.

Ficha técnica:
Ano: 1658
Técnica: Óleo sobre tela
Tamanho: 45,5cm x 41cm
Localização: Rijksmuseum, Amsterdã, Holanda

Fontes de pesquisa:
A história da arte/ E.H. Gombrich
1000 obras-primas/ Könemann
História da arte ocidental/ Edit. Redeel
http://www.essentialvermeer.com/catalogue/milkmaid.html

Views: 22

15 comentaram em “Vermeer – A LEITEIRA

  1. Lucia Maria Cysneiros

    Lu

    Acabei de ler, em meio à pandemia do coronavírus-19, essas suas reflexões sobre “A Leiteira”, obra prima de Vermmer. Eu tenho uma cópia emoldurada dela diante de mim em frente à mesa da refeição.

    Que poder tem essa imagem! A postura da moça diante de suas obrigações é de uma doçura ímpar. Com que simplicidade ela enfrenta o seu trabalho cotidiano que não era fácil para uma empregada doméstica naquele tempo!

    Pois ela é o meu modelo, eu tento imitá-la ao encarar todas as atividades cotidianas de um grande apartamento, sozinha e com 74 anos!

    Bendito Vermeer!

    Obrigada a você também!

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Lúcia

      Acabei de ler o seu comentário e achei-o de uma doçura sem igual. Suas palavras tocaram o meu coração e, em minha singeleza, pude captar toda a beleza que mora em seu coração. Há pessoas, cujas palavras, traduzem perfeitamente sua alma. Quem haveria de amar a doçura de Vermeer senão alguém de alma semelhante?

      Amiguinha, também acho essa obra belíssima. É uma pena que esse maravilhoso artista tenha nos deixado tão poucas obras (as realmente identificadas) e tenha morrido tão pobre. Eu tenho diante de mim um quadro com “Moça com Brinco de Pérola”.

      Vou lhe enviar o link de mais obras do artista.

      Lúcia, amei receber sua visita e comentário. Será sempre um prazer recebê-la neste espaço. Venha sempre!

      Beijos,

      Lu

      Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Edila

      Agradeço a sua visita e comentário. Fica também o convite para que conheça outras obras de Vermeer e as de outros pintores.

      Grande abraço,

      Lu

      Responder
  2. jor

    Nem sei se começo parabenizando ou agradecendo, a pintura e sua atmosfera realmente encantam, mas foi a sua descrição que mostrou como eram incautos meus olhos.

    Grato

    Jor

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Jor

      Você é uma pessoa muito generosa.
      Fico feliz que tenha gostado.
      Temos muitos outras pinturas dos grandes mestres da pintura.
      Será um prazer recebê-lo aqui.

      Abraços,

      Lu

      Responder
  3. Edward Chaddad

    LuDias

    Minha saudosa mãe fez um quadro de bordado ( panô, linguagem popular daqui)onde copia da Leitera.Vou enviar, por foto, para você. Por sinal, ela fez muitos destes quadros, uma arte maravilhosa. Vou enviar para você ver.

    Abraços

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Ed

      Você está me prometendo isso há muito tempo.
      Agora faço questão de ver.
      Deve ser lindo.
      Aguardando!

      Abraços,

      Lu

      Responder
  4. Edward Chaddad

    LuDias

    Excelente artigo. Já o conhecia de outros verões.
    Como me dizia o professor de Latim: “Recordatio mater studiorum est”
    Conhecer Jan Vermeer para mim, jejuno de arte ( pintura) é sempre bom.

    Abraços

    Responder
  5. Edward Chaddad

    Paulo

    Muito obrigado. Tentei muito e consegui os meus setenta anos de vida.
    Mesmo adoentado, estou feliz.
    um forte abraço

    Responder

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