Autoria de Lu Dias Carvalho
A escritora chilena, Isabel Allende, sobrinha de Salvador Allende, presidente do Chile morto no golpe militar de 1973, é uma das autoras mais conhecidas da América Latina. Sua obra literária é composta por 15 romances, além de livros de contos e peças de teatro. Seu livro A Casa dos Espíritos, 1982, fez tanto sucesso, que acabou virando filme em 1993. Em 1995 ela lançou o livro Paula, que escreveu para sua filha, que estava em coma devido a um ataque de porfiria. (Porfiria é um grupo de distúrbios herdados ou adquiridos e que se manifestam através de problemas na pele e/ou com complicações neurológicas). Como não sabia se a memória da filha voltaria após a saída do coma, resolveu contar a sua história, para auxiliá-la a se lembrar dos fatos. Paula passa então a ser um retrato autobiográfico. Sua filha não volta do coma e morre um tempo depois.
Isabel Allende acaba de lançar o seu mais novo livro, A Ilha sob o Mar, que conta a saga de uma escrava, no século XIX, no Haiti. Embora alguns possam imaginar que o tema não mais retrata os tempos de hoje, a verdade não é bem assim. A autora diz que o seu livro também serve de alerta para a escravidão, que jaz oculta atualmente. Os movimentos abolicionistas conseguiram abolir a escravidão no mundo apenas oficialmente. A verdade é que a situação hoje é mais caótica, pois é difícil combater o que está oculto, mascarado e clandestino, como é o caso do trabalho escravo, que acontece tanto nos países ricos quanto nos pobres.
Embora todos os países tenham firmado acordos, para acabar com a prática escravagista, diz a autora, ela ainda não foi abolida. Existem atualmente cerca de 27 milhões de escravos em todo o mundo. Só na agricultura, há um milhão de seres escravizados no Paquistão. É a famosa servidão ocasionada por uma dívida que nunca se paga, mesmo que filhos e netos do camponês trabalhem juntos para sanar a dívida. As filhas dão a sua contribuição ao serem vendidas como empregadas domésticas, ou para trabalhar em casas de prostituição.
Embora o Haiti seja um país onde os negros lutaram por sua independência, existem ali milhares de crianças em trabalhos domésticos forçados, tentando sobreviver, pois os pais não podem sustentá-las. No Nepal, diz Isabel que meninas entre 5 e 7 anos são vendidas por uma quantia equivalente a um par de cabras. Em certos países, crianças são negociadas, em troca de dotes, para se casarem. No Sudoeste Asiático o tráfico de pessoas não sofre nenhum controle por parte dos governos.
Isabel Allende define o escravo como alguém que é obrigado a trabalhar contra a sua vontade, sem remuneração alguma, sob ameaça de violência. E diz que isso acontece mesmo nos países considerados de primeiro mundo, onde os imigrantes ilegais trabalham sob a ameaça da violência ou do medo de serem denunciados.
A escritora afirma que as relações humanas não mudaram muito até os dias de hoje. O poder funciona como passe livre para a impunidade. E essa relação de poder não está somente entre o amo e o servo, mas também entre os militares, de modo que um oficial graduado pode subjugar os subalternos. Os carcereiros subjugam os presos. Nas ditaduras, a polícia pode prender, matar e torturar. Mesmo dentro da família é possível ver pai abusando da esposa e dos filhos, etc.
Isabel lamenta o estado atual do Haiti, país de um povo extremamente sofrido, que foi invadido e ocupado várias vezes. Está falido e vive da caridade do mundo. E, para piorar, foi atingido por furacões e terremotos. Muito foi prometido aos haitianos, mas pouco chegou até lá. Não há dinheiro para a reconstrução do país.
A escritora diz que os livros possuem o poder de mudar mentalidades. Ela cita A Cabana do Pai Tomás, livro americano que marcou o movimento abolicionista. Portanto, fica aqui a minha sugestão, para que os leitores coloquem na lista dos livros a serem lidos e presenteados: A Ilha sob o Mar – Isabel Allende/ Editora Bertrand Brasil.
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